terça-feira, 28 de abril de 2020

Entrevista com Edgar Morin sobre a atual crise provocada pela pandemia


Essa crise sanitária planetária é uma crise da complexidade?
Os conhecimentos se multiplicam exponencialmente, de repente, transbordam a nossa capacidade de nos apropriarmos deles e, acima de tudo, lançam o desafio da complexidade: como confrontar, selecionar, organizar adequadamente esses conhecimentos, conectando-os e integrando a incerteza. Para mim, isso revela mais uma vez a carência do modo de conhecimento que nos foi inculcado, que nos faz separar aquilo que é inseparável e reduzir a um único elemento aquilo que forma um todo ao mesmo tempo uno e diverso. Com efeito, a revelação fulgurante das convulsões que sofremos é que tudo o que parecia separado está ligado, pois uma catástrofe sanitária catastrofiza em cadeia a totalidade de tudo o que é humano.

Tínhamos uma visão unitária da ciência. No entanto, multiplicam-se em seu interior os debates epidemiológicos e as controvérsias terapêuticas. A ciência biomédica se tornou um novo campo de batalha?
Cidadãos mais bem informados descobrem que certos grandes cientistas têm relações de interesse com a indústria farmacêutica, cujos lobbies são poderosos junto a ministérios e à mídia, capazes de inspirar campanhas para ridicularizar as ideias não conformes....Essa é a oportunidade para compreender que a ciência não é um repertório de verdades absolutas (ao contrário da religião), mas que as suas teorias são biodegradáveis sob o efeito de novas descobertas. As teorias aceitas tendem a se tornar dogmáticas nas cúpulas acadêmicas, e os desviantes, de Pasteur a Einstein, passando por Darwin, e Crick e Watson, os descobridores da dupla hélice do DNA, são os que fazem as ciências progredirem. É que as controvérsias, longe de serem anomalias, são necessárias para esse progresso. A ciência é devastada pela hiperespecialização, que é o fechamento e a compartimentalização dos saberes especializados, em vez da sua comunicação. E são sobretudo pesquisadores independentes que estabeleceram desde o início da epidemia uma cooperação, que agora se alarga entre infectologistas e médicos do planeta. A ciência vive de comunicações, toda censura a bloqueia.

Em que medida podemos tirar proveito da crise?
A crise em uma sociedade suscita dois processos contraditórios. O primeiro estimula a imaginação e a criatividade na busca de soluções novas. O segundo é a busca de um retorno a uma estabilidade passada ou a adesão a uma salvação providencial, assim como a denúncia ou a imolação de um culpado. Esse culpado pode ter cometido os erros que provocaram a crise ou pode ser um culpado imaginário, bode expiatório que deve ser eliminado. Com efeito, ideias desviantes e marginalizadas estão se espalhando confusamente: retorno à soberania, Estado de bem-estar social, defesa dos serviços públicos contra as privatizações, relocalizações, desmundialização, antineoliberalismo, necessidade de uma nova política. Personalidades e ideologias são identificadas como culpadas. E também vemos, na carência dos poderes públicos, uma profusão de imaginações solidárias: produção alternativa à falta de máscaras por empresas reconvertidas ou confecção artesanal, reagrupamento de produtores locais, entregas gratuitas em domicílio, ajuda mútua entre vizinhos, refeições gratuitas para sem-teto, creches; além disso, o confinamento estimula as capacidades auto-organizadoras para remediar através da leitura, da música, dos filmes a perda de liberdade de movimento. Assim, autonomia e inventividade são estimuladas pela crise.

Quais são os contornos dessa deflagração mundial?
Como crise planetária, ela coloca em destaque a comunidade de destino de todos os humanos, ligada inseparavelmente com o destino bioecológico do planeta Terra. Ela intensifica simultaneamente a crise de humanidade que não consegue se constituir em humanidade. Como crise econômica, ela abala todos os dogmas que governam a economia e ameaça se agravar em caos e penúrias no nosso futuro. Como crise nacional, ela revela as carências de uma política que favoreceu o capital em detrimento do trabalho, sacrificando a prevenção e a precaução para aumentar a rentabilidade e a competitividade. Como crise social, ela traz à tona cruamente as desigualdades entre aqueles que vivem em pequenas habitações povoadas de crianças e pais, e aqueles que puderam fugir para a sua segunda residência no campo.
Como crise civilizacional, ela nos leva a perceber as carências em termos de solidariedade e a intoxicação consumista que a nossa civilização desenvolveu; e nos pede que reflitamos sobre uma política de civilização (“Une politique de civilisation”, com Sami Naïr, Ed. Arléa, 1997). Como crise intelectual, ela deveria nos revelar o enorme buraco negro na nossa inteligência, que torna invisíveis para nós as evidentes complexidades do real.
Como crise existencial, ela nos leva a nos interrogar sobre o nosso modo de vida, sobre as nossas verdadeiras necessidades, sobre as nossas verdadeiras aspirações mascaradas nas alienações da vida cotidiana, a diferenciar entre a diversão pascaliana que nos desvia das nossas verdades e a felicidade que encontramos na leitura, na escuta ou na visão de obras-primas que nos fazem encarar de frente o nosso destino humano. E, acima de tudo, ela deveria abrir os nossos espíritos, há muito tempo confinados ao imediato, ao secundário e ao frívolo, para o essencial: o amor e a amizade pela nossa realização individual, a comunidade e a solidariedade dos nossos “eu” convertidos em “nós”, o destino da Humanidade da qual cada um de nós é uma partícula. Em suma, o confinamento físico deveria favorecer o desconfinamento dos espíritos.

O Deus de Jesus ou ' correta' liturgia? I

A Igreja se organizou de maneira que a liturgia, como “culto sagrado”, deixa a impressão que, para muita gente e na prática diária da vida, é mais importante que Deus. E, como consequência, é mais determinante os seus costumes e hábitos de vida que o Evangelho. Por isso, é compreensível que o cardeal Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino, pretenda deter a reforma litúrgica que o Concílio Vaticano II colocou em marcha.

Que explicação esta pretensão de imobilismo e conservadorismo do cardeal Sarah pode ter? Por que ainda há gente que sente a falta da missa em latim ou das cerimônias litúrgicas à moda antiga? O problema que estas perguntas apresentam é mais sério do que alguns imaginam. O “fato religioso” é tão antigo como o ser humano. Ou seja, a religião nasceu há uns 100.000 anos.Mas, a religião nasceu de tal maneira que a primeira coisa, o mais original, no fato religioso, não foi Deus, mas, sim, os ritos. Concretamente, os ritos de sacrifício. Matava-se um animal, segundo um cerimonial predeterminado, e isso reunia o grupo (de caçadores nômades) e, segundo parece, produzia uma efeito tranquilizante e pacificador dos sentimentos naturais de culpa, que brotam em todo ser humano. Certamente, o pano de fundo destas condutas se compreende a partir do que é o sacrifício em si.

Tendo isto presente, o que se pode afirmar (como fato sobradamente demonstrado) é que “Deus é um produto tardio na história da religião” (G. van der Leeuw, K. Lorenza, W. Burkert). Quando os humanos começaram a pensar em Deus? Não é possível precisar. Sabe-se com segurança que a ideia de Deus está indissociavelmente unida à prática do sacrifício. De qualquer modo, nas práticas religiosas que conhecemos até o Neolítico (uns 11.000 anos a. C.), ao menos na Europa, não há rastro de crenças ou relação alguma com Deus. Ou seja, o ser humano praticou rituais religiosos relacionados à caça, à morte, à passagem para outra possível forma de vida. E essa foi sua religião durante uns 90.000 anos.Isto é o que explica que haja tanta gente que é mais fiel à exata observância dos ritos sagrados, que a sua correta relação com Deus. É que os ritos são ações que, devido ao rigor na observância das normas, chegam a constituir um fim em si mesmos. De onde resulta que, no âmbito da conduta, ocorre com frequência que o “rito” se sobrepõe ao “ethos” (G. Theissen). E, então, nos deparamos com o fato, tão frequente entre os cristãos, daqueles que são fiéis observantes de normas e cerimônias sagradas, mas ao mesmo tempo deixam muito a desejar em sua conduta. Ou são simplesmente gente sem vergonha.

Pois bem, tendo em conta o que acabo de explicar, compreende-se que, já no Antigo Testamento, o enfrentamento dos Profetas com os Sacerdotes foi frequente e até mortal. Mas, sobretudo, isto é o que explica a originalidade da vida, a conduta e os ensinamentos de Jesus. A relação de Jesus com os observantes (sacerdotes, levitas, fariseus, mestres da Lei) foi um constante enfrentamento. Como foi um conflito sua relação com o Templo. Jesus não instituiu nenhum ritual. Nem a ceia de despedida foi um ritual, coisa que deixou patente o IV evangelho. Nem a morte de Jesus foi um sacrifício sagrado. Aquela morte não podia ser um “sacrifício ritual”. Foi um “sacrifício existencial”, como ficou patente na carta aos Hebreus (7, 27; 9, 9-14) (A. Vanhoye). Daí, a exortação final: “Não se esqueçam da solidariedade e de fazer o bem, que esses sacrifícios são os que agradam a Deus” (Hb 13, 16).

O integrismo litúrgico do cardeal Sarah é um assunto grave, muito grave. É um assunto que toca o próprio coração do Evangelho. Aquele que tranquiliza sua consciência porque vai à missa, reza pela manhã e pela noite ou coisa do estilo, se não é honrado, transparente e pratica a justiça, acima de tudo, é um farsante que, mais que enganar a sociedade e a Igreja, é um indesejável que engana a si próprio. Enquanto a Igreja não resolver esta grande mentira, não irá a parte alguma. Dá para compreender por que há tantos cristãos que não suportam o Papa Francisco?

O Deus de Jesus ou a 'correta' liturgia? II

Pela lei da vida, a grande geração de teólogos, que tornaram possível a renovação teológica realizada pelo Vaticano II, está a ponto de se extinguir completamente. E nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma geração nova que pôde continuar o trabalho que os grandes teólogos do século XX iniciaram. Os estudos bíblicos, alguns trabalhos históricos e algo também no que se refere à espiritualidade são âmbitos do 'quefazer' teológico que se mantiveram dignamente. Mas, inclusive movimentos importantes, como ocorreu com a Teologia da Libertação, dão a impressão que estão vindo abaixo.
O que aconteceu na Igreja? A primeira coisa que deveríamos levar em conta é que o que estamos vivendo nesta ordem de coisas é muito grave. Os demais âmbitos do saber não param de crescer: as ciências, os estudos históricos e sociais, as mais diversas tecnologias sobretudo, surpreendem-nos todos os dias com novas descobertas. Ao passo que a teologia (falo, concretamente, da católica) segue firme, inacessível ao desalento, a cada dia interessando a menos gente, incapaz de dar resposta às perguntas que são feitas por tantas pessoas e, sobretudo, empenhada em manter, como intocáveis, supostas “verdades” que não sei como podem continuar sendo defendidas a estas alturas.

Para apresentar alguns exemplos: Como podemos seguir falando de Deus, com a segurança com que dizemos o que pensa e o que quer, sabendo que Deus é o Transcendente, que – portanto – não está ao nosso alcance? Como é possível falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos? Como se pode assegurar que “por um homem o pecado entrou no mundo”? É que iremos apresentar como verdades centrais de nossa fé o que, na realidade, são mitos que possuem mais de 4.000 anos de antiguidade? Com quais argumentos é possível afirmar que o pecado de Adão e a redenção desse pecado são verdades centrais de nossa fé? Como é possível defender que a morte de Cristo foi um “sacrifício ritual” que Deus precisou para perdoar nossas maldades e nos salvar para o céu? Como é possível dizer às pessoas que o sofrimento, a desgraça, a dor e a morte são “bênçãos” que Deus nos envia? Por que continuamos mantendo rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos de antiguidade e que ninguém mais compreende, nem sabe por que continuam sendo impostos às pessoas? De verdade, acreditamos no que nos dizem em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno? Enfim, a lista de perguntas estranhas, incríveis e contraditórias seria interminável. E, enquanto isso, as igrejas vazias ou com algumas pessoas idosas, que comparecem à missa por inércia ou por costume. É uma teologia que não leva a sério o mais importante da teologia cristã, que é a “encarnação” de Deus em Jesus. O chamado de Jesus para “segui-lo”. A exemplaridade da vida e do projeto de vida de Jesus. E a grande pergunta que nós, crentes, teríamos que enfrentar: Como tornamos presente o Evangelho de Jesus, neste tempo e nesta sociedade que nos coube viver?

Termino insistindo em que o controle de Roma sobre a teologia foi muito forte, desde o final do pontificado de Paulo VI até a renúncia ao papado por Bento XVI. O resultado foi tremendo: na Igreja, nos seminários, nos centros de estudos teológicos, há medo, muito medo. E bem sabemos que o medo bloqueia o pensamento e paralisa a criatividade. A organização da Igreja, nesta ordem de coisas, não pode continuar como esteve por tantos anos. O Papa Francisco quer uma “Igreja em saída”, aberta, tolerante, criativa. Mas, seguiremos adiante com este projeto? Infelizmente, na Igreja há muitos homens, com cetros, que não estão dispostos a deixar o poder, da forma como eles o exercem. Se é assim, adiante! Logo teremos liquidado o pouco que nos resta. (Fonte: IHU)

sábado, 18 de abril de 2020

O Conselho da Amazônia é formado unicamente por militares. IBAMA e FUNAI estão fora!

O Conselho Nacional da Amazônia passará a operar na Vice-Presidência da República, sem a presença de representantes do Ibama e da Funai (Fundação Nacional do Índio).O Conselho será composto por 15 coronéis (12 do Exército e três da Aeronáutica), um general, dois majores-brigadeiros e um brigadeiro.O presidente do órgão será o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice-presidente da República.

A reportagem do portal Uol destaca que "o Conselho tem por objetivo, segundo o decreto de fevereiro assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, que o transferiu do MMA (Ministério do Meio Ambiente) para a Vice-Presidência, "coordenar e acompanhar a implementação das políticas públicas relacionadas à Amazônia Legal". Suas competências são amplas e genéricas, como "coordenar e integrar as ações governamentais relacionadas à Amazônia Legal" e "coordenar ações de prevenção, fiscalização e repressão a ilícitos", hoje uma atribuição do Ibama."

A matéria ainda informa que "o decreto não estabeleceu nenhum representante de povos indígenas, quilombolas, pescadores ou outras comunidades tradicionais da região. Os nomes que vão compor as quatro comissões temáticas do órgão foram listados em portaria assinada por Mourão e publicada no "Diário Oficial" desta sexta-feira (17). Além dos 19 militares, há quatro delegados da Polícia Federal, indicados pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública (Sergio Moro). A Funai (Fundação Nacional do Índio) também é órgão vinculado ao ministério de Moro, mas não há nomes de indigenistas especializados no conselho." (Fonte Brasil 247)

Os relatos pós morte de Jesus - A superação de sentimentos de culpa e medo dos seus seguidores desencadeia o movimento da Ressurreição

Muitas vezes ficamos como que paralisados diante das narrações evangélicas sobre a Ressurreição de Jesus, após a sua morte biológica. Não é pra’ menos. Os autores usam, sabidamente, uma linguagem um tanto obscura para nós do século XXI e, ao mesmo tempo, procedem de forma metafórica, e não historiográfica. Fazem teologia, catequese, espiritualidade...mas não só. Os nossos teólogos são, também, profundos conhecedores da alma humana, de suas reações e ecos diante de experiências humanas, traumáticas, de perdas, e de intensos sofrimentos causados por sentimentos de culpa. Um verdadeiro emaranhado de conflitos interiores, perturbações, síndromes do pânico, bipolaridade, inquietudes, vazios espirituais, e confusão de sentimentos de vário tipo são relatados nas narrações da Ressurreição, embora com outra terminologia.  

Tudo isso emerge naquele período de transição em que os seguidores de Jesus sentem de um lado o peso da ausência do Mestre, a inegável omissão do grupo, a sua consequente fuga e dispersão e, do outro lado, o aparecimento tênue, indefinido, mas crescente e consistente, de que o Jesus historicamente conhecido e, agora, fisicamente ausente, poderia ser sentido ainda presente de uma forma inédita. Inicialmente, mediante o resgate mnemônico, plural, e interno, de palavras e gestos e, posteriormente, através de uma crescente convicção psicoespiritual de que o ‘morto’ estava vivo, e que continuava a convocar e a inspirar o grupo histórico dos seguidores de Jesus.  
Concretamente, quais são os elementos comuns que perpassam praticamente todas as narrações evangélicas e que manifestam a grande sensibilidade dos autores em descrever e explicitar o conjunto de sentimentos contraditórios de culpa, de autocobrança, de traição e omissão? E, simultaneamente, o aparecimento de percepções novas de uma presença renovada do Mestre que intervém para orientar o inédito momento presente do grupo e, principalmente, o seu futuro próximo? Ao responder a essas questões estaremos tentando responder, indiretamente, a nós mesmos quando fazemos a mesma experiência humana, existencial, de perder alguém muito querido e amado, e nos sentimos culpados por acharmos que não fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para livrá-lo da morte. Ou, pior, o sentimento de nos sentir cúmplices da sua morte. E por causa disso vivemos o drama interior de não conseguir ‘nos dar paz!’ Como superar isso? Mais que isso: se o Jesus histórico pudesse voltar e estar presente no meio do seu grupo que vivencia hoje aqueles mesmos sentimentos tão contraditórios, o que Ele lhe diria? Esses textos evangélicos mostram a extrema liberdade e o radical pluralismo dos evangelistas em interpretar e colocar como ‘palavra revelada’ o que o Jesus histórico nunca disse, mas que ‘teria dito, com certeza’ se Ele mesmo pudesse aparecer e sentar no meio deles....
1.    Um dos principais elementos comuns é o convite de Jesus a fazer com que os seus seguidores ‘sintam paz’. É comum achar que Jesus ressuscitado ao utilizar a expressão ‘a paz esteja convosco’, esteja saudando simplesmente os seus como se fosse uma espécie de ‘bom dia ou boa tarde’. Aparece, no entanto, com bastante intensidade que aquele modo de se apresentar é algo mais profundo. Por que o Ressuscitado utiliza essa expressão? Justamente por perceber que os seus seguidores não estão em paz! Vivem dentro de si sentimentos de culpa, de abandono, de decepção e de frustração, de dor pela perda do Mestre. Enfim, não conseguem se dar paz! Vivem de forma conturbada o seu cotidiano. Não conseguem absorver sequer as lembranças positivas da sua convivência com Jesus. Sentem-se condicionados demais por um passado recente que os julga e os condena por suas traições, medos, e fugas. Cada um dos integrantes do grupo precisava se reconciliar consigo mesmo. E virar, definitivamente, página. Sentir, existencialmente, que aquele Jesus misericordioso que era capaz de perdoar os piores pecadores da sua época, certamente, iria perdoar cada um deles também! Praticamente em todas as ‘aparições’, quando Jesus entra na casa onde o grupo está ‘trancafiado’ - muito mais por seus próprios medos do que pelas perseguições dos judeus, - os discípulos imaginam um Jesus que escancara o seu fechamento interior, e volta a oferecer, incondicionalmente, a paz e o perdão. É historicamente irrefutável que entre a morte de Jesus e as primeiras tentativas de reagrupar o núcleo histórico dos seguidores de Jesus sobre uma ‘nova consciência’, se passaram alguns anos, não dias! A memória histórica de um Jesus que reaparece, progressivamente, entre eles, criando paz interior, faz com que os seguidores do Mestre iniciem uma nova e inédita etapa em suas vidas!
2.    Outro indicador que aparece com frequência é o fato de Jesus se manifestar aos seus seguidores quase sempre ‘comendo’ e nisso é reconhecido como presente. Observa-se que o Jesus experimentado como vivente não utiliza a comida como prova material para afirmar que ressuscitou, mas são os próprios seguidores que tomam consciência que era nos banquetes, junto aos pecadores, que Ele manifestava toda a sua misericórdia e compaixão. Um bom judeu nunca sentava à mesa com um seu inimigo se não existisse a intenção clara e as garantias de que ambas as partes estavam abertas para se reconciliar, enfim, fazer as pazes! Comer no mesmo prato não era para qualquer um. Os discípulos, em seu resgate mnemônico, após a morte de Jesus, percebem que se Jesus pudesse voltar a viver novamente entre eles, certamente sentaria à mesa com eles manifestando, dessa forma, que já não existia qualquer tipo de rancor ou de inimizade. Não é à toa que os dois discípulos de Emaús o reconhecem ao partir e partilhar o pão, pois não era um alimento que estava oferecendo, e sim, amizade e reconciliação. Não é mera coincidência que os seguidores de Jesus fizeram do banquete eucarístico o sinal-sacramento, por excelência, da presença de Jesus. Infelizmente, com o tempo foi transformado num rito rígido, hierarquizado, elitizado e monopolizado, mas no início não era assim. Fazer memória da presença de Jesus sentados à mesma mesa e partilhar pão e vinho (a fração do pão) era expressão de uma igreja não hierarquizada, leiga, solidária, em que os ‘pais de famílias’, em sistema de rodízio, eram os que coordenavam ‘o memorial’ da vida, morte e Ressurreição de Jesus. Em tempos de COVID19 em que medo, doença, insegurança, desemprego e morte formam uma mistura dramática, aqueles homens e mulheres que compreendem o valor do ‘banquete solidário’ - que alimenta corpos e almas, - manifestam de forma digna e autêntica a ‘presença real’ do mesmo Jesus histórico que oferecia a tantos famintos ‘pão e peixe’ com sabor de compaixão e de ternura sem limites.
3.    Um último elemento comum é que o Jesus que aparece após a morte nunca é percebido como um vivente que ‘consola’ e conforma as pessoas. Um Jesus que traz a paz ao coração para que a pessoa curta, intimamente, a sua serenidade readquirida. Ao contrário, o Jesus que volta a ser sentido como o vivente é um Jesus que questiona, remotiva, reconvoca, e chama para o seguimento dele e, principalmente, manda sair, e envia. Quem faz a experiência de se sentir perdoado e reconciliado consigo mesmo, - e, portanto, em paz e livre, - não pode segurar e trancafiar dentro de si essa sua nova realidade. Essa nova consciência. Essa graça. As assim chamadas aparições são artifícios literários e teológicos para dizer que o Jesus histórico que se foi, continua, hoje, como outrora, a chamar e coordenar o grupo e, mais do que nunca, para longe de Jerusalém. Significativo é o fato comum a todos os evangelistas de que somente na ‘Galileia dos pagãos’, - longe da cidade que mata seus profetas, - é que Jesus pode ser visto/sentido. Não num templo ou numa sinagoga, nem através de práticas de piedade, rezas e meditações, mas nos gestos de cuidado, de ternura, de compaixão de tantos pobres e impuros de todas as nações que podemos sentir o Ressuscitado. Ele continua a ‘levantar/ressuscitar’ coxos, cegos e doentes, caídos à beira do caminho, através de seus discípulos que precisam ressuscitar, permanentemente, superando desânimos e desmotivações!

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Os vivos 'mortos' é que precisam de Ressurreição! Algumas lições de vida a partir das narrações evangélicas sobre a Ressurreição de Jesus (Mc cap. 16 e Mt.cap.28)

Jesus ressuscitado nunca é visto num sepulcro. Por uma razão simples: Ele nunca entrou nele! Evidentemente, com boas probabilidades, o seu ‘corpo sem vida’, os seus ‘restos mortais’ ou, se preferimos, ‘o cadáver’ de Jesus pode ter sido colocado ou enterrado num determinado lugar geográfico! Mas, também, pode ter sido comido pelos abutres, sendo que já foi comprovado, historicamente, que era hábito dos romanos deixarem os crucificados nas cruzes por vários dias. Era este um terrificante alerta a toda a população sobre o que lhe esperava em caso de revolta e insubordinação contra o poder de Roma! Todas essas conjeturas, contudo, são secundárias para compreender o sentido da Ressurreição. O que os relatos evangélicos da Ressurreição nos indicam ou, se queremos, a teologia, e a catequese dos evangelistas, é de que o ‘ser, a pessoa’ de Jesus, - que não é constituída só de matéria orgânica (corpo) fez a experiência da ‘continuação de vida’, melhor dito, da ‘plenitude de vida’! Não precisamos, portanto, de um cadáver para crer na Ressurreição, pois ela não diz respeito a ‘corpos inanimados’ que voltam a viver biologicamente, mas de ‘pessoas’ que nunca morrem!No lugar dos cadáveres e nos cemitérios da vida, ‘a cova’ de Jesus e de tantas pessoas amadas, estarão sempre vazias! Não é para menos: quem vive não procura cemitérios para morar! 
A nossa cultura e a nossa fé infantil nos empurram, fatalmente, a buscar, ainda, comunhão, simbiose, e afetos, com o ‘finado’, com ‘o falecido’, com aquele que morreu biologicamente. Jesus, contudo, através da experiência de ‘fé ressuscitada’ dos evangelistas e de seus discípulos, nos convida a pensar e a encarar a morte com novas categorias, e com outros critérios e parâmetros. Em outras palavras: Deus é o Deus dos que vivem, - mesmo que estejam biologicamente mortos, - e não é o Deus dos finados, dos cadáveres que voltam a ser pó! É a nossa incapacidade de pensar de forma nova, com novas categorias que nos impele a continuar a depositar ‘pessoas com seus corpos’ em sepulcros fechados pelas nossas grandes pedras do desespero, da dor, ou da indiferença ou do ódio, como a impedir que haja comunicação entre ‘as pessoas que morreram biologicamente’, - mas que continuam vivas - e nós, os ‘biologicamente vivos’ que, paradoxalmente, podemos ‘viver como finados’, e existirmos como cadáveres ambulantes. Nesse sentido, podemos compreender que quem tem que fazer a experiência de RESSUSCITAR não são os ‘que morreram biologicamente’, mas nós que ‘vivemos biologicamente’ mas que vivemos como cadáveres: sem motivação, solitários, desesperados, tristes e indiferentes. 
Aqui está, então, a grande novidade das narrações sobre a Ressurreição. O Deus de Jesus não ressuscita os mortos, os cadáveres colocados num cemitério ou cremados, mas concede aos vivos a capacidade de não morrer! Ajuda-nos a encarar a vida e a nossa existência com outros olhos, de forma que tenhamos uma qualidade de vida que nunca nos leve à morte espiritual, ao desespero, à tristeza da alma. Por isso nos sepulcros/cemitérios não existem as pessoas que amamos, mas somente seus ’restos mortais’, ‘o cadáver’...Já nas nossas ruas e praças encontramos exércitos de ‘Lázaros’ sem vida!

As narrações sobre a Ressurreição, porém, nos dão dicas importantes sobre como ‘ver/sentir vivas as pessoas’ que se foram. Os evangelistas Marcos e Mateus deixam claro duas coisas: 1. Não podemos sentir e ver a pessoa amada que se foi visitando a sua cova e chorando o finado, pois ele não é um ‘falecido’, ele vive. A sua cova estará sempre vazia! 2. Para VER/SENTIR Jesus vivo é preciso sair de Jerusalém e ir à Galileia, ao ‘distrito dos pagãos rejeitados’. E Mateus acrescenta, ainda, ‘no monte que Jesus indicou’! Como entender isso? Os nossos evangelistas, que eram exímios teólogos, nos dizem que é impossível ‘redescobrir’ a presença de Jesus, após a sua morte biológica, ao permanecer ligados à instituição do templo/religião. Jerusalém era o símbolo da instituição que persegue e mata seus profetas. É preciso romper com a instituição religiosa e voltar a percorrer o mesmo itinerário já feito por Jesus. E que deve ser, permanentemente, repercorrido: ir ao encontro das ovelhas perdidas, curando, anunciando, e incluindo. Ou seja, assumir plenamente a lógica do ‘Monte das Bem-aventuranças’. Ao nos colocar ao lado dos pobres e perseguidos e sendo para eles consolo, felicidade e esperança, faremos, inevitavelmente, a experiências de que Jesus vive nos 'mortos vivos', nos abandonados. E nós viveremos, sem conhecer o medo da morte, reproduzindo seus mesmos gestos de compaixão e perdão. Da mesma forma que um filho faz quando perde um pai ou uma mãe: ele procura dentro de si aqueles gestos de amor, de dedicação e de serviço dos seus amados e os reproduz no seu cotidiano. Nisso descobre que aquele pai nunca morreu. Que aquela mãe amada continua atuando por meio da alma e do corpo dele! E que ele, filho, ressuscita a cada dia, nos gestos de amor que eram próprios daquele pai e daquela mãe! Afinal, Ressurreição é para os VIVOS que vivem como MORTOS!


A morte do Galileu Jesus - algumas despretensiosas anotações históricas...

Muito se tem escrito sobre a morte de Jesus o Galileu, ou Nazareno, ao longo da história. Historiadores, arqueólogo, exegetas, filólogos e eruditos de todos os gêneros têm tentado compreender os motivos legais, os mandantes, os julgadores e os executores materiais da morte de Jesus. Muitos desses estudiosos seguem à risca os textos evangélicos como se eles fossem crônicas históricas fidedignas. Outros, ao encontrar evidentes contradições, e equívocos históricos e culturais tentam interpretar de acordo com suposições e interesses supostamente científicos. Outros, enfim, se valem de claros interesses e/ou preconceitos de caráter ideológico, tentando responsabilizar ou livrar este ou aquele grupo (povo judeu, os romanos, o Sinédrio, etc.) da crucificação de Jesus. 
Muitas questões permanecem abertas, mas é preciso deixar claro o que parece ser um consenso, hoje em dia, sobre as narrações da paixão e morte de Jesus.
1. Não consta que houvesse um ou mais cronistas assistindo e acompanhando como repórteres os interrogatórios, o julgamento e a condenação legal de Jesus. De onde viriam essas informações que, à primeira vista parecem tão detalhadas? E, ao mesmo tempo, tão contraditórias entre si e com muitos testemunhos históricos e culturais da época?
2. As evidentes contradições nas narrações evangélicas a respeito da paixão e morte de Jesus manifestam de um lado a inexistência de um núcleo comum fidedigno de informações históricas que abasteceram os quatro evangelistas, e do outro, a inegável preocupação e interesse teológico e catequético de cada evangelista, por escreverem a uma comunidade específica, com objetivos próprios... Aliás, todas essas narrações são, fundamentalmente, teologias.
3. Quanto à crucificação, - não importa o tamanho e o formato da cruz, - era uma penalidade especificamente romana, mesmo que eles a tenham copiado de outros contextos culturais. Ou seja, sabe-se que os romanos executaram materialmente Jesus, segundo uma das muitas penas mortais, e não os Judeus! Isto não significa que não haja havido uma ‘aliança pontual’ entre eles (quem, afinal? As elites sacerdotais, os fariseus, os saduceus, todos eles juntos?) para liquidar o ‘incômodo compatriota’. 
4. Sobre o motivo legal determinante para justificar a morte de Jesus, parece existir um grande consenso entre os estudiosos de que teria sido por causa do ‘incidente da expulsão dos mercadores no templo’. É um dado de fato que esse episódio é narrado, - embora em contextos diferentes, - pelos quatro evangelistas. Isto significa que, com boas probabilidades, aconteceu realmente e que teve uma importância extraordinária na compreensão e na vida dos primeiros cristãos. Além disso, está provado que não foi um mero ‘incidente’, mas uma ‘ação militar premeditada’ por Jesus e o seu grupo, mesmo que de caráter pedagógico-demonstrativo. Fazer toda aquela confusão, com a presença de numerosos guardas do templo e funcionários, e sair ileso, leva a crer que houve planejamento prévio, com proteções e facilitações dentro do próprio templo e anteriormente pensadas. O ataque ao sentido e à imagem do templo, logo um ataque ao coração da Religião oficial, deve ter desencadeado indignação e revoltas internas entre as elites sacerdotais e escribas, de forma que não poderiam perdoar mais uma provocação do atrevido Galileu!
5. O julgamento e os diálogos entre Jesus e os sumos sacerdotes, Pilatos, Herodes, com toda probabilidade, nunca existiram. São diálogos fictícios com objetivos mais catequéticos que históricos. Existem muitas incoerências internas e hábitos processuais inéditos e inverossímeis que tornam a descrição do julgamento não confiável. Pilatos descrito por contemporâneos romanos como cruel, corrupto e selvagem não combina com a descrição benévola dos evangelhos. Ele como governador não perdia tempo para julgar e liquidar um ralé desconhecido, um plebeu, escravo, revoltoso....Afinal, para ele, Jesus não passava disso! Os romanos, por exemplo, nunca iriam pôr em liberdade um Barrabás só porque o povão pediu. E assim por diante....
6. Por último, a crucificação e a morte de Jesus. Impossível determinar o horário e o período. Tudo responde a uma lógica teológica. Marcos, o mais confiável desde um ponto de vista histórico, parece retratar com fidelidade o que ocorria aos crucificados: 1. O povão não podia ficar próximo dos crucificados; Marcos diz que ‘não havia ninguém debaixo da cruz de Jesus, mas só algumas mulheres que olhavam de longe...’. 2. Alguns historiadores sustentam com certo embasamento que os crucificados eram deixados por vários dias nas cruzes, após a morte. Em muitos casos eram estraçalhados pelos abutres. Portanto os relatos do momento crucial são verdadeiras catequeses coerentes com o todo do seu evangelho. João, por exemplo, cria a sua teologia eclesial no momento da execução-morte de Jesus. Aliás, Jesus, antes de morrer grita que está ‘tudo realizado’ e, espantosamente, não diz que ‘morreu’ mas que Ele simplesmente ‘ex-pira’, ou seja, joga fora o ar-espírito para que a nova igreja representada pelo discípulo/comunidade amado e Maria, símbolo da transição da ‘velha igreja judaica’ com a nova igreja de Jesus ressuscitado, - que está ao pé da cruz, - ‘in-spire’ o Seu mesmo espírito. E em Marcos o próprio grito de Jesus ‘Eli, Eli, lama sabactáni’ responde, claramente, á teologia-catequese de Marcos, ao Jesus profundamente humano, humilhado, derrotado, abandonado, e mesmo assim, fiel, como deviam ser os seus interlocutores e seguidores! Estéreis são, portanto, as históricas discussões se Jesus morreu gritando como um desesperado sentindo-se abandonado pelo Pai...
É a partir da morte violenta, cruel e real, histórica, biológica de Jesus que todo ser, independentemente da sua fé em Jesus, é chamado a se confrontar com algo iniludível: dar um sentido à sua vida e à sua própria morte, ou acolhê-la como uma fatalidade, como castigo, um incidente, ou como um cessar biológico, nada mais...Jesus de Nazaré e muitos outros crucificados da nossa época têm algo a dizer sobre isso....


quinta-feira, 9 de abril de 2020

A quinta feira Daquele que gostava de comer e beber....


Uma das primeiras calúnias contra Jesus foi de que ele era um ‘comilão e beberrão’. Realmente, Jesus gostava de sentar ao redor de uma mesa farta e comer com todo tipo de gente. Alguns acham, até, que Jesus foi morto por causa do seu modo de estar à mesa: ignorando as normas e as restrições religiosas da época. Comidas e banquetes sempre foram vistos com suspeição pela religião, seja ela qual for. Até evangélicos politizados, nessas nossas épocas de doença e de fome, apelam para uma renúncia à comida, ao jejum... nada solidário! Sabe-se que muitas coisas aconteciam tendo Jesus convidado e sentado ao redor de uma mesa farta. Durante um banquete Jesus narrava parábolas que falavam da misericórdia Paterna. No banquete Jesus rasgava os preconceitos e as leis de impureza impostos pelas elites do templo, pois puros e impuros, ricos ou pobres, religiosos ou ateus, ladrões ou honestos, todos eram obrigados a comer num mesmo único e enorme prato. O banquete se tornava, assim, sacramento de partilha e de acolhida do outro. Era comunhão com o outro, independentemente da sua situação moral, pois todos se reconheciam necessitados de algo e de alguém. Para os judeus o banquete era também sacramento de verdadeira reconciliação. Quando, por exemplo, existia uma situação de intriga, rancor, falta de comunicação entre duas pessoas, a forma para concretizar o desejo de se perdoar e selar a reconciliação era convidar a ‘outra parte’ para jantar ou almoçar juntos. Se a pessoa aceitava, a comunhão e o perdão recíproco estavam novamente restabelecidos. Não é coincidência que Jesus, na sua última ceia, já em clima de conflito e armação, tenha associado a ‘memória dele’ ao comer pão e beber vinho:‘Fazei isto em memória de mim!’ Os olhos dos decepcionados de Emaus se abrem só quando fazem memória do pão repartido nos banquetes do Jesus histórico. Eles que esperavam o libertador glorioso, o insurgente inconformado, entendem que o Jesus assassinado e humilhado continua vivo e presente quando eles próprios sentam à mesa e, como Jesus, oferecem o pão da reconciliação, da ousadia, e da amizade a todos. Quando rompem com as regras e as normas sociais e religiosas que continuam a marginalizar pobres e a negar vida e esperança a tantos famintos de justiça e de cuidados! 
Celebraremos de forma autêntica a 'Eucaristia' somente quando decidimos aliar as nossas celebrações e liturgias eucarísticas (sacramentais), - muitas vezes insossas e chatas, - com ações eucarísticas concretas e históricas de combate aos sonegadores de pão e saúde e promovendo a inclusão de todos os famintos!

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Decreto-me poeta, sem grandes competências - Romério Rômulo

Decreto-me poeta vago
E sem grandes competências.
Não fiz revolução na palavra
E sempre fui raso nos sentimentos.
Piso o séc. 18 como minha entranha
E caminho ao lado do mar
Quando me cabe.
Sofro pouco dos pulmões
E minhas gripes não carregam poesia.

Meus desencantos não produziram
Sequer um suicídio.


Romério Rômulo

O líder Zezico Guajajara é assassinado na T.I. Arariboia, Maranhão


Zezico Guajajara foi encontrado sem vida, ontem, dia 31 de março, numa aldeia próxima de Zutiwa, a aldeia onde ele residia. Ainda não se sabem os pormenores. Uma investigação está sendo realizada para lançar luz sobre mais um assassinato de indígena nesse já provado Estado!
O blogueiro conheceu o líder Zezico quando jovem estudante. Morador da aldeia Zutiwa, na T.I. Arariboia, município de Arame, MA, sempre se preocupou em defender os direitos do seu povo. Educado desde cedo a participar, lutar, expor-se e articular, Zezico sabia dos riscos que corria. Mesmo assim, nunca deu sinais de arrependimento. Pessoa pacata e muito hábil no diálogo tinha se tornado um valioso interlocutor não somente na aldeia, mas na região, e com várias instituições e forças políticas e sociais da região. Esperamos que haja uma investigação isenta e rápida para identificar os seus assassinos que, atualmente, não têm rosto, - mas que se sabe, - não têm escrúpulos em eliminar quem atrapalha os seus planos ambiciosos e interesses de toda ordem. À família de Zezico, aos Guajajara de Zutiwa, e a todo o Povo Guajajara do Maranhão nossos sentimentos e apoio.