sábado, 31 de julho de 2010

"Ricos para Deus"! (Lc.12,13-21)


Na nossa profunda insegurança, nós humanos, muitas vezes, nos agarramos e depositamos nossa confiança em ‘coisas’. São objetos, mercadorias, produtos que são criações dos nossos próprios desejos, sonhos, aspirações. Algo finito, passageiro, que se corrompe e desgasta. Como, então, depositar nisso as aspirações mais profundas da nossa ‘alma’? Como achar que vamos encontrar ‘segurança’ naquilo que por sua própria natureza é ‘inseguro’ e efêmero? Claro, nós vivemos também de emoções e sensações, mesmo que pontuais e de rápido efeito. Muitas vezes nos sentimos profundamente inebriados ao contemplar e usar todos aqueles objetos que ‘possuímos’. Na maioria das vezes são de escassa utilidade, mas acreditamos que ao expô-los publicamente nos proporcionam prestígio, reconhecimento público, força social e econômica. Ao contrário, muitas vezes, não tomamos consciência de que eles expõem as nossas verdadeiras carências. Os nossos desejos reprimidos e a nossa necessidade de emergir. São expressão da nossa vontade inconsciente de encobrir um passado de necessidades materiais ou escancaram a nossa dependência e submissão escrava a ‘coisas’. São uma mensagem para dizer ao mundo que, enfim, graças à posse desses objetos, nós existimos!

Jesus, sem ter feito apurados estudos sobre o comportamento humano, havia percebido algo que estava presente no ser humano e que o destruía, aos poucos, por dentro. Jesus não condena a mera posse dos bens, mas o fato de os humanos ‘doarem suas almas/vidas’ a eles. Ou seja, entregarem o que eles têm de mais profundo: sua liberdade, sua consciência, sua abertura ao infinito, para ídolos criados por eles próprios. De forma sutil Jesus desmascara quantos querem ocultar a sua dependência da ganância tentando justificar que seus ‘inúmeros bens’ são fruto de sua capacidade produtiva, de sua iniciativa e criatividade, ou pior, que é dádiva de Deus. Historicamente se tem apregoado e abençoado a prosperidade que vem Deus. Esta seria uma forma de Deus reconhecer e abençoar aqueles que acumularam bens apelando para o Seu nome santo. Para Jesus essas pessoas não passam de ‘insensatas’ que ainda não compreenderam que o que dá sentido à sua breve existência humana é serem ‘ricos para Deus’! Ou seja, livres para partir o pão com o faminto e fazer comunhão com ele, livres de tanta roupa, máscaras, medos, ambições que nos mantêm cativos de nós mesmos.

Livres, enfim, para contemplar os lírios do campo.....

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Há 25 anos atrás o comboniano Pe. Ezequiel era assassinado por defender vidas ameaçadas!


Ezequiel, o que é ressurreição?


Diga-nos, mártir da luta, como acreditar na vida quando os direitos dos pobres continuam negados e seus defensores violentados.Lembrando sua paixão pela causa dos povos indígenas é bom que você saiba que, ainda hoje, mais de 50% de suas terras continuam sem identificação, demarcação ou homologação.Você deu a vida para garantir ao seu povo um pedaço de chão. Ainda hoje, porém, o Brasil continua campeão mundial na concentração da terra. Como você está vendo, o plebiscito de setembro 2010, pelo limite à propriedade e pelo direito à partilha deste bem tão essencial?
Ainda ressoam suas palavras: "muitas vezes sinto uma grande vontade de chorar, ao ver os quilômetros de cerca...". Como não chorar hoje, Ezequiel irmão nosso, diante da aprovação da reforma do Código Florestal que, em vez de preservar a natureza como fonte de vida, continua matando as florestas e reduzindo as áreas de preservação permanente?A vida continua cada vez mais ameaçada pela ilusão do crescimento e do progresso! Mas que progresso é este que suga das veias abertas da America Latina a madeira do mato, o ferro da terra e a fertilidade do chão?


No meio das contradições e falências....


você costumava repetir que "trabalhar com os pobres é como criar primavera". Acreditamos nessa primavera, padre Ezquiel! Sentimos que a vida pulsa nas veias desse povo, apesar das ameaças que pairam sobre ele. Admiramos a cada dia a resistência e dedicação das mulheres líderes de comunidade. É delas que você deve ter aprendido!Sua paixão não foi em vão. Hoje, em nossas pequenas comunidades, os olhos do povo se iluminam quando fazemos a sua memória, a do padre Josimo, a da irmã Dorothy e de outros mais. Luzes distantes, mas permanentes, estrelas fixas no horizonte.Sim, apesar de tudo, nossos povos ainda têm horizontes.


Alguns perderam o sonho.


Mas outros ainda enxergam longe, lutam por reformas, acreditam na honestidade, doam-se até o fim. Você não imagina Ezequiel, quanto tem sido importante para eles seu exemplo e a vida de muitos outros batalhadores dos dias de hoje!Hoje suas palavras fecundam a vida de muitos jovens: "Tenho a paixão de quem persegue um sonho. Essa palavra tem tamanha intensidade que, quando a acolho em meu ânimo, sinto que uma libertação sangra por dentro de mim".


A Igreja que você sonhava....


e pela qual trabalhou ainda está em construção, depende de nós lhe dar um sabor de libertação. Você comentava: "É um novo jeito de ser igreja. Avanço nessa lógica. As atividades são ligadas ao social, a uma transformação concreta. O papel principal é dos leigos. Eles são igreja. Interessam-se por tudo. O trabalho é de coesão, juntos buscamos saídas para os problemas interconectados da terra, dos índios, da saúde e do analfabetismo..." "Meus olhos buscam com dificuldade a história de Deus aqui. A cruz é a solidariedade de Deus para com a caminhada e a dor humana. O amor de Deus é mais forte do que a morte. A vida é bela e estou feliz em doá-la!"


Ressurreição deve ser isso, Ezequiel: doar-se com alegria para que esse povo viva! Você ainda vive, mártir da terra e do sonho de Deus. Que essa vida se transmita apaixonada às muitas e aos muitos seguidores de Cristo que ainda seguem criando primavera!- (Escrito por Dário Bossi)

Pai nosso!



Lucas nos apresenta a sua versão do ‘Pai Nosso’. Sintética, humana e teologicamente densa. Uma oração que não se identifica com as fórmulas estereotipadas dos fariseus. Mais que oração é uma atitude de fundo que deveria perpassar qualquer oração/ação. Ela define o que significa ser ‘filhos e filhas, seguidores do Pai Nosso!

‘Pai nosso’ – ....porque nos reinos dos ‘césares’ as pessoas se dirigiam aos monarcas chamando-os de ‘todo-poderoso’, de ‘majestade’, de ‘divino’, etc. Na Tua família onde ninguém é maior que o outro, onde só existem relações de afeto e de mútua colaboração, - e não de dependência e de subalternidade, - Tu, nosso protetor, só pode ser acolhido como pai. Um pai coletivo, de todos, mas pessoal ao mesmo tempo.

seja santificado o teu nome’ - ....pois ele revela a Tua identidade e essência. Por isso que ninguém podia pronunciar o Teu nome diretamente, para evitar que a manipulassem e a moldassem a segunda de seus próprios projetos e interesses pessoais.. O teu nome encerra o teu insondável projeto de vida/salvação para conosco teus filhos e filhas. Santificarmos o Teu nome significa reconhecer, respeitar e aprovar que o Teu projeto/essência de amor e de vida plena dá sentido à nossa existência. Nele, nós também somos santificados, respeitados e reconhecidos!

Venha a nós o Teu reino’ - ...e não o reino de César, nem de Pilatos ou Herodes, e nem de qualquer governador ou presidente! Pois o Teu reino diferentemente do deles, é reino de paz e justiça, de misericórdia e fraternidade. Nele as pessoas são reconhecidas e tratadas como filhos e filhas, e não como súditos ou escravos.

Dai-nos a cada dia o alimento necessário’ -...pois ele é sistematicamente acumulado, negado e sonegado a muitos filhos e filhas tuas. Pedimos-te o pão que preenche o nosso ser, que nos sustenta na provação, que dá força no desespero, que dá coragem no medo, que dá vigor ao desnutrido. Mas te pedimos também: dai-nos fome e sede de justiça que é a única coisa que não nos permite sonegar o pão ao nosso irmão!

Perdoa as nossas dívidas, como nós também procuramos perdoar as dos demais’ -....pois sentimos o peso da nossa intolerância, da nossa indiferença, da nossa leviandade em julgar e condenar, baseados em aparências e preconceitos. Dai-nos a humildade de reconhecer que somos devedores sim, mas de caridade, de compaixão, de amor verdadeiro. Arranca de nós a presunção de nos considerar sempre credores de tudo, para com todos!

não nos deixes cair na tentação’ -....de largar o teu projeto de vida, e de entrar na onda do reino dos césares, das facilidades e das espertezas da vida fácil, do desejo de possuir coisas, de dominar pessoas, de corromper e aceitar sermos corrompidos..

Esses são os males de que precisamos ser ‘livrados’!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Padre Flavio Lazzarin se despede da Secretaria da CNBB. Obrigado, Flavio!

São Luís do Maranhão, 21 de julho de 2010

Caríssimas irmãs e caríssimos irmãos,

Toda despedida e toda mudança comportam ritos que regulam a nossa convivência social e eclesial. Espero que estas minhas poucas linhas não sejam um dos tantos ritos vazios que, frequentemente, marcam as nossas vidas. Neste mês de julho, termina o meu serviço ao Regional Nordeste V da CNBB, mas, como dizia o mestre Paulo Freire, a gente muda de esquina, mas não muda de luta. Foram três anos importantes da minha caminhada, porque tive a oportunidade de me familiarizar um pouco mais com a nossa Igreja local e com a sua história bonita, bem simbolizada pelo sonho profético do principio que norteia, há muitos anos, a pastoral do Regional:

"Fiéis ao Deus dos pobres e aos pobres de Deus na construção do Reino, animados por nossos mártires da caminhada, optamos por ser uma Igreja missionária em permanente processo de conversão, que vive o espírito das CEBs:

- celebra e liga a fé com a vida;

- é toda ministerial, descentralizando poder e tarefas;

- é comprometida com o social, capaz de ver e ouvir os clamores da criação;

- é advogada da justiça e defensora dos pobres;

- é acolhedora, misericordiosa, profética e samaritana;

- é ecumênica, aberta ao outro, ao diferente, buscando a unidade na diversidade."

Agradeço a todos vocês, que tiveram paciência comigo e conseguiram ir além das limitações do meu temperamento e perdoaram as inevitáveis insuficiências do meu serviço. Fico com saudades dos muitos que no Secretariado e na Assessoria continuam contribuindo com a caminhada. Saúdo de forma especial os Bispos que estão deixando o serviço episcopal e aqueles que renovam, com juventude e entusiasmo evangélico, o rosto da Igreja do Maranhão.

Que o legado sinodal da Assembléia do Povo de Deus de 2004 continue sendo a inspiração do testemunho dos batizados e batizadas das nossas Comunidades, Paróquias, Dioceses, Pastorais, Organismos e Movimentos.

Um grande abraço carinhoso e agradecido.

Pe. Flávio Lazzarin

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Na terra onde canta o sabiá, a pobreza reina entre as palmeiras


O Maranhão segue em penúltimo lugar no país com as maiores taxa de pobreza absoluta (55,9%) e na taxa de pobreza extrema com 53,1%, ficando à frente somente de Alagoas.Os dados estão no comunicado do IPEA, "Dimensão, evolução e projeção da pobreza por região e por estado no Brasil". As linhas de pobreza absoluta e extrema utilizadas foram estabelecidas pelo critério de rendimento médio domiciliar per capita, respectivamente, de até meio salário mínimo mensal e de até um quarto de salário mínimo mensal. Em 2008, Alagoas foi o estado que registrou a maior taxa de pobreza absoluta (56,6%), seguido do Maranhão (55,9%) e Piauí (52,9%). Em 1995, os três estados com maior taxa de pobreza absoluta eram: Maranhão (77,8%), Piauí (75,7%) e Ceará (70,3%). Em relação à taxa de pobreza extrema, observa-se que em 1995, Maranhão possuía (53,1%), Piauí (46,8%) e Ceará (43,7%) eram os estados com maior proporção de miseráveis no país. Para o ano de 2008, Alagoas foi o estado da federação com a maior taxa de pobreza extrema (32,3%), seguido do Maranhão (27,2%) e do Piauí (26,1%). Curiosamente nesse período, o Maranhão está entre os três estados da federação com maior ritmo de expansão do PIB per capita: Tocantins (9,2%), Distrito Federal (6,5%) e Maranhão (6,2%), contudo, não foram aqueles com maior redução na taxa de pobreza absoluta.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Igreja católica debate com instituições públicas o abandono do centro histórico de São Luis


O esvaziamento, e o abandono do centro histórico - entendido não somente como acervo físico-cultural, mas como realidade sócio-cultural viva e dinâmica, - decorre, essencialmente, da cegueira e da irresponsabilidade administrativa. Os próprios ‘esclarecidos investidores privados’ da cidade não têm interesse algum em revitalizar um conjunto de estruturas urbanas que para eles não passam de ruínas de um passado glorioso que, agora, não produz lucros. Nem os turistas - que são fontes de renda pelo menos em algumas épocas do ano - interessam a eles. A ausência escandalosa de segurança no centro histórico parece, essa sim, planejada. Parece um claro recado à população para que esta procure em shoppings, na lagoa da Jansen e na litorânea o que procura no centro.

Bem que a Comissão Justiça e Paz tentou juntar representantes de órgãos públicos para debater a questão do abandono do centro histórico de São Luis e da sua segurança, no auditório da arquidiocese, ontem. Em vão. Emergiram os históricos descasos, a falta de planejamento, de verbas, de colaboração entre eles, as disputas políticas mesquinhas, e a falta de interesse em manter um patrimônio cultural que, no papel, foi definido, outrora, como sendo da humanidade. Lamentável que os titulares das instituições convidadas – Secretaria de Segurança, Prefeitura, Guarda municipal, Promotoria, entre outras, tenham enviado representantes sem nenhum poder de ‘fechar’ qualquer tipo de compromisso formal.

Para alguns deles, tudo não passa de 'falta de consciência' de uma população que tem baixos índices de instrução e destrói tudo o que é feito para ela"!!!!Se esta é a consciência esclarecida dos 'instruídos' que são pagos com dinheiro público para manter e cuidar da vida sócio-cultural do centro, eu fico com a população 'vândala'!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Onde está a verdadeira crise da Igreja?


Artigo de Leonardo Boff publicado em ADITAL


A crise da pedofilia na Igreja romano-católica não é nada em comparação à verdadeira crise, essa sim, estrutural, crise que concerne à sua institucionalidade histórico-social. Não me refiro à Igreja como comunidade de fiéis. Esta continua viva apesar da crise, se organizando de forma comunitária e não piramidal como a Igreja da Tradição. A questão é: que tipo de instituição representa esta comunidade de fé? Como se organiza? Atualmente, ela comparece como defasada da cultura contemporânea e em forte contradição com o sonho de Jesus, percebida pelas comunidades que se acostumaram a ler os envangelhos em grupos e então a fazer a suas analises.


Dito de forma breve mas não caricata: a instituição-Igreja se sustenta sobre duas formas de poder: um secular, organizativo, jurídico e hierárquico, herdado do Império Romano e outro espiritual, assentado sobre a teologia política de Santo Agostinho acerca da Cidade de Deus que ele identifica com a instituição-Igreja. Em sua montagem concreta não é tanto o Evangelho ou a fé cristã que contam, mas estes poderes, considerados como um único "poder sagrado" (potestas sacra) também na forma de sua plenitude (plenitudo potestatis) no estilo imperial romano da monarquia absolutista. César detinha todo o poder: político, militar, jurídico e religioso. O Papa, semelhantemente detém igual poder: "ordinário, supremo, pleno, imediato e universal" (canon 331), atributos só cabíveis a Deus. O Papa institucionalmente é um César batizado.


Esse poder que estrutura a instituição-Igreja foi se constituindo a partir do ano 325 com Imperador Constantino e oficialmente instaurado em 392 quando Teodósio, o Grande (+395) impôs o cristianismo como a única religião de Estado. A instituição-Igreja assumiu esse poder com todos os títulos, honrarias e hábitos palacianos que perduram até os dias de hoje no estilo de vida dos bispos, cardeais e papas.


Esse poder ganhou, com o tempo, formas cada vez mais totalitárias e até tirânicas, especialmente a partir do Papa Gregório VII que em 1075 se autoproclamou senhor absoluto da Igreja e do mundo. Radicalizando, Inocêncio III (+1216) se apresentou não apenas como sucessor de Pedro mas como representante de Cristo. Seu sucessor, Inocêncio IV(+1254), deu o último passo e se anunciou como representante de Deus e por isso senhor universal da Terra que podia distribuir porções dela a quem quisesse, como depois foi feito aos reis de Espanha e Portugal no século XVI. Só faltava proclamar Papa infalível, o que ocorreu sob Pio IX em 1870. O circulo se fechou.


A instituição igreja, ou muda ou se condena!


Ora, este tipo de instituição encontra-se hoje num profundo processo de erosão. Depois de mais de 40 anos de continuado estudo e meditação sobre a Igreja (meu campo de especialização) suspeito que chegou o momento crucial para ela: ou corajosamente muda e assim encontra seu lugar no mundo moderno e metaboliza o processo acelerado de globalização e ai terá muito a dizer, ou se condena a ser uma seita ocidental, cada vez mais irrelevante e esvaziada de fiéis. O projeto atual de Bento XVI de "reconquista" da visibilidade da Igreja contra o mundo secular é fadado ao fracasso se não proceder a uma mudança institucional. As pessoas de hoje não aceitam mais uma Igreja autoritária e triste como se fosse ao próprio enterro. Mas estão abertas à saga de Jesus, ao seu sonho e aos valores evangélicos.


Esse crescendo na vontade de poder, imaginado ilusoriamente vindo diretamente de Cristo, impede qualquer reforma da instituição-Igreja, pois tudo nela seria divino e intocável. Realiza-se plenamente a lógica do poder, descrita por Hobbes em seu Leviatã: "o poder quer sempre mais poder, porque não se pode garantir o poder senão buscando mais e mais poder". Uma instituição-Igreja que busca assim um poder absoluto fecha as portas ao amor e se distancia dos sem-poder, dos pobres. A instituição perde o rosto humano e se faz insensível aos problemas existenciais, como da família e da sexualidade.


O Concílio Vaticano II (1965) procurou curar este desvio pelos conceitos de Povo de Deus, de comunhão e de governo colegial. Mas o intento foi abortado por João Paulo II e Bento XVI que voltaram a insistir no centralismo romano, agravando a crise.


O que um dia foi construído pode ser num outro, desconstruído. A fé cristã possui força intrínseca de nesta fase planetária encontrar uma forma institucional mais adequada ao sonho de seu Fundador e mais consentânea ao nosso tempo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Lançamento do filme 'Não VALE!' em São Luis


Terça feira dia 13 de julho, às 17,00 h. haverá o lançamento do filme 'Não VALE'! Acontecerá na sala de projeções da sede do Sindicato dos Ferroviários STEFEM, Rua Cândido Ribeiro 324, Centro. Entrada é livre.

O filme de autoria do diretor italiano Silvestre Montanaro é uma produção da Campanha Justiça nos Trilhos que conta entre outras entidades, com a participação da Província dos Missionarios Combonianos do Brasil Nordeste. No filme de 75 minutos, o diretor italiano procura identificar e ilustrar com depoimentos e imagens densas de dramacidade e comoção os principais impactos cusados pelo 'trem' da Vale. Ou seja, o trem da acumulação doentia, da exploração humana e ambiental sem escrúpulos da gigante brasileira e mundial da mineração, a VALE.

Diante da perspectiva imediata da duplicação da ferrovia do Carajás, o filme se torna extremamente atual para compreender o atual modelo de 'desenvolvimento predatório' que está a vigorar nesse Estado e lá onde a VALE atua.

sábado, 10 de julho de 2010

Igreja samaritana: ajudar o caído e abatido a se levantar, para que volte a viver! (Lc. 10, 25-37)


No nosso cotidiano somos permanentemente bombardeados por informações e propaganda de toda espécie. Temos dificuldade de filtrar e compreender o sentido de tudo o que vemos e ouvimos. Uma coisa, porém, que salta aos nossos olhos é a tentativa da mídia em geral em determinar às nossas consciências o que temos que valorizar e o que devemos rejeitar. O que deve ser objeto da nossa compaixão e misericórdia e o que devemos condenar. Sem nos aperceber, de forma acrítica, incorporamos atitudes excludentes e formas de julgamento ético-moral que em nada tem a ver com a prática compassiva de Jesus de Nazaré!


O doutor da lei de que nos fala Lucas, provocou Jesus com o claro intuito de verificar se Jesus reproduziria como todos os seus co-nacionais o que a moral nacional e a lei oficial haviam consagrado, ou seja, amar Deus acima de tudo, e amar o seu ‘próximo’ como a si mesmo. Caso Jesus não repetisse integralmente o mandamento maior ficaria desmoralizado como rabi perante todos. Ao mesmo tempo, provaria que Jesus não se diferenciaria em nada daquilo que todos já sabiam e aderiam. O desejo irrefreável do doutor da lei em encontrar formas de se distanciar de Jesus e da sua prática - considerada indiretamente ‘contra a lei oficial’ - o leva a fazer a pergunta central: ’Quem é o meu próximo’? (v.29) A resposta/parábola a essa pergunta por parte de Jesus se constitui num verdadeiro divisor de águas entre a sua prática evangelizadora e a sua concepção de Deus, e a que os doutores da lei e os fariseus haviam adotado formal e nacionalmente.


Jesus deixa claro que amar o ‘próximo’ não pode ser um preceito abstrato, uma mera obrigação cultual, relegada ao moralismo religioso que vigorava no templo, mas que devia ser algo concreto e transformador das relações humanas. Ou seja, é imprescindível compreender que ‘ser próximo’ de alguém significa saber ‘ir ao encontro/aproximar-se’ dele, sentir compaixão e ternura precisamente quando o outro não pertence à sua mesma nação/religião, e quando está na pior, caído, ferido, desesperado e desassistido.


Jesus, dessa forma, reafirma que ‘o ser próximo de alguém’ não é um preceito/valor exclusivo de uma casta religiosa, de sacerdotes e de doutores, ou de uma nação ou de uma determinada classe social. Ao contrário, para Jesus, foi um samaritano, estrangeiro e herege, que não freqüentava o templo de Jerusalém e não conhecia seus preceitos que paradoxalmente soube ‘ser próximo’ de um seu inimigo religioso ao socorrê-lo na sua desgraça! O samaritano não conhecia o preceito, mas o viveu em plenitude, concretamente. Com isso Jesus re-inventa o ‘próximo’. Se para os hebreus o ’próximo’ é aquele que está perto, que pertence à sua mesma nação e família, - e com ele se estabelecem relações de solidariedade e de recíproca proteção, - para Jesus o ‘próximo’ é a pessoa que se coloca a serviço do abatido e caído, o ajuda a ‘levantar-se’ para ser uma pessoa nova, restabelecida.


Jesus nos ensina a irmos além dos critérios de solidariedade familiar, nacional ou grupal, pois o que realmente conta é a nossa capacidade de sentir indignação para com todas as vítimas da violência, da indiferença humana, da hipocrisia religiosa, do abandono, independentemente de quem quer que seja. É isso que nos permite re-construir a grande família comum para além dos limites geográficos, das opções políticas, religiosas e sexuais. O ‘missionário’ Jesus de Nazaré continua a nos repetir: ’Se vocês amam somente os que vos amam, que mérito vocês têm? Em que vocês se diferenciam dos ‘pagãos’....doutores da lei, levitas e homens do templo.....?’

quinta-feira, 8 de julho de 2010

'Eles' estão a ganhar! Flexibilizado o Código Florestal.


Deputados aprovaram ontem, dia 7 de julho, por 13 a 5, relatório que regulariza propriedades rurais sem Reserva Legal, sob aplausos de fazendeiros e vaias de movimentos sociais ligados ao campo. Estão em jogo, dois modelos de produção agrícola para o país.


Em junho, o deputado federal Aldo Rebelo (PcdoB/SP), relator da comissão especial criada para analisar os projetos de lei que alteram o Código Florestal, apresentou um relatório que flexibiliza as normas já existentes, como reivindicava a chamada bancada ruralista no Congresso.Pela nova redação, não haverá mais a obrigatoriedade de se preservar 30 metros de vegetação na beira dos rios (matas ciliares), mas apenas 15 metros, em se tratando de cursos d'agua que tenham de cinco a dez metros. Além disso, propriedades com até quatro módulos fiscais - o que na Amazônia, por exemplo, equivale a 400 campos de futebol - que já tenham desmatado áreas de Reserva Legal, não serão mais consideradas ilegais e nem precisarão replantá-las. Pelo novo Código, os topos dos morros também deixam de ser consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP) e podem ser desmatados. São justamente estas áreas que recarregam os lençóis freáticos. O código define a observância das APPs, de Reserva Legal e vários outros dispositivos que visam coibir a exploração desenfreada da natureza.


Além disso, o projeto aprovado anistia os proprietários de terras que desmataram ilegalmente até o ano de 2008. O texto aprovado choca-se também com o conceito até hoje vigente de função social da propriedade. Com o código, uma fazenda não pode mais ser desapropriada por não cumprir a função social no quesito da preservação ambiental.Outro aspecto polêmico aprovado no novo texto se refere à possibilidade de compensação da área desmatada. O fazendeiro que desmatou poderá, pelo novo código, comprar um trecho de mata equivalente àquele em outro local, mesmo em outro estado, desde que seja dentro do mesmo bioma.


O Código Florestal só pode ser discutido se for entendido no contexto de toda a discussão da questão agrária. Este debate interessa a toda a sociedade e não poderia ter sido aprovado dessa maneira, com um relatório que foi modificado na madrugada, nas vésperas da votação e durante uma Copa do mundo de futebol.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Mário David, um jovem quase padre!

Mário David seria padre dentro de alguns meses. Um padre como muitos cristãos sonham ter: terno, atencioso, sensível, sério, responsável, inteligente. Como Dom Belisário disse na sua breve e emocionada reflexão na missa de corpo presente Mário representava uma ‘esperança’ para essa igreja. Ele se foi, mas espera-se que a sua morte não seja em vão. Que a curta, mas luminosa passagem de Mário David sirva de incentivo e motivação para padres, leigos e cidadãos construirem novas relações humanas, alicerçadas no respeito, no diálogo e na caridade.

Mário David 31 anos, estudante de teologia da arquidiocese de São Luís foi enterrado há poucas horas atrás. Os dois assassinos que o mataram e lhe roubaram o carro em que ele se encontrava em companhia da avó, ontem à noite, às 20,30, nas proximidades de São Pantaleão, irão fazer parte de uma longa lista de homicidas que nunca serão presos. E, se porventura forem presos, ficarão alguns anos nas masmorras de Pedrinhas esperando algum indulto ou benefício que a legislação prevê, para estarem novamente nas ruas a cometerem outros crimes.

Uma espiral essa que no Brasil ‘potência mundial’ parece algo inverídico. Isto prova que os altos índices de desenvolvimento econômico não produzem automaticamente uma melhora nos índices sócio-culturais. Estes parecem piorar a cada dia. Instalou-se definitivamente na nossa sociedade brasileira a contra-cultura da violência total. Não há polícia que controle, nem patrulha do bairro que reprima.

Mário David pode ter sido morto por outros dois jovens da sua mesma idade. Afinal, é nessa faixa etária de 20 a 30 anos que mais se mata e se morre nesse 'jovem país'! Não é mais suficiente afirmar que algo deve ser feito. É imprescindível especificar e 'focar' ...esse algo!

domingo, 4 de julho de 2010

Para o papado voltar a Pedro

Hoje, para o papa voltar a ser um servidor digno de confiança para a igreja e para o mundo deveria renunciar imediatamente ao Estado do Vaticano e a ser o seu chefe/presidente/monarca. Ao mesmo tempo, deveria aceitar ser eleito democraticamente, embora pela forma representativa, aceitando que as diferentes conferências episcopais se coordenem e se estruturem a segunda das exigências e das suas especificidades locais e culturais. As igrejas locais, irão decidir se é oportuno, por exemplo, permitir o sacerdócio às mulheres, manter o celibato, formar padres em seminários, introduzir novos ministérios, etc. O papa, livre da centralização burocrático-administrativa vaticana e de chefe de Estado dedicar-se-á a ‘confirmar’ os cristãos na fé no ‘único’ Jesus Cristo que se fez servidor dos servidores.

O papa, hoje em dia, pelas suas funções de ‘príncipe da igreja e de sucessor de Pedro’ é de um lado o coordenador máximo das políticas internas eclesiásticas e o principal promotor absoluto de eventuais mudanças e decisões e, do outro lado, é também o ‘chefe do Estado do Vaticano’ em que ele tem a função de chefe político que se relaciona diplomática e politicamente com outros estados e outras forças sociais e administrativas que mantêm vínculos com o Vaticano. Uma clara duplicidade de papéis inconciliável e profundamente contraditória.

O primeiro é um papel carismático, o outro é político-administrativo. Um é fruto da tradição apostólica, o outro é fruto de conveniências políticas ‘recentes’. Um é voltado para dentro, de pastor e guia espiritual, o outro voltado para fora, para políticas de estado, de chefe, de monarca. Um é compatível com a prática do inspirador máximo, Jesus Cristo, o outro totalmente obsoleto e dispensável, nocivo à sua missão de profeta e pastor.

Sobre essas e outras mudanças estruturais é que se deverá ‘edificar’ a nova igreja de Cristo! Assim é que não dá mais!

sábado, 3 de julho de 2010

Simão Pedro, filho de Jonas, aquele que acolheu Jesus o banido de Nazaré!



Ouvindo, porém, Jesus que João fora preso, retirou-se para a Galiléia; e deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, situada à beira do lago, nos confins de Zebulom e Naftali."(S. Mateus 4:12-13)


O sítio da antiga aldeia de pescadores Cafarnaum (em hebraico Kfar Nachum, a Aldeia de Naum) situa-se na costa noroeste do Lago Kineret (o Mar da Galiléia), 2,5 km a nordeste de Tagba e a uns 15 km ao norte de Tiberíades. O vilarejo é mencionado pela primeira vez no Novo Testamento, onde figura de forma proeminente nas narrativas do Evangelho, como o lugar onde Jesus viveu durante grande parte de seu ministério na Galiléia. Foi aqui, segundo o Novo Testamento, que ele "curou muitos que estavam doentes", e também "expeliu os espíritos" dos endemoninhados.Vários dos Apóstolos - Simão (chamado Pedro) e seu irmão André; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João - viviam na aldeia, além de Mateus (Levi, filho de Alfeu), que era coletor de impostos no local.


Há evidência arqueológica de que a aldeia foi estabelecida no início da Dinastia dos Hasmoneus (as moedas mais antigas encontradas no local datam do século II a.E.C.). O vilarejo, próximo à fronteira da província da Galiléia, situava-se num caminho transversal da rota comercial Via Maris. Na época narrada no Evangelho, havia em Cafarnaum um posto alfandegário e uma pequena guarnição romana comandada por um centurião. A aldeia não participou das duas principais revoltas dos judeus contra Roma, e os escritos judaicos do período identificam Kfar Nachum como uma das quatro localidades que incluíam minim (em hebraico, sectários) entre seus habitantes. Isto pode ser uma referência a um dos pequenos grupos de judeus-cristãos, que foram excluídos, no final do século I, da participação nos serviços da sinagoga, quando a inclusão da "Bênção referente aos minim" foi acrescentada às "Dezoito Bênçãos" da prece diária.


O sítio foi "redescoberto" em 1838 pelo geógrafo bíblico americano Dr. Edward Robinson. Em 1866, o Capitão Charles W. Wilson, explorador britânico, identificou as ruínas da sinagoga e, em 1894, a Custódia Franciscana da Terra Santa comprou uma parte do antigo sítio. As principais escavações franciscanas realizaram-se entre 1968 e 1984, e as escavações do sítio vizinho, greco-ortodoxo, entre 1978 e 1982. Hoje, a maioria dos arqueólogos acredita que a casa de Simão Pedro tem tudo para ser a 'verdadeira casa' de Simão Pedro.


A casa de Simão Pedro


"E, saindo eles da sinagoga, foram, com Tiago e João, diretamente para a casa de Simão e André." (S. Marcos 1:29)


Pesquisas arqueológicas realizadas pelo Studium Biblicum Franciscanum (de Jerusalém), no início do século XX, durante 70 anos, revelaram uma estrutura eclesiástica octogonal, do século V, construída em torno de uma residência mais antiga de um cômodo, que data do século I d.C.. O santuário central octogonal, que circunda uma estrutura de basalto, de paredes construídas sem argamassa, era cercado por um ambulatório semelhante ao da Rotunda do Santo Sepulcro em Jerusalém, e ao santuário islâmico construído posteriormente no Haram es-Sharif (o Monte do Templo).


A sala que se encontra dentro do santuário central octogonal parece ter sido parte de uma insula (um conjunto de pequenas salas residenciais de um só pavimento e pátios) que, lá pelo final do século I era de utilização pública, possivelmente como domus ecclesia, isto é, uma casa particular usada como igreja. Nas paredes rebocadas da sala-relicário havia grafites em aramaico, grego, siríaco e latim, contendo as palavras "Jesus", "Senhor", "Cristo" e "Pedro".


Presume-se que a sala-relicário seja a "Casa de Simão, chamado Pedro", à qual se refere a peregrina espanhola, Doña Egéria, que visitou o vilarejo aproximadamente em 381-384, durante sua peregrinação à Terra Santa. Ela descreve com alguns detalhes como a casa do "príncipe dos apóstolos" fora transformada em igreja, com as paredes originais ainda de pé.



sexta-feira, 2 de julho de 2010

Seleção brasileiral está fora! OBrasil continua vivo!

Haverá quem diga que foi a falta de ousadia do Dunga ou, talvez, a falta de equilíbrio emocional após o primeiro gol sofrido, ou o destempero de ‘Chuck Norris’ Felipe Melo expulso por agressão no momento mais crítico, ou, enfim, por causa do próprio módulo da Copa do Mundo que seria mais um torneio que um campeonato. É um fato que o Brasil está fora! Eliminado por um time nada irresistível e que, inclusive, sofreu enormemente a iniciativa brasileira no primeiro tempo. É um fato que o Brasil ao enfrentar o primeiro time com um certo potencial técnico na sua marcha africana, caiu fragorosamente. Muito mais pelos seus erros que pelos acertos dos adversários.

Certamente é um duro golpe para o nacionalismo do Galvão Bueno e da Globo, e para tantos analistas e comentaristas que viviam a alimentar fáceis sonhos do ‘já ganhou’! Com essa derrota o Brasil-sociedade deverá voltar ao normal. Dar um fim no blecaute social e administrativo que sofria durante o tempo reservado para a exibição dos jogos da seleção. Compreender que a anestesia temporária sumiu e que os grandes desafios permanecem os mesmos a exigir enfrentamento, realismo e lucidez.

Haverá amplos setores dessa nação que a partir de agora mergulharão numa outra maratona, a político-eleitoral que tentará provocar mais um blecaute de no mínimo três meses. Muitos ‘Dungas’ e ‘muitos Filipes Melos’ subirão os palanques sem gramado para exibir jogos político-eleitoreiros sem esquemas e sem táticas, mas com o único intuito de ganhar, seja lá como for.

A nós torcedores-espectadores a obrigação moral de ‘apitar o jogo’ e sermos duros com os Filipes Melos truculentos, agressivos e com pouca massa cinzenta!