O que a Igreja pode aprender com o conhecimento sociológico dos ambientes?
Deveria renunciar à sua onipresença em nível territorial. Deveria dizer adeus à ideia de ser quase análoga ao estado e abranger todo o país com as suas paróquias. Hoje em dia, essa é uma abordagem errada. Além disso, a Igreja deveria aumentar a sua atratividade. Deveria oferecer às pessoas de diferentes ambientes "estações de reabastecimento espiritual". Lugares onde podem obter "alimento espiritual", algo para à sua vida. Para visitar esses lugares de vida, as pessoas estão dispostas até mesmo a percorrer longas distâncias.
O que mais a Igreja poderia aprender desses ambientes?
Deveria focar menos no coletivo e mais no indivíduo com suas relações, preocupações e necessidades. Sabemos que a religião não tem nenhum papel na vida cotidiana de muitas pessoas, que de fato se movem em ambientes sem religião. Mas quando a vida é interrompida, como no caso de uma separação, querem conforto e orientação, precisam de redenção. Nas transições importantes da vida, como os casamentos, querem um símbolo desse evento que é tão importante para eles - por exemplo, um casamento na igreja. Nessas situações fora do cotidiano, a Igreja deveria estar muito mais presente. Deveria se parecer com uma espécie de força-tarefa móvel, mais que ser uma igreja estática que espera que as pessoas venham às paróquias. Aliás, ao contrário da crença popular, muitas paróquias não estão disponíveis para todos. Certos ambientes dominam - alguns grupos específicos seguram toda a paróquia em suas mãos. Especialmente os tradicionalistas, a classe média e os conservadores consolidados. Essa apropriação de ambientes ocorre em todo lugar, por exemplo até nos centros juvenis municipais: mesmo que em teoria se destinam a todos os jovens, na realidade são muitas vezes dominados por um ambiente muito específico. Outros jovens nem mesmo chegam perto.
O que significa tudo isso agora: tábula rasa, fazer desaparecer todas as paróquias e em seu lugar um centro juvenil aqui e um centro familiar ali?
Não vamos fingir que isso ainda não aconteceu. Muitas paróquias desapareceram - é o que está acontecendo em muitas dioceses. Na arquidiocese de Friburgo, haverá apenas 36 grandes paróquias no futuro, enquanto hoje existem mais de 1.000. Mas com um conceito inteligente de desenvolvimento da Igreja, sob essas grandes paróquias, que já não serão mais orientadas segundo o princípio territorial, poder-se-iam criar “hotspots de ambiente espiritual”. Com o Coronavírus aprendemos o que poderia ser multiplicar os formatos de celebração e de culto. Os formatos digitais poderiam ser utilizados para alcançar aqueles ambientes que se definem exclusivamente de maneira digital. Com toda certeza um hotspot para os tradicionais com veneração de santos, procissões e rosários; mas por favor também um hotspot para os socioecológicos que ainda acreditam numa sociedade melhor do futuro e que, se não forem interceptadas, irão migrar para um novo tipo de “religião da natureza”. Mas também um hotspot para o ambiente jovem de expeditive que estão em busca de significado e tendem a combinar ideias e práticas cristãs e não-cristãs em uma colagem espiritual. Se a Igreja se dirige aos diferentes ambientes de acordo com as suas necessidades, em vez de tentar de alguma forma de comunitarizá-los numa Igreja local sob o domínio dos ambientes aí presentes, então também poderia voltar a crescer.
Você tem esperança de que a Igreja efetivamente se reoriente e se concentre mais nos ambientes?
Eu sou bastante cético quanto a isso. Seriam necessários bispos corajosos que utilizassem adequadamente processos de desenvolvimento da Igreja - ou poder-se-ia também dizer: processos de reestruturação e desmantelamento. Certamente há oportunidades na atual reestruturação dos sistemas operacionais pastorais. Poderia haver experimentos, ou seja, simplesmente tentar alguns hotspots espirituais de ambiente. A ciência poderia observar e avaliar isso para que as experiências possam ser úteis em outro lugar. Tratar-se-ia de criar bons exemplos através da experiência.
Como a pandemia afeta os ambientes e quais são as consequências para a Igreja?
O Coronavírus foi uma grande provocação para a Igreja - basta pensar na experiência do impedimento da assembleia litúrgica dominical. Mas as celebrações digitais são, pelo menos em parte, bem-sucedidas. O tamanho da comunidade de culto aumentou em alguns lugares, embora nem todos os membros da Igreja estejam conectados à Internet. Eu mesmo participei de tais celebrações, onde as pessoas também puderam acessar os chats e, assim, participar ativamente. Pessoas de regiões muito diferentes se reuniram. Há um potencial de crescimento para a Igreja de conectar as pessoas com o evangelho, independentemente do que fizerem com isso. De toda forma, a Igreja não tem mais esse poder de controle –
Estou surpreso que, depois do Coronavírus, as celebrações presenciais sejam consideradas a panaceia. Como se não houvesse mais nada. Também nesse caso os ambientes não são levados em consideração. Certos ambientes não servem para uma celebração presencial. Não sabem como se comportar ali. Isso também significa que as celebrações presenciais excluem. Portanto, o que poderíamos aprender com o Coronavírus poderia ser multiplicar os formatos de celebração e de culto. Os formatos digitais poderiam ser utilizados para alcançar aqueles ambientes que se definem exclusivamente de maneira digital. E as celebrações religiosas são apenas um exemplo.
Por meio da digitalização e das mídias sociais, existem enormes oportunidades não só de multiplicar quantitativamente a presença comunicativa, mas de oferecê-la especificamente para os ambientes. Há um potencial de crescimento para a Igreja de conectar as pessoas com o evangelho, independentemente do que fizerem com isso. De toda forma, a Igreja não tem mais esse (poder de) controle.