Muitas vezes o nosso espírito religioso nos leva a atribuir a Deus tudo o que ocorre na nossa realidade. Na vida cotidiana das pessoas. Ele seria, segundo essa visão, o autor do bem e do mal. Da graça que nos permite viver com esperança e paz. E da des-graça que nos angustia. Que nos faz perder o sentido e a alegria de viver. Deus seria, afinal, Aquele que dá pão aos seus filhos. Mas também Aquele que ‘permite’ que outros filhos passem fome e morram. Tudo isso não passa de uma projeção humana a respeito de Deus. Um ‘deus-ídolo’ moldado e manipulado conforme as nossas categorias e estruturas humanas. Aquele que não pode ser capturado pela mente humana é representado segundo os nossos interesses e conveniências.
Jesus, hoje, reafirma a ‘distância’ existente entre o modo de pensar/agir de Deus e o nosso. As tentativas humanas de domesticar, controlar e capturar Deus são vãs, inúteis. Também são insensatas as tentativas de adaptá-lo às nossas necessidades mesquinhas. Ou seja, querer fazer média entre as nossas conveniências e o modo soberano de agir de Deus. Jesus afirma em alto e bom som que para o discípulo que assumiu a lógica do Reino e da sua justiça é imprescindível que aja com coerência radical.
É essa lógica alicerçada e ladeada pela justiça que permite que possamos ‘contemplar os lírios do campo’, apreciar sua beleza e elegância, sem querer nos apropriar dela. Observar com fascinação os ‘pássaros do céu que não semeiam e nem colhem’, e desdenhar o desejo de ‘possuir celeiros cheios de grão’ e contas cheias de mamona. Só ‘tendo fome e sede de justiça’ poderemos inibir os nossos desejos de acumulação. E saciar a fome e sede de pão e dignidade de tantos filhos e filhas. Esses que valem mais do que os lírios e os pássaros foram despossuídos por outros filhos e filhas. Em lugar de assumir a lógica de Deus, estes se aliaram a Mamona e à sua lógica. A ele se prostram e veneram. A ele vendem a sua própria alma e liberdade.