sábado, 25 de setembro de 2021

26º domingo comum - Jogar ao mar os escandalosos seguidores de Jesus que continuam a apostar na prepotência e na arrogância ( Mc 9,38-43.45.47-48)

 Prepotência, arrogância e complexo de exclusividade estão entranhadas na alma humana. Inclusive na dos que se autoproclamam piedosos e devotos de Jesus. Os seguidores próximos de Jesus se irritam e se tornam intolerantes para com aqueles ‘estranhos’ que fazem coisas inéditas. Que realizam expulsões de espíritos maus e operam libertações que o ‘time de Jesus’ não consegue fazer! ‘Não fazem, e nem deixam fazer’! Eles pretendem possuir o monopólio da libertação e da cura! Proíbem e censuram todos aqueles que fazem o bem, mas que não pertencem ao grupo seleto de Jesus, e nem seguem o que o grupo deseja! 

Diferentemente dos seus seguidores exclusivistas, Jesus afirma em alto e bom som que todos os que fazem o bem e libertam o homem de toda força negativa e de toda dependência são parceiros dele! Por isso que todos aqueles que oferecem um copo de água aos seguidores de Jesus, seja ele quem for, será eternamente lembrado. Entretanto, todo aquele seguidor de Jesus que for motivo de tropeço (escândalo) para ‘esses pequenos e humildes que creem’ é preferível que que seja jogado ao mar com uma pedra bem pesada de modo que, afogando no mar, não volte a boiar, e assim possa ser enterrado. Palavras duríssimas de Jesus que parecem entrar em contradição com suas atitudes sempre misericordiosas e compassivas. E continua.... Se alguém dos discípulos, - pois é a eles que se refere Jesus, - com o seu modo de julgar (olho), de se comportar (pé), de agir (mão) for motivo de tropeço é melhor que seja radical e corte na raiz a causa do seu escândalo. O escândalo, no fundo, é quando o seguidor de Jesus continua a ser ambicioso e prepotente, ao passo que deveria ser um exemplo verdadeiro de serviço e compaixão! Não há como um discípulo de Jesus achar que pode construir o ‘novo Reino’ e manter, ao mesmo tempo, atitudes de arrogância, de intolerância e de exclusividade. Chegou a hora para a igreja de Jesus começar a se aliar com todos aqueles homens e mulheres que, mesmo não fazendo parte de seus quadros, se empenham e lutam para construir uma nova humanidade. Mas, também, chegou a hora de ‘jogar ao mar’ todos aqueles falsos seguidores de Jesus e igrejeiros que continuam apostando e investindo na prepotência e na vontade de dominação!


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Garimpo causa má formação e desnutrição em crianças Yanomami, denunciam lideranças indígenas

 O futuro dos Yanomami está ameaçado. Crianças estão nascendo com má formação por consequência do garimpo ilegal. Algumas mães são obrigadas a enterrar as que não sobrevivem. Outras têm de lidar com a interrupção da gestação. Os filhos sobreviventes correm o risco de sofrer com a desnutrição. A água dos rios está suja de mercúrio, contaminando os peixes e as caças. Amamentar se tornou um perigo. E doenças que poderiam ser facilmente tratadas, como malária, diarreia e pneumonia, já mataram dezenas de crianças entre 2020 e 2021 em comunidades da etnia, denunciou o II Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana.

Não é de hoje que o garimpo de extração ilegal de ouro traz graves consequências para os povos indígenas do Brasil. O que o II Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana alertou é mais preocupante: o futuro dos povos que vivem neste território está ameaçado. “O mercúrio está contaminando os rios e nossas famílias, na comunidade Palimiu, na Terra Indígena (TI) Yanomami em Roraima, já nasceram crianças com má formação. Nossos parentes estão morrendo de doenças simples, de fácil tratamento, porque não têm atenção de saúde básica. Se não fossem os remédios tradicionais e os xapiri (médicos das florestas), mais gente ia morrer”, alertou o documento elaborado pelas lideranças dos povos Yanomami e Ye’kwana. “Eu só quero que olhem para a gente como ser humano, como mulheres que não merecem todo dia estar enterrando seus filhos”, afirmou Neila Paliwithele, 59 anos, moradora de Palimiu. Desde o início de maio deste ano, a comunidade sofre violentos ataques de garimpeiros. Entre as doenças que afetam as crianças, as mais recorrentes são malária, diarreia e pneumonia. Neila disse que na maioria das vezes as equipes médicas só chegam nas comunidades quando não há mais nada o que fazer. As crianças já estão mortas. Isso quando chegam. “Só chegam para querer enterrar nossas crianças. Mas nós não precisamos de ninguém para enterrar nossos mortos. Isso nós mesmos fazemos conforme nossa cultura, que nem isso é respeitada”.

'A ditadura do consumismo, ditadura leve mas sufocante': o desafio para a fé, segundo o Papa Francisco aos bispos da Europa

 "Muitos são levados a sentir apenas necessidades materiais, não a falta de Deus. E nós certamente nos preocupamos com isso, mas quanto realmente nos ocupamos disso? É fácil julgar quem não crê, é cômodo elencar os motivos da secularização, do relativismo e de tantos outros “ismos”, mas no fundo é estéril", afirma o Papa Francisco na homilia da concelebração eucarística com os participantes da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), nessa quinta-feira, 23, na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Segundo o papa, "a Palavra de Deus nos leva a refletir sobre nós mesmos: sentimos afeto e compaixão por quem não teve a alegria de encontrar Jesus ou a perdeu? Estamos tranquilos porque, no fundo, não nos falta nada para viver ou estamos inquietos ao ver tantos irmãos e irmãs distantes da alegria de Jesus?" "Encorajemo-nos, sem nunca ceder ao desânimo e à resignação - anima o Papa - : somos chamados pelo Senhor a uma obra esplêndida, a trabalhar para que a sua casa seja cada vez mais acolhedora, para que cada um possa nela entrar e habitar, para que a Igreja tenha as portas abertas para todos e ninguém tenha a tentação de se concentrar apenas em olhar e mudar as fechaduras. As pequenas coisas requintadas... E nós somos tentados. Não, a mudança vai para outro lado, vem das raízes. A reconstrução vai para outro lado".

O Papa concluiu dizendo:" Muitos na Europa pensam que a fé é algo de já visto, que pertence ao passado. Por quê? Porque não viram Jesus em ação nas suas vidas. E, muitas vezes, não o viram porque nós, com as nossas vidas, não o mostramos o suficiente. Porque Deus se vê nos rostos e nos gestos de homens e mulheres transformados pela sua presença. E se os cristãos, em vez de irradiarem a alegria contagiante do Evangelho, voltam a propor esquemas religiosos desgastados, intelectualistas e moralistas, as pessoas não veem o Bom Pastor. Não reconhecem Aquele que, apaixonado por cada uma das suas ovelhas, a chama pelo nome e a procura para colocá-la sobre os ombros. Não veem Aquele cuja incrível Paixão pregamos, precisamente porque Ele tem uma única paixão: o ser humano. Esse amor divino, misericordioso e avassalador é a novidade perene do Evangelho. 

No Rio Grande do Sul 45% da população perdeu metade da renda com a pandemia

Os dados revelados pela pesquisa encomendada pela Assembleia Legislativa, de que 45% dos gaúchos perderam metade da renda na pandemia, já eram esperados, segundo o economista Fernando Ferrari Filho. De acordo com ele, a situação da população gaúcha não é muito diferente da do restante do país. "Com a pandemia, que afetou não somente a demanda, mas, principalmente, a oferta devido ao lockdown, era esperada uma queda substancial da renda da sociedade gaúcha, seja porque a taxa de desemprego aumentou (atualmente ela se encontra acima dos 14,0%, em nível nacional, e próxima a 9,0% no Rio Grande do Sul), seja porque o endividamento das famílias e das firmas cresceu expressivamente". Nesse sentido, reitera, "o crescimento da desigualdade tanto da renda, quanto da riqueza dos gaúchos, ao longo da pandemia, era outro aspecto esperado. Ao mesmo tempo a economia gaúcha também é muito dependente do setor do agronegócio que, por sua vez, depende dos preços das commodities internacionais e da demanda externa". Além disso, acrescenta, "tanto alguns períodos de estiagem, quanto a combalida situação fiscal do governo estadual, acabaram contribuindo para a queda da renda da sociedade gaúcha".  

Neste cenário de crescimento das desigualdades, do desemprego e da perda de renda, sublinha, “não se pode prescindir de gastos governamentais para mitigar o impacto da pandemia na economia”. “Tanto em nível federal, quanto no Rio Grande do Sul, a necessidade de se implementar uma agenda econômica que não seja pautada pela lógica da 'austeridade fiscal expansionista' é fundamental para a reversão da crise econômica. (...) Renda mínima universal, sem dúvida alguma, é o meio para não somente proteger a população excluída socialmente, mas para gerar um efeito multiplicador de renda na maioria dos municípios brasileiros.” O economista também comenta a situação fiscal do Estado do Rio Grande do Sul e as perspectivas para o próximo ano. "Ajuste fiscal é importante, mas ele não pode ser feito através única e exclusivamente da austeridade fiscal. Obviamente, o ajuste fiscal ideal é o que decorre do aumento da arrecadação face ao crescimento dinâmico e sustentável da atividade econômica”, argumenta. (IHU)

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Cerrado perdeu quase 6 milhões de hectares de vegetação nativa entre 2010 e 2020

 Cerrado perdeu quase 6 milhões de hectares de vegetação nativa entre 2010 e 2020: dos 13 estados ocupados pelo Cerrado, 11 tiveram perda de vegetação nativa no período, e quase toda essa área (98,8%) foi destinada à atividade agropecuária. Os dados são da nova coleção da iniciativa MapBiomas, que cobre o período de 1985 a 2020, e foram apresentados em evento específico para o bioma nesta sexta-feira (10), a partir das 10h30, no canal do MapBiomas Brasil no YouTube.

Tocantins sofreu a maior perda de vegetação nativa na década (1,11 milhão de hectares), seguido de Maranhão (890 mil ha) e Goiás (810 mil ha). Dois estados, Paraná e Rondônia, permaneceram com área de vegetação nativa estável. Além dos números, as imagens de satélite mostram a intensificação do desmatamento e da atividade agropecuária na região conhecida como Matopiba, que cobre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Os dados mostram claramente que há um processo acelerado de conversão de áreas naturais no Matopiba, tal como foi observado anteriormente em outros estados do Cerrado”, explica a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo,  pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Se considerada a perda total de vegetação nativa desde 1985, Mato Grosso é o campeão, com 6,8 milhões de ha, seguido por Goiás, com 4 milhões ha, e Mato Grosso do Sul, com 3,4 milhões de ha. 

No Matopiba, região que cobre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a área de agropecuária mais que dobrou entre 1985 e 2020. No mesmo período, a Bahia quintuplicou a área de agricultura. De 1985 a 2020 o Cerrado perdeu 19,8% de sua vegetação nativa, ou 26,5 milhões de ha, que equivalem a uma área maior que a do Piauí. A expansão da agropecuária no bioma no mesmo período é quase complementar: foram 26,2 milhões de hectares destinados à atividade. Atualmente, a agropecuária ocupa 44,2% do Cerrado.

O golpe começou. Artigo de Vladimir Safatle

Quem conhece a história do fascismo italiano sabe a quantidade inumerável de vezes que Mussolini, em sua ascensão ao poder, foi dado como politicamente morto, isolado, acuado, fragilizado. No entanto, apesar das finas análises de comentaristas da vida política italiana, apesar das sutis leituras que pareciam ser capazes de pegar as mais inusitadas nuances, Mussolini, o bronco Mussolini chegou onde queria chegar. Isso ao menos deveria servir para lembrarmos da existência de três erros que levam qualquer um a perder uma guerra, a saber, subestimar a dedicação de seu oponente, subestimar sua força e, por fim, sua capacidade de pensar estrategicamente. Bolsonaro se colocou no dia 7 de setembro como o líder inconteste de uma singular sublevação do governo contra o estado, afirmando que não reconhece mais a autoridade do STF. Ou seja, ele assumiu para o mundo que está em rota de colisão com o que restou da institucionalidade da vida política brasileira. Seus apoiadores saíram desse dia com sua identificação reforçada e compreendendo-se como protagonistas de uma insurreição popular que de fato está a ocorrer, mesmo que com sinais trocados. Uma insurreição que mostra a força do fascismo brasileiro.

De nada adianta falar que essa manifestação “flopou”, que estavam presentes apenas 6% do esperado. Uma insurreição nunca precisou da maioria da população para impor sua vontade. Ela precisa de uma minoria substantiva, aguerrida, unificada e intimidadora, pois potencialmente armada. Bolsonaro tem as quatro condições, além do apoio inconteste das Polícias Militares e das Forças Armadas, que por nada nesse mundo, mas absolutamente nada irá deixar um governo que lhe promete salários de até 126.000 reais. Aqueles que se comprazem acreditando que o verdadeiro apoio de Bolsonaro é 12% são os que normalmente fazem de tudo para que nós não façamos nada. Mas para quem quiser de fato encarar o que está a ocorrer no Brasil, não há nada mais a dizer do que “o golpe começou”. A manifestação do 7 de setembro marcou uma clara ruptura no interior do governo Bolsonaro. De fato, acerta quem diz que o governo acabou. Mas isso significa apenas que Bolsonaro pode agora abandonar a máscara de governo e assumir a céu aberto o que esse “governo” sempre foi, desde seu primeiro dia, a saber, um movimento, uma dinâmica de ruptura que se serve da estrutura do governo para ampliar-se e ganhar força.

.....Infelizmente, que o “povo” em questão era a massa dos que sonham com intervenções militares, que amam torturadores, que abraçam a bandeira nacional para esconder sua história infame de racismos e genocídios, isso era algo que poucos poderiam imaginar. Por outro lado, por mais que certos setores do empresariado nacional simulem desconforto com sua presença, o que realmente conta é que Bolsonaro entrega a eles tudo o que promete, sabe preservar seus ganhos como ninguém, luta por aprofundar a espoliação da classe trabalhadora sem temer o que quer que seja. A esquerda precisa entender de uma vez por todas a natureza do embate, ouvir aqueles mais dispostos ao confronto, esses que não tiveram medo de ir para a rua hoje, e assumir uma lógica de polarização. Isso implica que ela precisa mobilizar a partir da sua própria noção de ruptura, em alto e bom som. Uma ruptura contra outra. Não há mais nada a salvar ou a preservar nesse país. Ele acabou. Um país cuja data de sua independência é comemorada dessa forma simplesmente acabou. Se for para lutar, que não seja para salvá-lo, mas para criar outro.

IBGE revela que uma em cada cinco estudantes já sofreu violência sexual

 A violência sexual se mostra presente na vida de um significativo percentual de meninos e meninas que frequentam escola. Dentre as meninas, uma em cada cinco adolescentes (20,1%) de 13 a 17 anos diz já ter sido tocada, manipulada, beijada ou ter tido partes do corpo expostas contra a sua vontade. E 8,8% das meninas nessa idade já foram forçadas ao sexo, a maioria antes dos 14 anos. Os garotos também são alvos desse tipo de violência, mas em percentuais bem menores. Os agressores costumam ser pessoas próximas às vítimas. Além disso, o contexto socioeconômico pode determinar onde cada tipo de agressão é mais comum, sendo que os índices de importunação sexual são mais altos dentre alunos da rede privada e os de estupro dentre os da pública.

Índios Pataxós reagem depois de terem imóveis destruídos por trator da prefeitura de Porto Seguro (BA)




Os caminhos tomados pelos Pataxós para denunciar a prefeitura de Porto Seguro (BA) têm sido variados. O clima de tensão na Terra Indígena Ponta Grande - região cobiçada por empresários e políticos ligados ao turismo - se acirra exatamente no contexto de mobilização indígena nacional contra o marco temporal, que está sendo votado a passos lentos no STF. O episódio que impulsionou a reação dos Pataxós foi em 31/8: uma terça-feira que amanheceu com uma operação envolvendo a prefeitura de Porto Seguro, o MPF, a Polícia Militar (PM), a Guarda Civil Municipal, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal. Feita sem ordem judicial, a ação destruiu – com maquinário da prefeitura – oito imóveis de pataxós na orla da praia de Mutá. Recém-construídas, as casas seriam pequenos comércios de artesanato e comida.  Na última sexta-feira (10), ao sair de uma reunião com a Advocacia Geral da União e a Funai, Zeca Pataxó, cacique da Aldeia Coroa Vermelha, afirmou que a demanda apresentada pela comunidade foi de entrar na justiça contra a prefeitura de Porto Seguro pedindo indenização coletiva por danos materiais e morais. Na ocasião em que as casas foram demolidas, indígenas foram ameaçados e agredidos pela PM que, de acordo com a assessoria jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), chegou a dar um mata-leão em um cacique e algemar três pessoas, em seguida liberadas. "O Prefeito Jânio Natal, grande aliado do presidente Bolsonaro, usou seu poder de influência para executar as demolições ilegais", afirma Emerson, membro da Associação de Jovens Indígenas Pataxó. Em nota, a Prefeitura de Porto Seguro alega que a ação fiscalizatória constatou edificações irregulares. O governo municipal diz que, antes disso, havia realizado notificações e reuniões com indígenas, Funai e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nas quais teria apresentado um Termo de Ajustamento de Conduta que prevê a demolição de barracas de praia em desacordo com as normas vigentes. Acusa, ainda, lideranças indígenas e Funai de não terem cumprido o pacto dessas reuniões, de paralisar as obras. A versão da prefeitura, no entanto, não condiz com o que afirmam as lideranças indígenas Pataxós e os donos dos imóveis. Segundo eles, não houve qualquer diálogo ou aviso prévio às demolições. O MPF declarou que sua participação no episódio se restringiu a apuração de possíveis infrações e que “não tem relação” com a “demolição de construções na área litorânea de Ponta Grande”. A reportagem procurou a Polícia Militar da Bahia e até o fechamento dessa matéria não obteve resposta. (Fonte: Brasil de fato)


sábado, 11 de setembro de 2021

Dia da independência bolsonarista: 'uma conspiração antipatriótica por ativistas de aluguel para difundir a cultura da idolatria de Bolsonaro'! Algumas análises

 Ao invés de atos politizados organizados por cidadãos que reivindicam o cumprimento da democracia, o que se pôde observar nas manifestações da última terça-feira, 07 de setembro, foi uma "política despolitizada, divorciada da concepção clássica e civilizada de política, que aqui deixou de ser de cidadãos para ser de atores", disse o sociólogo José de Souza Martins. Os atos que marcaram o dia da Independência, avalia, foram "uma grande conspiração antipatriótica para difundir a cultura da idolatria de Bolsonaro como substituta da consciência de pátria", formados pela "presença de ativistas de aluguel".

O jurista e ex-reitor da Universidade de Brasília - UnB, José Geraldo de Sousa Junior, compartilha da mesma análise. "No gramado e na avenida, um presidente isolado numa bolha de mobilização artificial, preparada com antecedência e financiada pelo setor mais canibalizador da economia, o agronegócio, sequestrou o dia da Independência", destacou na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Em seus pronunciamentos, observa, Bolsonaro "falou como um presidente que não governa, que conspira; que não se solidariza com o social, mas com os seus interesses, de seus domésticos e associados; que não tem empatia com o povo e com a vida, só se liga nos negócios".

O economista José Luís Oreiro sublinha que a "manifestação de 7 de setembro foi feita, no fundo, com dois objetivos: primeiro, animar a sua plateia e, segundo, para juntá-los em poucos lugares para dar a impressão para o Congresso Nacional e para o Supremo Tribunal Federal de que o Bolsonaro tem muita força". Mas a agenda do presidente até as eleições presidenciais do próximo ano, ressalta, é tentar manter o grupo de apoiadores coeso. "O que as manifestações indicam é o desespero de Bolsonaro, que está tentando, com essas manobras, manter os seus 20% de aprovação para ver se ele consegue chegar no segundo turno [das eleições de 2022] e aí polarizar com Lula".

Para o historiador Valério Arcary, nas manifestações "Bolsonaro deixou claro que não renunciará à luta implacável pelo poder". A tática do presidente no momento, pontua, "consiste em ganhar tempo. Morde a assopra. Ocupa o centro das cidades, mas não autoriza distúrbios. Faz ameaças golpistas, mas lança uma carta apaziguadora. Mas qual é a estratégia? Garantir um reposicionamento melhor para a disputa eleitoral, e garantir a reeleição? Sim, mas não é só isso. O governo da extrema direita liderado por um neofascista não é um governo 'normal' com uma agenda de contrarreformas neoliberais. Bolsonaro tem como estratégia uma nova localização do capitalismo brasileiro no mundo em uma aliança estratégica com uma fração do imperialismo norte-americano contra a China".

(Fonte IHU)

 

24º domingo comum - O seguidor de Jesus que quer se dar bem na vida será um eterno infeliz! (Mt. 8,27-35)

Ao longo da nossa vida fazemos muitas experiências de morte. São momentos de angústia e de desânimo que parecem minar a nossa vontade de lutar e de viver. Experiências em que os nossos sonhos e ideais não encontram correspondência na realidade crua do dia-a-dia. Sonhamos com algo bonito, mas nos chocamos com uma realidade totalmente contrária. Percebemos que não somos os donos de nós mesmos, e nem dessa vontade pessoal. Sentimos interiormente a obrigação de ter que fazer algo que não foi planejado por nós! Diante disso, alguns se assustam e fingem que nada está acontecendo. Outros se fogem da realidade, e se refugiam em experiências alienantes. Outros encaram e assumem com coragem o que a vida lhes apresenta, gostando ou não! Algo que não pode ser negado e nem evitado. 

O trecho evangélico desse domingo põe em evidência as circunstâncias em que Jesus começa a se compreender como um profeta rejeitado e perdedor, pelo menos perante os olhos humanos! Jesus começa a perceber que todos, - inclusive os seus discípulos, - não entendiam e nem aceitavam a sua mensagem sobre a proximidade do Reino de Deus em favor dos pobres. Toma consciência que a sua missão não vinha criando grandes impactos, e estava afastando muita gente. Diante da perspectiva do fracasso Jesus sente que chegou a hora de mudar de metodologia. E Ele próprio começa a ter uma nova compreensão de si mesmo e da sua missão. A narração de Mateus colocada justamente bem no centro do seu evangelho se apresenta como um divisor de águas, uma situação-limite. Agora é tudo ou nada! A partir desse momento crucial o ‘novo Jesus’ deixa claro algumas atitudes que devem se tornar centrais para qualquer seu seguidor!

1. Jesus proíbe a Pedro que continue achando que Jesus é o Messias glorioso, vencedor, triunfante, vingador, dominador como todos achavam! Jesus deixa claro que todo discípulo que tenta segui-lo para se dar bem na vida é um verdadeiro satanás! Quem entra no grupo de Jesus para obter prestígio e poder está deformando a missão e a identidade de Jesus. E deixa de ser um cristão seguidor. Vira um mercenário! 

2. Para Jesus é importante que o discípulo não fuja diante dos desafios da missão, e nem se apavore diante dos possíveis fracassos, perseguições e sofrimentos, pois isso faz parte da própria missão. A igreja de Jesus não promete benesses e nem ilude seus seguidores. Quem acha que a nossa igreja é um trampolim para uma vida de sucesso e de bem-estar errou de endereço!

3. A última dica de Jesus aos seus discípulos pode chocar muita gente, ou seja, renegar a si mesmo e carregar a cruz! Renegar a si mesmo não significa rejeitar o bom e bonito que somos e que temos, e ao qual temos que aspirar, sempre. Não significa tampouco renunciar a lutar e defender os nossos direitos à felicidade. Ao contrário, para Jesus significa renegar e rejeitar as nossas ambições interiores e os projetos de dominação, opressão e manipulação que existem dentro de nós! E. sabendo que quando fazemos isso, tal renúncia produz necessariamente cruz, humilhação e perseguição por parte de quem fez outras opções de vida! A recusa a seguir Jesus no sofrimento significa perder o sentido da própria existência. Perde-se a felicidade interior própria de quem se sente em paz consigo mesmo e com os outros. 

Cair na tentação de levar adiante os próprios projetos de dominação, de esperteza, de salvaguarda de privilégios pessoais, vai necessariamente produzir sentimentos de perdição e de infelicidade. Jesus, o profeta sofredor rejeitado, nos ensina que é preciso desmascarar hoje as falsas promessas de salvação e felicidade fácil e imediata. Que é preciso ir contra as tendências planetárias segundo as quais se salva e sobrevive somente aquele que sabe ser atrevido e esperto em tirar proveito de tudo e de todos, sem ética e sem respeito. Quem assim agir já perdeu a sua vida, mesmo que não venha a ser materialmente “crucificado”.


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Provocações, tentativa de invasão, defesa do AI-5, churrasco caro: os bastidores da manifestação bolsonarista em Brasília

 Repórter narra bastidores da ação bolsonarista em Brasília.

Um grupo de 20 ou 30 pessoas tenta convencer caminhoneiros a invadir a via que leva ao prédio do Supremo Tribunal Federal. No carro de som, um homem de 70 anos diz que foi agente da comunidade de informações durante o regime militar e prega a decretação de um AI-5.Na hora do almoço, churrascarias caríssimas ficam lotadas de manifestantes bolsonaristas, grande parte ligada ao agronegócio. Ao longo de toda a tarde, grupos xingam policiais: “Traidores!”, berram. "O que a gente viveu hoje é mais um passo da erosão democrática. Está tendo um afunilamento desse processo. A cara de pau, a covardia de algumas pessoas vai ser colocada à prova agora. Essas pessoas estão sendo levadas a tomar uma atitude final. A sociedade brasileira percebe a gravidade desse momento”, afirma o jornalista.

Repórter experiente, Valente compara a manifestação do 7 de Setembro deste ano em Brasília com outros protestos na cidade. Observa que houve uma escalada no discurso golpista. Dezenas de faixas e cartazes com palavras antidemocráticas e pedindo o fechamento do STF cada vez mais na linha de frente da manifestação. No entanto, ressalta, “a absoluta maioria não embarcou numa minoria mais radical que queria invadir a via de acesso para chegar ao Supremo. Eram 20 ou 30 pessoas, chamando outros. Várias vezes, tentaram convencer os motoristas a ligar os caminhões e avançar sobre a PM. A absoluta maioria não embarcou nesse discurso. De certa forma, Bolsonaro não conseguiu o que ele queria. Foi um derrotado nesse sentido. Mas ele vai nesse processo de erosão e de cansaço das instituições, de demolição das instituições. Ele pode mudar esse jogo”.

Diferentemente de protestos anteriores, Valente não viu muitos moradores de Brasília, reduto eleitoral de Bolsonaro, eleito no Distrito Federal com 70% dos votos. Lembra que é “a cidade do funcionalismo público”, agora atingido pelo governo Bolsonaro que prepara uma reforma administrativa que será calamitosa para a população.“Essa massa parece que começou a abandonar Bolsonaro. Vi poucas placas de carros de Brasília, talvez 10%. O que aconteceu foi o interior chegando em caravanas”, conta Valente. “É o momento de os democratas de várias tendências partidárias, as pessoas de bom senso agirem para evitar uma cena como a dos EUA [no Capitólio]. Não chegamos ainda a ver a invasão de um prédio público, um quebra-quebra com mortes, como lá. Estamos na beira do precipício de isso acontecer.”

Rubens Valente  é autor de “Os Fuzis e as Flechas: História de Sangue e Resistência Indígena na Ditadura”, entre outros

Empresas que invadiram Esplanada têm histórico de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos agrários

 De Olho nos Ruralistas pesquisou marcas estampadas nos caminhões que participaram dos ataques de 6 e 7 de setembro; donos do Grupo Jacto, que distribuíram dinheiro em ônibus, doaram para campanhas de políticos ruralistas, como o deputado Neri Geller. Empresários do agronegócio ajudaram a arquitetar — e a financiar — a invasão da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e demais ações golpistas do feriado. No Dia da Independência, a presença de caminhões de suas empresas no local mostrava a participação delas na invasão antidemocrática da véspera. Os manifestantes pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Por trás dos logotipos nas laterais das carretas, De Olho nos Ruralistas identificou histórias de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos com camponeses — além de lobbies junto a congressistas.

Vários caminhões entraram na área destinada apenas ao público. E não somente o caminhão de som. Entre eles estavam os da Dez Alimentos, de Morrinhos (GO), uma das maiores processadoras de tomate do Brasil. Pelo menos dois caminhões dela ocuparam as primeiras filas. O dono Paulo César Chiari e seus sócios foram processados há nove anos por submeterem trabalhadores rurais à condição análoga à de escravidão. Quem também esteve na Esplanada foi a ID Agronegócio, de Itaúna (MG), especialista em feno. Ao menos dois caminhões dela estavam na área invadida. A Sidersa é uma das siderúrgicas apontadas como responsáveis pela desestruturação do Cerrado na região Norte de Minas Gerais e pela expropriação de terras das comunidades tradicionais.

Em que pese já terem apresentado plano de recuperação judicial, os sócios do Grupo Grão Dourado, produtor de arroz, feijão, milho e soja em Piracanjuba (GO), foram outros que não se furtaram de participar dos atos, com cerca de uma dezena de caminhões. A marca da empresa era a que mais se destacava na área invadida. Em agosto de 2012, Nilton Pinheiro de Melo, que é membro da Associação Goiana de Suinocultores, Jonas Pinheiro de Melo e Ivan Pinheiro de Melo alegaram que os prejuízos refletiam na capacidade de pagamento de credores, inclusive trabalhistas. A empresa goiana Dez Alimentos se vangloria de dominar toda a cadeia de produção, do plantio às gôndolas. Mas essa cadeia nem sempre segue configurações republicanas. Conforme o Ministério Público do Trabalho (MPT), trabalhadores rurais da empresa eram arregimentados na região de Centralina (MG) e administrados nas lavouras por agenciadores de mão de obra, comumente chamados de “gatos”.


A reportagem é de Leonardo Fuhrmann e Mariana Franco Ramos, publicada por De Olho nos Ruralistas, 09-09-2021.


FRASES DO DIA....

 Busca de proteção, não de diálogo e pacificação

 “O texto (do presidente) pode parecer um recuo, mas é, na verdade, um pedido de habeas corpus para um político em perigo. Os dez parágrafos da declaração publicada nesta quinta (9) pelo Planalto dão todos os sinais de que Bolsonaro está em busca de proteção, não de diálogo e pacificação. No texto, o presidente ignora sua ameaça pública de descumprir decisões judiciais e torce para que a manobra seja suficiente para não ser punido pelos crimes que já cometeu” – Bruno Boghossian, jornalista – Folha de S. Paulo, 10-09-2021.

Impeachment. Conversas ganham corpo

 “O presidente percebeu que as investigações contra seu grupo político vão continuar e que conversas sobre um impeachment começam a ganhar corpo. Ameaçado, ele simula um passo atrás para reduzir temporariamente as pressões sobre o governo até que fique confortável o suficiente para atacar de novo”

Bolsonarismo sem Bolsonaro

 “Bolsonaro é destrambelhado e estúpido demais, e os bolsonaristas logo precisarão de alguém melhor. Um indício de que já começaram a se mover sozinhos é a classificação de "frouxo" dada publicamente a ele por um patético caubói caminhoneiro, por Bolsonaro ter ordenado a dissolução da greve da categoria. Hoje sabemos que o bolsonarismo já existia antes de Bolsonaro. O trágico é descobrir que talvez sobreviva a ele”

Barbarizar – atitude ‘racional’ de Bolsonaro

 “Bolsonaro é motivo de incertezas que chutam o dólar para cima, tolhem investimentos e provocam aumento de preços preventivos. Quanto mais durem as incertezas, como as fiscais, mais difícil conter a deterioração por inércia: inércia da inflação, de contenção de consumo e investimento por precaução, das condições financeiras ruins. Dado o estrago que já foi feito, quem sabe a atitude “racional” de Bolsonaro seja mesmo barbarizar. Se por mais não fosse, tem ainda o impulso essencial da imbecilidade desvairada e de seu projeto de fundo (tirania e escapar da cadeia)”

Bolsonaro dá chapéu em ministros e entrega a Temer papel de pacificador

 “É dura a vida de quem tem de lidar com Jair Bolsonaro. Flávia Arruda e Ciro Nogueira suaram a camisa depois da terça-feira do 7 de Setembro para convencer o presidente a desarmar o espírito e estender a mão ao STF, mas tomaram um “chapéu” do presidente. Fizeram a cama, nas palavras de um palaciano, mas quem deitou nela e ficou com a fama foi Michel Temer, muito à vontade no papel de “pacificador”.

O ex-presidente ainda conservou a imagem de “independente”: na mesma terça fatídica, chancelou, com Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, a dura nota do MDB contra Bolsonaro” - Alberto Bombig e Matheus Lara – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 10-09-2021.

Vixe

 “Para piorar, enquanto Bolsonaro se entendia com Temer, e os “moderados” do Planalto, junto com Arthur Lira, trabalhavam pelo armistício entre Poderes, Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, castigava o governo e Bolsonaro na GloboNews”

Por…

 “Segundo um conhecedor das tramas do Planalto, o “erro” de Lira e de Nogueira foi figurarem em reportagens da imprensa no papel de “fiadores” da estabilidade e da moderação, capazes de frear Bolsonaro. Esqueceram-se de combinar com o presidente”

…conta

 “Bolsonaro fica contrariado com esses movimentos e gosta de fazer justamente o contrário”

Bichos

 “Os adversários de Bolsonaro foram à loucura nas redes sociais. “O leão virou um rato”, escreveu João Doria (PSDB-SP)”

Raiva, ameaças e agressões

 “Não dá para tapar o sol com a peneira: os atos de 7 de Setembro, que não foram a favor de nada, só a favor do próprio Bolsonaro e contra o Supremo e a democracia, foram um sucesso para ele. Mas, em vez de comemorar, de transmitir segurança e alegria – como gostaria Ramos – o presidente jogou tudo fora ao reagir com raiva, ameaças, agressões” – Eliane Cantanhêde, jornalista – O Estado de S. Paulo, 10-09-2021.

Erro grave

 “Um erro grave nos esportes e na política é subestimar adversários. É imperdoável as esquerdas e a oposição em geral tentarem reduzir o peso político dos atos, que tiveram expressiva participação popular. Ok. Não havia 500 mil em Brasília nem 2 milhões a 3 milhões em São Paulo, como esperava Bolsonaro, mas as imagens não mentem. Tinha muita gente, sim, muito mais do que o razoável em meio à pandemia, o desemprego e a miséria, com um presidente que não governa, vive de messianismo”

Passo de mágica

 "As coisas não ficarão como estão e nem tudo mudará para melhor subitamente num passo de mágica. Estava claro. Este é o Brasil, o país do 'deixa disso' e do 'veja bem'" – Bernardo Kuster, editor do jornal olavista Brasil Sem Medo – Folha de S. Paulo, 10-09-2021.

Covarde

 "Este é o meu recado para o presidente Bolsonaro. O general que vai para a guerra com medo de levar um tiro é tido como covarde... E não merece a lealdade da tropa nem as honras do soberano" - Wagner Cunha, que se apresentou como psicólogo, escritor e ativista político – Folha de S. Paulo, 10-09-2021.

(Fonte: IHU)