‘Chega de lero-lero, quero te ver fazer, realizar, passar aos fatos!’ Quem de nós já não se expressou dessa forma ao constatar que muitas pessoas, - inclusive, nós mesmos, - falamaos, falamos, mas temos dificuldade de passar aos fatos e realizar aquilo que ‘falamos’? Pois bem, Jesus constata a mesma coisa naqueles fariseus que estufam o peito e se auto-proclamam pessoas de bem, fiéis e obedientes aos mandamentos e preceitos, mas na prática, não vivem o amor verdadeiro, e tampouco a coerência de vida. A parábola de hoje é mais uma resposta polêmica de Jesus àqueles fariseus que o acusavam de se dar bem e ser misericordioso com os pecadores, e duro, para com eles que se achavam os ‘filhos prediletos e obedientes’! Analisemos brevemente a parábola.
1. São apresentados dois filhos, embora, para Israel, Deus sempre tenha considerado como único filho ele mesmo, Israel (Ex. 4,22). Aos poucos, porém, vamos entendendo quem é esse segundo segundo filho de que Jesus fala: são os pagãos, os publicanos, os rejeitados por Israel!
2. A parábola é um ataque de Jesus à arrogância de Israel, às suas falsas seguranças, à ideia de achar que só ele era o povo eleito, o único escolhido e merecedor do amor do Pai.
3. Jesus deixa claro que pelo fato de Israel achar que estava obedecendo às normas e leis criadas pelas suas elites não significava que ele estava ‘fazendo a vontade de Deus’. Israel havia fechado várias alianças e construído um arcabouço legal e religioso muito sofisticado, mas não era isso que Deus queria. Ele não se deixava seduzir por isso.
4. Já os pagãos e os pecadores, impuros (segundo Israel), e que inicialmente não haviam fechado nenhuma aliança com Deus, nem freqüentavam os templos e nem obedeciam às normas, - ou seja, haviam dito não a Deus, - num segundo momento, pensaram melhor, acolheram a proposta de Jesus e aceitaram fazer a vontade do Pai. Isso nos remete a outro versículo evangélico: ‘Não quem diz Senhor, Senhor, entrará no Reino de Deus, mas quem faz a vontade do Pai’.
5. Bom mesmo seria dizer sempre ‘sim’ e agir de conseqüência, de forma coerente. No nosso cotidiano, porém, agimos de forma contraditória. Às vezes somos o primeiro filho, às vezes o segundo, raras vezes o...‘terceiro filho’, aquele que diz e faz mesmo, simultaneamente.
6. Essa visão de Jesus que se choca com idéia predominante em Israel nos questiona profundamente como igreja. Afinal, todos nós temos dificuldade de acolher e valorizar o testemunho de pessoas que nunca pisam na igreja, ou que até são agnósticos, ou não tem igreja alguma, mas que praticam verdadeiros gestos de caridade. São pessoas que lutam por justiça e direitos, que sabem se solidarizar com os pequenos e respeitam todas as pessoas. Esses são o ‘segundo filho’ amado e abençoado por Deus! Que todos nós possamos ser o ‘terceiro’, aquele que diz e faz!