sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Guajajara de T.I. Canabrava, no Maranhão, denunciam a falta de medicamentos e assistência médica


 Moradores da Terra Indígena Cana Brava, localizada na região central do Maranhão, denunciam a falta de medicamentos e assistência médica no local. No território estão localizadas mais de 260 aldeias indígenas. A Terra Indígena Cana Brava abrange 137 mil hectares, onde vivem cerca de 15 mil indígenas da etnia Guajajara. A região possui somente três postos de saúde para atender 263 comunidades. E os poucos que possuem, não funcionam como deveriam. 

Na Aldeia Coquinho o posto de saúde foi reformado em julho após os indígenas colocarem pressão nas autoridades. Cerca de 500 indígenas deveriam ser atendidos pela unidade de saúde que, mesmo após ter sido reformada, não funciona. Equipamentos que seriam usados para a instalação de um gabinete odontológico, tais como um compressor, estão sendo consumidos pela poeira e estão guardados há mais de cinco anos. Além disso, alguns dos únicos medicamentos que estão no local, estão vencidos desde 2019. "Não dão remédio, dão receita para os índios. Às vezes precisa de uma operação de cirurgia e o pessoal não estão nem aí com a gente. Não tem uma, nenhuma aldeia que está melhor né? Está tudo igual, sofrimento igual", diz o indígena Zé Luciano, cacique da aldia. Uma indígena, de 78 anos, tem doença de Parkinson e depende de medicamentos de uso prolongado, para controlar as crises. A família conta que ela nunca conseguiu receber de graça no posto de saúde e nem sempre, tem dinheiro para comprar. "Hoje mesmo não tem não [remédio]. Faz é dia que não tem, acabou. É porque não tem 'real' para comprar", diz Eliezer de Sousa Guajajara, lavrador.

Sem médicos

O acesso à saúde nas aldeias é de responsabilidade do Distrito Industrial Indígena (DISEI), órgão ligado à Secretaria Especial de Saúde Indígena.Só em 2022, os indígenas já fizeram quatro protestos contra a situação, sendo o último em julho. A ação pedia o afastamento de Alberto José Braga, coordenador do DISEI, que continua no cargo. Os indígenas afirmam que desde que ele assumiu ao cargo, nenhum médico pisa na Aldeia Coquinho."Aqui não entrou mais nenhum médico de junho para cá. Entrou um dentista bem aqui, mas o resto de médico nunca veio para cá. E o médico que trabalhava dentro da equipe, o coordenador tirou e até agora não colocou mais nenhum", explica o cacique José Luciano Caminha Guajajara, presidente da Organização do Conselho Supremo dos Caciques. O filho de Linair Lopes Guajajara tem 16 anos e desde a infância, tem paralisia cerebral. Por conta do problema de saúde, o adolescente precisa tomar ao menos três remédios de uso contínuo. Sem receber os medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a aposentada precisa gastar parte do dinheiro que recebe para comprar os remédios. Além disso, o adolescente sofre sem a presença de médicos para avaliar seu estado de saúde. "Mais de R$ 500 [gasto por mês com remédios]. Quando ele pega uma tosse, algo assim, ou ele está com febre, eu mesmo que cuido dele, dou remédio para ele. Nem daqui vai para o hospital de Grajaú, para o do Jenipapo, só eu que cuido dele. Estou meio adoentada agora, tem horas que não me sinto bem de saúde, dor de cabeça, tontura, é assim que eu sinto", desabafa Linair.

Sem assistência

A manicure Eline Mariano Guajajara, de 24 anos, convive com uma pedra nos rins desde os 14 anos. Ela conta que quando tem crises, não consegue suportar a dor e reclama que não tem como conseguir um medicamento para amenizar o problema. "Quando eu fico com as crises, eu tenho que suportar a dor na minha casa. Porque não tem como ter um medicamento para tomar, entendeu? Para poder passar a dor. Tem hora que nós mesmos compramos remédios, antibióticos, para poder passar a dor. E quando não tem dinheiro, tem que sofrer com a dor", conta. Kerliane Nascimento Sousa é moradora da Aldeia Coquinho há mais de 17 anos. Ela diz que muitos moradores convivem com dezenas de doenças, mas sem acesso à saúde, os problemas de saúde só aumentam. "Aqui tem vários tipos de doença, tem a diabete, tem a pressão alta, tem a barriga distendida que se chama diarreia, tem as crianças 'manchadas'. A gente não sabe o diagnóstico dessas crianças que estão sendo manchadas", disse Kerliane. Há crianças, como a neta de Bernardino Soares Guajajara, que está com o corpo coberto por manchas. Sem médico, a menina não tem como ter um diagnóstico sobre o que se trata o problema.

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre as denúncias dos indígenas até a publicação desta reportagem.

(Fonte Imirante)

sábado, 24 de dezembro de 2022

‘Radiografia do desmonte’’: Alckmin elenca 11 pontos principais no relatório final da transição

 Na manhã desta quinta-feira (22), o futuro vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), líder da equipe de transição para o Governo Lula (PT), apresentou um relatório com uma “radiografia do desmonte do Estado e das políticas públicas” durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Em suas redes sociais, Alckmin listou algumas das maiores questões levantadas no documento:

Na área da educação, a constatação é que, nos últimos três anos, o número de crianças que não conseguem ler e/ou interpretar textos saltou de 50% para 70%, o pior resultado em dez anos. O governo federal reduziu em 85% o orçamento e em 66% o número de servidores na cultura.

Para a saúde, o ponto principal foi a pandemia de covid-19. Com 2,7% da população mundial, o Brasil registrou 11% do total de óbitos pela doença no mundo, sendo o 2º país com maior número de vítimas. Ainda, o documento aponta que 34 milhões de cidadãos brasileiros não receberam nenhuma dose da vacina contra a covid-19, enquanto 3 milhões de doses foram inutilizadas por perda de validade. A vacinação contra a poliomielite em crianças de até quatro anos caiu de quase 100%, em 2015, para 70%, em 2022, diz o documento.

No desenvolvimento social, chamou a atenção o aumento de 11% na hospitalização de crianças por carência alimentar, o pior índice em 14 anos. Mais da metade da população brasileira, 125,2 milhões de pessoas, vive com algum tipo de insegurança alimentar. O país também bateu o recorde no número de feminicídios, com 700 casos em seis meses de 2022.

Ainda de acordo com o relatório, o índice de desmatamento na Amazônia aumentou 59% entre 2019 e 2022. No último mês, foi registrado um aumento de 1.216% em focos de incêndio nos estados de Amazonas, Acre e Rondônia. Na infraestrutura, 93,66% da malha rodoviária federal com contrato de manutenção não possui serviço de prevenção e restauração das rodovias.

Na habitação, o governo zerou as contratações de famílias com renda de até R$ 1.800 do programa Casa Verde Amarela. Na transparência, 26,5% dos pedidos de acesso à informação requisitados foram negados por decretos de sigilo, número quatro vezes superior à gestão anterior. Além disso, o Brasil deve R$ 5,5 bilhões em aportes obrigatórios junto a órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU).

Quem matou a índia Estela Kaiowá Guarani?

 O assassinato da indígena Estela Vera Guarani, de 67 anos, é um acontecimento estarrecedor. É o quinto homicídio de indígenas Kaiowá e Guarani em áreas de conflito em Mato Grosso do Sul, somente em 2022. E isso parece estar longe de acabar. Rezadora tradicional e liderança em sua aldeia, Estela foi morta a tiros no dia 15 de dezembro. Estava em casa com seu filho quando, às 15h, dois homens encapuzados e armados entraram e os atacaram. Tentaram fugir, mas Estela foi atingida pelos disparos.

No local, foram encontrados pela polícia cartuchos de arma calibre 36, de uso mais comum em espingardas de caça. Até agora, ninguém foi preso, e outros detalhes da morte permanecem sem explicação. Entidades e parlamentares do estado estão cobrando atenção ao caso. Se os detalhes do crime ainda permanecem ocultos, o contexto onde ele ocorreu é de conhecimento geral. Trata-se do problema estrutural da falta de terra. Enquanto aguardam a demarcação de suas terras ser efetivada pelo Estado, os Guarani e Kaiowá vêm sofrendo profundamente, há décadas, todos os males que a subtração do território e da floresta poderia causar em suas vidas. Apinhados em pequenas reservas, e expostos à enorme pressão do agronegócio, os territórios indígenas padecem de uma epidemia de violência, escalando cada vez mais nas comunidades.

Durante os anos de governo Bolsonaro, a falta de terra aprofundou avassaladoramente a relação de dependência das comunidades indígenas e camponesas ao agronegócio. No Mato Grosso do Sul, os indígenas foram abandonados à fome pelo atual presidente. Centenas de famílias dependem de cesta básica para sobreviver, e a Fundação Nacional do Índio (Funai) não está realizando a entrega – ou realiza de quatro em quatro meses, projetando cenas de mães e crianças desesperadas. Produtores de soja, aproveitando-se da fome, têm arrendado áreas ilegalmente dentro dos territórios Guarani e Kaiowá. Estela era conhecida por lutar contra os arrendamentos, inclusive ao lado de outras lideranças femininas ameaçadas de morte e que já sofreram agressões, como é o caso de Kuña Kuarahy. As duas fazem parte de um corajoso movimento que se opõe aos arrendamentos no tekoha Yvy Katu, local onde Estela foi assassinada. Por resistirem ao arrendamento, as indígenas e seus familiares sofrem cotidianamente ameaças e coerção por uma rede que envolve Poder Público, fazendeiros e outras forças econômicas e políticas da região – todos envolvidos e beneficiários dos arrendamentos. A partir disso, decorre a hipótese de o assassinato de Estela estar relacionado ao conflito com produtores de soja, de gado e arrendatários. (IHU)

domingo, 4 de dezembro de 2022

II domingo de Advento - João e Jesus: dois modos antagônicos de ver a 'Governança/Reino de Deus'!

 João o último idealista do antigo testamento acredita que o novo modo de governar de Deus está ao alcance dos homens. Ou seja, que eles podem promover na terra o modo de governar de Deus. O primeiro desafio, contudo, é descobrir qual é, de fato, o modo de governar de Deus. Aí surgem as divergências entre Jesus e o próprio João. Para João os alicerces da ‘governança de Deus’ são: 1. Prática da justiça seletiva e punitiva; 2. Não há segunda chance, o fogo e o machado já estão agindo para cortar e queimar os que resistem! 3. Propagação, pelo medo, da desgraça e da ameaça, do castigo e da ira divina. Para Jesus os humanos deveriam governar assumindo ‘a governança de Deus’ tem os seguintes alicerces: 1. Deus é Pai – e não juiz implacável, - que faz chover sobre os bons e sobre os maus, que procura sempre a ovelha ferida e desgarrada. 2. Deus sempre dá a todos uma nova/infinita chance de mudar de vida; 3. Proclamar a todos o ‘Bom Anúncio’ de que a graça e a compaixão estão a chegar, e não a ‘desgraça’! São visões irreconciliáveis. Jesus se separa de João e inicia o seu próprio caminho, respeitando o jeito de João! E hoje, qual 'governança de Deus' nós queremos seguir? 


terça-feira, 29 de novembro de 2022

Quem tem medo das mulheres? - Por Massimo Recalcati

 Na base da violência machista contra as mulheres, há sempre a mesma aspiração: arrancar, rasgar, ferir, rejeitar, suprimir a sua liberdade. A justificação ideológica dessa terrível intenção tem como ponto fulcral a reivindicação de uma superioridade ontológica e moral do homem sobre a mulher que encontraria a sua codificação ideológica na leitura dogmática (e distorcida) do texto bíblico. Superioridade ontológica: o corpo da mulher viria daquele masculino - de sua famigerada "costela" - portanto, seria apenas uma expressão secundária e fatalmente inferior. Superioridade moral: a feminilidade encontraria seu símbolo maléfico em Eva, que encarnaria uma tentação pecaminosa capaz de empurrar o ser humano para a loucura da transgressão, para uma liberdade sem juízos que o mergulharia na natureza diabólica e perversa da sexualidade.

Na história secular do Ocidente, essa superioridade ontológica e moral do homem foi veiculada por vários dispositivos repressivos abertamente sexófobos. Em primeiro lugar, aquele da exclusão da mulher da vida da cidade: sem palavra, sem língua, sem nome, sem direitos. Mas de forma mais sorrateira e mais capilar pela via da maternidade como emenda da pecaminosidade feminina. Estratégia de purificação da sensualidade demoníaca de Eva através de sua metamorfose no caráter imaculado da virgem Maria. O Ocidente patriarcal insistiu particularmente neste ponto: o destino iniludível de uma mulher é aquele da maternidade. É, de fato, na identificação da mulher com a mãe, que ele pretendeu resolver o temível problema da excedência anárquica da liberdade da mulher. Nessa perspectiva, o materno configurou-se não apenas como destino biológico necessário da mulher - inscrito na Lei da natureza - mas como negação de sua própria existência. Para muitos homens, ainda hoje, transformar a mulher na mãe de seus filhos é uma forma de exercer, consciente ou inconscientemente, um domínio de apropriação sobre a sua liberdade. Com o inevitável acréscimo de que assim a mulher que se torna toda-mãe efetivamente desaparece como mulher ("autorizando", entre outras coisas, o homem a buscar em outras mulheres a realização de seu desejo).

Esse teorema patriarcal da maternidade como uma emenda da feminilidade na verdade dá o aval à violência do homem contra a mulher. Não é por acaso que muitos homens exercem sua violência quando se deparam com o caráter irredutível da liberdade feminina. Acontece, em particular, quando termina um vínculo de casal. Nessas circunstâncias, o homem abandonado não pretende reconhecer o direito de escolha da mulher. A violência, até o extremo atroz do feminicídio, é então uma forma de tentar ser novamente o senhor da liberdade da mulher, de subjugar brutalmente a independência de seu desejo....Esse é o sadismo que caracteriza a violência masculina, inclusive do ponto de vista clínico: apropriar-se da liberdade da vítima tornando-a um objeto indefeso. Além disso, o paradoxo que foi historicamente determinado consiste no fato de que quanto mais o homem se empenha nessa empreitada de subjugação sádica da liberdade feminina, mais ele é obrigado a verificar o destino fracassado desse projeto, ou seja, reconhecer o caráter indomável da liberdade da mulher. Isso é o que está acontecendo hoje nas ruas do Irã. 

A repressão às mulheres promovida pelo regime patriarcal-religioso dos aiatolás sempre foi exercida no pressuposto da inferioridade ontológica e moral da mulher. Não é por acaso que se entrega a uma verdadeira e própria polícia moral de cunho medievalista a vigilância sobre os corpos das mulheres. Aqui não é apenas a sexualidade que deve ser ocultada pelo véu da repressão, mas é a própria liberdade - da qual a sexualidade é uma expressão fundamental - que é constantemente perseguida. Essa é a raiz última da violência machista contra as mulheres: a liberdade irredutível da mulher aterroriza o poder do patriarcado religioso que a todo custo a deve domar, disciplinar, extirpar como se fosse uma gangrena.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

O golpe da crise permanente do mercado

 Notável pensador português, em seu último livro, “O futuro começa agora: da pandemia à utopia”, Boaventura Santos descreve o modo de atuação do tal mercado e o que ele denomina do álibi da “crise permanente”.

“Por exemplo, a crise financeira permanente é utilizada para explicar os cortes nas políticas sociais (saúde, educação, previdência social) ou a degradação dos salários. E assim impede que se pergunte pelas verdadeiras causas da crise.

O objetivo da crise permanente é não ser resolvida. Mas qual é o objetivo deste objetivo? Basicamente, são dois os objetivos: legitimar a escandalosa concentração de riqueza e impedir que sejam tomadas medidas eficazes para evitar a iminente catástrofe ecológica.

Se mantém algum resíduo de mediação, é com as necessidades e aspirações dos mercados, esse megacidadão informe e monstruoso que nunca ninguém viu, nem tocou, nem cheirou, um cidadão estranho que só tem direitos e nenhum dever. É como se a luz que ele projeta nos cegasse”. (GGN)

Padre que vinha recebendo ameaças de bolsonaristas por apoio a Lula é encontrado morto no Paraná

 O padre José Aparecido Bilha, titular da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Guaíra, no Oeste do Paraná, foi encontrado morto na manhã de segunda-feira, 21, com um corte profundo na garganta. Segundo informações extraoficiais, a polícia civil não descarta a hipótese de suicídio. No entanto, várias evidências apontam para uma eventual motivação política para que o padre tenha sido assassinado.

Uma faca foi encontrada ao lado do corpo do religioso, que estava recebendo insultos e ameaças por ter declarado publicamente seu voto em Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República. Integrante da equipe de transição de governo na área dos direitos humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT/RS) declarou em suas redes sociais que se o religioso estava sendo perseguido pela sua declaração de voto é impossível descartar violência política. “Acompanhar investigação de todos esses crimes é obrigação. Basta! Pela democracia, pelos direitos humanos, basta!”, alertou.

Diante da polarização política, o sacerdote passou a defender o candidato Lula, lembrando as políticas sociais dos dois mandatos anteriores do petista.Por isso, ele recebeu criticas de fiéis de direita do estado e vinha sofrendo pressão política, disse uma paroquiana que pediu para não ser identificada. Na votação do segundo turno, Jair Bolsonaro (PL/RJ) foi o candidato vencedor em Guaíra, com 62,69% do total dos votos contabilizados (13.046), contra os 37,31% (7.765) do presidente eleito.

Perfil discreto

Conhecido por Padre Cido, o religioso até então tinha um perfil marcado por discrição e atuação interna nas instituições da Igreja Católica.Ele foi responsável pela formação de novos religiosos e na condução de paróquias no interior do Paraná.José Aparecido tinha 63 anos e iria completar neste ano 28 anos de sacerdócio. Nasceu em 1959 na cidade de Astorga e se transferiu para Assis Chateaubriand com sua família em 1967. Estudou no Seminário São José de Cascavel em 1980 e seis anos depois cursou Filosofia em Toledo, integrando a comunidade formativa do Seminário Maria Mãe da Igreja. Entre 1989 e 1990, cursou os dois primeiros anos de Teologia no Studium Theologicum da congregação claretiana em Curitiba. Nos dois anos seguintes, concluiu sua formação no Pio XII de Londrina. Ele ainda cursou Síntese Teológica, em Bogotá, na Colômbia, entre 2002 e 2003.

Quatro anos depois, foi nomeado para a Paróquia São Francisco de Assis em Assis Chateaubriand. Lá ficou até 2012.Nos três anos seguintes, o padre atuou na igreja de Santo Antônio em Formosa da Oeste. Em 2016 foi designado para voltar a acompanhar a formação de seminaristas no Seminário São João Paulo II em Curitiba, onde ficou até o final de 2019 até ser designado para Guaíra, onde morreu.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Dias decisivos para a democracia - por Luis Nassif

 As declarações de Augusto Nardes, Ministro do Tribunal de Contas da União, estimulando o golpismo, fazem parte de uma estratégia óbvia. Trata-se de acelerar as manifestações anti-posse até o limite da explosão de alguma violência, em um dos muitos pontos de concentração. Uma tragédia radicalizaria ainda mais as ocupações, fornecendo o álibi para uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, a maneira de legalizar o golpe. E sem a necessidade da liderança de Jair Bolsonaro que, aparentemente, entrou em estado de pânico com a possibilidade de incorrer em novo crime e ser responsabilizado por ele. Daí as declarações dúbias do general Braga, explícitas de Augusto Nardes estimulando a continuidade das manifestações nos quartéis, enquanto manifestantes são alimentados cada vez mais com discursos de ódio. Faz parte do mesmo jogo os cortes no orçamento da Polícia Rodoviária Federal, fornecendo um álibi para a não-ação. Prepare-se para um aumento de tensão nas próximas semanas, pelo menos até a posse de Lula.....

....Há um movimento de gerações de fake news, sim. Mas alguns sinais significativos de que esse festival de gravações e notícias visa criar iniciativas golpistas no setor militar. Nos últimos dias, apareceram declarações dúbias de Braga Netto, general da reserva e candidato a vice-presidente de Bolsonaro. “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”, disse Braga Netto a militantes que permaneciam na entrada da Alvorada. “A gente está na chuva, no sufoco”, disse uma das manifestantes. “Eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”, completou Braga. Foram divulgadas notícias, também, do quartel general da campanha de Bolsonaro, aparentemente transformado em ponto de confluência de golpistas.

sábado, 19 de novembro de 2022

NO BRASIL DE HOJE NEM A PAZ É UM PONTO PACÍFICO - Por Ricardo Alexandre

Há poucos dias, conversando com um amigo pastor, um seguidor de Jesus de Nazaré (sempre importante fazer essa especificação atualmente), ele me dizia com esperança nos olhos que seu grande trabalho para os próximos anos é o que ele chama de "evangelizar os evangélicos", ou seja, levar a libertação de Jesus para quem foi aprisionado pela religião, pelo moralismo e pelas convicções políticas dentro de sua própria igreja. "Só o evangelho de Jesus é o evangelho da paz capaz de unir direita e esquerda", ele disse.

Queria muito ter a esperança daquele homem. O que fui capaz de responder me fez mal diante do meu próprio ceticismo: quem disse que esses evangélicos querem paz? Quem disse que os milhões que se definem como "cristãos-conservadores-de-direita" nas redes sociais querem dividir a mesa com os cristãos que, conforme lhes ensinaram recentemente, sequer devem ser chamados de cristãos? Mais do que a polarização, um dos grandes efeitos deletérios da tensão política dos últimos anos foi a implosão de pontes de diálogo. Faça um exercício de memória: quantas vezes você já se viu em um diálogo como os abaixo?

"Eu li uma reportagem": "Mas a imprensa é toda enviesada";

"Saiu uma pesquisa": "As pesquisas são todas manipuladas";

"Está nos livros de História": "Todos os livros foram escritos pela esquerda";

"Os artistas estão indignados": "Eles têm saudade da mamata da Lei Rouanet";

"Mas está na Bíblia": "Isso aí é leitura de esquerda. Não dá pra ser crente e ser de esquerda";

"Mas foi um ex-professor de Paulo Guedes que disse!": "Você quer que o Brasil vire a Venezuela?"

Essa implosão tem método. É a lógica surgida nas redes sociais, que vivem de nos empurrar cada vez mais para a hiper-segmentação, para uma bolha na qual não haja risco de cruzar o olhar com algo minimamente diferente do nosso próprio reflexo. É assim que as Big Techs vendem publicidade com assertividade máxima e constroem seus impérios. Para que isso aconteça, é preciso que qualquer possibilidade de confronto, de paradoxo, de reflexão, de desvio, seja dinamitada sem misericórdia. É assim que aprendemos a raciocinar, mesmo fora do ambiente digital.

Meu amigo pastor sabe que a espiritualidade cristã é repleta de paradoxos que por 2.000 anos sempre coexistiram em relativa harmonia. "Não amem o mundo nem o que há no mundo" (João 2;15) nunca pareceu excluir o fato de que a igreja deveria ganhar "a simpatia de todo o povo" (Atos 2;47). A ideia de que Deus não nos salva por causa das nossas boas obras (Efésios 2;9) nunca foi empecilho para que os cristãos trabalhassem até o ponto em que as pessoas de fora da igreja "vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês que está nos céus" (Mateus 5;16). Nunca esteve em discussão que a prática religiosa "que o nosso Pai aceita como pura e imaculada" é, em pé de igualdade, manter-se fora da mentalidade corrompida da cultura vigente e "cuidar dos necessitados e desamparados" (Tiago 1;28). Historicamente, alguns cristãos entendiam que a melhor forma de cuidar dos necessitados era pressionar o Estado por políticas públicas de inclusão; outros entendiam que era incentivando a iniciativa privada para "dividir um bolo maior". Óbvio que éramos diferentes uns dos outros, mas ninguém questionava que éramos filhos do mesmo Pai.

Isso na época em que a lógica da Bíblia falava mais alto que a lógica das redes. A unidade pelo "vínculo da paz" (Efésios 4;3) foi trocada pela lógica dos algoritmos: quem não pensa exatamente como eu penso "não é crente, não" - como diz o jargão de um pastor de Instagram. A própria assistência social virou "coisa de esquerda" de quem quer "sustentar vagabundo". A figura do presidiário (na qual Jesus disse que ele próprio seria encontrado, em Mateus 25;36) virou motivo de escárnio contra um dos candidatos à presidência — como se o outro também não tivesse sido preso, nem estivesse em um partido presidido por outro ex-presidiário. A inversão da lógica bíblica é tamanha que hoje uma igreja que em vez de simpatia estimule a repulsa do povo deixou de ser um problema e passou a ser uma espécie de motivo de orgulho, como um sinal narcisístico de fidelidade e intransigência estilo "doa a quem doer". No Brasil de hoje, nem a paz é um ponto pacífico.

Veja os tuítes de grandes formadores de opinião evangélicos, no topo deste artigo. O cantor Davi Sacer mostra um vídeo com cenas da primeira visita da equipe do presidente eleito Lula aos chefes do Judiciário e do Legislativo, em 9 de novembro. Nesse encontro, como foi amplamente noticiado, Rosa Weber presenteou a equipe de transição com cópias da Constituição e Lula prometeu restabelecer o respeito entre os poderes republicanos e pacificar o país. Mas Sacer comentou: "Se alguém acha isso normal, então somos muito diferentes".

No dia seguinte, ele voltou a compartilhar o vídeo com outro comentário, repleto de emocionalismo moral típico dos influenciadores digitais: "Muito nojo". O cantor não se referiu a nada que o tenha desagradado no conteúdo da reunião, mas na existência da reunião em si — presumivelmente, o que Lula imaginava que seria entendido como respeito à liturgia do cargo e civilidade entre os divergentes foi entendido pelo cantor como "velha política", uma prova da corrupção das engrenagens do sistema. Aparentemente, um sistema mais adequado seria aquele em que os poderes se enfrentam, se agridem, ameaçam insubordinação e passam o dia insuflando o povo um contra o outro.

Felippe Valadão é mais um representante da dinastia Valadão que lidera a Igreja Batista Lagoinha. Embora a Bíblia recomende aos crentes que "façam todo o possível para viver em paz com todas as pessoas" (Romanos 12;18), a lógica das redes prega o contrário. Felippe, que é pastor de uma unidade da Lagoinha em Niterói, achou perfeitamente adequado brindar seus seguidores com uma piadinha a respeito de Geraldo Alckmin, que teria sido eleito vice-prefeito em Pindamonhangaba e assumido após a morte do prefeito (o que não é verdade) e vice-governador em São Paulo assumido depois da morte de Mário Covas (o que é verdade). Valadão conclamava: "Vamos manter o pensamento positivo". Diante da péssima repercussão do seu post, ele escreveu que os que discordam dele seriam todos eleitores "do maior corrupto da história", apoiadores da "legalização do aborto, liberação das drogas e ideologia de gênero": "Sua crítica para mim é um alento, só afirma que tudo que eu escrevo faz sentido e eu tô na direção certa". Algumas horas antes, ele já havia usado as redes sociais para dizer que "o Brasil tá chato pra caraca depois dessas eleições".

Para pessoas como Felippe Valadão e Davi Sacer, um país "chato pra caraca" é um país em busca de conciliação, em que a política deixa de ser uma competição de memes e frases de impacto e volta a ser um longo e entediante exercício de diálogo entre adultos com expectativas diferentes a respeito do Brasil.

A Bíblia recomenda paz, mas as redes sociais recomendam emocionalismo moral, violência, escárnio e radicalização. Queria acreditar, como meu amigo pastor, que a oferta de paz que Jesus tem a dar seja mesmo capaz de comover quem está armado até os dentes. Mas, para os religiosos das redes sociais, diálogo e conciliação são sinais de falta de convicção. Como chamar à conversa os que querem silenciar o outro? Como dividir o pão com quem julga que o pão pertence apenas a si? Como abraçar os que estão prestes a esmurrar? Não sei, mas, definitivamente, este é o desafio que está imposto aos homens de boa vontade do Brasil de hoje, dentro e fora das igrejas.


* Ricardo Alexandre é jornalista e escritor, autor do livro 'E a verdade os libertará: reflexões sobre religião, política e bolsonarismo' (Ed. Mundo Cristão)


Soneto de Contrição

 

Eu te amo, Maria, te amo tanto

Que o meu peito me dói como em doença

E quanto mais me seja a dor intensa

Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa

Meu coração é um vago de acalanto

Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma

Nem melhor a presença que a saudade

Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade

Que tão mais te soubesse pertencida

Menos seria eterno em tua vida.


Fonte: Vinícius de Morais. Antologia poética, p. 91.

FESTA DE JESUS SERVIDOR RADICAL DO UNIVERSO

Quem já afirmou, peremptoriamente, que os chefes das nações, por sua própria natureza, tiranizam e dominam as populações, jamais poderia aspirar a ser rei! Quem deixou claro para seus seguidores que Ele, o Mestre, estava no meio deles como ‘aquele que serve’, e que todos deviam ser servidores uns dos outros, jamais poderia confabular para obter um título de prestígio ou um cargo real! A igreja continua adotando essa terminologia arcaica e ‘démodé’ talvez para dizer que só Jesus governa com justiça e equidade, ou, quem sabe, como expressão de inconfessáveis aspirações que alguns de seus membros ainda alimentam Mais coerente seria trocar, de uma vez por todas, a solenidade hodierna assumindo o real sentido da prática integral de Jesus de Nazaré ‘Jesus SERVIDOR do universo’, pois um rei jamais serve! Não há como negar que há, hoje, um forte movimento entre as inúmeras e variegadas denominações cristãs que exaltam e admiram aqueles modelos de poder que apontam para a 'força total e bruta'. Uma espécie de compensação pessoal para tentar sair do anonimato e de um certo servilismo social a que muitos estão sendo submetidos. O pastor  ameaçador, o padre autoritário, e o líder político que resolve na bala substituem equivocadamente a figura de um pai-padrinho que nunca existiu, ou que nunca o defendeu ou que lhe deu proteção. O Deus-Pai-Servidor soa, de antemão, para muitos cristãos, como uma derrota simbólica, além de uma derrota no seu cotidiano carregado de conflitos, embates, de raivas contidas e de humilhações sem fim. Hoje temos uma oportunidade para contemplar não para um 'rei-fantoche', mas para um homem de fé-cidadão que já 2.000 anos atrás apontava o caminho do serviço radical e gratuito escanteando de vez o princípio de 'uma mão lava a outra'!



domingo, 13 de novembro de 2022

Stato e anomia. Considerazioni sull’anticristo di Giorgio Agamben

Il termine «anticristo» (antichristos) appare nel Nuovo testamento soltanto nella prima e nella seconda lettera di Giovanni. Il contesto è certamente escatologico (paidia, eschate hora estin, vulg. filioli, novissima hora est, «figlioli, è l’ultima ora»), e il termine appare significativamente anche al plurale : «come avete udito che l’anticristo viene e ora molti sono diventato anticristi». Non meno decisivo è che l’apostolo definisca l’ultima ora come l’«adesso (nyn)» in cui egli stesso si trova: «l’anticristo viene (erchetai, presente indicativo)». Poco dopo si precisa, se ce ne fosse bisogno, che l’anticristo «è ora nel mondo (nyn en to kosmoi estin)”. 

È bene non dimenticare questo contesto escatologico dell’anticristo, se è vero – come Peterson, e Barth prima di lui, non si stancano di ricordare – che l’ultimo momento della storia umana è inseparabile dal cristianesimo («un cristianesimo ¬– scrive Barth – che non è tutto e integralmente e senza residui escatologia, non ha integralmente e senza residui nulla a che fare con Cristo»). L’anticristo è per Giovanni colui che nell’ultima ora «nega che Gesù è il Cristo» (cioè il messia) e anticristi sono pertanto i «molti» che, come lui, «uscirono da noi, ma che non erano da noi», il che lascia intendere, non senza ambiguità, che l’anticristo esce dal seno dell’ekklesia, ma non appartiene veramente ad essa. Come tale, egli è definito più volte «ingannatore» (planos, letteralmente «colui che svia», vulg. seductor).

Il luogo sul quale si è concentrata per secoli l’esegesi dei padri e dei teologi sull’anticristo, non è, però, nelle lettere di Giovanni, ma nella seconda lettera paolina ai Tessalonicesi. Anche se il termine non vi compare, l’enigmatico personaggio che la lettera presenta come «l’uomo dell’anomia» (ho anthropos tes anomias) e il «figlio della perdizione» (ho uios tes apoleias) è stato identificato già da Ippolito, Ireneo e Tertulliano e poi da Agostino con l’anticristo. Paolo dice infatti di lui, che definisce anche «senza legge» (anomos), che «si drizza contro tutto ciò che è chiamato Dio o oggetto di venerazione, al punti di sedersi nel tempio di Dio, proclamando di essere Dio». L’anticristo è un potere mondano (una tradizione lo identificava con un Nerone redivivo) che cerca di imitare e contraffare nel tempo della fine il regno di Cristo. Nella lettera ai Tessalonicesi, tuttavia, l’uomo senza legge è posto in stretta relazione con un’altra enigmatica figura, il catechon, ciò che trattiene (anche nella forma maschile: «colui che trattiene»). Ciò che viene trattenuto è «la parusia di nostro Signore Gesù Cristo e la nostra riunione con lui»: il contesto della lettera è, dunque, esattamente come nella lettera di Giovanni, escatologico (poco prima, l’apostolo evoca «il giusto giudizio di Dio… nella rivelazione del Signore Gesù con gli angeli della sua potenza»). 

Già al tempo di Agostino, questo potere che trattiene l’avvento finale di Cristo era identificato con l’impero romano (che Paolo, secondo le parole di Agostino, avrebbe omesso di nominare esplicitamente «per non incorrere nell’accusa di vilipendio, augurando il male all’impero che tutti ritenevano eterno») o con la stessa chiesa romana, come sembrava suggerire la lettera di Giovanni, menzionando gli anticristi che «usciranno da noi». In ogni caso, che si tratti dell’impero romano o della chiesa, il potere che trattiene è quello di un istituzione fondata su una legge o una costituzione stabile (anticipando la nostra nazione di «stato», Tertulliano dice: status romanus, che ai suoi tempi significava «la condizione di stabilità dell’impero romano»). Decisivo è comprendere la relazione fra il potere che trattiene e «l’uomo dell’assenza di legge». Essa è stata a volte interpretata come un conflitto fra due poteri, in cui il senza legge o l’anticristo «toglie di mezzo» il potere che trattiene. L’espressione ek mesou genetai («finché colui che trattiene sia tolto di mezzo») non implica in alcun modo che a farlo sia l’uomo dell’anomia: come la traduzione della vulgata (donec de medio fiat) suggerisce, a togliersi di mezzo è lo stesso potere che trattiene (sia esso l’impero o la chiesa). 

Il testo che segue immediatamente è in questo senso perfettamente chiaro: «e allora sarà rivelato il senza legge». La relazione fra il potere istituzionale del catechon e l’uomo dell’assenza di legge è la successione fra due poteri mondani, uno dei quali si toglie ed è sostituito – o trapassa – nell’altro. Questo è, nelle parole di Paolo, «il mistero dell’anomia che è già in atto» e che trova alla fine il suo svelamento, quasi che, come il termine «mistero» sembra suggerire, il «senza legge» esibisse finalmente in piena luce la verità del potere che lo precede.

Se questo è vero, allora la lettera contiene una dottrina sul destino di ogni potere istituzionale che non bisogna lasciarsi sfuggire. Secondo questa dottrina, il potere istituzionale stabilmente fondato cede necessariamente alla fine il posto a una condizione di anomia, in cui al sovrano costituzionalmente fondato subentra un sovrano «senza legge», che esercita arbitrariamente il suo governo. La lettera contiene allora un messaggio che ci riguarda da vicino, perché è proprio un simile «mistero dell’anomia» che stiamo vivendo. Il potere statale fondato sulle leggi e le costituzioni cosiddette democratiche si è andato trasformando – attraverso un processo inarrestabile iniziato da tempo, ma che giunge solo ora alla sua crisi definitiva – in una condizione anomica, in cui la legge è sostituita da decreti e misure del potere esecutivo e lo stato di emergenza diventa la forma normale di governo. Resta – è bene non dimenticarlo – che la lettera afferma che una volta che il potere del «senza legge» è stato svelato, «il Signore lo sopprimerà col fiato della sua bocca e lo disattiverà con l’apparizione della sua presenza». Il che significa che quel che ci resta da pensare nella condizione apparentemente senza uscita che stiamo attraversando è la forma di una comunità umana che si sottragga tanto al «potere che trattiene» con la sua apparente stabilità istituzionale che all’anomia emergenziale in cui esso fatalmente si converte.

19 ottobre 2022

Giorgio Agamben

Per i giovani di Giorgio Agamben

Non so se abbia senso credere di potersi rivolgere a dei “giovani”. Certo giovinezza e vecchiaia convivono finché è vivo in ciascuno e ci portiamo dentro a ogni istante il giovane che siamo stati, così come il giovane presentiva lucidamente e perentoriamente la sua vecchiaia. È proprio questa contemporaneità dei tempi e delle età che si è andata perdendo, così che oggi i giovani diventano vecchi anzitempo e i vecchi si credono giovani fuori tempo.

Per questo non trovo altre parole per rivolgermi ai giovani che quelle che il 23 agosto 1914 una ragazza di ventidue anni, Carla Seligson, scrisse a Walter Benjamin pochi giorni dopo che sua sorella Rika si era suicidata insieme al fidanzato, il poeta diciannovenne Christoph Friedrich Heinle. I due giovani avevano deciso il suicidio subito dopo aver appreso la notizia dello scoppio della guerra mondiale. Vorrei che i giovani riflettessero su questa decisione oggi che il discorso sulla guerra atomica è diventato qualcosa come una chiacchiera quotidiana. Ma soprattutto vorrei che nelle parole di Carla Seligson essi sentissero vibrare quel «lamento per una grandezza mancata» che secondo Benjamin è la lingua della gioventù. «Ci sono soltanto due età» scrive Carla Seligson «la gioventù e la morte». È questa intatta consapevolezza della serietà della propria condizione che vorrei ricordare a chi oggi crede di essere giovane. Ho tradotto il breve testo letteralmente, cercando di conservare la sua asprezza.

Il Suicidio.

La morte prende forma ed ha una forma, morire è solo la fine della vita, della perdita, della corruzione. Vi è nella morte una relazione del morente al mondo, alla quale nessuno dei due può mai sfuggire. Chi muore la morte, raggiunge lo stato del mondo che tramonta. Questo avviene in un grande potere sul mondo, che è un darsi interamente a colei che lo ama. Questa morte è spaziosamente formata, essa partorisce l’eternità nell’onnipresenza dell’amato. La morte giovanile è pura, se diventa il letto di morte del mondo e si appropria interamente dei corpi delle cose. In una tale morte nasce un nuovo mondo, nel quale solo la materia muore. Il passaggio nella morte è una rinuncia al fare o all’agire. Riesce raramente al giovane, quasi mai al vecchio. Non ha età colui che muore quando è venuta nella stagione la sua ora e solo nella gioventù si offre libero il passaggio. Ci sono soltanto due età: la gioventù e la morte. Esse confinano l’una con l’altra, la morte del fratello dona al giovane la ricchezza che appartiene all’immortale. Suo fratello è così immortale. Ciascuno raggiunge la catena della morte.

7 novembre 2022

Giorgio Agamben

sábado, 12 de novembro de 2022

33º Domingo do Tempo Comum - Enfrentar sem medo as lacerações produzidas pela injustiça do templo/religião e inaugurar a nova etapa da igreja da caridade e do testemunho (Lc.21, 5 -19)

 

Para que o sol da justiça brilhe é necessário enfrentar muitos conflitos. A construção da justiça não é algo natural, harmonioso. É imprescindível, primeiramente, identificar, e destruir as causas da injustiça, o que acarreta enfrentamentos, dilacerações, divisões, resistências. Jesus sempre viu no aparato do templo, com seus sacerdotes, sacrifícios, proibições e preceitos uma das principais causas da injustiça social que oprimia, principalmente, o povo simples e pobre de Israel. A própria arquitetura do templo intimidava pela sua grandeza e magnitude, mas para Jesus não passava de uma transitória ‘obra humana’. Como foi construído, assim ele pode ser destruído, principalmente quando não cumpre mais o seu objetivo de ser espaço privilegiado de encontro com o Deus que protege e abriga seus filhos.  Quando o templo/religião se torna símbolo de manipulação de consciências e exploração social e econômica, quando nome santo de Deus é utilizado, sacrilegamente, para justificar roubo e dependência moral 'ele deve ser extinto'! 

No evangelho de hoje Jesus convida os seus a contemplar a efêmera beleza de uma religião que seduz os olhos, mas não o coração. De forma, ousada, prevê o fracasso de um sistema sociorreligioso e moral quando perde de vista o cuidado para com os filhos e filhas de Deus mais fragilizados. A confrontação entre religião, classe sacerdotal, aparato legal e prática da fé/caridade/testemunho dar-se-á mediante conflitos e enfrentamentos até violentos que produzirão lacerações e divisões de todo tipo, mas terá o único objetivo de fazer surgir um novo modo de viver a fé, de ser povo/igreja de Deus. Nada de se apavorar ou desanimar por causa disso. Não será o fim, é só o começo de uma nova e inédita etapa da vida cristã. No nosso País vivemos, inegavelmente, algo semelhante. Grupos supostamente cristãos acusando outros de traição e desvio e vice-versa. Grupos tão profundamente identificados com o aparato religioso manipulador, conservador e fundamentalista erguem-se, hoje, como paladinos enfurecidos não da fé, mas da defesa do ‘templo/aparato que explora, manipula e coopta’. Há chegado a hora do grande testemunho, da profecia e da fidelidade à prática misericordiosa de Jesus que, no momento, pode até não suscitar entusiasmos, mas que inaugura um novo jeito de ser igreja. A igreja que vive e sobrevive sem templos, sem sacerdotes, sem padrinhos, sem alianças com os que sentam nos tronos dos belos e poderosos palácios. A igreja que ama, e não a que se arma!


domingo, 6 de novembro de 2022

DIA DE TODOS OS SANTOS E SANTAS - FELIZ E SANT@ ÉS TU, HOJE.......

Feliz é você, hoje, em cujo coração não abafa a dor e o desespero de milhares de pobres, seus irmãos! Feliz é você que não se sente autossuficiente, e deixa de ser indiferente. Que não tem medo de caminhar ao lado de tantos defraudados e perseguidos e, com coragem e coerência, assume a sua existência. E os protege de futuras ameaças e humilhações. É no ‘espírito da solidariedade radical’ com tantos empobrecidos que fará brotar no peito desta humanidade um coração compassivo. 

Feliz é você, hoje, que chora ao enxugar as lágrimas de uma mãe viúva que vela o corpo de um filho que morreu prematuramente. Feliz é você que ainda não se deixou intoxicar pelo veneno da indiferença da maioria. Que não bebe as águas infectadas do poço do ódio e da intolerância. Feliz é você que deixa ecoar dentro de si a mesma dor que sente um irmão defraudado da esperança. Não desanime: você já mergulhou na sua paz interior, e será um permanente consolo para todos os desesperançados. 

Feliz é você, hoje, que continua acreditando no diálogo, e na solução pacífica dos conflitos. Que detesta os arrogantes e suas prevaricações. Que denuncia os fabricantes e vendedores de armas. E que tem ojeriza aos que têm o gatilho fácil. Feliz é você que desobedece aos que mandam prender sem flagrante, e condenam inocentes sem provas. Que rejeita os que usam a tortura para mutilar corpos e dobrar consciências, e que espalham ‘fake news’ para enlamear a honra dos justos e confundir os desinformados. Feliz é você, hoje, que transforma essa terra num templo cósmico de mansidão e verdade.

Feliz é você, hoje, que compreende que não pode assegurar ‘barriga cheia e direitos’ só para si. Que entende que as injustiças dos injustos, e as desigualdades dos potentes de ontem e de hoje, continuam matando milhões de criaturas 'sem comida e sem cidadania’. E que, em nome das leis elaboradas pelos prevaricadores do Congresso e interpretadas pelos 'doutores da lei' de hoje deixam apodrecer nos calabouços públicos somente as vítimas de suas próprias arbitrariedades, e de sua insaciável sede de punição. Feliz é você que hoje vive inconformado, que resiste e insiste, que organiza e mobiliza todos os sedentos e os famintos de pão e de direito.

Feliz é você, hoje, que sabe se compadecer das fragilidades próprias e alheias, e que não se escandaliza por causa delas. Que não se veste da prepotência daqueles puritanos hipócritas que enxergam o pecado somente nos outros. Feliz é você, hoje, que sabe perdoar a si próprio. E, ao fazer isso, se capacita para oferecer uma nova chance a quem lhe magoou e não o perdoou. Feliz é você porque compreendeu que misericórdia não significa cumplicidade com o crime de quem oprime. E, tampouco, omissão para com aqueles que ainda não aprenderam a prática do perdão.

Feliz é você, hoje, que num mundo de aparências e duplicidade só alimenta franqueza e transparência em seu coração. Feliz é você que não cultiva dentro de si subterfúgios, e nem insanas ambições. Que não engana e nem manipula o seu próximo para poder prevalecer sobre ele. Feliz é você quando permanece ‘você mesmo’: puro e impuro ao mesmo tempo. Você verá a Deus, diretamente, dentro de você, do jeito que você é. E o seu coração, agora sem véus, verá, diretamente, em todos os seres vivos o rosto humano e luminoso do Invisível.  

Feliz é você, hoje, quando, mesmo perseguido e caluniado, - inclusive pelos seus familiares, - não abre mão dos valores em que acredita. Feliz é você que no mundo dos espertalhões e de aduladores de 'mitos' continua a agir com honestidade, aquela que não tem cor partidária. Feliz é você que, mesmo torturado física e moralmente, não vende a sua alma ao prepotente que o governa, ao miliciano que o ameaça, e nem ao patrão delinquente que o assedia. Não recue, e nem desista: com sua coerência de vida você já os derrotou. 

Feliz e santo é você, hoje, não porque algum papa o canonizou. Ou porque o seu nome está escrito num calendário religioso. Nem porque a sua imagem é venerada numa redoma de cristal em algum santuário famoso. E nem tampouco porque lhe atribuíram algum milagre. Santo e feliz é você quando fugir do reconhecimento público. E das honrarias que cooptam a sua consciência. E, na intimidade do seu espírito incorruptível, ou na simplicidade de seus gestos, testemunha a presença de um Deus que não cansa de amar e acolher. Basta esse milagre para você ser um eterno ‘BEM-AVENTURADO E FELIZ! 


quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Os votos dos 'sem religião' deram a vitória a Lula! Por José Eustáquio Diniz Alves

......Em síntese, a proporção de católicos, evangélicos, outras religiões e sem religião influenciam o voto brasileiro. Mas entre o eleitorado cristão – que são os dois maiores grupos religiosos do Brasil, com cerca de 82% do total do eleitorado – houve uma vantagem de Bolsonaro. Já entre o segmento sem religião (que representa 12% do eleitorado) Lula teve uma vantagem de 5,9 milhões de votos, o que garantiu a vantagem final de 2,1 milhões de votos que deram a vitória ao candidato do Partido dos Trabalhadores. Portanto, católicos e sem religião foram fundamentais para superar o bolsonarismo da maioria do segmento evangélico, mas o fiel da balança foi indubitavelmente o segmento sem religião, que compensou as diferenças no voto cristão......

.......Não tenho segurança alguma em subscrever essa ideia. Ao contrário: minha impressão é que o bolsonarismo tenderá a se tornar uma força com reduzida capacidade de articulação nos próximos meses e sem condições de se coordenar nacionalmente. Os fatos apontam que o fascismo brasileiro só se organiza a partir do Estado. O bolsonarismo possivelmente não consegue se coordenar fora dele. Isso se deve principalmente ao fato de o bolsonarismo não se apresentar como um conjunto de ideias com começo, meio e fim. O bolsonarismo não tem programa claro, a não ser um nacionalismo moralista de fachada, o enunciado de poucos dogmas religiosos e de professar um ultraliberalismo sem freios. O bolsonarismo não é um projeto, mas uma torrente de sensos comuns e uma pregação ininterrupta da violência como dinâmica de intervenção social. É pobre e primário como ideário político.

........Mas o fascismo seguirá forte em alguns bolsões do Estado, em especial no aparato de segurança (Forças Armadas, Abin, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias estaduais). Aqui o problema é sério e só há uma solução. Ela foi dada por Gustavo Petro, menos de um mês após assumir a presidência, em 19 de agosto último. De uma só penada, o novo presidente colombiano anunciou a passagem compulsória para a reserva de nada menos que 52 generais, abrindo 24 postos de comando na Polícia Nacional, 16 no Exército, 6 na Marinha e mais 6 na Força Aérea. Sem sutileza, o presidente avançou sobre instituições tidas como intocáveis na América Latina, ao mesmo tempo em que buscou tirar da frente potenciais ameaças ao futuro de sua administração.

Mais do que especular se o bolsonarismo seguirá sem Bolsonaro, será necessário que o novo governo Lula tome a iniciativa de desativar as bombas-relógio colocadas à sua frente pela ameaça fascista, retirando-a de qualquer alavanca de comando do Estado. O mais provável é que em poucos meses tais correntes percam boa parte da relevância que exibem hoje e o bolsonarismo seja uma tendência marginal na sociedade.

LULA - NOVAS ESPERANÇAS? Por Flavio Lazzarin

 No Brasil, este ano, as ameaças de subversão contra o que resta do estado de direito conseguiram contagiar o povo brasileiro. Não se tratou apenas do aumento exponencial do ódio e da violência política, semeados pela extrema direita e pelas Forças Armadas, mas também de uma verdadeira perturbação generalizada gerada pelo estresse eleitoral: preocupações, temores, alarmismos, cansaço.

Terminado o segundo turno das eleições presidenciais, metade dos brasileiros supera o estresse com a alegria de quem sabe desde sempre o que é o carnaval, ou seja, o que significa dançar com alegria para pisotear a dor e a tristeza. Mas a outra metade chora e talvez busca revanches a qualquer preço. Em suma, as emoções são as protagonistas dessa política, que se transformou em um ringue, no qual se é chamado a torcer por um dos competidores contra seu adversário. São as emoções que, mais fortes do que as atitudes críticas, marcam também o meu íntimo neste tempo. Até o domingo à noite, 30 de outubro, predominavam a minha angústia e a minha preocupação. De fato, depois de vencer no primeiro turno – na Câmara dos Deputados, no Senado e na maioria dos governos estaduais –, Bolsonaro poderia sair vitorioso do segundo turno. Terminados os escrutínios, os dados revelaram que, por um punhado de votos, Lula estava em primeiro lugar. Alívio, porque eu realmente temia que pudesse ser pior!

Compartilho, portanto, as emoções da melhor parte da sociedade brasileira, porque, apesar de a conjuntura continuar dramática e preocupante, evitamos a catástrofe. As ameaças da extrema direita, porém, continuam presentes no mundo ocidental, na Europa assim como na América Latina: exigem esforços de análises críticas – cada vez mais difíceis – e posições radicais para defender existencial e politicamente aquilo que resta de uma humanidade fraterna, compassiva, justa, não violenta e amante da verdade. Por toda parte, o neofascismo se apresenta como inimigo da igualdade: liberticida, colonialista, racista, misógino, homofóbico, defensor dos privilégios e inimigo dos pobres, ligado a religiosidades que pregam o ódio e a guerra. Por toda parte, ele se apresenta artificialmente como antissistêmico, quando na verdade apoia o capitalismo totalmente desregulado e desumano.

No Brasil, ao contrário do que ocorreu recentemente na Itália, a centro-esquerda de Lula consegue propiciar uma ampla aliança de forças políticas, que, por razões diversas, se opõem ao bolsonarismo. O Partido dos Trabalhadores confirma, assim, sua vocação de defensor do sistema, do status quo de uma democracia formal que, ao mesmo tempo, é agredida por forças subversivas, mas não consegue arranhar o poder da elite secularmente privilegiada, desatenta às condições precárias da maioria dos brasileiros e sempre opressora e violenta em relação aos mais fracos.

Veremos se, mais uma vez, Lula e seus novos aliados conseguirão dar continuidade à estratégia do mandato presidencial anterior: o apoio irrestrito ao parasitismo de renda, ao capitalismo do agronegócio e às mineradoras, junto com políticas compensatórias populares: combate à fome, aumento do salário mínimo, carteira de trabalho em tempos de uberização acelerada, saúde, educação etc. Lula também chega com promessas de defesa da Amazônia e de seus povos, mas ignora – em um tributo prévio ao capitalismo da soja, do eucalipto e da cana-de-açúcar – a situação do Cerrado devastado e moribundo e de sua gente: indígenas, quilombolas e agricultores tradicionais, perseguidos e expulsos pelo Estado e pelas milícias dos empresários. A savana brasileira, mãe de todos os rios e da água doce, o segundo bioma brasileiro em extensão, presente em nada menos do que 11 estados da União, é perenemente ignorada pela política e pela opinião pública mundial, por países que se calam porque se beneficiam do papel brasileiro como Arábia Saudita verde.

 Estou profundamente convencido de que o voto mais consciente, mesmo nestas eleições, foi o voto das minorias indígenas e camponesas, o voto das mulheres, dos homoafetivos, dos negros, das minorias abraâmicas que lutam cotidianamente com seus corpos e seus territórios contra a violência e a mentira, mostrando espiritualidade e caminhos para salvar o planeta do suicídio.

Em tempos de irracionalidade, negacionismos e intolerância visceral.....

 .......“Discutir com uma pessoa que renunciou ao uso da razão é como administrar remédio aos mortos” – Thomas Paine (1737-1809)


02 de novembro - Solenidade dos 'eternos viventes'!

Frequentemente no dia dos ‘finados’ costuma-se evocar imagens e conceitos contraditórios. Já a terminologia ‘finados’ deveria ser abolida, pois indica ‘fim’. A morte biológica de uma pessoa teria colocado um fim na sua existência que, ao contrário, é infinitamente maior que a sua vida física, material. Os que nos deixaram fisicamente não são finados, mas eternamente viventes!

O outro conceito que aparece com bastante intensidade nessa solenidade ou nas celebrações de sétimo dia é o da ‘esperança’ entendido como um vago sentimento  em que, supostamente,  se aguarda o momento fatídico de se reencontrar com a pessoa que nos deixou fisicamente. Ou seja, uma permanente e confiante expectativa de rever e de fazer comunhão futura e eterna com que nos deixou. Mas, perguntemo-nos: como se reencontrar com alguém que, de fato, pela fé interior, ‘nunca morreu’, ou que ‘nunca deixou de caminhar sempre ao nosso lado’ como muitas vezes afirmamos? Soa como um sentimento e como um conceito contraditório, a não ser assumamos a ‘esperança’ não como uma expectativa intimista de rever alguém que se foi há muito tempo, e sim como uma prática e compromisso de proteger e lutar para não deixar morrer quem vive fisicamente. E a lembrança daqueles que se foram fisicamente nos motiva para nos dedicar com mais afinco para defender e proteger vidas constantemente ameaçadas pela violência e truculência, pela fome e o desamor! 

Enfim, o ultimo conceito carregado de contradição para quem crê na força do amor infinito é o da ‘ressurreição’! Não ressuscita quem nunca morreu! Se as pessoas que nós amamos e com as quais convivemos com intensidade de afeto e amizade nunca tiveram sua existência aniquilada pelo ‘fim biológico’, e se graças a isso não precisamos viver numa permanente expectativa de reencontrá-las porque nunca deixaram de nos fazer companhia e caminhar ao nosso lado, não há porque afirmar que elas ‘morreram’! Se é verdadeiro, como afirma o autor bíblico que ‘a vida não é tirada, extinta, mas transformada’ não há porque dizer que temos que crer na ‘feliz ressurreição’ porque, efetivamente, os que se foram fisicamente ‘NUNCA MORRERARM’! 


sábado, 29 de outubro de 2022

31º domingo comum - 'Desce e chega de olhar os outros de cima para baixo. Hoje vou fazer comunhão contigo'! (Lc 19,1-10)

 Às vezes achamos que os que nós julgamos corruptos e/ou corruptores merecem, de imediato,  somente o nosso repúdio e a nossa condenação. Deixando de lado, por um instante, o fato de que ao agirmos assim nos colocamos acima dos demais, - por nos considerar certinhos e justos, - erramos totalmente a nossa metodologia. A mera condenação do suposto ‘pecador’ não o ajuda a mudar de atitude. O firme repúdio ao corrupto não o torna, automaticamente, mais justo. Faz-se necessária outra estratégia que de um lado ajude o suposto pecador a desistir de suas práticas iníquas, e que, do outro lado, permita que ele se torne um engajado praticante e propagador de maior equidade e respeito. Esta, afinal, foi a pedagogia adotada por Jesus no caso de Zaqueu. O evangelista o apresenta como chefe dos cobradores, ou seja, chefe da gangue que extorquia, sistematicamente, os cidadãos daquela cidade de Jericó. E, ao mesmo tempo, ele é descrito como um homem rico. Logicamente, era a consequência de quem vivia a arrancar, abusivamente, dinheiro e bens dos cidadãos. Pois bem, Zaqueu quer conhecer Jesus, mas a iniciativa que ele toma, apesar de ser uma ‘pessoa baixa’, é a de se colocar ainda ‘acima’ dos outros, inclusive de Jesus. Olha, metaforicamente falando, as demais pessoas de ‘cima para baixo’ mesmo sem ter ‘estatura moral’ para fazê-lo. O objetivo do evangelista nesse sentido é mostrar como o pecador Zaqueu insiste em conhecer Jesus, mas sem se expor e se misturar, e mantendo a típica arrogância de quem olha para os outros com ares de superioridade. Jesus, enfim, toma uma iniciativa que nenhum judeu devoto tomaria: o de se autoconvidar para comer na casa do impuro e pecador público Zaqueu. Isso é surpreendente,  pois o Mestre corre o risco de se ‘contaminar’ e de ser considerado ele também impuro e cúmplice dos malfeitores da cidade. De fato é o que ocorre: a casa de Zaqueu se enche de membros da sua gangue de cobradores. 

O interessante é que Jesus na sua aproximação com Zaqueu, mesmo sabendo o estrago que ele vinha produzindo na cidade, não lhe coloca nenhum tipo de condição ou de chantagem moral. Simplesmente se autoconvida para fazer comunhão com ele e com aqueles que eram excluídos pela sua impureza social e moral. O inesperado acontece: o não pré-julgado Zaqueu sente que é seu dever moral ir de encontro ao que Jesus vinha pregando. Coloca-se na sua mesma sintonia de onda em favor dos empobrecido e dos desapropriados.  Compromete-se a devolver metade dos seus bens aos pobres e àqueles que, porventura, defraudou, se compromete a devolver quatro vezes mais o valor subtraído. A salvação entra na casa e no coração de Zaqueu quando ao se sentir perdoado ele muda integralmente o seu jeito de ser. De rico avarento se torna generoso e solidário, e de ladrão ou, supostamente tal, uma pessoa equânime! 

sábado, 22 de outubro de 2022

'Ladrão, pega ladrão'! (Lucas 18,9-14)

Outro dia li num status de uma pessoa a seguinte frase: ‘quando não nos deixam chamar alguém de ladrão é sinal que tiraram a nossa liberdade’! Dificilmente passa pela cabecinha dela que sem provas a firmação não passa de uma grave calúnia. Mergulhamos, hoje em dia, no senso comum mais escrachado, na onda dominante das fakes e alimentamos, farisaicamente, perseguições e cacas às bruxas destruindo vidas e honras só porque determinados veículos de informação nos martelam sistematicamente que ‘ele é ladrão’! Acriticamente, não percebemos que, de repente, o mesmo veiculo informativo sonega-rouba milhões de Reais à Fazenda Federal! Quantos de nós não somos vítimas do  ‘Pega ladrão’ quando esse grito de alerta contagiante emerge de uma multidão enfurecida toda vez que um adolescente é flagrado roubando um celular ou outro objeto de valor? ‘Ladrão’ é a pecha que sempre colamos em determinados candidatos, - nossos inimigos, naturalmente, - pressupondo que, por serem políticos, eles o são efetivamente. Não importa se possuímos ou não provas factuais ou se papagaiamos o que uma horda de sanguinários deseja. É um fato: ladrões e pervertidos são sempre os outros, mas a segunda dos interesses em jogo nós mesmo justificamos, hipocritamente, as mesmas supostas ações delituosas de outras pessoas ou candidatos que estão ligados a nós ou, na nossa ingenuidade, achamos que eles não roubam o mesmo tanto que os demais... Roubo, afinal, parece ser algo externo a nós e, ao mesmo tempo, possuindo sempre uma conotação material, econômica, e jamais moral.  Alguns roubam e desviam dinheiro público destinado à saúde, educação, segurança, etc. e outros roubam dignidades, diretos e honra. Outros, ainda, roubam sistematicamente as duas coisas. Quem mais, quem menos, somos todos infratores. E se alguém disser que nunca roubou nada de ninguém com boas probabilidades, em algumas circunstâncias da vida, deixou de denunciar quem roubou de fato, ou se omitiu ou foi cúmplice indireto, alimentando, assim, o roubo alheio, e se beneficiando das vantagens que provinham dele (do roubo alheio)! 

Jesus de Nazaré, dois mil anos atrás, fazia uma profunda análise do comportamento social de seus contemporâneos que, ironicamente, pouco diverge do nosso, hoje! É justamente pelo fato de Jesus perceber que todos nós somos, de alguma forma, alimentadores ou cúmplices de tantas roubalheira material e moral que ocorre na prática humana que Ele nos alerta a não apontar o dedo aos outros e a não gritar com demasiada leviandade ‘pega ladrão’ ou a taxar somente os outros de ‘ladrão’.  Com muito realismo e com muita humildade Jesus no evangelho nos alerta em analisar em profundidade muito mais as nossas contradições que a condenar as dos outros. Com isso não significa passarmos uma esponja nos grandes crimes de exploração e roubalheira que reduzem milhões de pessoas à pobreza e à miséria, - pois afinal, somos todos pecadores, - mas, ao contrário... Ao tomar consciência de nossos ‘pequenos crimes’ – que não deixam de ser crimes, - deveríamos juntos, com humildade, firmeza e honestidade iniciarmos relações sociais pautadas pelo respeito, pela transparência e pela correção fraterna. E sem condenar de antemão aqueles que poderão mudar de comportamento e se tornarem nossos aliados, construirmos o verdadeiro Reino, incorruptível e justo!  


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

XADREZ DAS ELEIÇÕES MAIS RELEVANTES DA HISTÓRIA DO BRASIL - Por Luís Nassif

 Peça 1 – o que muda nas eleições

Lula continua favorito nas eleições presidenciais. Segundo analistas meticulosos, a melhoria de Jair Bolsonaro se deveu ao voto útil de eleitores que estavam com Ciro Gomes e Simone Tebet. Segundo o argumento das empresas de pesquisa, os dados mostrando a possibilidade das eleições terminarem no primeiro turno despertou uma onda de votos úteis em direção a Bolsonaro. Por outro lado, a estratégia do partido, em São Paulo, teria sido errada. Imaginava-se que enfrentar Tarcisio de Freitas seria mais fácil, devido à resistência contra Bolsonaro. A estratégia de centralizar as críticas no governo Rodrigo Garcia tinha sua lógica, mas teria despertado o antipetismo latente da sociedade paulista. De qualquer modo, a avaliação é que os eleitores que restaram a Ciro e Tebet são simpáticos a Lula, e seriam suficientes para levá-lo à vitória. Por outro lado, a vitória a governos de estados importantes, de candidatos simpáticos a Bolsonaro, traz uma vantagem ao candidato. Fica a constatação de que o bolsonarismo chegou para ficar. Mas o favoritismo continua sendo de Lula.

Peça 2 – as ameaças da continuidade

Nas últimas semanas, personagens centrais das instituições brasileiras, como ex-Ministros do Supremo Tribunal Federal, ex-Ministros de Fernando Henrique Cardoso, lideranças políticas historicamente anti-petistas, manifestam apoio a Lula. E a razão é simples: a eventualidade de uma vitória de Bolsonaro, com a formação de uma bancada de ultra-direita, é uma ameaça direta à democracia. O país não sobreviveria a um segundo governo Bolsonaro. Significaria a destruição final do sistema educacional, de ciência e tecnologia, das políticas sociais, seria uma ameaça permanente ao Supremo Tribunal Federal, uma carta em branco para milícias e clubes de caça e tiro. O que seria um país com governadores bolsonaristas controlando as Polícias Militares em grandes estados, uma bancada de direita apta a modificar a constituição e a impichar Ministros do STF? Por tudo isso, haverá um fortalecimento da frente democrática em torno de Lula.

Peça 3 – as concessões

A grande questão, da ida para o segundo turno, é expor Lula a um conjunto de pressões de candidatos a aliados, que seriam enfrentadas como mais facilidade se as eleições terminassem no primeiro turno. Do lado do PDT-Ciro Gomes e MDB-Simone Tebet, as exigências são legítimas. Defendem uma ação para resolver a questão do endividamento das famílias, ampliação do ensino integral e melhoria da renda básica. Os problemas surgem nas tentativas de ceder em dois pontos centrais: concessões na área econômica – para conquistar mercado – e na pauta moral – para atrair evangélicos. As pressões do mercado se manifestam especialmente através da mídia. Embora Lula já tenha se manifestado contra o teto de gastos, em favor dos gastos sociais, a favor dos investimentos públicos para reativar a economia e gerar emprego, a favor de uma reforma tributária que tribute especialmente ganhos de capital, há uma pressão midiática para que mantenha a preponderância dos interesses do mercado. Em uma segunda frente, há setores internos do PT defendendo sinalizações para os evangélicos, com recuo nas pautas morais. Nos últimos dias, não apenas evangélicos, mas católicos conservadores aderiram à campanha anti-PT. Ceder na pauta econômica e na moral é um jogo arriscado. Poderá facilitar a eleição de Lula, mas será uma quebra de valores que poderá comprometer fundamentalmente a legitimidade do futuro governo Lula, como representante do país civilizado contra a selvageria explicitada pelo bolsonarismo.

Peça 4 – o país olhando a própria cara

Os abusos do governo Bolsonaro promoveram uma catarse psicanalítica no país. Percebeu-se que o país acolhedor, cantado pelos líricos, era uma ficção. Por baixo de algumas regras sociais, há uma nação selvagem, sem regras, uma herança escravagista pesada, um dos maiores índices de mortes violentas do mundo. Ao mesmo tempo, a estrutura do Estado foi tomada por interesses corporativistas, os serviços públicos essenciais foram privatizados, a política econômica passou a atender exclusivamente os interesses do mercado. Este mês colocará à prova não apenas a resistência das instituições, do país supostamente civilizado, contra a barbárie. Mas, no final do trajeto, com Lula vitorioso, se saberá se o Brasil moderno conseguirá sobreviver ao país do conchavo, que já sufocou governos bem intencionados.


terça-feira, 2 de agosto de 2022

MPF apresenta ação contra União e Estado do Maranhão por registros de imóveis em áreas Indígenas

 O intuito é assegurar ao povo indígena a totalidade sobre as suas terras originárias, localizadas no município de Grajaú (MA). A Terra Indígena Bacurizinho possui a área original demarcada e regularizada pelo Decreto nº 88.600, de 9 de agosto de 1983. A área total de 82.514,80 hectares. O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública na Justiça Federal, com pedido de liminar, contra a União e o Estado do Maranhão pelo motivo de registros de imóveis no Cadastro Ambiental Rural (CAR) sobrepostos à Terra Indígena Bacurizinho, localizada no município de Grajaú (MA).

Segundo a ação, em junho de 2020 foram identificados aproximadamente 10 mil registros de imóveis imóveis rurais no CAR em áreas destinadas a povos indígenas, sendo algumas dessas propriedades sobrepostas à Terra Indígena Bacurizinho. Na época, o estudo foi encaminhado aos representantes da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão (CCR) do MPF, a fim de auxiliar no combate à grilagem de terras e crimes ambientais em terras indígenas. A Terra Indígena Bacurizinho possui a área original demarcada e regularizada pelo Decreto nº 88.600, de 9 de agosto de 1983. A área total de 82.514,80 hectares passou por processo de revisão administrativa, tendo sido aprovada a redefinição de seus limites pelo Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID). Entretanto, até a finalização do processo administrativo de regularização fundiária, a posse e uso dos recursos naturais dessa Terra Indígena vem sendo alvo de controvérsias locais.

Em vista disso, o MPF pede à Justiça Federal de Balsas (MA) que determine à União, por intermédio do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), para que inclua no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), a totalidade da Terra Indígena Bacurizinho, em razão da aprovação da redefinição de seus limites. Junto a isso, que o Estado do Maranhão altere as suas normas editadas, que dispõem sobre o procedimento para cancelamento de CAR em área sobreposta à Terras Indígenas, de forma a torná-las efetivas, céleres e sem lacunas. Além disso, considerando a integralidade da Terra Indígena Bacurizinho, apresente cronograma para avaliação dos cadastros pendentes e ativos, e quando constatada a sobreposição após processo administrativo, proceder ao imediato cancelamento dos cadastros.


segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Entidade Guarani Kaiowá denuncia ameaça de massacre em escola indígena: "Recado dos ruralistas"

 A Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani, a Aty Guasu, denunciou pelas redes sociais uma troca de mensagens virtuais que indica o planejamento de um massacre contra estudantes dentro de uma escola indígena no Mato Grosso do Sul. Conforme a Aty Guasu, as ameaças são direcionadas para uma instituição de ensino no interior da Terra (TI) Indígena Amambai, onde vivem 12 mil pessoas. Nos últimos meses, três Guarani Kaiowá foram assassinados a tiros enquanto tentavam retomar terras ancestrais, hoje ocupadas por fazendeiros. 

Embora a veracidade da conversa não tenha sido comprovada, o episódio colocou as comunidades em alerta. Nos supostos diálogos divulgados na quarta-feira (27), duas pessoas combinam, em detalhes, de “entrar naquela escola e metralhar os filhos dos vagabundos”. “Os alunos estavam na sala de aula quando saiu aquela ameaça. Todo mundo ficou apavorado: mãe, família... Aqueles que moravam perto foram correndo para pegar os filhos [na escola]. E os que não puderam, as crianças saíram correndo. Foi horrível”, afirma Vasques. As ameaças, que preveem até 10 vítimas, teriam motivado a paralisação de atividades de saúde, educação e de instituições religiosas voltadas aos indígenas. A Aty Guasu pediu que o episódio seja investigado com urgência. 



segunda-feira, 18 de julho de 2022

Interdição da BR 226 no Maranhão - Governo frouxo que deixa milhares de pessoas no caos quando com uma canetada e sem violência, poderia resolver!

 


Na tarde desta sexta-feira (15), os indígenas da Reserva Cana Brava voltaram a interditar totalmente um trecho da BR-226, na altura do km 356, no município de Jenipapo dos Vieiras, a cerca de 437,2 km. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), não há previsão de liberação da BR e nem proposta de desvio para os motoristas. Segundo informações, ambulâncias e outros veículos de segurança pública são analisados e, dependendo do serviço a ser prestado, os indígenas liberam a passagem deles no bloqueio.

De acordo com a PRF, os indígenas exigem melhorias das condições de saúde da comunidade. Os manifestantes relatam que há problemas na assistência de saúde nas aldeias da região, como falta de medicamentos e até de combustível para as ambulâncias. Além disso, os manifestantes exigem a saída de Alberto José, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). Nessa quinta-feira (14), o presidente Jair Bolsonaro (PL), em visita ao Maranhão afirmou, durante entrevista coletiva em São Luís, que iria atender aos pedidos dos indígenas, exonerando o atual diretor do DSEI/MA, Alberto José. Porém não disse quando a exoneração seria feita. 

Bolsonaro diz que Governo Federal deve mudar coordenação do DSEI no MA. Na mesma entrevista, o presidente chegou a pedir que os indígenas não fechassem mais a BR-226. Essa é a quarta vez que os indígenas interditam um trecho da rodovia federal, cobrando soluções do poder público. O primeiro bloqueio foi no dia 30 de junho. O segundo protesto aconteceu no dia 5 de julho, quando os manifestantes fecharam um trecho da BR-226, em Barra do Corda, a 459 km de São Luís. Já a terceira interdição da rodovia aconteceu no dia 7 de julho, também em um trecho na cidade de Barra do Corda. No dia 9 de julho, os indígenas deram fim a interdição da BR-226. Na tarde desta sexta-feira (15), os indígenas da Reserva Cana Brava voltaram a interditar totalmente um trecho da BR-226, na altura do km 356, no município de Jenipapo dos Vieiras, a cerca de 437,2 km.

Considerações à margem - 

Ninguém gosta de ver seus direitos constitucionais de 'ir e vir' sendo suprimidos por quem quer que seja...
Todos deveríamos ficar indignados quando olhamos centenas de aldeias no Maranhão que continuam sendo vítimas do descaso, da negligência e da roubalheiras institucional.
Todos deveríamos compreender que as únicas armas e força política que os indígenas hoje têm é a mobilização que cria 'transtorno próprio e alheio', e mesmo assim, nem parece chamar a atenção de quem deveria dar uma resposta rápida e definitiva.....
Pessoalmente não deixaria uma interdição de uma estrada federal se estender nem sequer por uma hora, pois um bom governante é aquele que, mesmo sem se deixar chantagear, se antecipa, vai a campo, senta, negocia, dialoga e toma decisões rápidas. Não há dúvida que o governo federal é um molenga, um frouxo que, por causa de um insignificante coordenador, - que poderia trocar em duas horas, - deixa milhares de cidadãos e empresas.... à mercê....
Tirem logo o cara que tanto não muda nada. Bolsonaro já deixou a saúde indígena sem nada e vai colocar outra marionete que irá ser insignificante do mesmo jeito, mas pelo menos ele ganha tempo e ....nós ganhamos outro governo em breve!

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Saúde indígena - O fracasso do governo Bozo na assistência à saúde indígena no Maranhão provoca protestos, interdição de BR e pedido de exoneração do Coordenador estadual.

 Uma intervenção parlamentar, realizada por deputados federais da bancada maranhense, ajudou a pôr fim, na noite do último sábado (9), ao protesto de povos indígenas, que interditaram um trecho da BR-226, entre os municípios de Barra do Corda e Grajaú. A ação dos povos originários questiona a situação de precariedade dos serviços de saúde pública oferecidos nas aldeias. A ausência de medicamentos, durante a realização de procedimentos médicos; a falta de suporte técnico, por meio de equipamentos hospitalares, e a presença de remédios fora da validade, em postos de saúde, são algumas das queixas da população indígena, no povoado Cana Brava. Em meio a crise, a falta de combustível nos carros, para transporte de pacientes, tem feito dos caminhões uma alternativa para o deslocamento de índios com enfermidades. Uma das moradoras da região, Glória Guajajara, lamenta a falta de assistência para a população local, que segundo ela, chega a ser estigmatizada e vítima de preconceitos.

“Nós temos o direito de ter uma saúde, como qualquer outro ser humano. As pessoas querem tratar a gente como se fosse bicho. A gente tem as viaturas da saúde, mas elas recebem o combustível não para o mês inteiro, mas quinzenal. E o resto do mês? Nós temos médicos, sim; temos clínico geral nas aldeias, em alguns postos de saúde, nas aldeias, mas e aí, o que é que adianta a gente ter isso, se não tem medicamento?”, diz. A Líder indígena Kerliane, que atua na região do povoado Cana Brava, informa que a atenção das autoridades é necessária para enfrentar o momento delicado na localidade. “A comunidade tá sofrendo o problema na pele. Não é fácil nós sermos vítimas da saúde indígena no Maranhão. Eu quero pedir, mais uma vez, um pedido de socorro, para que eles (autoridades) possam atender, de imediato, as demandas dos caciques. Que eles vêm reivindicando, há muito tempo, em diálogos, reuniões, videoconferência, e, em nada, eles tiveram avanço, por parte da saúde, infelizmente.


DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA BATE RECORDE EM JUNHO E CHEGA A 1.120 KM²

 



O desmatamento na Amazônia bateu novo recorde em junho e chegou a 1.120 km², a pior cifra da série histórica do programa de alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Deter. A área perdida no mês é maior do que a cidade do Rio de Janeiro. Os números foram atualizados nesta sexta-feira (8) pelo Instituto. No acumulado do ano, já foram derrubados 3.987 km² de floresta, número 10% maior do que o mesmo período do ano passado e também o pior de toda a série histórica do Deter, iniciada em 2016. A área perdida entre janeiro e junho já representa 30% de tudo que foi desmatado no ano de 2021, quando 13.038 km² (taxa consolidada) de florestas vieram ao chão. A expectativa de especialistas é que, se o desmatamento continuar no ritmo que está, a destruição na Amazônia chegue a 15 mil km² ao final do ano. Historicamente, o desmatamento tende a crescer em anos de eleição, devido ao afrouxamento nas ações de fiscalização nas diferentes esferas de poder, com o intuito de beneficiar – ou não desagradar – o eleitorado.

Segundo o Deter, sistema de alertas de desmatamento do INPE, em junho, o Amazonas foi o estado com maior área desmatada. No período, foram registrados 400 km² de derrubadas nesta unidade da federação, um salto de 82% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 219 km² de floresta vieram ao chão no território amazonense. O segundo lugar no ranking de desmatadores ficou com o Pará, com 381 km² perdidos. O número é 13% menor do que o mesmo período do ano passado, quando 438 km² de floresta foram desmatados no estado. Rondônia novamente aparece em terceiro lugar no ranking, com 139 km². O número é 17% menor do que o mesmo período do ano passado, mas não menos ruim para este estado, que vem desbancando outras unidades com histórico de desmatamento, como Mato Grosso. Junho é considerado o primeiro mês da estação seca na Amazônia, mas ainda não é o pior período do desmatamento, que acontece entre julho e setembro. “É mais um triste recorde para a floresta e seus povos. Esse número só confirma que o Governo Federal não tem capacidade, nem interesse, de combater toda essa destruição ambiental, seja por ação ou omissões o que vemos é uma escalada inaceitável da destruição da floresta e do massacre de seus povos e defensores”, diz Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.

Por: Cristiane Prizibisczki


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Política indigenista no Brasil: 'Serei o próximo a morrer?

 Assédios, intimidações e ameaças: servidores da Funai que atuam na Amazônia e em Brasília contam detalhes do dia a dia sob Bolsonaro. Não é segredo que a Fundação Nacional do Índio (Funai) parece ignorar sua principal missão – a proteção aos povos indígenas – durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Não à toa, após o assassinato do indigenista licenciado Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips os servidores da pasta se rebelaram contra a atual diretoria: a categoria lançou, junto ao Instituto de Estudos Socioeconômicos, um dossiê com mais de 200 páginas, uma espécie de radiografia do atual desmonte da Funai, e iniciou uma greve nacional pela saída de Marcelo Xavier da presidência do órgão. 

O cargo é ocupado pelo delegado da Polícia Federal (PF) desde julho de 2019. No período, o governo inundou a Funai com agentes de segurança: para se ter ideia, segundo o dossiê recém-lançado, mais da metade das coordenações regionais do órgão estava sob controle de militares, policiais militares e federais até maio passado. Alguns deles já falaram em “meter fogo” em povos isolados, cometeram agressões físicas contra indígenas e envolveram-se em acordos de arrendamento de reservas. No fim das contas, o brutal crime ocorrido no Vale do Javari (AM) fez com que alguns indigenistas rompessem a mordaça. A maioria dos entrevistados na ativa da Funai relatou em detalhes à Agência Pública parte da rotina de assédios, intimidações e ameaças de morte que tem sofrido nos últimos quatro anos. “Assim, não precisa nem contratar pistoleiros para nos matar”

 Daniel Cangussu foi o único indigenista do grupo ouvido pela Pública a não pedir anonimato, dada sua notória insatisfação com a presidência de Marcelo Xavier. Ele atua há mais de dez anos na Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Madeira-Purus, uma das regiões mais ameaçadas da Amazônia, onde se especializou na localização e no contato com povos isolados. “Com o desmonte [da Funai], ficamos desmoralizados na ponta… acabamos ‘isolados’ também. Os invasores sabem que não temos porte de arma regulamentado, nem forças de segurança ao nosso dispor. As intimidações são constantes”, afirma o indigenista. Sua rotina de trabalho envolve tanto o planejamento e a realização de expedições em busca de vestígios de indígenas como também a proteção dos isolados contra grileiros, madeireiros e pistoleiros que cercam as terras monitoradas pela Funai. “No fim de 2021, uma pessoa abordou a gente, eu e minha equipe, em nosso trajeto de trabalho, nos alertando do perigo que estávamos enfrentando. Meses depois, descobrimos que aquela mesma pessoa estava armando uma emboscada para nós”, diz.  O servidor conta que a descoberta ocorreu quase que por acaso, vinda de alguém convidado a participar do ataque. “Quando recebemos ameaças, o relato vem primeiro pela boca dos outros. Receber ameaças [de morte] virou algo comum, infelizmente. Dizem que são ossos do ofício, quando não deveria ser”, afirma. Cangussu narra ainda o avanço de invasores em áreas indígenas entre o Amazonas e o Pará durante o governo Bolsonaro. “Por exemplo: na calha do [rio] Madeira, houve um aumento de atividades criminosas, especialmente desmatamento e grilagem. Nas idas a campo, virou comum passarem caminhões cheios de invasores armados, de pistoleiros, circulando nas áreas indígenas – onde é proibido.”

(A reportagem é de Caio de Freitas Paes, publicada por Agência Pública, 11-07-2022.)


 


segunda-feira, 11 de julho de 2022

O ditador Ortega da Nicarágua expulsa ONGs, irmãs de Madre Teresa de Calcutá, Institutos católicos, Tevês católicas, Núncio Apostólico, e Roma silencia!

 Como semanas atrás, também hoje o Telcor, o instituto governamental para o controle e gestão das telecomunicações, notificou, com data de 27 de junho, a decisão de Daniel Ortega à Igreja, em particular à diocese, sem dar explicações. Na verdade, esse fechamento não surpreendeu tanto, já que a Telcor vem aplicando sanções administrativas, arbitrárias e repressivas ao canal da diocese de Matagalpa há três meses. Seu bispo é Mons. Rolando Alvarez, uma pessoa indesejada na ditadura e até poucos dias atrás vítima, durante semanas, de uma verdadeira perseguição orquestrada como um verdadeiro cerco policial, dia e noite. O prelado, que também é responsável pela área de comunicações da Conferência Episcopal, confirmou que o canal continuará por enquanto suas transmissões via web. Mons. Alvarez, como outros bispos, foi ameaçado de morte várias vezes e um de seus coirmãos eméritos, Mons. Abelardo Mata, foi vítima de uma tentativa de homicídio com o método habitual das ditaduras latino-americanas: o falso acidente de carro.

Ortega expulsa da Nicarágua as irmãs de Madre Teresa de Calcutá

A última 'decisão surpresa' do casal ditatorial, Daniel Ortega - Rosario Murillo, marido e mulher, respectivamente presidente e vice-presidente da Nicarágua, é o fechamento de centenas de ONGs e associações territoriais de base, bem como o fechamento das obras de caridade das irmãs de Madre s. Teresa de Calcutá, depois de mais de 40 anos de serviço à caridade, religiosas imensamente amadas pelo povo nicaraguense. A maioria delas será obrigada a deixar gradualmente o país, deixando muitas crianças, idosos e doentes no abandono. Um verdadeiro crime da parte de Ortega. Anteriormente houve dezenas de outras ações repressivas, assassinatos, expulsões, prisões ilegais, torturas e campanhas de ódio e morte, calúnias e mentiras, pois a lógica insensata do casal governante, que usurpou o nome do líder mais importante da nação, Augusto Cesar Sandino (1895-1934), é uma só: terra arrasada em torno de todos aqueles que não aceitam submeter-se ao governo de Ortega e seus paramilitares. Em suma, uma reviravolta dramática da história: o "sandinismo" nascido para acabar com as ditaduras da dinastia Somoza que depois de algumas décadas se torna uma ditadura pior que as dos Somoza. A síntese histórica e humana dessa tragédia é o próprio Daniel Ortega que há vários anos vem perseguindo a Igreja Católica, bispos, padres, catequistas e agora também religiosas, gabando-se - com mentiras – de relações diretas privilegiadas com o Papa, ainda que em março passado tenha mandado expulsar em poucas horas, sem motivo algum, o Núncio de Francisco em Manágua.

O inexplicável silêncio de Roma

O que mais surpreende nesta história, que acompanhamos e documentamos desde o início da crise em 2018, é a passividade e a fraqueza com que a Santa Sé, em particular o Pontífice, se comportou quase para não irritar ou incomodar um ditador feroz e implacável. Nos últimos anos, o Vaticano tem recebido muitos apelos para o diálogo, em busca de soluções consensuais, para a libertação de presos políticos e assim por diante... Mas Ortega nunca ouviu ninguém e sempre mentiu, como bem sabem nos escritórios da Secretaria de Estado. Entre a Sé Apostólica e os bispos da Nicarágua existe há vários anos, ainda que oculto e discreto, um conflito causado pela política vaticana do chamado método discreto, do silêncio estratégico, da amizade que domestica. Esse silêncio do Santo Padre, inexplicável e injustificável, causou e está causando graves dores à comunidade católica da Nicarágua e da América Latina. A Santa Sé deve corrigir alguns erros graves também para evitar que outros governos da região se sintam encorajados a silenciar a voz de centenas de bispos fiéis ao Magistério, ao Concílio e Aparecida. (IHU)


Alunos levam merenda para casa para matar a fome da família. Mesmo sendo ilegal, professores concordam por 'razões humanitárias'.

 Devido à crise sem precedentes, alunos carentes estão levando sigilosamente a merenda servida nas escolas públicas, para familiares que passam fome. Professores esclarecem que a ajuda, apesar de ilegal, é por uma “razão humanitária”.  “A gente faz o que não pode fazer: chama as crianças fora do horário e dá merenda para elas levarem para casa. Às vezes, a própria família vem aqui pedir comida, como uma mãe que me disse: ‘o desespero me fez perder a vergonha — estou com fome’”. Relata a diretora de uma escola pública em São Paulo. A liberação da merenda, está sendo organizada por redes de apoio formada por merendeiras, professores, coordenadores e diretores pedagógicos. Detectando os casos mais críticos de famílias com insegurança alimentar e os meios para ajudá-los, estes profissionais criaram uma força-tarefa do bem. As colaborações também contam com arrecadações, realizadas pelos servidores, que doam alimentos ou dinheiro para estas famílias. “Uma vez, um menino pegou tanta bolacha e guardou [na bolsa], que tivemos de chamá-lo na saída, discretamente. Explicamos que ele podia levar tudo para casa, mas que, quando precisasse, poderia pedir. Ele saiu pulando de alegria. Depois, montamos uma campanha de arrecadação”, conta a diretora. Em casos extremos, a única alimentação do dia é fornecida pela escola. “Minha filha traz a merenda para a gente jantar e almoçar”, disse a mãe de dois alunos, que conta somente com o Auxílio Brasil (R$ 400) para lidar com todas as despesas da casa. Apesar da situação, especialistas reforçam a ilegalidade da prática, pois o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é exclusivo para a nutrição dos estudantes. Portanto, caso descoberto, a Secretaria de Educação pode ser responsabilizada por órgãos de controle, por desvio de recursos públicos. Segundo docentes, a ação humanitária não parará até que todas as famílias consigam manter pelo menos o básico de alimentação, com um amparo maior do governo. (Fonte: IHU)