Às vezes achamos que os que nós julgamos corruptos e/ou corruptores merecem, de imediato, somente o nosso repúdio e a nossa condenação. Deixando de lado, por um instante, o fato de que ao agirmos assim nos colocamos acima dos demais, - por nos considerar certinhos e justos, - erramos totalmente a nossa metodologia. A mera condenação do suposto ‘pecador’ não o ajuda a mudar de atitude. O firme repúdio ao corrupto não o torna, automaticamente, mais justo. Faz-se necessária outra estratégia que de um lado ajude o suposto pecador a desistir de suas práticas iníquas, e que, do outro lado, permita que ele se torne um engajado praticante e propagador de maior equidade e respeito. Esta, afinal, foi a pedagogia adotada por Jesus no caso de Zaqueu. O evangelista o apresenta como chefe dos cobradores, ou seja, chefe da gangue que extorquia, sistematicamente, os cidadãos daquela cidade de Jericó. E, ao mesmo tempo, ele é descrito como um homem rico. Logicamente, era a consequência de quem vivia a arrancar, abusivamente, dinheiro e bens dos cidadãos. Pois bem, Zaqueu quer conhecer Jesus, mas a iniciativa que ele toma, apesar de ser uma ‘pessoa baixa’, é a de se colocar ainda ‘acima’ dos outros, inclusive de Jesus. Olha, metaforicamente falando, as demais pessoas de ‘cima para baixo’ mesmo sem ter ‘estatura moral’ para fazê-lo. O objetivo do evangelista nesse sentido é mostrar como o pecador Zaqueu insiste em conhecer Jesus, mas sem se expor e se misturar, e mantendo a típica arrogância de quem olha para os outros com ares de superioridade. Jesus, enfim, toma uma iniciativa que nenhum judeu devoto tomaria: o de se autoconvidar para comer na casa do impuro e pecador público Zaqueu. Isso é surpreendente, pois o Mestre corre o risco de se ‘contaminar’ e de ser considerado ele também impuro e cúmplice dos malfeitores da cidade. De fato é o que ocorre: a casa de Zaqueu se enche de membros da sua gangue de cobradores.
O interessante é que Jesus na sua aproximação com Zaqueu, mesmo sabendo o estrago que ele vinha produzindo na cidade, não lhe coloca nenhum tipo de condição ou de chantagem moral. Simplesmente se autoconvida para fazer comunhão com ele e com aqueles que eram excluídos pela sua impureza social e moral. O inesperado acontece: o não pré-julgado Zaqueu sente que é seu dever moral ir de encontro ao que Jesus vinha pregando. Coloca-se na sua mesma sintonia de onda em favor dos empobrecido e dos desapropriados. Compromete-se a devolver metade dos seus bens aos pobres e àqueles que, porventura, defraudou, se compromete a devolver quatro vezes mais o valor subtraído. A salvação entra na casa e no coração de Zaqueu quando ao se sentir perdoado ele muda integralmente o seu jeito de ser. De rico avarento se torna generoso e solidário, e de ladrão ou, supostamente tal, uma pessoa equânime!