terça-feira, 29 de dezembro de 2020

“TIREM O GARIMPO DAS NOSSAS TERRAS” Líder indígena relata a batalha contra a mineração ilegal e a Covid-19 no território yanomami - Por DÁRIO KOPENAWA

 


Meu pai, Davi Kopenawa, luta há décadas pelos direitos do povo yanomami. Graças à campanha liderada por ele, em 1992, foi homologada a Terra Indígena Yanomami, um território de 96.650 km² no extremo Norte da Amazônia, ao longo da fronteira com a Venezuela. A partir da homologação, o governo fez uma operação de retirada dos garimpeiros, e o problema arrefeceu. Meu pai ganhou vários prêmios e foi reconhecido internacionalmente por causa disso. Com o passar do tempo, minha mãe, Fátima, pressionou: “Agora você vai passar a bola dessa luta para nosso filho. Vai voltar para a aldeia e cuidar de mim, porque passou a vida toda viajando.”

Meu pai me deu muitos conselhos. Aprendi a língua de vocês, estudei na universidade e morei em São Paulo, onde conheci as problemáticas da sociedade não indígena. Tive a curiosidade de conhecer a cultura de vocês. Em 2004, criamos a Hutukara Associação Yanomami em Boa Vista, capital de Roraima. Há 16 anos trabalho na associação e me tornei porta-voz dos povos Yanomami e Ye’kwana que habitam a Terra Indígena Yanomami. Hoje, quando tem uma reunião mais importante, meu pai participa. Quando é menos importante, eu represento. Moro doze meses em Boa Vista, depois passo três meses e meio na nossa comunidade do Watoriki, no Amazonas.

Em março, quando a fumaça da xawara (epidemia) chegou com força no Brasil, avisei as lideranças: “Olha, xamãs, pajés, estou acompanhando os jornais e eles estão dizendo que a doença está chegando. Ela vai entrar no nosso território, temos que nos preparar.” No dia 9 de abril ocorreu a primeira morte de um yanomami por causa do novo coronavírus. O caso teve repercussão internacional. A Covid-19 foi avançando em nosso território. O principal vetor de transmissão são os garimpeiros, que levam a doença para as aldeias. As terras yanomami estão localizadas em dois estados: Roraima e Amazonas. Hoje existem 20 mil garimpeiros ilegais espalhados pelo nosso território. Com a alta do preço do ouro no mercado internacional, a prática do garimpo já havia se intensificado. Mas a situação piorou com o governo de Jair Bolsonaro. Ele defende a legalização do garimpo em terras indígenas, estimulando a ação dos invasores. Os garimpeiros andam nos arredores de nossas aldeias, sobem os rios de barco, pousam de helicóptero e de avião em pistas no meio da floresta. Nossos parentes pegam essa xawara deles e a transmitem nas aldeias.

Somos uma população de 28.990 yanomamis. Além da Covid, enfrentamos também o problema da malária. O Distrito Sanitário Especial Indígena – Yanomami é o responsável pelo atendimento médico no território. São 37 polos base, onde funcionam 78 Unidades Básicas de Saúde Indígena. Os profissionais permanecem cerca de trinta dias trabalhando nos postos de saúde e depois ficam quinze dias na cidade para descansar. Mas o número deles é muito reduzido. Em abril, reunimos o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana e decidimos fazer uma campanha para combater os dois problemas: o garimpo ilegal e a pandemia da Covid-19. O objetivo é chamar a atenção das autoridades e da sociedade, pedir socorro. É divulgar as informações e cutucar o governo brasileiro, que não está cumprindo seu papel de respeitar e proteger os povos originários. 

Por meio da nossa representante indígena no Congresso, a deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), pedimos audiência com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. No dia 3 de julho, fomos recebidos por ele no Palácio do Planalto. Levei a petição para a retirada do garimpo e o dossiê com o histórico da atividade ilegal. Mourão respondeu: “Ah, Dário, o território yanomami é muito grande, o governo federal não tem recursos para pagar funcionários, não tem aviões, a logística é difícil. Eu trabalhei em São Gabriel da Cachoeira, conheço a região.” Depois, em sua conta no Twitter, ele disse que o número de garimpeiros nas terras yanomami é de 3.500 e não 20 mil, como estimado por organizações indígenas. Ele havia falado que tinha uma reunião com o presidente Bolsonaro e faria um plano para a retirada do garimpo. Até agora, nada aconteceu. Para mim, Bolsonaro está doente, desrespeitando os povos indígenas e as terras demarcadas por lei. A política dele é de acabar com nossos direitos garantidos pela Constituição.   

A campanha #ForaGarimpoForaCovid reuniu mais de 439 mil assinaturas de pessoas de todo o Brasil e do exterior. No dia 3 de dezembro, eu e o Maurício Ye’kwana, diretor da Hutukara Associação Yanomami, entregamos a petição nos gabinetes do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que tomem providências para a retirada dos garimpeiros. Também participamos de uma reunião virtual com as frentes parlamentares ambientalista e de defesa dos direitos indígenas.

Dizem que agora está chegando a vacina e que seremos imunizados antes de outros grupos porque somos mais vulneráveis. Vocês têm a obrigação de fortalecer os nossos corpos porque essa doença é da cidade, não é nossa. E o governo federal tem que cumprir o papel de proteger a nós, os povos originários, retirando os garimpeiros que invadiram a nossa terra demarcada. Essa é a nossa luta.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Natal - A imutabilidade do mistério da encarnação: não somos os mesmos, mas usamos os velhos jargões e mantemos os mesmos vícios!

 Há quem diga que é preciso reinventar, reinterpretar e recontemplar o Natal, principalmente à luz do que tem ocorrido ao longo desse ano. É para se perguntar se isso não seria válido o tempo todo, e não somente por ocasião dessas datas chamativas e, agora, nas atuais excepcionais circunstâncias! Fossilizamo-nos nos velhos e arcaicos ritos, nos jargões insossos, nas palavras contaminadas, nas análises decadentes, nas mesmices apáticas. Por que esse Natal deveria ser diferente e com a obrigação de desencadear algo inédito? Não dizíamos o mesmo há um ano? Dor, mortes, tragédias, desgraças nos acompanham, permanentemente, e por que só as atuais marcadas por uma pandemia planetária teriam o dever/poder de nos tocar tão profundamente a ponto de chegarmos a rever a nossa vida, nossas escolhas, nossas atitudes, nossos pseudovalores? 

É um dado de fato, contudo, que a liturgia católica na vigília do Natal apresenta, infalivelmente, a mesma narrativa evangélica. Por que, afinal, se o mundo muda, até os vírus são sempre mais mutantes e os acontecimentos se desencadeiam com um ritmo e uma originalidade sempre mais intensos e variegados?  Paradoxalmente, à distância de muitos anos, o mistério da ‘encarnação’ permanece imutável, em que pesem suas multifacetárias interpretações! Meditando a narrativa do nascimento de Jesus segundo o olhar de Lucas podemos compreender o nosso eterno e imutável hoje, a saber: 

1. Jesus, filho de Deus, se esvazia de sua divindade e de supostos privilégios, e se humaniza, assumindo fragilidades e limitações de toda ordem. No entanto, ‘humanos’, como César Augusto, querem se despir de sua humanidade para serem tratados como divinos, absolutos, imortais! Acham que podem tratar e dispor dos humanos como se ‘eles’ também não o fossem! Isso mudou aos nossos dias?

2. Maria e José são obrigados pelo ‘divinizado imperador’ a se cadastrar para declarar o tamanho de sua renda, e conhecer, consequentemente, quanto a Receita imperial iria abocanhar. Os cidadãos, para esses ‘divinizados’ não passam de um exército de códigos de barra, sem nome, sem sonhos, sem projetos. São peças a serem sugadas, usadas e descartadas! Isso mudou aos nossos dias?

3. Maria e José longe de sua casa-pátria experimentam a precariedade e a insegurança na capital! A cidade universal, a escolhida, em lugar de acolher, sonega hospitalidade, e trata seus filhos como estrangeiros e impuros em sua própria casa! Isso mudou aos nossos dias?

4. Os pastores, notórios ladrões, sem religião e sem lei, são envolvidos pela luz divina, e não pelo julgamento ou a condenação. Eles, os humanos descartados e condenados pelos humanos divinizados, são agraciados e acolhidos pelo Altíssimo. Realmente, isso nunca vai mudar: Deus continua a se revelar preferencialmente aos pequenos anônimos e rejeitados, não porque são os melhores ou os merecedores, mas porque a lógica do ’humano Deus’ é pautada pela compaixão e pela misericórdia infinita! Feliz Natal 


sábado, 19 de dezembro de 2020

IV de Advento - O Deus de Jesus escolhe o anônimo, o frágil, e o difamado para reerguer uma humanidade doente de poder, fama e protagonismo (Lc 1,26-38)

 O sentido e o alcance de certos acontecimentos da nossa vida nem sempre são compreensíveis no momento. Só com o passar do tempo, e através de um olhar profundo, é que eles parecem adquirir sentido e valor. O que parece desgraça agora, poderá nos parecer, amanhã, uma oportunidade de graça e de crescimento. O evangelho de hoje parece confirmar isso! O mensageiro de Deus, Gabriel, segue a lógica de um Deus um tanto peculiar. Primeiro, anuncia a uma estéril (Isabel) que vai se tornar mãe e ao seu esposo sacerdote do templo que vai ser pai, e este, naturalmente, não acredita! Depois, o anunciador vai a uma desconhecida cidade (Nazaré) da rebelde e pagã Galileia para dizer a uma jovem comum da plebe, de nome raro, Maria, que será a mãe do ‘enviado filho do Altíssimo’! Como levar a sério tais promessas, a partir dessas premissas? A narrativa carregada de força e de sentimento deixa o lugar para a teologia que desvenda o sonho-projeto do Deus de Jesus: Deus para reerguer a humanidade não escolhe o notório, o prestigioso, nem o que parece ser consolidado nas ‘escrituras sagradas’! O Altíssimo escolhe as anônimas Marias da vida – como Miriam a altiva irmã de Moisés, - que se tornou leprosa, uma castigada; o Onipotente não teme mergulhar nos lugares mais difamados e que ficam à margem das lógicas geopolíticas dos palácios; o Todo-poderoso varre a sua própria divindade e se reveste da vergonhosa fragilidade dos humanos. Um Deus humano que confunde os hermeneutas, os pesquisadores e os sabichões do sagrado. O impossível para estes, torna-se possível para ‘um humano que pensa como Deus’!


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Um presidente negacionista, mitômano, ignorante e cínico - Por ISTOÉ

 Na cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19 — plano que não planeja nada, não se compromete com nada, e apenas prevê um monte de ações desconexas com a realidade –, Bolsonaro tentou amenizar Bolsonaro. Falou que “se alguém exagerou, foi no afã de encontrar uma solução”. Não, presidente. Não adianta vir agora com esse papinho furado, mais falso que nota de três reais, de que a pandemia sempre o afligiu. Não adianta vir falar em união, um dia após proferir as maiores barbaridades sobre a vacina e o governador de São Paulo. Ninguém, com mais de dois neurônios ativos, acredita em você. Alguém deve lhe ter soprado aos ouvidos que sua imagem está derretendo feito gelo no Saara. Pesquisas? São retratos do momento, e não filmes de um período. Você será considerado o pior e mais aloprado presidente da história do Brasil. O mundo já sabe disso. Por aqui, metade da população, também. Você sempre negou a Covid-19 e sua gravidade. Você sempre desrespeitou os mortos e a dor dos enlutados. Você sempre fez o que pôde para ajudar a propagar o novo coronavírus, desde aglomerações ao não uso de máscara. Você sempre deseducou a população e sempre estimulou a ignorância e irresponsabilidade.

Ninguém, em todo o planeta, mentiu como você sobre a doença. Ninguém jamais chegou perto do seu obscurantismo e negacionismo. Nem as pobres emas do Alvorada escaparam da sua estupidez lunática. Não venha, pois, agora, querer apagar o passado ou reescrevê-lo. Suas falas e atitudes estão gravadas para a eternidade. Você é o responsável direto por parte dos doentes e das mortes, sim. Você é o responsável direto por tanta gente ter se contaminado e contaminado outros, afinal é para “enfrentar o vírus de peito aberto”. Você é o responsável por alguns dos 40% de brasileiros que dizem não pretender se vacinar.

Enquanto o Brasil iniciava sua subida ao cemitério, você brincava de autogolpe em Brasília; estimulava gente do quilate de Sara Winter. Apoiava atos em favor do fechamento do STF e do Congresso. Divulgava a falsa cura da doença exibindo uma estúpida caixinha de cloroquina. Você sempre foi – e é – um patético arremedo de presidente. Os brasileiros terão vacinas, sim, não por você, mas a despeito de você e deste desgoverno incompetente. A despeito do “general especialista em logística” (que piada!) aboletado no Ministério da Saúde, já que ninguém mais aceitou o papel de títere. Mas as terão muito mais tarde e em menor quantidade. Em apenas um mísero dia, 70 mil novos casos de Covid e quase mil mortos. Mas, segundo o presidente, “está no finalzinho”. Já desisti de clamar “Deus nos ajude”. Definitivamente, Ele não está nem aí para esse triste pedaço de chão. Até porque, convenhamos, fazemos por merecer Seu desdém.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Brasil cai cinco posições no ranking global de IDH (Índice Desenvolvimento Humano)

 No primeiro ano do governo Bolsonaro, país aparece em 84º lugar entre 189 nações. ONU aponta falta de avanços na educação como responsável pelo índice brasileiro, e alerta para alta desigualdade de renda e de gênero. O Brasil caiu cinco posições no ranking mundial de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU e passou da 79ª para a 84ª posição, entre 189 países avaliados.

A estagnação brasileira se deve à falta de avanços na educação. O período de permanência das pessoas na escola ainda é o mesmo de 2016, de 15,4 anos. A média de anos de estudo teve uma pequena alta, de 7,8 anos em 2018 para 8 anos em 2019. A expectativa de vida no país aumentou de 75,7 anos para 75,9, o que representa um aumento significativo se comparado com a avaliação de 2015, que era de 75 anos. O Brasil é ainda o 6º entre os países da América do Sul, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia. Estes dois últimos estavam abaixo e empatados com o Brasil no ranking de 2018.

Se comparado aos demais países emergentes que integram o grupo dos Brics, o Brasil perde para a Rússia, mas aparece à frente de China, África do Sul e Índia. O país com o melhor IDH do mundo continua sendo a Noruega, seguida da Irlanda e da Suíça, empatadas na segunda colocação. A Alemanha, que era a terceira colocada em 2018, caiu para a 6ª posição, atrás de Hong Kong e Islândia, ambos em quarto lugar.

Se os índices referentes à desigualdade forem incluídos no cálculo, a queda do Brasil é ainda mais acentuada, com o país perdendo 20 posições. O IDH brasileiro, que é de 0,765, cai para 0,570, ou seja, uma redução de 25,5%. Nessa análise, o Brasil é a segunda nação que mais perde posições, atrás apenas de Comores, um país nanico no leste da África com população de 830 mil pessoas. O IDH ajustado para a desigualdade é calculado para 150 países. (Fonte: IHU)

O Covid matou mais estadunidenses do que todos que morreram em batalha durante a Segunda Guerra Mundial

Os EUA sofreram 291.557 mortes em batalha durante a Segunda Guerra Mundial, de acordo com o Department of Veterans Affairs. O número total de mortes confirmadas por COVID-19 ultrapassou esse triste marco. Até domingo, 13 de dezembro, 299.000 estadunidenses morreram devido à doença. – Isso significa que mais estadunidenses morreram de COVID-19 do que a quantidade de soldados USA mortos na guerra mais sangrenta da história da humanidade. Os Estados Unidos já registraram mais mortes por COVID-19 do que o número total de estadunidenses mortos em combate durante a Segunda Guerra Mundial, a guerra mais sangrenta da história.



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Capitalismo comunista di Giorgio Agamben

Il capitalismo che si sta consolidando su scala planetaria non è il capitalismo nella forma che aveva assunto in occidente: è, piuttosto, il capitalismo nella sua variante comunista, che univa uno sviluppo estremamente rapido della produzione con un regime politico totalitario. Questo è il significato storico del ruolo di guida che sta assumendo la Cina non solo nell’economia in senso stretto, ma anche, come l’uso politico della pandemia ha mostrato eloquentemente, come paradigma di governo degli uomini. Che i regimi istaurati nei paesi sedicenti comunisti fossero una particolare forma di capitalismo, specialmente adatta ai paesi economicamente arretrati e rubricata per questo come capitalismo di Stato, era perfettamente noto a chi sa leggere la storia; del tutto inatteso era invece che questa forma di capitalismo, che sembrava aver esaurito il suo compito e quindi obsoleta, fosse invece destinata a diventare, in una configurazione tecnologicamente aggiornata, il principio dominante nella fase attuale del capitalismo globalizzato. È possibile, infatti, che noi stiamo oggi assistendo a un conflitto fra il capitalismo occidentale, che conviveva con lo stato di diritto e le democrazie borghesi e il nuovo capitalismo comunista, dal quale quest’ultimo sembra uscire vittorioso. Quel che è certo, tuttavia, è che il nuovo regime unirà in sé l’aspetto più disumano del capitalismo con quello più atroce del comunismo statalista, coniugando l’estrema alienazione dei rapporti fra gli uomini con un controllo sociale senza precedenti.

15 dicembre


New York Times diz que Brasil está mergulhado no caos e governo “brinca com vidas”

 “Enquanto os países apressavam seus preparativos para imunizar cidadãos contra a Covid-19, o Brasil, com seu programa de imunização de renome mundial e uma robusta capacidade de fabricação de produtos farmacêuticos, deveria estar em uma vantagem significativa”, diz editorial do jornal  The New York Times. A publicação ainda diz que “mas brigas políticas internas, um planejamento a esmo e um movimento antivacinas nascente deixaram o país, que sofreu a segunda maior taxa de mortalidade da pandemia, sem um programa de vacinação claro. Seus cidadãos agora não têm noção de quando podem obter alívio de um vírus que colocou o sistema de saúde pública de joelhos e esmagou a economia”. 


Tribunal de Haia analisa pela primeira vez uma queixa formal por genocídio contra um presidente brasileiro: Bolsonaro

A procuradoria do Tribunal Penal Internacional confirmou que analisa uma queixa contra Jair Bolsonaro por genocídio da população indígena. Nunca antes um presidente brasileiro esteve sob escrutínio do tribunal de Haia. A informação foi publicada pela coluna de Jamil Chade. É uma importante vitória dos povos indígenas e das entidades de direitos humanos que apresentaram a queixa, à Comissão Arns e ao Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu), pois especialistas consideravam improvável o acatamento da queixa pelo Tribunal Penal. Na queixa, estão mais de 30 atos de Bolsonaro que formariam o que os advogados chamam de "incitação ao genocídio". A lista inclui medidas provisórias e decretos, além de omissões e mesmo discursos. 

Os incêndios também são amplamente mencionados, informa Chade. "Os incêndios, que ainda se perpetuam na região, geram um dano ambiental e social desigual e de difícil reversão", acusam. "Acompanham as pressões sobre a floresta e associam-se à disputa — frequentemente violenta — pela terra para empreendimentos agropecuários, grandes obras de infraestrutura, grilagem, garimpo e exploração de madeira. Tais atividades exercem grande impacto sobre a floresta e os povos que a habitam e vêm sendo ora estimuladas ora negligenciadas em seu potencial de degradação", diz o texto entregue ao tribunal. Em comunicado à Comissão Arns, o Tribunal, disse que "o Escritório está analisando as alegações identificadas em sua comunicação, com a assistência de outras comunicações relacionadas e outras informações disponíveis". "O objetivo desta análise é avaliar se, com base nas informações disponíveis, os supostos crimes parecem estar sob a jurisdição do Tribunal Penal Internacional e, portanto, justificam a abertura de um exame preliminar sobre a situação em questão", continuou.

"A análise será realizada o mais rápido possível, mas saiba que uma análise significativa destes fatores pode levar algum tempo", alertou. "Assim que for tomada uma decisão sobre se existe uma base para prosseguir, nós o aconselharemos prontamente e forneceremos as razões para a decisão", acrescentou. A confirmação do tribunal não significa que uma investigação formal foi iniciada ou que um indiciamento foi realizado. Apenas está em análise no tribunal queixas contra Bolsonaro. 


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Traficantes utilizam T.I. Caru para plantar maconha. Polícia destrói 25 mil pés e 300 kg de maconha prensada


Uma operação encontrou nesta quinta-feira (10) cerca de oito mil pés de maconha dentro da Terra Indígena Caru, próximo ao município de Buriticupu, a 411 km de São Luís. A droga é plantada por traficantes, que invadem a terra dos índios. A operação teve a participação agentes do Batalhão Ambiental do Maranhão, Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e lideranças indígenas. Ao todo, além dos pés de maconha, cerca 200 kg de droga prensada e 60 kg de semente foram encontrados. A ação contou com a ajuda de um drone, que encontrou três hectares de floresta desmatada. Segundo a polícia, ao perceberem a movimentação na mata, os traficantes fugiram e não foram encontrados.Na mesma região da Terra Indígena Caru, cerca de 320 kg de maconha prensada já havia sido apreendida em uma área de seis hectares que foi desmatada. Nas duas operações, toda a droga foi incinerada.A Terra Indígena Caru tem sido invadido nos últimos anos por traficantes de drogas, que desmatam e usam a mata fechada para se esconder das fiscalizações da polícia. Grupos de índios Awa Guajá e Guajarara, como os Guardiões da Floresta, atuam para encontrar essas plantações e denunciar à polícia.Ainda assim, só nos últimos seis meses, mais de 25 mil pés de maconha já foram encontrados e incinerados somente na região entre a Terra Indígena Caru e o município de Buriticupu. (Fonte G1)


domingo, 13 de dezembro de 2020

“Diante de todos os desastres que o corroem, o Brasil parece morto” - Por Jânio de Freitas

 É impossível saber o que falta para que vidas sejam salvas do presidente Jair Bolsonaro, mas como aponta o jornalista Jânio de Freitas, não é preciso imaginar a combinação entre políticos e a chamada “elite” para ver quem ou o que concede a liberdade de ação em troca de ganhos e vantagens. “A conduta da Presidência e de seus auxiliares na Saúde, na balbúrdia da vacina, basta para justificar o processo de interdição ou de impeachment, sem precisar dos anteriores crimes de responsabilidade e outros cometidos por Bolsonaro e pelo relapso general Eduardo Pazuello”, afirma Freitas, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo. “Nem se sabe mais o número de requerimentos para processo de impeachment apresentados à Câmara. Sobre eles, Rodrigo Maia, presidente da casa, lançou uma sentença sucinta: “Não há agora exame de impeachment nem vai haver depois””.

Para Freitas, a recusa em se analisar os pedidos se configura como abuso de poder: “é dever do presidente da Câmara o exame de tais requerimentos, daí resultando o envio justificado para arquivamento ou para discussão em comissões técnicas. Rodrigo Maia jamais explicou sua atitude. Daí se deduz que não lhe convém fazê-lo, com duas hipóteses preliminares: repele a possível entrega da Presidência ao vice Mourão ou considera a iniciativa inconveniente a eventual candidatura sua a presidente em 2022”. Segundo o jornalista, as camadas sociais que permanecem tranquilas com o que está acontecendo no país são aquelas que podem manipular os ânimos, e que tem mais noção do que se passa – sem que isso atenue sua visão pelas camadas inferiores. “Diante de todos os desastres que o corroem, o Brasil parece morto”.

III de Advento - Endireitar vidas é preciso. Desmascarar farsantes é imperativo! - Jo 1,6-8.19-28

 'Quem não deve, não teme'! Nada mais verdadeiro do que esse ditado popular! As autoridades, em geral, sempre temem que surjam dentro delas vozes destoantes, que critiquem, denunciem, e desmascarem suas condutas. Afinal, elas sabem que devem honestidade, coerência, transparência a seus instituídos. João Batista, filho de um sacerdote profissional, não se comporta como tal. Não macaqueia  a classe sacerdotal. Ele tem atitudes autônomas, livres, ousadas. Isto assusta a elite do templo porque não reza a cartilha da manipulação, do autoritarismo religioso, da chantagem moral. O profetismo de João não é ligado ao templo, aos preceitos e às normas litúrgicas da religião oficial. Ele se sente como que um 'enviado' de alguém que exige um radical redirecionamento da totalidade dos comportamentos humanos. Isto significaria para as elites judaicas e políticas que o que elas vêm fazendo não estaria correto. Por isso que em geral toda instituição (governos, partidos, igrejas, universidades, famílias, etc.) procura silenciar e banir todos aqueles seus membros que proclamam mudança! Quem denuncia contradições e clama por transformação dificilmente é compreendido e valorizado em vida. Pessoas carregadas de carisma e liberdade interior dificilmente são reconhecidas. Assim ocorreu com Jesus de Nazaré; da mesma forma ocorre hoje com tantos 'enviados de mente lúcida e coração aberto' que não cansam de denunciar e anunciar com suas palavras e gestos que a 'nação está mergulhada em trevas e à beira da falência'! Endireitar vidas é preciso! Ser testemunhas da luz e da verdade é imperativo irrenunciável. 

sábado, 12 de dezembro de 2020

L' índia Guadalupana e le Elisabette incinte di speranza e resistenza

 In generale colui che si sente um benedetto, un graziato da Dio in maniera sorprendente, inaspettata, e a volte misteriosa, sente il bisogno impellente di proclamarlo a tutti ma, principalmente, sente dentro di se come una specie di imperativo categorico di riprodurre quella grazia/benedizione ricevuta a tutti coloro che vivono nella disgrazia. Sente che sarebbe un cieco egoista e un ingrato se non diventesse lui stesso una grazia, una beatitudine/benedizione per coloro che si sentono abbandonati, dimenticati e a volte perfino maledetti e castigati sia da Dio che dagli uomini. Maria, cosciente di essere stata una benedetta da Dio grazie al dono inédito di una nuova vita che stava crescendo dentro di lei, prende la coraggiosa decisione di affrontare, da sola, montagne e cammini impervi e tortuosi. Lo fá con il coraggio di tanti intrepidi profeti che non temono pericoli, e sembrano perfino incapaci di prevedere possibili minaccie alla loro integritá.  Forse perché sanno che la vita/benedizione che sentono dentro di loro é un qualcosa di qualitativamente nuovo e potente, capace di trasformare radicalmente persone e realtá. 

In questi ultimi due anni qui in Brasile sono stati assassinati vari indios difensori dei diritti umani e ambientali. Il loro sangue é stato versato perché hanno avuto la sfrontatezza di denunciare e di ostacolare i piani diabolici dei Pilato, Cesare, ed Erode di oggi. Sono gli influenti membri di questo moderno Sinedrio che in nome di una giustizia plasmata a loro immagine e somiglianza formula e difende leggi per garantire privilegi e per assolvere i vergognosi abusi di grandi piantatori de soia, allevatori di bestiame, imprese mineratrici e trafficanti di legname pregiato. Costoro in soli due anni hanno invaso e aggredito piú di 100 aree indigene, e hanno messo repetaglio il futuro fisico e culturale di decine di etnie indigene. Questi martiri della madre terra, difensori graziati della creazione, hanno pagato con la loro vita perché come Maria la serva di Guadalupe, della quale oggi ne celebriamo la solennitá, si erano messi in ascolto delle angosce e delle sofferenze, di tanti Juan Diego, l’indio del Tepeyac a cui la celestiale e lunare india Maria di Guadalupe gli era apparsa. C’é, tuttavia, un altro aspetto che il brano evangelico di oggi ci suggerisce. 

Maria si arrischia a visitare un’altra benedetta e graziata da Dio, e non necessariamente per difenderla da possibili minaccie. Elisabetta detta la sterile, quella del ventre secco, incapace di generare vita. Tuttavia,anche lei aveva ricevuto contro ogni aspettativa umana, la grazia sorprendente di diventare generatrice di vita. Cosí le nuove vite si incontrano. Le nuove speranze si riconoscono, si abbracciano e dialogono tra di loro. Oggi nella terra dove si ammazzano vite e si abortono speranze, dobbiamo sentire il bisogno di scoprire i nuovi segni di vita e di trasformazione che sono giá stati generati e fare in modo di farli crescere sistematicamente. Oggi, molti dei 240 popoli indigeni che esistono in Brasile, hanno capito l’urgenza e di mettere in contatto tra se e di far incontrare tutti i segni di vita nuova che esistono tra le popolazioni indigene. Molte di queste popolazioni come Maria ed Elisabetta sono incinte di speranze, di sogni di trasformazione e di impegni concreti per difendere i loro figli e le figlie. Sono desiderose di vestire come la Guadalupana di Tepeyac non le vesti di una regina che vive nei palazzi, ma le vesti semplici del colore del cielo pieno di stelle. Il manto delle intrepide e resistenti mamme educatrici indigene. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Em 20 anos, 1,5 milhão de quilômetros quadrados do Brasil, ou cerca de 17,5% de seu território, queimou pelo menos uma vez

 Nos últimos 20 anos, 1,5 milhão de quilômetros quadrados do Brasil, ou cerca de 17,5% de seu território, queimou pelo menos uma vez. É quase toda a região Nordeste. Quando pegou fogo, a maior parte da área, 68%, estava coberta por vegetação nativa, enquanto 32% era usada para agropecuária, incluindo atividades como limpeza de pasto, roçado e terrenos recém-desmatados. Em média, uma área de 177 mil km2 queima todo ano, ou 2,1% do país. 

Os dados inéditos fazem parte de uma iniciativa lançada hoje (3/12), o MapBiomas Fogo. Pela primeira vez, são consolidadas as informações sobre a área queimada a cada ano no país, de 2000 a 2019, com localização, frequência e o tipo de cobertura e uso da terra associado, como floresta, savana, agricultura ou pasto, entre outros. Ele faz parte da 5ª coleção anual de mapas de cobertura e uso do solo do Brasil do projeto MapBiomas, disponível aqui.

Mais de 330 mil km² das florestas existentes hoje no Brasil pegaram fogo nos últimos 20 anos e dessas, 195 mil km2 (59%) queimaram duas vezes ou mais. “O incêndio em florestas tropicais não é natural. Ele é causado principalmente pela ação humana alimentada por um ambiente mais seco, que faz o fogo escapar de um pasto ou de uma área desmatada, por exemplo, e entrar na mata”, explica a diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar, coordenadora do grupo que fez o trabalho. “A frequência alta em algumas regiões reforça o papel do homem nesse processo de degradação.”

É o caso da Amazônia: 28,7% da área total queimada em 20 anos foi registrada ali, num ambiente onde o fogo deveria ser raro – metade dos 427 mil km2afetados queimou mais de uma vez num mesmo lugar. Sem o homem, o fogo neste bioma ocorre a cada 500 a mil anos. Em termos de área, o Cerrado foi o bioma mais atingido no período: 41% de sua extensão foi afetada pelo fogo pelo menos uma vez, e 76% do que queimou ali era vegetação nativa. “O Cerrado, diferentemente da Amazônia, é um bioma que evoluiu com o fogo. Ainda assim, as transformações na paisagem podem ter impacto na incidência das queimadas”, explica Alencar.

Quando se observam os aspectos fundiários, 59% da área queimada ao longo dos últimos 20 anos estava dentro de áreas privadas, 18% em áreas protegidas e 6% em assentamentos. (IHU)

sábado, 5 de dezembro de 2020

II de advento - Afogar o velho homem nas águas da Boa Nova e fazê-lo emergir 'mudado' na 'outra margem' da vida! (Mc.1, 1-8)

Paradoxalmente João Batista prega mudança radical de vida num espaço geográfico que é sinônimo de esterilidade e de ausência de vida. Onde não existem, aparentemente, condições concretas para a mudança. As pessoas, no entanto, fugiam de seus desertos interiores e do deserto sem vida que Jerusalém e Israel haviam se tornado. O templo e suas instituições, os invasores romanos e as desigualdades criadas haviam colocado o povo num desesperador deserto social. Ao mesmo tempo, porém, fazia crescer dentro dele o desejo crescente de ouvir e ser uma ‘boa nova’. A boa nova de que podia reinventar o seu futuro, de fazer afogar um presente feito de dor, de escravidão e de dependência e poder emergir ‘na outra margem’, a da esperança, da superação, da mudança. A boa nova de que o perdão de seus pecados/dívidas sociais, econômicas e religiosas não se obtém mediante ‘sacrifícios e impostos’ mas no exercício pessoal e coletivo de uma profunda e radical mudança de mentalidade e de atitudes em todas as dimensões. ‘Misericórdia eu quero, e não sacrifícios’, ‘Lavai vossas mãos sujas de sangue e começai a defender o direito do órfão e da viúva’ tornam-se os novos princípios que desobstruem o nosso caminho/relação com Deus. Hoje, como Jesus a Boa Nova personificada, somos convidados a retirar o entulho que nos impede aceder à plena liberdade e a uma relação adulta e filial com o Pai: a corrupção e a manipulação, a violência física e moral, a alienação religiosa e o clericalismo dominador. 


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Educação escolar indígena no Maranhão - Alguém lá de cima está preocupado?

 Um sentimento de tristeza e indignação toma de conta das já reviradas entranhas ao visitarmos numerosas aldeias do Maranhão nessas últimas semanas. Este sentimento se torna mais intenso e mais dolorido ao contemplar, de perto, a desolação a que foram reduzidas as estruturas físicas das que outrora se chamavam ‘escolas indígenas’. Verdadeiras carcaças fantasmagóricas de tijolos quebrados, janelas arrebentadas, pisos estourados e sujeira onipresente. Haverá quem argumente que isto se deu, em parte, em todo o território do Estado. Para fazer jus à verdade o abandono dos prédios escolares e o descaso para com o que se define como ‘educação escolar indígena’, são bem anteriores à eclosão da pandemia. 

O atual momento, - que já não apresenta a gravidade sanitária de outrora, - parece só confirmar que aquelas atividades escolares, que bem ou mal se davam naqueles mal acabados espaços, foram reduzidas a meras lembranças de um passado que parece remoto. É como se tivessem transcorridos longos e incontáveis anos. O trágico, contudo, que presenciamos no Maranhão é a total e sistemática omissão dos poderes públicos nessa esfera tão central no desenvolvimento de um estudante seja qual for. Não temos informação que haja havido sequer uma pífia iniciativa institucional para manter pelo menos um contato humano virtual com os professores e os coordenadores das aldeias/escolas, conhecedores de que a internet está funcionando em muitas aldeias. Em suma, não tivemos conhecimento de alguma tímida tentativa para manter viva a chama do diálogo, da atenção ao outro, da convivência, da construção coletiva, da gostosa expectativa de se rever novamente, não importando se os períodos seriam curtos ou longos... Contraditoriamente, no entanto, viu-se nesse período eleitoral uma intensa tempestade de mensagens e postagens de cunho eleitoreiro que vários ‘gestores públicos’ encaminhavam a pessoas e grupos de diferentes segmentos. Isto revela de um lado o próprio atrelamento livre o forçado à vontade do ‘chefe maior’ e do outro uma perigosa e pouco republicana promiscuidade político-partidária, em detrimento do que deveria ser um atendimento permanente e imparcial às populações. Ficou por demais patente que a preocupação desses homens públicos nunca tem sido a de manter viva a ligação com os trabalhadores na educação formal nas aldeias, mas sim, a de divulgar nomes e números de candidatos que faziam parte do interesse político-estratégico deles e do ‘gestor maior’. 

Ainda é difícil prever quais serão as próximas medidas que o Governo do Estado irá decretar para o início de 2021na educação escolar, mas uma coisa parece saltar aos olhos de forma dramática: serão precisos longos e desgastantes meses (ou anos!) para tentar reconstruir minimamente um bom nível de motivação e de confiança recíproca, e de um razoável ritmo e clima escolar. Sem ignorar que a falta de interesse pela educação escolar indígena vem se arrastando desde há muito tempo. O clima de desmobilização produzido não exclusivamente pela pandemia, - mas muito mais pela ausência dolosa do governo estadual, - deverá ser encarado e combatido direta e firmemente pelos próprios pais e estudantes indígenas. Eles, se quiserem, deverão pegar as rédeas da educação em suas mãos contando com seus parcos meios, e o escasso pessoal docente, procurando dar a volta por cima! Um desafio hercúleo. Afinal, os únicos interessados em ver as coisas funcionando são os próprios índios, e ninguém mais!


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Para os que têm fome e sede de justiça um dourado basta - Por Roberto Malvezzi (Gogó)

Quando chegam as águas novas, carregadas de calor e nutrientes, dispara o ciclo reprodutivo dos peixes de piracema. Então, em cardumes, eles arrancam rio acima na busca desesperada pela reprodução da espécie. Um peixe como o dourado tem que nadar pelo menos quinhentos quilômetros contra a corrente, até à exaustão. Quando encontram um obstáculo em seu percurso, lutam para vencê-lo. Quando é impossível vencê-lo, a exemplo de uma barragem no leito de um rio, se lançam contra a parede até desfalecer, ou até morrer. Muitos preferem morrer que renderem-se ao obstáculo, porque o instinto da vida os leva a lutar até morrer. Os que se acomodam não se reproduzem, vivem seu tempo como indivíduos, até sua extinção e a extinção total da espécie.

Porém, quando é possível vencer o obstáculo, prosseguem sua “arribada” rumo à reprodução da vida. Só na exaustão as fêmeas amadurecem os hormônios, liberam os ovos na água, enquanto os machos liberam seus espermas. Então, a fecundação acontece na água. Levados pelas correntes, os ovos fecundados eclodem no prazo de quinze horas. Agora já alevinos, levados pela enchente e pela correnteza, são carreados para seu berçário natural, isto é, as lagoas marginais. Ali ficarão pelo prazo de um ano, até a próxima cheia, quando já peixes jovens, voltarão ao leito do rio. Em alguns anos, quando estiverem maduros para a reprodução, farão o mesmo ciclo de seus pais.

É só assim, nadando contra a corrente, até à exaustão, que o milagre da vida acontece. Os peixes que não migram não amadurecem seu processo hormonal, não desovam, não liberam esperma, não se reproduzem, não contribuem para a perpetuação da vida. Servem apenas para serem pescados e devorados pela espécie humana.

Para os que têm fome e sede de justiça um dourado basta.

Solo monaci e delinquenti por Flávio Lazzarin

 “Negli anni a venire ci saranno solo monaci e delinquenti. E, tuttavia, non è possibile farsi semplicemente da parte, credere di potersi trar fuori dalle macerie del mondo che ci è crollato intorno. Perché il crollo ci riguarda e ci apostrofa, siamo anche noi soltanto una di quelle macerie. E dovremo imparare cautamente a usarle nel modo più giusto, senza farci notare.” (Giorgio Agamben, Quando la casa brucia, 5 ottobre 2020, Quodlibet, Una voce)

Perché un futuro fatto solo di monaci e delinquenti? Senz´altro é inevitabile constatare che le societá sono attualmente controllate e dominate da delinquenti. Infatti la disgregazione anomica con il programmatico tradimento della veritá e della decenza si alleano quotidianamente alla violenza ecocida e genocida. Quindi non c´é niente da aggiungere all´affermazione della tragica veritá dello sfacelo. 

Piú complicata, al contrario, la comprensione dell´esistenza di un possibile antidoto: i monaci. E capisco questo appello, perché, contro la decadenza e la dissoluzione hanno effettivamente perduto ogni potere le opposizioni, che si credevano vincenti  in nome di libertá, giustizia, democrazia e diritti umani. E allora, ecco i monaci! Per il filosofo forse un invito a ritrarsi, a vivere tra le macerie sottovoce, senza farsi notare. Invece, immediatamente, i monaci mi hanno fatto ricordare i Padri e le Madri del deserto. Siamo nel IV secolo, il secolo in cui si consuma il tradimento piú perverso del Vangelo di Gesú Crocifisso e Risorto: la Chiesa si piega al potere imperiale; si interrompe l´opposizione teologica e politica a Cesare Signore e Imperatore, in nome dell´unico Kúrios, il Signore Gesú; cessano le persecuzioni e  si chiude la stagione dei martiri. Ecco allora gli Abba e le Amma del deserto egiziano, che abbandonano il mondo falsamente pacificato - e benedetto dalla Chiesa - e scelgono un´altro modo di seguire la radicalitá dei martiri. Testimoniano cosí la fede, non con il sangue dei martiri - ormai obsoleti nelle nuove circostanze -, ma con una vita umile e nascosta, totalmente dedicata alla ricerca del Risorto e al servizio degli altri. Siamo nel deserto fisico della Tebaide che, nella lotta contro i demoni, puó diventare un Paradiso. Deserto che é profezia contro il deserto della cosiddetta civilizzazione, un inferno non riconosciuto.  

Oggi, un possibile stile monastico potrebbe essere caratterizzato dall´accettazione di una solitudine scelta per sottrarsi ai corporativismi del branco – qualunque branco! - rifiutando cosí omogeneitá, complicitá, regole e gerarchie inaccettabili da chi pretende cercare Belezza e Veritá. Il martirio degli Abba e delle Amma ci puó insegnare a vivere pacificamente la solitudine. Solitudine che deve essere disarmata: non puó permettersi di rompere fraternitá, sororitá e comunione. Ma non potrá rinunciare alla parresia, il dovere radicale di cercare e dire sempre la veritá critica ed etica. Se cosí sará, il monaco potrá certamente ereditare incomprensione e persecuzione. Credo che papa Francesco sia uno di questi monaci, fragile e incompreso testimone del Risorto, tra le macerie della modernitá.



terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Conjuntura - Uma análise - Por Pe. Flávio Lazzarin

 “A Terra pode nos deixar para trás e seguir o seu caminho” (Ailton Krenak)

A primeira sensação que sinto diante das atuais conjunturas é um sentimento de profunda tristeza, que chega a carregar lagrimas, diante do renovado sofrimento dos pobres, atingidos pela violência ecocida e genocida do sistema-mundo. Apesar das estratégicas omissões da mídia - cito como exemplos Congo, Eritreia e Moçambique, entre inúmeros outros casos - diariamente assistimos às dores de quem não pode fugir da guerra, fome, estupros, morte. Trágicas marcas do colonialismo globalizado. E quando conseguem fugir, muitos acabam morrendo afogados no Mar Mediterrâneo ou nos campos de concentração líbicos.

O segundo sentimento é uma dupla indignação: com relação aos delinquentes que governam o mundo, mas também com relação aqueles que afirmam falaciosamente a sua inimizade ao sistema. De fato, o esfacelo do mundo ocidental acontece à revelia da lógica binária que supostamente deveria marcar a distinção entre direita e esquerda. Valha como exemplo paradigmático o que faz, amparado pelas omissões da mídia, o partido de esquerda que, numa coalizão, governa a Itália:  junto com os outros governos europeus, paga Líbia, Grécia e Turquia para barrar em centros de confinamento os pobres que fogem da guerra e da carestia, evitando a chegada destes migrantes na Europa. Mas, obviamente e sem se mancar, os esquerdistas continuam se apresentando como os paladinos dos direitos humanos.

Estás começando de longe, alguém poderia objetar, mas a nossa Abya Yala está contemplada nos meus sentimentos de tristeza. É a situação dos negros, dos pobres da cidade e do campo, dos indígenas, das mulheres, dos 170.000 mortos da pandemia, das lutas territoriais que não encontram êxitos... O que está acontecendo no Planeta, e também aqui, é o fim do mundo a que estávamos acostumados. Também aqui acabou o sistema político da modernidade; acabaram as presunções representativas da democracia parlamentar; acabou a expectativa de poder mudar a sociedade e o mundo com os processos eleitorais. Acabou, mas a maioria, também entre nós, insiste em repetir o passado, pensando assim de poder salvar o cadáver há tempo apodrecido do jogo político dominante. É o que aconteceu também nesta última farsa eleitoral.  

O que me deixou perplexo e assustado foi o regresso explícito, estatisticamente significativo, de tantos e tantas que pertencem ao nosso meio, ligado às lutas descolonizadoras e anticoloniais das identidades territoriais, á “festa da democracia”.  Quantos irmãos e amigos se vincularam, numa neurótica compulsão à repetição, ás campanhas eleitorais da chamada esquerda, quando também aqui, poderia resultar cada vez mais complicado distinguir o que de direita ou de esquerda. Sobretudo da esquerda “urbana”, que excluiu da sua pauta, junto com os desafios da crise civilizacional que estamos atravessando, também os anseios e as reivindicações dos povos do campo. Mais um exemplo paradigmático é o que acontece no Maranhão em que alguém que, casado com equivocadas políticas de desenvolvimento, ignora de fato as demandas de quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais pode-se contrabandear como esquerdista e representante dos interesses da classe trabalhadora. Mas, se orgulha de ter uma Secretaria de Direitos Humanos e de flertar com os capitães do mato, que acreditam que seja possível negociar pautas periféricas e irrelevantes, sem pagar, primeiro ou depois, o preço da traição. E não estou falando só de Alcântara ou do Cajueiro, mas de todo o Estado atingido pelos projetos do Programa MATOPIBA.

Faz tempo que seria necessário polarizar contra a polarização espetacular e oportunista. O novo polo não é ilusão, porque, de fato, existem, há décadas, movimentos que agem e que pensam a partir da crise civilizacional do Antropoceno e tentam lutas a favor de novas matrizes energéticas, para substituir petróleo, hidrocarbonetos, grandes e pequenas hidroelétricas e falsas energias limpas. São movimentos minoritários que si juntam às lutas contra o agronegócio e a mineração desenfreada e sem controle. Aqui estão os pobres e os povos, que sempre perderam as eleições! Reduzir a análise das conjunturas a considerações sobre sucessos e derrotas eleitorais é aceitar de se conformar à navegação de pequena cabotagem, quando, por lutas e reflexões, já podíamos ter alcançado o mar aberto. 

Precisamos polarizar contra a falsa polarização eleitoreira, também porque, faz tempo que as conjunturas políticas que permitiam certa relação entre Estado e as demandas dos movimentos indígenas e camponeses, esgotaram-se irremediavelmente. Vejam bem: também na estação do lulo-dilmismo, a Reforma Agrária e as reivindicações indígenas viraram cinza; até 2015 distribuíram migalhas; de 2015 para cá, nem as migalhas. E. hoje em dia, a mediação não tem nem existência metafisica. O que temos e continuaremos tendo é o chumbo grosso da elite escravocrata e colonizadora do Brasil.

  Alguém poderia comentar quanto exposto me acusando de exageros apocalípticos e de radicalidade ilusória e inconsequente, passando a me perguntar se ainda nesta análise sombria possa ter espaço um mínimo de esperança.  Respondo que tem esperança e que tenho esperança. Seria, com efeito, traiçoeira uma análise das conjunturas que se limitasse à listagem do negativo, ignorando os desafios e se recusando de apontar rumos e remos.

Esperança:

- de uma política gestada na planície e non no planalto;

- das retomadas territoriais, xamânicas, místicas, culturais dos povos indígenas, dos quilombolas, das comunidades tradicionais;

- na construção de processos decoloniais e anticoloniais com organizações, articulações e mobilizações;

- na relação com a natureza em termos de fraternidade e sororidade;

- na radicalização anti-hierárquica da democracia a partir da construção da fraternidade e sororidade;

- em processos de aquilombamento no campo e na cidade, construindo relativas autonomias para reorganizar o mercado e obrigar o Estado à obediência aos territórios livres.