quarta-feira, 30 de junho de 2021

Quando a humanidade se convencerá de que os direitos humanos devem prevalecer sobre os supostos direitos do capital privado?

 A pergunta é pertinente: haverá futuro para o Brasil e o mundo enquanto o capital financeiro tratar o planeta como um imenso cassino e perseguir, como prioridade, o aumento de sua riqueza privada? Parece que a resposta é não. 

Segundo o Relatório de Riqueza Global, divulgado em 24 de junho pelo banco Credit Suisse (o que tornam os dados insuspeitos), em 2020 quase metade da riqueza total do Brasil (49,6%) ficou em mãos do 1% mais rico da população (pouco mais de 2 milhões de pessoas). Vinte anos atrás esse segmento privilegiado detinha 44,2%. No âmbito global, 10% mais ricos concentram em mãos 82% da riqueza mundial, sendo que quase a metade (45%) em mãos do 1% superprivilegiados. Apenas a Rússia concentra mais riqueza que a elite do Brasil. Isso poderia ser corrigido pela atual reforma tributária, que dá um tímido passo ao tributar dividendos dos acionistas de empresas. Deveria também, para ser efetiva, isentar todos que ganham, por mês, até 10 salários mínimos; adotar o imposto progressivo; cobrar Imposto Territorial Rural das propriedades do campo; e tributar as heranças, exceto pequenos valores. Pesquisa recente do Datafolha para a Oxfam Brasil constatou que a maioria dos brasileiros (56%) é favorável a aumentar a tributação dos mais ricos para financiar políticas sociais e, assim, reduzir a desigualdade social. E nove em cada dez pesquisados defendem que a prioridade do governo deveria ser a redução da desigualdade social. Quando a humanidade se convencerá de que os direitos humanos devem prevalecer sobre os supostos direitos do capital privado? (IHU)


A derrota dos povos indígenas na demarcação das terras é a derrota do Brasil

 A questão da terra no Brasil é o nervo central que produz toda a sorte de desigualdades, seus dispositivos de reprodução e multiplicação. “A história do Brasil é a história da extrema concentração fundiária nas mãos de uma elite colonial escravista que se perpetua até nossos dias. Em meu modo de ver, é a conformação fundiária colonial consolidada juridicamente no império e protegida com unhas e dentes desde então pelos proprietários de terras que está no cerne do inacreditável fosso da desigualdade social no país”, pondera o pesquisador e doutor Leonardo Barros Soares.

Nesta quarta-feira, 30 de junho, o STF deveria ter votado, - mas foi adiado, - o Recurso Extraordinário 1.017.365, que trata das demarcações de terras indígenas e com repercussão geral, em que, caso a ofensiva não seja freada, as consequências tendem a ser, como classifica o entrevistado, catastróficas. “A tese do marco temporal ganhará um fôlego renovado para tentar se impor como a tese majoritária; a vedação da ampliação de terras indígenas já homologadas dará respaldo legal a muitas situações de injustiça histórica; os militares aumentarão a ingerência sobre terras indígenas em áreas de fronteira ou no caminho de projetos desenvolvimentistas; os ecossistemas e as sociedades indígenas sofrerão severos impactos da liberação da exploração econômica desenfreada em terras indígenas”, explica Soares. Estamos diante, nada mais, nada menos, da decisão mais importante no âmbito da garantia dos direitos dos povos indígenas desde a Constituição Federal de 1988. “O processo demarcatório, hoje, no Brasil, respira por aparelhos. A aprovação do PL 490 seria desligar de vez esses aparelhos. A mensagem para o mundo será clara: ‘O Brasil não vai mais reconhecer novas terras indígenas’”, pontua. (IHU)


STF adia novamente decisão sobre 'marco temporal'

 Jornal GGN – O Supremo Tribunal Federal (STF) adiou nesta quarta-feira, 30, o julgamento sobre as demarcações de terras indígenas, em que se discute a tese do “marco temporal”. O julgamento, interrompido por um pedido de destaque do ministro Alexandre de Moraes no último dia 11, se desdobra sobre uma ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, referente à terra indígena Ibirama-Laklãnõ, onde também vivem os povos Guarani e Kaingang. Em 2019, a Corte definiu o processo como “repercussão geral”, ou seja, a decisão do julgamento servirá de base para a Justiça de todo país no que diz respeito aos procedimentos demarcatórios. Os ministros também irão analisar uma determinação do ministro Edson Fachin, de maio do ano passado, que oficializou o chamado “marco temporal”. Segundo a tese, os indígenas só tem direito a terras onde já estavam na data da promulgação da Constituição Federal de 1988. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, o “marco temporal é uma interpretação defendida por ruralistas e setores interessados na exploração das TIs que restringe os direitos constitucionais dos povos indígenas”, definiu em nota. “A tese é injusta porque desconsidera as expulsões, remoções forçadas e todas as violências sofridas pelos indígenas até a promulgação da Constituição”, afirmam. Apesar do julgamento ter sido adiado, o relator Edson Fachin, já havia divulgado seu voto: contrário à demarcação do marco temporal.


Vim ao mundo rever o meu cangaço - por Romério Rômulo

 

1.Lavei o corpo

E fui ao posto rever o meu cangaço.


2. Passei por todo mundo, passo a passo

Arquei com tantas dobras do espaço

Amei a sua mão e o seu bagaço

De moça vilã chegada e esquecida.


Vi sua mão preclara e mal dormida

A arcar sob o mundo, um calabouço

A me quebrar, eu, pura carne e osso

Como se quebra a carne dividida.


3. Lavei o corpo

E fui ao posto proclamar a vida.


domingo, 27 de junho de 2021

Bolsonaristas e ruralistas aprovam em comissão maior ameaça a direitos indígenas em décadas

 Presidentes da Câmara e da Comissão de Constituição e Justiça manobram para aprovar proposta que permite anular Terras Indígenas e inviabiliza demarcações. Sob liderança de ruralistas e bolsonaristas, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou, por 40 votos contra 21, o texto principal do Projeto de Lei (PL) 490/2007. A votação terminou, no fim da tarde do dia 23, após uma batalha de requerimentos apresentados pelos oposicionistas para tentar suspender a votação e retirar a proposta da pauta durante todo o dia. O PL 490 é uma bandeira de Jair Bolsonaro e da bancada que diz representar o agronegócio. Se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas (TIs) e escancará-las a empreendimentos predatórios, como o garimpo, estradas e grandes hidrelétricas. A proposta é inconstitucional, na avaliação do movimento indígena e de vários juristas. “O que nós queremos é que a lei seja cumprida, que a Constituição Federal seja respeitada. Esse projeto de lei pode anular as demarcações de Terras Indígenas no país, é uma agressão aos povos originários”, criticou Dinamam Tuxá, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Inconstitucionalidade

 “Nossa Constituição não pode ser mudada por qualquer interesse egoísta, individual, de que tem olhar de cobiça para as Terras Indígenas. Esse olhar que a gente vê em todos os discursos que querem emplacar o PL 490. Pura cobiça nos recursos naturais das Terras Indígenas, que são garantidas pela Constituição Federal", ressaltou a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR). De acordo com a parlamentar, o procedimento legislativo na CCJ foi falho, justamente por não identificar a inconstitucionalidade da matéria. Vários oposicionistas lembraram que o STF deverá se pronunciar sobre vários dos pontos previstos no PL 490, a exemplo do “marco temporal”. Trata-se de uma tese ruralista que defende que as comunidades indígenas só teriam direito às terras que estivessem sob sua posse em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. “Tentam apressar esse assunto dentro de um Projeto de Lei para que justamente haja uma competição com o Supremo. Isso é um absurdo", frisou Joenia. Ainda ontem, 13 entre os maiores juristas do país encaminharam uma carta a Arthur Lira e Bia Kicis pedindo a retirada de pauta do projeto da pauta da CCJ. Eles também argumentaram que a Câmara deveria aguardar a decisão do STF.


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Rosas na praia, sinos tocando: o país em luto pelas 500 mil mortes. Presidente ignora

 


“Bolsonaro não disse nada a respeito das 500 mil mortes, não confortou uma família, não visitou um hospital durante toda a pandemia, um posto de saúde, uma fila de vacina e desdenhou os enlutados. O mais insano é que 30% ainda seguem esse monstro”, afirmou, via rede social, o escritor Marcelo Rubens Paiva. Ele se soma a inúmeras mensagens de indignação, no Brasil e no exterior, com a triste marca, alcançada ontem, de 500 mil mortos em consequência da covid-19.

Neste domingo (20), com mais 1.025 casos registrados, o total de óbitos no país chegou a 501.825. O número aumentou pela segunda semana seguida. Já o total de pessoas que contraíram a doença se aproxima de 18 milhões. Com acréscimo de 44.178 casos confirmados hoje, são 17.927.928. Os números foram divulgados no início da noite pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Até agora, apenas 15% da população recebeu duas doses de vacina. Já o presidente da República passou o final de semana sem nenhuma manifestação sobre a pandemia e suas vítimas. Em suas redes sociais, hoje, apenas postagens sobre supostas ações voltadas para caminhoneiros (que ameaçam entrar em greve em julho). (IHU)

Talvez tenha sido melhor o presidente ter silenciado no dia em que foram contabilizadas 500 mil mortes por Covid....afinal quando abre a boca só fala asneiras!!!




Sem perspectivas, metade dos jovens quer deixar o Brasil. Mercado deprimido e recorde de nem-nem frustram 50 milhões entre 15 e 29 anos

 “O Brasil nunca teve ou terá tantos jovens como agora. Mas o ápice dos cerca de 50 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos revela uma juventude decepcionada em níveis recordes, sem perspectiva de trabalho e insatisfeita com a condução do país. Se pudesse, quase a metade (47%) dos jovens brasileiros deixaria o país. Isso no auge do chamado bônus demográfico, quando o Brasil teria a chance de acelerar o crescimento contando com uma proporção inédita de pessoas em idade de trabalhar em relação a seus dependentes, como crianças e idosos. Na prática, se não for alterado, o cenário do mercado de trabalho para essa juventude configurará o desperdício do maior potencial histórico em termos de crescimento e produtividade brasileiros”.

“Por um lado, não haverá mais tanto trabalho no setor de serviços, já mal remunerado e menos qualificado, pois as pessoas consumirão cada vez mais em casa e circularão menos na rua. Por outro, muitos jovens não têm a educação ou meios tecnológicos para aproveitar essa nova tendência”, constata Naércio Menezes, pesquisador do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper, apontando que sem políticas estatais para o mercado de trabalho, os jovens menos qualificados estão fadados a encarar um futuro pior e cheio de frustrações. (Fonte Folha)

O Papa Francisco: é triste ver os bispos que se pavoneiam, chega de clericalismo!

 "O poder está no serviço, não em outra coisa, é triste ver um bispo e um sacerdote se pavoneiam, mas é ainda mais triste ver um diácono que quer se colocar no centro do mundo”: o Papa Francisco usa tons fortes em sua audiência com os diáconos permanentes da diocese de Roma, que convidou a “serem humildes servos”: “Que todo o bem que vocês fazem seja um segredo entre vocês e Deus. E assim dará frutos. Em segundo lugar, espero que sejam bons esposos, bons pais e bons avós. Isso dará esperança e consolo aos casais em dificuldade, que encontrarão uma mão estendida na vossa simplicidade genuína. Eles podem pensar: “Veja bem o nosso diácono! Ele está feliz por estar com os pobres, mas também com o pároco e até com seus filhos e sua esposa! Até com a sogra”. Fazer tudo com alegria e generosidade, sem reclamar: é um testemunho que vale mais do que muitos sermões”. 

sábado, 19 de junho de 2021

XII domingo comum - Sem medo de ir à outra margem, sem medo de peitar as tempestades da travessia! (Mc. 4,35-41)

 Pelo evangelho de hoje (domingo XII), compreendemos que pouco ou nada serviu a comparação da semente microscópica da mostarda (domingo XI) para provar que ‘tamanho não é documento’. Que a ‘realeza de Deus’ germina e se amplia a partir da desprezada pequenez da semente espalhada, e não de galhos de cedro plantados num alto monte! Na história, de fato, a Realeza de Deus pode se tornar de um tamanho tão gigantesco capaz de abrigar ‘ninhos de pássaros de toda espécie’! É que Jesus convida seus discípulos a ‘ir à outra margem’ do lago, lá onde residem os pagãos, os não israelitas, para serem árvore que abriga e que acolhe. A resistência a essa saída, no entanto, se transforma em mais um conflito. Uma verdadeira tormenta que marca ainda hoje a missão da igreja de Jesus. Para que ir ao encontro desses ‘pássaros desabrigados’ se nem para os passarinhos da nossa terra conseguimos garantir assistência e acolhida? Para que deixar a segurança das nossas estruturas e afetos para se aventurar numa travessia perigosa e, possivelmente, fatal? Ocorre que a natureza do modo de governar de Deus contempla todos os seres humanos, independentemente de sua pertença, e de sua opção ideológica ou política. Os nacionalistas discípulos de Jesus tinham dentro de si a semente da rejeição ao estrangeiro, e agora, na travessia para a nova margem, estavam colhendo a tempestade da intolerância, do medo, da insegurança, e da sua própria mesquinhez. 

Quando o Papa Francisco nos alerta e nos motiva a sermos ‘igreja em saída’ o faz porque tem um olhar fixo na prática original de Jesus, e deseja manter fidelidade à visão do Mestre. Nada mais atual como hoje, se armar de coragem e ousadia, e rumar para a ‘outra margem’, lá onde ainda há multidões famintas, escravizadas, e violentadas em sua dignidade. Nada mais coerente com o ‘convertido Jesus’ - que só queria cuidar das ‘ovelhas perdidas da casa de Israel’ - e nos abrir àquelas populações e categorias sociais que nunca entrarão nos nossos templos climatizados, nem nas nossas higienizadas sacristias, e nem jamais militarão nos nossos movimentos eclesiais. Talvez tenha chegado a hora de ‘mandar calar a boca, e silenciar’ os espíritos maus do comodismo, os defensores dos preceitos e da pureza da identidade cristã. Historicamente, os ‘bárbaros e selvagens, os hereges e agnósticos’, aqueles que vivem na outra margem, quando se apropriam da visão e da prática de Jesus de Nazaré não só mudam o seu próprio estilo de vida, como trazem para dentro da igreja um novo e inédito elã. Uma verdadeira primavera que sacode o torpor anestesiante de tantos ‘devotos’ apáticos, e motiva a igreja para deixar de ser uma seita étnica e se tornar o que deveria ser de fato: árvore caseira, e não cedro majestoso que abriga todos os seres vivos da nossa ‘Casa Comum’!


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Casal de trabalhadores rurais é assassinado na tarde desta sexta (18), no Maranhão

Um casal de trabalhadores rurais foi encontrado morto na tarde desta sexta-feira (18) na Gleba Campina, também conhecida como comunidade Vilela, no município de Junco do Maranhão (MA). Esse é o quinto assassinato de trabalhadores rurais registrado na comunidade, que vive sob intenso conflito agrário há mais de dez anos, envolvendo família originária do Rio Grande do Sul. 

De acordo com informações do advogado Diogo Cabral, da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (Fetaema), os corpos do casal Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa foram encontrados por familiares, por volta de 13h.Maria da Luz Benício era ativa em movimentos sociais em defesa do direito à terra e era suplente da direção do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) da região. Ao ver a vítima, a filha, de 3 anos de idade, permaneceu sobre o corpo da mãe durante horas. Cabral explica que, a exemplo dos outros assassinatos registrados, as vítimas foram baleadas e nenhum pertence foi roubado."Esses trabalhadores são pessoas relativamente idosas e estavam chegando em uma área que tinham criação de animais, eles foram atacados e mortos"."Não roubaram nada, eles foram baleados e depois de algum tempo, um parente sentiu falta e foi até o local e encontrou os corpos, por volta de 13h de hoje. Já é o quinto assassinato na região, com essas mesmas circunstâncias", explica. Em resposta ao advogado, em rede social, o Secretário de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), Francisco Gonçalves, informa que a Polícia Civil já se deslocou ao local para apurar o caso. (Fonte: justiça e paz)

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Brasil exporta gado vivo de fazendas da ‘lista suja’ do trabalho escravo e com desmatamento

Minerva, Mercúrio e Agroexport, maiores exportadores de animais vivos do país, têm cadeia contaminada por violações socioambientais, segundo investigação da Repórter Brasil. Um navio antigo, antes usado para carregar contêineres e adaptado para o transporte de animais vivos, naufraga e boa parte dos 5 mil bois embarcados para exportação morrem afogados às margens do rio Pará, no porto de Vila Conde, em Barcarena (PA). As imagens são fortes e os efeitos do acidente perduram mesmo depois de 5 anos: os animais em decomposição e o óleo contaminaram a água, prejudicando a subsistência de comunidades e a saúde da população.

Três anos antes, cerca de 2700 animais morreram sufocados em alto-mar por uma pane elétrica no estábulo flutuante. Não muito longe de Barcarena, em Abaetetuba (PA), comunidades ribeirinhas lamentam a perda do rio Curuperé, poluído por dejetos de gado e pesticidas. O local é usado como ponto de embarque de animais vivos para abate fora do país. Em comum nestes dois episódios está a Minerva Foods, uma das três maiores empresas exportadoras de carne e de gado vivo do Brasil. A gigante do setor de proteína animal acumula – junto à Agroexport e a Mercúrio Alimentos que também atuam na exportação do “gado em pé” – denúncias de sofrimento animal e vendem para outros países animais provenientes de fazendas desmatadas ou autuadas por trabalho escravo.

Uma investigação da Repórter Brasil descobriu que essas empresas compraram bois de fornecedores diretos que, por sua vez, adquiriram animais para engorda provenientes de fazendas que estão na “lista suja” do trabalho escravo e também de áreas embargadas por desmatamento ilegal.

Minerva, Agroexport e Mercúrio Alimentos assinaram, em 2009, o chamado TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) da Carne. Isso quer dizer que elas se comprometeram formalmente a não adquirir animais de fazendas inseridas na “lista suja” do trabalho escravo, assim como de áreas de desmatamento ilegal ou criados em reservas indígenas. No entanto, essas empresas estão expostas à contaminação de suas cadeias produtivas. Isso porque pelo menos um de seus fornecedores adquire animais de diversos pecuaristas no Pará e no Tocantins que constam na “lista suja” do trabalho escravo.

A Fvt Comércio de Bovinos, de propriedade de Fabio Volpato Toledo, é uma importante fornecedora de gado vivo para exportação para as três empresas no Pará – estado responsável por dois terços da exportação de bovinos em pé do país, segundo dados da Comex Stat. Os animais vendidos pela Fvt para as exportadoras vêm de duas propriedades: as fazendas Pau Preto e Agropecuária Toledo III, ambas localizadas em São Domingos do Araguaia (PA) e registradas em nome de Fábio Volpato Toledo, segundo o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Em março de 2020, a Agropecuária Toledo III recebeu animais da Fazenda Estrela D’Alva, em Jacundá (PA), de Jomar Antônio de Mesquita Teixeira, que está na “lista suja” desde 2018. Uma fiscalização dos auditores fiscais resgatou três trabalhadores em condições análogas à escravidão na propriedade.

Entre abril e julho de 2019, a Fazenda Pau Preto recebeu gado de outro empregador também presente na “lista suja”: Sebastião Marques da Mota. Os animais vieram das fazendas Arco Verde e Pedra Branca, duas propriedades contíguas onde o governo federal resgatou cinco pessoas da escravidão. “O produtor que está com problemas com questão ambiental tem a possibilidade de adequação. Agora, se ele está tendo problemas com mão de obra escrava, é crime, é sangue na mão”, analisa Mauro Armelin, diretor da ONG Amigos da Terra, que realizou um estudo sobre os dez anos do TAC da Carne e atua com empresas do ramo. (Repórter Brasil)

 

Com direitos em risco e demarcações paralisadas, povos indígenas pedem que STF julgue repercussão geral

 


Em carta destinada ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, diversos povos indígenas pedem que o julgamento do caso de repercussão geral sobre demarcação de terras indígenas seja remarcado com urgência. O documento foi protocolado durante o ato realizado na tarde desta segunda (14) em frente ao Supremo e  reuniu mais de 450 indígenas de vários povos de todas as regiões do país. Na última sexta (11) o julgamento que deve definir o futuro dos povos indígenas foi interrompido logo após o início do período de manifestação dos ministros ser aberto e que deveria durar até o dia 18 de junho. O ministro Alexandre de Moraes pediu destaque do processo que agora deve ser inserido novamente na pauta de votação pelo presidente presidente da Suprema Corte. O processo trata de uma ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, referente à Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, onde também vivem indígenas Guarani e Kaingang.

O status de “repercussão geral” dado pelo STF ao caso significa que a decisão tomada nele servirá de diretriz para o governo federal e todas as instâncias do Judiciário no que diz respeito à demarcação de terras indígenas, além de servir para balizar propostas legislativas que tratem dos direitos territoriais dos povos originários.

O risco de aprovação de medidas como o Projeto de Lei (PL) 490, que pode ser votado nesta semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJC) da Câmara dos Deputados, é citado no documento como motivo de preocupação dos povos, que salientam que decisões pontuais da Corte têm sido utilizadas de maneira descontextualizada para embasar projetos que retiram seus direitos territoriais.


Por meio do PL 490, por exemplo, a bancada ruralista busca impor a aplicação do marco temporal como critério para as demarcações de terras indígenas, “baseada na informação falsa de que o STF já teria decidido adotar o Marco Temporal para a demarcação das todas as terras indígenas do Brasil e que o Legislativo somente estaria regulamentando a decisão do STF”, afirmam os povos no documento. Os povos indígenas também manifestam sua expectativa de que o STF referende a decisão liminar do ministro Luis Roberto Barroso na ADPF 709, garantindo a proteção aos povos Yanomami e Munduruku, sob forte ataque de garimpeiros, e determinando a retirada dos invasores destas e de outras terras indígenas.

“Manifestamos nossa esperança, confiança e expectativa de que o STF garanta segurança jurídica e justiça, mantendo o texto da Constituição como escrito em 1988, pela demarcação das nossas terras de ocupação originária, sem qualquer forma de marco temporal”, reivindica a carta.

Tragédia em Manaus é fruto do casamento entre um engenheiro na Saúde do AM e um militar no Ministério, diz Otto Alencar

 

“O senhor não sabe nada. O senhor está errado e o seu governador mais ainda, de nomear um engenheiro para ser secretário da Saúde do Estado do Amazonas. A mesma irresponsabilidade cometeu o presidente da República, de nomear um general que não conhecia o SUS [para o Ministério da Saúde].” Foi em tom de indignação que o senador Otto Alencar criticou a passagem de Marcellus Campelo pela Secretaria de Saúde do Amazonas durante a maior crise sanitária do século.

Nesta terça (15), à CPI, Marcellus teve de responder pelo colapso no sistema de saúde e a crise do oxigênio. Na visão de Alencar, que é médico de formação, a tragédia em Manaus é fruto do casamento entre um engenheiro que não entende nada de medicina sanitária e epidemiologia na Saúde do Amazonas, e de Eduardo Pazuello no cargo de ministro da Saúde. Dessa junção saiu “o maior crime” da pandemia, que foi ter deixado o vírus e suas novas variantes correrem soltos, para usar a população amazonense de cobaia para o chamado “tratamentos precoce”.  São duas pessoas sem competência na Saúde para tratar de Manaus. As perguntas mais banais em medicina que fizermos, certamente ele [Marcellus] não saberia responder”.

E Otto Alencar bem que tentou. O senador perguntou quantos leitos de UTI deveria ter para cada 100 mil habitantes do Amazonas. “Isso qualquer secretário de saúde deveria saber”, mas Campelo não respondeu. O senador também não digeriu bem a desculpa de que a secretária do MS, Mayra Pinheiro, empurrou o tratamento precoce com cloroquina para o Amazonas quando a crise do oxigênio estava em marcha. Otto Alencar disse que como secretário da Saúde, era papel de Campelo barrar a ideia, já que não concordava com ela. “Qualquer secretário tem que ter conhecimento, autonomia, personalidade para dizer ao governante qual é o caminho”, defendeu, repetindo inúmeras vezes que o engenheiro e Pazuello são os “responsáveis pela morte em Manaus, pela inoperância e incompetência”. “O senhor só falou aqui em tratamento para a doença, em nenhuma prevenção para conter a propagação do vírus. Por que? Porque não tem competência”, disparou. (GGN)

terça-feira, 15 de junho de 2021

Em Brejo, Maranhão, o sojicultor Lunelli manda invadir 'território tradicional' por 22 jagunços

O sojicultor gaúcho Gilmar Lunelli de Freitas foi indiciado por formação de milícia privada, desmatamento e esbulho possessório no dia 28 de maio, com a conclusão do inquérito da Polícia Civil que investigou a contratação de jagunços pelo empresário para a invasão de comunidades camponesas tradicionais no município de Brejo (MA), no dia 19 de maio. De Olho nos Ruralistas contou essa história dois dias depois: “Encapuzados, 22 jagunços invadiram a comunidade tradicional no Maranhão“. .Cerca de 500 pessoas vivem na Gameleira há 120 anos, sobrevivendo da agricultura e do extrativismo. As famílias filmaram e fotografaram a ação e denunciaram que há anos sofrem diferentes ameaças por parte do sojeiro. Lunelli de Freitas é proprietário da Masul Agrícola e, segundo camponeses ouvidos pela reportagem, grila terras na região por meio do uso de laranjas.Eles relataram a destruição de cercas e roças e o uso de correntão para a destruição de vegetação nativa do Cerrado. 

(A reportagem é de Julia Dolce, publicada por De Olho nos Ruralistas, 08-06-2021

Índios Kayapó e Munduruku são vítimas de permanentes ataques...

 Povos Kayapó que habitam as terras indígenas no sudeste do Pará estão sofrendo o impacto da alta demanda da China por manganês, um metal indispensável para a fabricação do aço que abastece obras de infraestrutura bancadas pelo governo do país asiático. A corrida pelo minério jogou o preço internacional nas alturas e, no Brasil, a consequência foi um aumento da ilegalidade. “A Polícia Federal tem apreendido quase que semanalmente caminhões com manganês em barreiras no interior do Pará”, confirmou em fevereiro a Agência Nacional de Mineração (ANM), através de sua assessoria de imprensa.

Em nota divulgada nesta quarta-feira (9), o povo Munduruku denunciou um ataque contra o ônibus que levaria lideranças da Terra Indígena (TI) Munduruku, na região do Alto Tapajós, no Pará, para Brasília, onde projetos anti-indígenas correm risco de ser votados na Câmara dos Deputados e julgamentos decisivos – para o povo Munduruku e para o conjunto dos povos indígenas do Brasil – ocorrem nesta e na próxima semana. “Na manhã do dia 9 de junho no município de Jacareacanga, o ônibus que iria buscar nosso comitiva do Alto Tapajós para levar à Brasília foi atacado, teve seus pneus furados e o motorista foi ameaçado, se não saísse da cidade o ônibus iria ser queimado. Não havia ninguém no ônibus”, informa uma nota do movimento Ipereg Ayu. Nos últimos meses, os ataques de garimpeiros que atuam ilegalmente na TI Munduruku contra lideranças do povo têm se intensificado. No dia 26 maio, garimpeiros armados atacaram uma aldeia e queimaram a casa de Maria Leusa Kaba, liderança contrária à mineração e ao garimpo na TI Munduruku. Outras ameaças se seguiram ao ataque, que ocorreu em represália a uma operação de fiscalização e combate ao garimpo ilegal na região. Apesar do clima de terror, no dia seguinte ao ataque, as forças federais e estaduais se retiraram da região e deixaram os indígenas sem proteção. No dia 29 de maio, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal determinou o retorno de forças federais a Jacareacanga, para garantir a proteção do povo Munduruku.(Fonte: IHU)



segunda-feira, 14 de junho de 2021

DESMATAMENTO NO XINGU - Poucos acreditam na conservação de biomas

 De acordo com um relatório recente da Rede Xingu, baseado em seu sistema de monitoramento de desmatamento Sirad, entre 2018 e 2020, madeireiros, grileiros e garimpeiros ilegais destruíram 5.135 km2 de floresta – área três vezes maior que o município de São Paulo. O Sirad, um sistema de monitoramento por radar de desmatamento quase em tempo real, utiliza uma série de algoritmos que processam informações do satélite Sentinel-1, na plataforma Google Earth Engine (GEE), monitorada por analistas da Rede Xingu+. Os especialistas detectaram o que dizem ser um aumento alarmante do desmatamento dentro das 23 reservas indígenas e nove áreas de floresta protegida que formam um “corredor verde” ao longo da bacia do Xingu, que abrange porções dos estados de Pará e Mato Grosso – o primeiro é o lar da maior parte da destruição recente. Embora grande parte da atividade ilegal dentro dessas áreas protegidas seja muito anterior à era Bolsonaro – exploração madeireira e mineração ilegal dentro das reservas indígenas Cachoeira Seca e Kayapó, por exemplo – especialistas entrevistados pela Mongabay disseram que a repentina escalada de 2018 em diante seria o efeito de uma intensificação na sensação de impunidade na região. “O aumento do desmatamento dentro dessas áreas protegidas reflete claramente a expectativa de que elas possam ser reduzidas ou revertidas [em áreas destinadas a atividades econômicas]”, diz Biviany Rojas, coordenadora do programa Xingu do Instituto Socioambiental (ISA).Em levantamento encomendado pelo IPAM, 68% dos entrevistados julgam que medidas de fiscalização e multas são efetivas e que devem partir do governo, mas apenas 13% acredita em sua capacidade de conservar o bioma.

Netflix acaba de lançar o documentário Rompendo Barreiras: Nosso Planeta (Breaking Boundaries), de Johan Rockström e David Attenborough, sobre como a humanidade levou a Terra para além dos limites que a mantiveram estável por 10 mil anos, desde o início da civilização.

 O documentário mostra quão perto estamos de alguns pontos de ruptura (tipping points). Fala também da necessidade que se apresenta à humanidade de engajamento numa transição que seria impensável há poucas décadas. Dois desses limites – o da perda de biodiversidade e o da mudança climática – têm relação direta com o desmatamento das florestas tropicais. As florestas tropicais abrigam a maior biodiversidade terrestre e fluvial do planeta. O atual ritmo de desmatamento destas florestas é responsável por aproximadamente 20% das emissões globais de gases de efeito estufa. Estes gases são assim chamados por segurarem calor na atmosfera. No Brasil, as emissões geradas pelo desmatamento são 45% [1] do total de emissões do país. Só o desmatamento da Amazônia é responsável por 36%. A destruição piora o aquecimento global e acelera a extinção de espécies.