quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Breve reflexão sobre a Anunciação do arcanjo Gabriel a Miriam (Lc.1,26-38)

Lucineide (nome fittizio) aveva aveva poco piú di 12 anni quando fu violentata dal compagno di sua madre. Con la scoperta della sua gravidanza sono iniziate illazioni e maldicenze. Se era successo era perché, in fondo, lei lo aveva permesso. Ai 13 anni, Lucineide, ‘vittima e complice’, divenne madre contro la sua volontá. Pensiamo per un istante alle migliaia di giovani ‘Marie’ tra i 12 e i 16 anni del Brasile che si scoprono incinte, dopo aver subito, in molti casi, abusi sessuali. Nel 2019, ad ogni 1.000 donne incinte, 60 erano adolescenti tra i 14 e i 18 anni. Pensiamo alle consequenti pressioni psicologiche e moraliste esercitate dalla famiglia o dai supposti padri su queste giovani incinte per non portare a termine la gravidanza. Sono innumerevoli i casi in cui la madre, impreparata per allevare il figlio, si arrende a coloro che gli offrono ‘protezione’. Non sono, purtroppo, i ‘giusti Giuseppe’ che accolgono l’incinta Miriam e che affrontano impavidi le norme morali della religione, ma le bande e le gang del traffico di droghe. Nella maggior parte dei casi queste ragazze-madri e i suoi figli hanno giá un destino marcato: la clandestinitá e la morte violenta prematura. 

Nel brano evangelico proposto per la nostra riflessione, Luca non ci presenta una storiografia con connotazioni mitiche, e neppure descrive teofanie deliranti. L’evangelista ci propone una specie di memoriale del complesso itinerario esistenziale proprio degli umani. Ci mette in sintonia con i conflitti del nostro quotidiano, ma anche con le sue scelte di vita coraggiose. Ci introduce, senza sofismi, nel dramma di milioni di ragazze-madri e di donne anonime, vittime di pregiudizi e di tradizioni patriarcali maschiliste ed escludenti. Ci fa capire, tuttavia, come sia necessario produrre rotture sociali affinché ‘l’esclusione legale’ sia soppiantata dalla compassione, dalla misericordia e dalla difesa intransigente dell´integritá fisica e morale di ogni vita. Con questo modo di procedere, Luca sembra combattere una concezione di storia scritta e interpretata a partire dalla morale dei palazzi governativi e dai centri religiosi ufficiali, per dare visibilità a personaggi e a luoghi apparentemente insignificanti, se non addirittura ‘maledetti’ dalla storia istituzionale. Ci prepara in un crescendo continuo affinché possiamo identificarci con quel ‘Nascituro inatteso e scomodo’, Gesù di Nazaret, e con la sua ‘sospetta’ madre, Miriam. Due ‘intrusi sociali’ che emergono dall’anonimato e dall’invisibilità in cui dovevano rimanere per sempre. 

Luca, al proporci il dialogo tra ‘Gabriele-Forza di Dio’ con la sconosciuta minorenne Miriam, nella ribelle Galilea, nel villaggio di Nazareth dal quale ‘non poteva venir fuori qualcosa di buono’ (Gv 1,46), fa emergere, paradossalmente, le contraddizioni, le angosce, le lotte e le speranze che esistono tuttora nel nostro ‘villaggio-casa comune’. L’inedito, in fin dei conti, non consiste tanto nella ‘concezione miracolosa’ di una nuova vita biologica, ma nel rompimento radicale con un presente ingessato da leggi maschiliste e da norme di purezza che esigono sottomissione al palazzo e al tempio. Tutti i personaggi del brano lucano sono degli autentici trasgressori delle teologie tradizionali e delle pratiche istituzionalizzate. Il proprio angelo ‘annunciatore-mediatore divino’ non si fa vedere nei luoghi santi, come il tempio o le sinagoghe, per esempio, e neppure alle caste sacerdotali. Egli ‘penetra nel profano domestico’ di milioni di cittadini senza-casa e senza-Dio. L’ombra dell’Altissimo, che solo copriva l’arca dell’alleanza, ora copre e protegge i veri tabernacoli, i grembi di migliaia di Marie incinte, violentate, ma generatrici di speranza e di disobbedienza civile e religiosa. 

Nella teologia di Luca non sono piú i maschi i veri generatori di vite e di dinastie, come voleva la tradizione cristalizzata. Essi sembrano infecondi strumenti a servizio di precetti sterili e di pratiche religiose antiquate. Incapaci di produrre frutti di giustizia e di trasformazione storica. Sono, al contrario, le sospette e marginalizzate donne e le minorenni ragazze-madri che ‘non conoscono uomo’, che osano ‘dare il nome’ e definiscono, autonomamente, il progetto di vita per i suoi propri figli. In questo senso la ‘donna e madre’ Miriam emerge come il simbolo universale di tutti quelli uomini e donne di fede, di differenti culture, che inaugurano inedite logiche e pratiche sociali. Sono miriadi di angeli contemporanei in sua maggioranza neri, indigeni, migranti, senza-casa, senza-terra, senza-mandato e senza unzione istituzionale, che insistono ad annunciare il sorgere di una nuova creazione. Sognano una ‘casa comune’ in cui gli Erodi e i Cesari di turno sono deposti dai loro troni. Dove i ricchi coltivatori di soia e di bestiame, i trafficanti di corpi, di minerali e di legname pregiato e della minacciata biodiversitá sono rimandati a mani vuote. Dove i fucili e le pistole di eserciti di mercenari e di polizie private saranno trasformati in aratri, in pozzi artesiani e in sementi non trangeniche. Dove gli oligopoli venditori di fake news e di illusioni saranno smascherati dalle profezie di tanti ribelli senza voce, annunciatori di speranza e veritá!

*Articolo do blogueiro pubblicato sulla revista Comboniana 'Nigrizia'


segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

DEUS É HUMANO! - Por Enzo Bianchi

 A partir daquele dia em que Jesus nasceu, Deus deve ser buscado na vida dos homens e das mulheres, deve ser buscado no nascimento deles, no cotidiano deles, na morte deles. Nós, a fim de não sermos nós mesmos e a fim de não aceitarmos os outros, inventamos lugares para encontrar e reconhecer a Deus, inventamos ações para encontrar e reconhecer a Deus e não acolhemos o mistério da humanização de Deus, esse mistério que só o cristianismo desvela e proclama. É a humanidade, a humanidade de Jesus que nos permite conhecer quem é Deus, e é na humanidade de cada um de nós, na humanidade dos outros, dos homens e das mulheres que devemos ver a ação de Deus, o amor de Deus de que somos constituídos, como fiéis, imitadores. Quando esse menino nasce, ele narra o amor de Deus por nós e nos pede apenas uma coisa: crer no amor. Na sua primeira carta, o apóstolo João proclama: “Nós cremos no amor”, e essa é a verdadeira definição do ser cristão, uma definição, porém, que nos levanta uma pergunta à qual devemos responder na fé, sobretudo nesta noite: nós cremos no amor?

Cada um de nós deve se perguntar: eu creio no amor? Porque o cristianismo – e é preciso dizer isto com força sobretudo neste tempo –, antes de ser o ato de amar aos outros – e o repito –, antes de ser o ato de amar aos outros, pede como condição prévia e absoluta o ato de se crer no amor; porque, se alguém não crê no amor, pode até fazer muitas coisas generosas, grandes gestos e ações, mas, como revela Paulo, seriam apenas gestos de protagonismo, semelhantes a címbalos estridentes.

E atenção: o anjo convidou os pastores para irem a Belém, mas não os convidou para irem ver o Salvador, o libertador, o Deus conosco, e essa página de Lucas tem algo que muitas vezes nos escapa: o anjo os convidou a irem ver um sinal, um sinal, nada mais do que um sinal. Essa é uma fórmula inesperada no Evangelho de Lucas, porque, aliás, isso não faz parte da sua linguagem: mas esse bebê, esse menino envolto em faixas que está em uma manjedoura, uma cena humana, de todas as famílias que davam à luz naquele tempo, é um sinal, é apenas um sinal, apenas um sinal que remete a uma esperança de outro dia, um sinal que remete a uma libertação que será total mais tarde, quando vier definitivamente Aquele que foi designado como Salvador. Aqui também há uma inversão: não se crê primeiro em Deus e, consequentemente, sendo Deus amor, crê-se no amor. Não, primeiro cremos no amor e, na medida em que se crê realmente no amor, somos capazes de crer em Deus, o Deus que é narrado por aquele Jesus, por aquele seu Filho que se fez menino, que se fez simples, frágil, pobre, assim como o ser humano é no seu nascimento. 

domingo, 12 de dezembro de 2021

O Papa, na festa de N. S. de Guadalupe: “Filho e irmão latino-americano, sem medo, canta e caminha como fez tua Mãe”

'Na escola de Maria, aprendemos a estar em caminho para chegar aonde devemos estar: aos pés e de pé diante das muitas vidas que perderam, ou às quais roubaram a esperança”, disse Francisco. 

"Na escola de Maria, aprendemos a caminhar pelo bairro e pela cidade não com os sapatos de soluções mágicas, respostas instantâneas e efeitos imediatos; não com promessas fantásticas de um pseudo-progresso que, pouco a pouco, a única coisa que consegue é usurpar as identidades culturais e familiares, e esvaziar daquele tecido vital que sustentou nossos povos, e isso com a intenção pretensiosa de estabelecer um pensamento único e uniforme”. 

Na escola de Maria aprendemos a caminhar pela cidade e nutrimos o coração com a riqueza multicultural que habita o continente; quando somos capazes de ouvir esse coração escondido que palpita cuidando, como um pequeno fogo aceso sob as cinzas, o sentido de Deus e da sua transcendência, a sacralidade da vida, o respeito pela criação, os laços de solidariedade, a alegria de viver, a capacidade de ser feliz sem condições". Maria, continuou o Papa, tem cantado em seu caminho, "suscita o canto dando voz a tantos que de uma forma ou de outra sentem que não conseguem cantar", tanto que "ensinou ao Verbo a balbuciar suas primeiras palavras.

" Na escola de Maria, prosseguiu Jorge Mario Bergoglio, "aprendemos que sua vida está marcada não pelo protagonismo, mas pela capacidade de fazer com que os outros sejam protagonistas. Brinda a coragem, ensina a falar e, sobretudo, anima a viver a audácia da fé e da esperança." Com Juan Diego, que viu a Virgem de Guadalupe, e "com tantos outros que, tirando do anonimato, lhes deu voz, fez conhecer seu rosto e história e os fez protagonistas desta, nossa história de salvação.”

"O Senhor - disse o Papa - não busca o aplauso egoísta ou a admiração mundana. Sua glória está em fazer seus filhos protagonistas da criação. Com coração de mãe, ela busca levantar e dignificar todos aqueles que, por diferentes razões e circunstâncias, foram deixados no abandono e no esquecimento”. 

Na escola de Maria, “aprendemos o protagonismo que não precisa humilhar, maltratar, desprestigiar ou zombar dos outros para se sentir valioso ou importante; que não recorre à violência física ou psicológica para se sentir seguro ou protegido”. “É o protagonismo que não tem medo da ternura e da carícia, e que sabe que seu melhor rosto é o serviço.

Em sua escola, aprendemos o autêntico protagonismo, dignificar todo aquele que está caído e fazê-lo com a força onipotente do amor divino, que é a força irresistível de sua promessa de misericórdia”. Em Maria, o Senhor nega a tentação de dar destaque à força da intimidação e poder, ao grito da selva ou para afirmar-se com mentiras e ou manipulação. 

Povos indígenas - Toneladas de ouro são extraídas clandestinamente de terras indígenas por empresas criminosas

Toneladas de ouro retiradas do subsolo da terra indígena Kaiapó, no sul do Pará, movimentaram, por anos, uma complexa organização criminosa que dominava toda a cadeia do negócio ilegal, desde a abertura e exploração dos garimpos, até os esquemas de lavagem do dinheiro e a venda do produto no Brasil e no exterior, revela o Estadão em reportagem publicada neste domingo (12). A rede envolvia dezenas de empresas ligadas ao comércio de metais, cooperativas de ouro, dezenas de funcionários fantasmas e empresas sem qualquer relação com o setor, como uma barbearia da cidade de Limeira, no interior de São Paulo, que lavou mais de R$ 12 milhões do garimpo ilegal em apenas 11 meses.

Uma operação da Polícia Federal deflagrada em 27 de outubro cumpriu 62 mandados de busca e apreensão, além de 12 mandados de prisão preventiva em dez unidades da federação: Pará, Amazonas, Goiás, Roraima, São Paulo, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia e Distrito Federal. A Justiça Federal determinou o bloqueio e indisponibilidade de valores que chegam a R$ 500 milhões em contas dos investigados. Cinco aeronaves foram apreendidas. A atividade econômica de 12 empresas foi suspensa e houve bloqueio de imóveis de 47 pessoas físicas e jurídicas.


sábado, 11 de dezembro de 2021

III advento - Nem templo, nem rezas, nem preceitos, mas mudança urgente e radical das relações sociopolíticas e econômicas para salvar a nação! - Lc 3,10-18

Um cenário impressionante se impõe à nossa imaginação...Um deserto imenso feito de areia, pedregulhos, rochedos e sol intenso a fustigar uma multidão de pessoas provenientes das aldeias e cidadezinhas próximas e de Jerusalém. Uma multidão que se desloca dos centros urbanos para ouvir no deserto a ‘voz profética que grita' por mudança e castigo. Era mera curiosidade ou forte sentimento interior para iniciar uma nova etapa da própria vida? Um reconhecimento que a voz de João era inspirada e inspiradora ou era somente o medo das iras divinas para quem não conseguisse produzir ‘ frutos de justiça’? Seja o que for João não corre atrás do povo da cidade. Espera-o à beira-rio e tem exigências para todas as categorias e classes sociais. Já vemos aqui a grande diferença entre ele e o profeta Jesus: a profecia de João é estática e intransigente. Não parece deixar margem à salvação, pois ele desconfia da mudança de quem vive nas corruptas cidades; e a profecia de Jesus que se dá em permanentes andanças, visitas intensas de Norte a Sul, sempre à procura da ‘ovelha ferida e excluída’. Há, contudo, um ponto em comum e que foi crucial para a mudança de mentalidade do próprio cidadão e crente Jesus de Nazaré: não era num templo e nem na obediência às normas e aos preceitos litúrgicos tradicionais que poderia haver uma mudança radical da nação Israel, e sim, na transformação urgente e radical das relações sociopolíticas  e econômicas. 

Batizam-se somente aqueles que se comprometem a acabar com a desigualdade, com a corrupção e a violência, e a extorsão institucional. Dar comida e abrigo a quem não tem, não cobrar além do permitido, e não praticar abuso de poder tornam-se para João e para Jesus o cartão de visita de ambos! E sobre essas exigências os dois jamais abririam mão. Muda, todavia, a metodologia e a perspectiva. Jesus acredita firmemente que mesmo não havendo, agora, a mudança esperada, Deus concederia sempre uma nova e permanente chance (graça) por ainda acreditar na bondade do ser humano e, sobretudo, na ‘compaixão e na misericórdia do Pai’. Já, João, desconfia desse povo que promete e não cumpre, que louva com os lábios, mas o seu coração está longe de Deus, e não vê outra opção para Deus a não ser a de enviar o fogo abrasador! A autodestruição que a humanidade vem praticando hoje em dia parece dar razão, nesse momento, ao veterotestamentário João. Queremos continuar a seguir teimando na convicção de Jesus de Nazaré de que antes ou depois os filhos do Todomisericordioso saberão produzir frutos inéditos de justiça e de paz sem fim....


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Amazônia acumula 73 mil focos de incêndio em 2021, segundo dados do INPE

 Apenas uma semana após o presidente Jair Bolsonaro ironizar – novamente – as queimadas na Amazônia, o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) atualizou os dados em sua plataforma online indicando que, somente em 2021, o bioma acumula 73.494 focos de incêndio. No dia 23 de novembro, em conversa com apoiadores, Bolsonaro minimizou as notificações de focos de queimadas ao dizer que “quando acende uma fogueira de São João na Amazônia”, afirmam que a floresta “está pegando fogo”. Dois dias depois, em entrevista a uma emissora de TV, novamente Bolsonaro disse que “floresta úmida não pega fogo” e que grande parte dos focos “é o ribeirinho, o índio, o caboclo, que tacam fogo lá”. Segundo dados do INPE, atualizados na Plataforma do Programa Queimadas na noite de terça-feira (30/11), somente em novembro foram registrados 5.779 focos na Amazônia. O número, reflexo da chegada da estação chuvosa na maioria do país, representou uma queda de 50% em relação ao mês anterior.  


Uma Igreja com portas e janelas abertas. Um diálogo “sinodal” com Andrea Grillo

 O tema do Sínodo se centra na questão, urgente, de uma reflexão sobre o poder e suas dinâmicas.

Essa é uma das ideias mais claras que se manifestam na atualidade eclesial e no debate cultural para além da Igreja, naquela que podemos chamar de cultura comum. Em primeiro lugar, devemos reagir a uma espécie de instinto de autodefesa típico da Igreja. Acontece que quando a Igreja ouve falar de poder, costuma dizer “não me diz respeito, porque não atuo naquela seara; atuo naquela do serviço ...”. Falso: o exercício da verdadeira autoridade, da autoridade do evangelho, da autoridade do serviço, precisa exercer poder. Talvez para perdê-lo, mas tem que exercê-lo. Ora, no exercício do poder existe toda uma série de mediações que são comuns, não específicas apenas da Igreja. Consequentemente, uma reflexão sobre essas mediações é importante.

A primeira mediação em que o poder é exercido é a linguagem. Falamos uma linguagem velha, que era jovem quando foi formulada. Era moderna, avançada, ousada na época de São Tomás, do Concílio de Trento, dos concílios oitocentistas. Hoje, porém, repetimos fórmulas desgastadas. Em vez disso, acredito que não devemos ter medo. Sobre isso, o Papa Francisco é muito franco e pede para usar a imaginação, a inquietação e a incompletude. Não é por acaso que ele utiliza essas três palavras, palavras surpreendentes. E é paradoxal que as diga um Papa e não as digam os teólogos, os pastores e os leigos. Devemos dizer as coisas de sempre com palavras novas. É a grande intuição de João XXIII, que abre o Concílio Vaticano II afirmando que ele tem um caráter pastoral. Porque - afirmou então o Papa João -, uma coisa é a substância da antiga doutrina do depositum fidei, e outra coisa é a formulação de seu revestimento. Devemos formular o revestimento da substância da antiga tradição de uma forma nova, surpreendente, atraente e apaixonante. Portanto, o poder devemos exercê-lo usando a linguagem de uma nova maneira.

E depois?

Em segundo lugar, acredito que precisamos sair da autorreferencialidade, que normalmente é uma consequência de linguagens velhas. As linguagens ficam velhas quando já não falam mais do outro, apenas de si mesmos. Na Igreja, esta é desde sempre uma das tentações. Uma Igreja que já não consegue mais não apenas “sair”. Bergoglio usou essa imagem antes mesmo de se tornar Papa, em seu discurso ao colégio cardinalício. Não a Igreja em saída, mas Jesus em saída: devemos permitir que Cristo saia dos muros que construímos ao seu redor. .É uma belíssima imagem: um Cristo em saída precisa de uma Igreja com portas e janelas abertas, que permita que ele saia e as vidas humanas entrem.

O terceiro nível é estritamente institucional. Usamos o direito canônico - concebido em 1917 e parcialmente revisado em 1983 - como se fosse a Bíblia. Vamos parar de reduzir tudo a questões canônicas. O direito canônico é uma função essencial, mas não está nem no início nem no fim. Está no meio, no início e no fim existem outras coisas. Uma Igreja que sempre tem o direito canônico no início e no fim é uma Igreja que fala uma linguagem autorreferencial e que não se comunica com a realidade.


 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Informais e subocupados, no Brasil, respondem por oito entre cada 10 novos empregos, por Lauro Veiga Filho

 Os dados da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram uma deterioração constante e crescente do mercado de trabalho. O total de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas atingiu sua marca mais elevada em toda a série da pesquisa no terceiro trimestre deste ano, num recorde de 7,771 milhões de trabalhadores (ou 8,4% do total de ocupados, frente a 7,5% no mesmo trimestre do ano passado). O número cresceu praticamente 23,9% em quatro trimestres (1,498 milhão de trabalhadores a mais do que no terceiro trimestre do ano passado, quando os subocupados somavam 6,273 milhões). Além disso, o total de informais aproximou-se de 39,965 milhões no trimestre encerrado em setembro último (incluindo trabalhadores sem carteira no setor público, categoria não considerada pelo IBGE ao estimar os números da informalidade no mercado de trabalho). No terceiro trimestre de 2020, a pesquisa contava 33,942 milhões de informais. Comparando os dois períodos, registrou-se um aumento de 17,7%, com 6,023 milhões de informais a mais – o que representou dois terços de todos os empregos criados no período.

Juntos, informais e subocupados passaram de 40,215 milhões no terceiro trimestre do ano passado em todo o País para 47,736 milhões na aferição mais recente, numa elevação de 18,7%, correspondendo a um incremento absoluto de 7,512 milhões. Isso significa dizer que praticamente 78,9% de todos os empregos abertos no período foram ocupados por informais ou subocupados. Mais da metade dos ocupados, portanto, algo como 51,3% passaram a ser informais ou subocupados. O dado explica, na média do País, porque o rendimento real (descontada a inflação) atingiu seu mais baixo valor na série histórica do IBGE, iniciada em 2012, caindo 11,1% entre o terceiro trimestre de 2020 e o mesmo trimestre deste ano, saindo de R$ 2.766 para R$ 2.459.

A taxa de desemprego no País baixou de 14,9% no terceiro trimestre do ano passado para 12,6% no mesmo período deste ano. O número de desocupados caiu de fato 7,8% no País, de 14,958 milhões para 13,453 milhões. Esses números mostram melhoria, sim, mas porque aumentou o número de pessoas que passaram a realizar trabalhos de baixa remuneração, em geral temporários, sem férias, 13º salário e outros direitos. Mesmo diante da queda no desemprego e do crescimento do emprego, a massa de renda dos trabalhadores continuou estagnada, numa clara demonstração da deterioração em cena no mercado de trabalho, com a geração de ocupações de baixa qualificação, salários achatados e literalmente direito algum.

Lauro Veiga Filho – Jornalista, foi secretário de redação do Diário Comércio & Indústria, editor de economia da Visão, repórter da Folha de S.Paulo em Brasília, chefiou o escritório da Gazeta Mercantil em Goiânia e colabora com o jornal Valor Econômico.

MPT flagra trabalhadores da VALE em situação de risco em barragens no Pará. Por Cida de Oliveira, da RBA

São Paulo – Uma inspeção do Ministério Público do Trabalho flagrou trabalhadores com a vida em situação de risco em barragens da mineradora Vale no Pará. Eles trabalhavam em obras, armazéns e almoxarifados localizados na chamada Zona de Autossalvamento (ZAS). O termo diz respeito à área que compreende até 10 quilômetros ou 30 minutos do ponto de rompimento de uma barragem. Portanto, é área de grande perigo: não há tempo para nenhum órgão público fazer intervenção para salvar a vida de quem ali estiver. “É a área à jusante da barragem, que é varrida pela onda de água e rejeitos em caso de rompimento. E nenhum trabalhador estava em atividade estritamente vinculadas à manutenção da barragem, como pede a lei”, disse à RBA o procurador do Trabalho Leomar Daroncho, que participou da inspeção nas barragens de Pera Jusante, em Parauapebas, e de Mirim, do Projeto Salobo, em Marabá, no sul do Pará, entre os dias 23 e 25. Para o MPT, o contingente de trabalhadores que pode ficar à jusante da barragem deve ser o mínimo possível, restrito à lei. E mesmo assim, é preciso tomar medidas de cautela em relação a esses trabalhadores, com treinamento constante, capacitação e orientação sobre rotas de fuga.“É uma situação de alto risco, como já demonstrado em situações infelizmente reais. Não é possível manter trabalhadores em canteiros de obras, usina de concreto, almoxarifado, instalações que não são vinculadas à manutenção, como previstas na lei. Devem ser evitadas todas, não como um problema para a mineradora, mas como precaução da mineradora para que ela nao venha ter problema”, disse o procurador. Além da questão ambiental, humana e social, destacou, é a própria imagem da mineradora, com inserção nos negócios internacionais, que está em jogo. “Por isso que se precavenha quanto a possíveis danos de um decorrente rompimento, e nao fique com uma postura excessivamente segura, como se tudo estivesse bem. Mas não está.”


Com MORO na presidência haverá recrudescimento do Estado de exceção! Por Luís Nassif

 As grandes transformações ocorrem após grandes tragédias. Foi assim no pós-Segunda Guerra, que fez o mundo acordar da financeirização selvagem do período anterior e propor pactos globais que trouxeram um suspiro de civilização ao Ocidente. No Brasil, imaginava-se que a tragédia Bolsonaro tivesse sido uma lição para uma elite institucional provinciana, atrasada que nos últimos dez anos destruiu todos os resquícios de democracia e de direitos sociais. O apagão administrativo, os negócios com vacinas, provocando a morte de centenas de milhares de pessoas, os riscos que a democracia correu, não soçobrando exclusivamente devido aos terraplanistas que cercam Bolsonaro – e que contribuíram para sua desmoralização – nada disso adiantou. O país tem uma elite historicamente autoritária. E, nos preparativos para as próximas eleições, ela terá papel na definição da terceira via. Daqui para frente, há algumas tendências começando a ganhar corpo:1. Um esvaziamento lento de Jair Bolsonaro, com a direita migrando para Sérgio Moro. É um processo inicial, mas que poderá ganhar uma dinâmica maior, com a queda de popularidade de Bolsonaro.2. O esvaziamento das candidaturas de Ciro Gomes e João Dória Jr e dos demais candidato da terceira via. É mais uma eleição em que Ciro se auto-destrói pela absoluto paradoxo de dispor dos melhores diagnósticos para o país, e das piores estratégias políticas. Quis o cetro de anti-Lula, sem sequer avaliar de quem seria o trono, quando Moro entrasse no jogo.3. O arco de apoio a Moro está sendo montado com o Partido Militar, mercado e grupos empresariais. Provavelmente seu porta-estandarte será o ex-procurador Deltan Dallagnol, mais articulado e desinibido que Moro. 

De um lado, haverá a mediocridade explícita de Moro. De outro, a falta de alternativas para a terceira via. Finalmente, a falta absoluta de visão política prospectiva da parte da mídia. Uma eventual vitória de Moro significaria o golpe final na democracia. Ao contrário de Bolsonaro, Moro tem relações umbilicais com o Partido Militar. Bolsonaro era aceito de forma algo envergonhada pelos militares, ao preço de abrir 8 mil cargos no governo. Já Moro é apoiado desde a Lava Jato. Os modos discreto, a perversidade fria de Moro é mais adequada aos protocolos militares do que o histrionismo de Bolsonaro. Moro foi o Ministro que perseguiu adversários recorrendo à Lei de Segurança Nacional; que tentou criar uma versão falsa da Vazajato para prender e expulsar do país o jornalista Glenn Greenwald. É o Ministro que colocou a Polícia Federal para intimidar um simples porteiro de condomínio que depôs sobre Bolsonaro no episódio da reunião prévia dos assassinos de Marielle Franco, no condomínio onde mora o presidente. É o Ministro que organizou a Operação Garantia de Lei e Ordem no Ceará e estimulou o motim da Polícia Militar, episódio só contido pela coragem imprudente do senador Cid Gomes. om Moro no poder, haveria a volta do aparelhamento da Polícia Federal pelos delegados da Lava Jato; um retorno dos abusos do Ministério Público Federal; a intimidação dos críticos com uso ampliado do poder de Estado, com funcionários cooptamos do COAF, da Receita e a militância política extremada do Judiciário.


domingo, 31 de outubro de 2021

31º Domingo Comum - Amar o não amado é a melhor demonstração de amor a Deus!

Pode ser fácil ‘amar’ um Deus que não se vê. Um ser anônimo que não incomoda, que não intervém fisicamente, apesar de que muitos lhe atribuem graças e, também, muitas desgraças. Difícil, contudo, é amar o ‘próximo’. Seres bem visíveis e presentes, que incomodam, questionam, criticam e ameaçam. Complicado também é dar sentido à palavra-conceito-relação... ‘amar’. Quais seriam, afinal, os gestos, as ações, e as posturas humanas que manifestam amor a alguém? Se é verdade que isso pode depender de cada cultura e contexto histórico é bem verdade que os humanos, estejam onde estiverem, demonstram afeto, carinho, bem querer, amor preservando sempre a pessoa amada. Ou seja, defendendo e protegendo a sua integridade física e moral. 

O evangelho de hoje mostra mais uma vez o distanciamento moral e hermenêutico entre Jesus e um escriba, representante da religião formal sobre esse assunto. Jesus deixa claro que não existe amor a Deus desvinculado do amor ao próximo. Isso, talvez, para fazer ‘um pouco de média’ com o escriba. Na realidade o pensamento de Jesus a esse respeito é claro: ‘este é o mandamento que eu vos dou,: amai-vos uns os outros‘! Para Jesus amar as pessoas é a melhor demonstração de amor para com Deus! Mais que isso. Para Jesus amar o próximo vai muito além do dever moral de ‘amar quem está perto’, os familiares,, os membros da mesma pátria e comunidade, como a tradição pedia. É amar os ‘inimigos’, os rivais, os que não pertencem ao mesmo grupo e cultura! Amar essas pessoas, no entanto, não significa ignorar as suas eventuais ofensas e ameaças, ou os seus maus tratos. Amá-las significará lutar com todas as próprias forças, com todo o seu coração e com toda a sua mente para que as 'pessoas amadas' deixem, definitivamente, de alimentar ódio e violência, humilhação e intolerância. É amando desse modo que as pessoas se educam a reproduzir amor e não utilizando ameaça e violência, e nem vingança e indiferença!


sábado, 9 de outubro de 2021

Brasil é o 4º emissor histórico de CO2

 Segundo o estudo, o país teria emitido 112,9 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2). Mais de 85% desse volume está associado à derrubada de florestas (96,9 GtCO2).

Um levantamento do Carbon Brief calculou o volume de emissões de dióxido de carbono por diversos países entre 1850 e 2020 e descobriu que o Brasil foi o quarto maior emissor do planeta nos últimos 170 anos. A conta inclui o carbono liberado por atividades como desmatamento, mudança de uso da terra e produção de cimento, além das emissões associadas à queima de combustíveis fósseis. Nos dias atuais, o Brasil já é considerado o sexto maior emissor global de gases de efeito estufa. Por não ter se industrializado nos mesmos níveis e na mesma época dos países mais ricos, os holofotes sobre as emissões históricas sempre negligenciaram as peculiaridades da poluição brasileira, muito mais ligada à mudança de uso do solo do que à energia fóssil. Segundo o estudo, o país teria emitido 112,9 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2). Mais de 85% desse volume está associado à derrubada de florestas (96,9 GtCO2).Dos 20 países que mais emitiram carbono no período, o Brasil é quem lidera a lista na categoria desmatamento e mudança de uso da terra, seguido de perto pelos EUA (89,1 GtCO2) e Indonésia (87,9 GtCO2). Em termos gerais, os EUA lideram o pelotão de países com mais emissões históricas, liberando mais de 509 GtCO2 desde 1850, o equivalente a 20,3% do total do planeta. Logo atrás, vem a China, com 284,4 GtCO2 (11,4%), e a Rússia, com 172,5 GtCO2 (6,9%). O Brasil, 4º lugar nessa lista, representou 4,5% de todas as emissões de carbono do período em todo o mundo. (IHU)


28º domingo Comum - Para os 'possuídos' pela ganância é impossível entrar na dinâmica do Reino que é solidariedade e partilha! Mc. 10, 17-30



O ricaço avarento e ambicioso nunca poderá entrar ‘na lógica do Reino’ anunciado e testemunhado por Jesus. Por uma razão simples: é um possuído que perdeu a liberdade. Torna-se incapaz de discernir o que é central na vida e o que é periférico. As expressões ‘correr e se jogar aos pés de Jesus’ refletem atitudes próprias de um endemoninhado, de um possuído. 

O evangelista, desde o início, deixa claro que esse homem sem nome e sem identidade, representa todas aquelas pessoas que são incapazes de colocar o pouco ou o muito que possuem a serviço de quem precisa. É um falido, um infeliz. Para obter a vida eterna não adianta a argumentação que obedeceu aos mandamentos. Jesus deixa claro, inclusive, que os mandamentos que interessam para a construção do Reino são os que fazem referência às pessoas, e não tanto a Deus: ou seja, honrar pai e mãe, não matar, não adulterar, não enganar, não fraudar, não ambicionar coisas e nem pessoas.... Tudo isso, contudo, é insuficiente. A prova de fogo para compreender e entrar definitivamente na dinâmica do Reino pregado por Jesus é ‘ Vá, vende o que tem, dá aos pobres, e depois vem e segui-me’. Só uma pessoa livre pode fazer isso. Para quem é ‘possuídos e dominado’ pela sede de riquezas é impossível seguir esse conselho de Jesus. Não interessa, tampouco, o tamanho da riqueza. O que conta é a nossa relação com ela. Uma ‘pessoa de posse’ que é generosa, honesta e solidária ainda tem chance de ser discípula do Reino. O mesmo não ocorre com o ‘rico ambicioso e tacanho’ que permanece um possuído, escravo e dominado pelas suas próprias riquezas. São elas ditam o seu agir! Nada mais atual do que essa narração, justamente nos dias em que saiu a lista dos ‘ricaços’ do Brasil que possuem milhões em Offshore nos paraísos fiscais. A ilusão da segurança econômica, não se transforma em felicidade e realização humana, principalmente quando ela é construída sobre a fome e o desemprego das pessoas que eles, supostamente, governam! 


terça-feira, 5 de outubro de 2021

“O Facebook está dilacerando nossas sociedades”, diz ex-funcionária

Uma ex-funcionária do Facebook se identificou como a responsável pelo vazamento de informações internas do gigante das mídias sociais sobre efeitos nocivos que plataformas da empresa podem exercer sobre usuários adolescentes.Frances Haugen, de 37 anos, revelou neste domingo (03/10) em entrevista à emissora americana CBS ter sido ela a responsável pelo repasse ao Wall Street Journal de dados de pesquisas realizadas pelo próprio Facebook sobre influências de serviços do grupo à saúde mental de adolescentes e que colocaram recentemente o Facebook sob intensa pressão política nos EUA.A ex-gerente de produto do grupo acusou seu ex-empregador de colocar sistematicamente o lucro acima da segurança de seus usuários. "O Facebook paga seus lucros com nossa segurança", disse Haugen.

 O Wall Street Journal relatou que o Facebook, através de suas próprias investigações, havia chegado à conclusão de que especialmente sua plataforma social Instagram pode ser prejudicial à saúde mental de adolescentes. Haugen – que deixou o Facebook em maio, após cerca de dois anos na empresa – ressaltou que o algoritmo que determina qual conteúdo é exibido para os usuários é projetado para evocar uma reação. E pesquisas realizadas pela própria empresa mostraram que "é mais fácil inspirar as pessoas a terem raiva do que para outras emoções", disse Haugen."Quando vivemos num ambiente de informações que é repleto de conteúdo de ódio e polarizador, isso faz erodir nossa confiança cívica, a fé que temos uns nos outros, a habilidade que temos de querer nos importar uns com os outros", disse.

Ela disse que durante a eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos, a empresa percebeu o perigo que tal conteúdo representava e ativou sistemas de segurança para reduzi-lo. "Mas assim que as eleições terminaram, eles voltam atrás ou mudam as configurações de volta para o que era antes, para priorizar o crescimento em vez da segurança, e isso realmente parece uma traição à democracia para mim", ressaltou."Havia conflitos de interesse entre o que era bom para o público e o que era bom para o Facebook", disse Haugen no programa 60 Minutes, da emissora CBS.A série de reportagens publicadas pelo Wall Street Journal nas últimas semanas revelou, entre outras coisas, que uma pesquisa do Facebook sobre a influência do Instagram constatou que a plataforma social pode reforçar, entre adolescentes, a insatisfação com a imagem do próprio corpo, especialmente entre meninas, podendo levar a transtornos alimentares e depressão.(Fonte: Deustche Welle)


sábado, 25 de setembro de 2021

26º domingo comum - Jogar ao mar os escandalosos seguidores de Jesus que continuam a apostar na prepotência e na arrogância ( Mc 9,38-43.45.47-48)

 Prepotência, arrogância e complexo de exclusividade estão entranhadas na alma humana. Inclusive na dos que se autoproclamam piedosos e devotos de Jesus. Os seguidores próximos de Jesus se irritam e se tornam intolerantes para com aqueles ‘estranhos’ que fazem coisas inéditas. Que realizam expulsões de espíritos maus e operam libertações que o ‘time de Jesus’ não consegue fazer! ‘Não fazem, e nem deixam fazer’! Eles pretendem possuir o monopólio da libertação e da cura! Proíbem e censuram todos aqueles que fazem o bem, mas que não pertencem ao grupo seleto de Jesus, e nem seguem o que o grupo deseja! 

Diferentemente dos seus seguidores exclusivistas, Jesus afirma em alto e bom som que todos os que fazem o bem e libertam o homem de toda força negativa e de toda dependência são parceiros dele! Por isso que todos aqueles que oferecem um copo de água aos seguidores de Jesus, seja ele quem for, será eternamente lembrado. Entretanto, todo aquele seguidor de Jesus que for motivo de tropeço (escândalo) para ‘esses pequenos e humildes que creem’ é preferível que que seja jogado ao mar com uma pedra bem pesada de modo que, afogando no mar, não volte a boiar, e assim possa ser enterrado. Palavras duríssimas de Jesus que parecem entrar em contradição com suas atitudes sempre misericordiosas e compassivas. E continua.... Se alguém dos discípulos, - pois é a eles que se refere Jesus, - com o seu modo de julgar (olho), de se comportar (pé), de agir (mão) for motivo de tropeço é melhor que seja radical e corte na raiz a causa do seu escândalo. O escândalo, no fundo, é quando o seguidor de Jesus continua a ser ambicioso e prepotente, ao passo que deveria ser um exemplo verdadeiro de serviço e compaixão! Não há como um discípulo de Jesus achar que pode construir o ‘novo Reino’ e manter, ao mesmo tempo, atitudes de arrogância, de intolerância e de exclusividade. Chegou a hora para a igreja de Jesus começar a se aliar com todos aqueles homens e mulheres que, mesmo não fazendo parte de seus quadros, se empenham e lutam para construir uma nova humanidade. Mas, também, chegou a hora de ‘jogar ao mar’ todos aqueles falsos seguidores de Jesus e igrejeiros que continuam apostando e investindo na prepotência e na vontade de dominação!


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Garimpo causa má formação e desnutrição em crianças Yanomami, denunciam lideranças indígenas

 O futuro dos Yanomami está ameaçado. Crianças estão nascendo com má formação por consequência do garimpo ilegal. Algumas mães são obrigadas a enterrar as que não sobrevivem. Outras têm de lidar com a interrupção da gestação. Os filhos sobreviventes correm o risco de sofrer com a desnutrição. A água dos rios está suja de mercúrio, contaminando os peixes e as caças. Amamentar se tornou um perigo. E doenças que poderiam ser facilmente tratadas, como malária, diarreia e pneumonia, já mataram dezenas de crianças entre 2020 e 2021 em comunidades da etnia, denunciou o II Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana.

Não é de hoje que o garimpo de extração ilegal de ouro traz graves consequências para os povos indígenas do Brasil. O que o II Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana alertou é mais preocupante: o futuro dos povos que vivem neste território está ameaçado. “O mercúrio está contaminando os rios e nossas famílias, na comunidade Palimiu, na Terra Indígena (TI) Yanomami em Roraima, já nasceram crianças com má formação. Nossos parentes estão morrendo de doenças simples, de fácil tratamento, porque não têm atenção de saúde básica. Se não fossem os remédios tradicionais e os xapiri (médicos das florestas), mais gente ia morrer”, alertou o documento elaborado pelas lideranças dos povos Yanomami e Ye’kwana. “Eu só quero que olhem para a gente como ser humano, como mulheres que não merecem todo dia estar enterrando seus filhos”, afirmou Neila Paliwithele, 59 anos, moradora de Palimiu. Desde o início de maio deste ano, a comunidade sofre violentos ataques de garimpeiros. Entre as doenças que afetam as crianças, as mais recorrentes são malária, diarreia e pneumonia. Neila disse que na maioria das vezes as equipes médicas só chegam nas comunidades quando não há mais nada o que fazer. As crianças já estão mortas. Isso quando chegam. “Só chegam para querer enterrar nossas crianças. Mas nós não precisamos de ninguém para enterrar nossos mortos. Isso nós mesmos fazemos conforme nossa cultura, que nem isso é respeitada”.

'A ditadura do consumismo, ditadura leve mas sufocante': o desafio para a fé, segundo o Papa Francisco aos bispos da Europa

 "Muitos são levados a sentir apenas necessidades materiais, não a falta de Deus. E nós certamente nos preocupamos com isso, mas quanto realmente nos ocupamos disso? É fácil julgar quem não crê, é cômodo elencar os motivos da secularização, do relativismo e de tantos outros “ismos”, mas no fundo é estéril", afirma o Papa Francisco na homilia da concelebração eucarística com os participantes da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), nessa quinta-feira, 23, na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Segundo o papa, "a Palavra de Deus nos leva a refletir sobre nós mesmos: sentimos afeto e compaixão por quem não teve a alegria de encontrar Jesus ou a perdeu? Estamos tranquilos porque, no fundo, não nos falta nada para viver ou estamos inquietos ao ver tantos irmãos e irmãs distantes da alegria de Jesus?" "Encorajemo-nos, sem nunca ceder ao desânimo e à resignação - anima o Papa - : somos chamados pelo Senhor a uma obra esplêndida, a trabalhar para que a sua casa seja cada vez mais acolhedora, para que cada um possa nela entrar e habitar, para que a Igreja tenha as portas abertas para todos e ninguém tenha a tentação de se concentrar apenas em olhar e mudar as fechaduras. As pequenas coisas requintadas... E nós somos tentados. Não, a mudança vai para outro lado, vem das raízes. A reconstrução vai para outro lado".

O Papa concluiu dizendo:" Muitos na Europa pensam que a fé é algo de já visto, que pertence ao passado. Por quê? Porque não viram Jesus em ação nas suas vidas. E, muitas vezes, não o viram porque nós, com as nossas vidas, não o mostramos o suficiente. Porque Deus se vê nos rostos e nos gestos de homens e mulheres transformados pela sua presença. E se os cristãos, em vez de irradiarem a alegria contagiante do Evangelho, voltam a propor esquemas religiosos desgastados, intelectualistas e moralistas, as pessoas não veem o Bom Pastor. Não reconhecem Aquele que, apaixonado por cada uma das suas ovelhas, a chama pelo nome e a procura para colocá-la sobre os ombros. Não veem Aquele cuja incrível Paixão pregamos, precisamente porque Ele tem uma única paixão: o ser humano. Esse amor divino, misericordioso e avassalador é a novidade perene do Evangelho. 

No Rio Grande do Sul 45% da população perdeu metade da renda com a pandemia

Os dados revelados pela pesquisa encomendada pela Assembleia Legislativa, de que 45% dos gaúchos perderam metade da renda na pandemia, já eram esperados, segundo o economista Fernando Ferrari Filho. De acordo com ele, a situação da população gaúcha não é muito diferente da do restante do país. "Com a pandemia, que afetou não somente a demanda, mas, principalmente, a oferta devido ao lockdown, era esperada uma queda substancial da renda da sociedade gaúcha, seja porque a taxa de desemprego aumentou (atualmente ela se encontra acima dos 14,0%, em nível nacional, e próxima a 9,0% no Rio Grande do Sul), seja porque o endividamento das famílias e das firmas cresceu expressivamente". Nesse sentido, reitera, "o crescimento da desigualdade tanto da renda, quanto da riqueza dos gaúchos, ao longo da pandemia, era outro aspecto esperado. Ao mesmo tempo a economia gaúcha também é muito dependente do setor do agronegócio que, por sua vez, depende dos preços das commodities internacionais e da demanda externa". Além disso, acrescenta, "tanto alguns períodos de estiagem, quanto a combalida situação fiscal do governo estadual, acabaram contribuindo para a queda da renda da sociedade gaúcha".  

Neste cenário de crescimento das desigualdades, do desemprego e da perda de renda, sublinha, “não se pode prescindir de gastos governamentais para mitigar o impacto da pandemia na economia”. “Tanto em nível federal, quanto no Rio Grande do Sul, a necessidade de se implementar uma agenda econômica que não seja pautada pela lógica da 'austeridade fiscal expansionista' é fundamental para a reversão da crise econômica. (...) Renda mínima universal, sem dúvida alguma, é o meio para não somente proteger a população excluída socialmente, mas para gerar um efeito multiplicador de renda na maioria dos municípios brasileiros.” O economista também comenta a situação fiscal do Estado do Rio Grande do Sul e as perspectivas para o próximo ano. "Ajuste fiscal é importante, mas ele não pode ser feito através única e exclusivamente da austeridade fiscal. Obviamente, o ajuste fiscal ideal é o que decorre do aumento da arrecadação face ao crescimento dinâmico e sustentável da atividade econômica”, argumenta. (IHU)

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Cerrado perdeu quase 6 milhões de hectares de vegetação nativa entre 2010 e 2020

 Cerrado perdeu quase 6 milhões de hectares de vegetação nativa entre 2010 e 2020: dos 13 estados ocupados pelo Cerrado, 11 tiveram perda de vegetação nativa no período, e quase toda essa área (98,8%) foi destinada à atividade agropecuária. Os dados são da nova coleção da iniciativa MapBiomas, que cobre o período de 1985 a 2020, e foram apresentados em evento específico para o bioma nesta sexta-feira (10), a partir das 10h30, no canal do MapBiomas Brasil no YouTube.

Tocantins sofreu a maior perda de vegetação nativa na década (1,11 milhão de hectares), seguido de Maranhão (890 mil ha) e Goiás (810 mil ha). Dois estados, Paraná e Rondônia, permaneceram com área de vegetação nativa estável. Além dos números, as imagens de satélite mostram a intensificação do desmatamento e da atividade agropecuária na região conhecida como Matopiba, que cobre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Os dados mostram claramente que há um processo acelerado de conversão de áreas naturais no Matopiba, tal como foi observado anteriormente em outros estados do Cerrado”, explica a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo,  pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Se considerada a perda total de vegetação nativa desde 1985, Mato Grosso é o campeão, com 6,8 milhões de ha, seguido por Goiás, com 4 milhões ha, e Mato Grosso do Sul, com 3,4 milhões de ha. 

No Matopiba, região que cobre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a área de agropecuária mais que dobrou entre 1985 e 2020. No mesmo período, a Bahia quintuplicou a área de agricultura. De 1985 a 2020 o Cerrado perdeu 19,8% de sua vegetação nativa, ou 26,5 milhões de ha, que equivalem a uma área maior que a do Piauí. A expansão da agropecuária no bioma no mesmo período é quase complementar: foram 26,2 milhões de hectares destinados à atividade. Atualmente, a agropecuária ocupa 44,2% do Cerrado.

O golpe começou. Artigo de Vladimir Safatle

Quem conhece a história do fascismo italiano sabe a quantidade inumerável de vezes que Mussolini, em sua ascensão ao poder, foi dado como politicamente morto, isolado, acuado, fragilizado. No entanto, apesar das finas análises de comentaristas da vida política italiana, apesar das sutis leituras que pareciam ser capazes de pegar as mais inusitadas nuances, Mussolini, o bronco Mussolini chegou onde queria chegar. Isso ao menos deveria servir para lembrarmos da existência de três erros que levam qualquer um a perder uma guerra, a saber, subestimar a dedicação de seu oponente, subestimar sua força e, por fim, sua capacidade de pensar estrategicamente. Bolsonaro se colocou no dia 7 de setembro como o líder inconteste de uma singular sublevação do governo contra o estado, afirmando que não reconhece mais a autoridade do STF. Ou seja, ele assumiu para o mundo que está em rota de colisão com o que restou da institucionalidade da vida política brasileira. Seus apoiadores saíram desse dia com sua identificação reforçada e compreendendo-se como protagonistas de uma insurreição popular que de fato está a ocorrer, mesmo que com sinais trocados. Uma insurreição que mostra a força do fascismo brasileiro.

De nada adianta falar que essa manifestação “flopou”, que estavam presentes apenas 6% do esperado. Uma insurreição nunca precisou da maioria da população para impor sua vontade. Ela precisa de uma minoria substantiva, aguerrida, unificada e intimidadora, pois potencialmente armada. Bolsonaro tem as quatro condições, além do apoio inconteste das Polícias Militares e das Forças Armadas, que por nada nesse mundo, mas absolutamente nada irá deixar um governo que lhe promete salários de até 126.000 reais. Aqueles que se comprazem acreditando que o verdadeiro apoio de Bolsonaro é 12% são os que normalmente fazem de tudo para que nós não façamos nada. Mas para quem quiser de fato encarar o que está a ocorrer no Brasil, não há nada mais a dizer do que “o golpe começou”. A manifestação do 7 de setembro marcou uma clara ruptura no interior do governo Bolsonaro. De fato, acerta quem diz que o governo acabou. Mas isso significa apenas que Bolsonaro pode agora abandonar a máscara de governo e assumir a céu aberto o que esse “governo” sempre foi, desde seu primeiro dia, a saber, um movimento, uma dinâmica de ruptura que se serve da estrutura do governo para ampliar-se e ganhar força.

.....Infelizmente, que o “povo” em questão era a massa dos que sonham com intervenções militares, que amam torturadores, que abraçam a bandeira nacional para esconder sua história infame de racismos e genocídios, isso era algo que poucos poderiam imaginar. Por outro lado, por mais que certos setores do empresariado nacional simulem desconforto com sua presença, o que realmente conta é que Bolsonaro entrega a eles tudo o que promete, sabe preservar seus ganhos como ninguém, luta por aprofundar a espoliação da classe trabalhadora sem temer o que quer que seja. A esquerda precisa entender de uma vez por todas a natureza do embate, ouvir aqueles mais dispostos ao confronto, esses que não tiveram medo de ir para a rua hoje, e assumir uma lógica de polarização. Isso implica que ela precisa mobilizar a partir da sua própria noção de ruptura, em alto e bom som. Uma ruptura contra outra. Não há mais nada a salvar ou a preservar nesse país. Ele acabou. Um país cuja data de sua independência é comemorada dessa forma simplesmente acabou. Se for para lutar, que não seja para salvá-lo, mas para criar outro.

IBGE revela que uma em cada cinco estudantes já sofreu violência sexual

 A violência sexual se mostra presente na vida de um significativo percentual de meninos e meninas que frequentam escola. Dentre as meninas, uma em cada cinco adolescentes (20,1%) de 13 a 17 anos diz já ter sido tocada, manipulada, beijada ou ter tido partes do corpo expostas contra a sua vontade. E 8,8% das meninas nessa idade já foram forçadas ao sexo, a maioria antes dos 14 anos. Os garotos também são alvos desse tipo de violência, mas em percentuais bem menores. Os agressores costumam ser pessoas próximas às vítimas. Além disso, o contexto socioeconômico pode determinar onde cada tipo de agressão é mais comum, sendo que os índices de importunação sexual são mais altos dentre alunos da rede privada e os de estupro dentre os da pública.

Índios Pataxós reagem depois de terem imóveis destruídos por trator da prefeitura de Porto Seguro (BA)




Os caminhos tomados pelos Pataxós para denunciar a prefeitura de Porto Seguro (BA) têm sido variados. O clima de tensão na Terra Indígena Ponta Grande - região cobiçada por empresários e políticos ligados ao turismo - se acirra exatamente no contexto de mobilização indígena nacional contra o marco temporal, que está sendo votado a passos lentos no STF. O episódio que impulsionou a reação dos Pataxós foi em 31/8: uma terça-feira que amanheceu com uma operação envolvendo a prefeitura de Porto Seguro, o MPF, a Polícia Militar (PM), a Guarda Civil Municipal, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal. Feita sem ordem judicial, a ação destruiu – com maquinário da prefeitura – oito imóveis de pataxós na orla da praia de Mutá. Recém-construídas, as casas seriam pequenos comércios de artesanato e comida.  Na última sexta-feira (10), ao sair de uma reunião com a Advocacia Geral da União e a Funai, Zeca Pataxó, cacique da Aldeia Coroa Vermelha, afirmou que a demanda apresentada pela comunidade foi de entrar na justiça contra a prefeitura de Porto Seguro pedindo indenização coletiva por danos materiais e morais. Na ocasião em que as casas foram demolidas, indígenas foram ameaçados e agredidos pela PM que, de acordo com a assessoria jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), chegou a dar um mata-leão em um cacique e algemar três pessoas, em seguida liberadas. "O Prefeito Jânio Natal, grande aliado do presidente Bolsonaro, usou seu poder de influência para executar as demolições ilegais", afirma Emerson, membro da Associação de Jovens Indígenas Pataxó. Em nota, a Prefeitura de Porto Seguro alega que a ação fiscalizatória constatou edificações irregulares. O governo municipal diz que, antes disso, havia realizado notificações e reuniões com indígenas, Funai e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nas quais teria apresentado um Termo de Ajustamento de Conduta que prevê a demolição de barracas de praia em desacordo com as normas vigentes. Acusa, ainda, lideranças indígenas e Funai de não terem cumprido o pacto dessas reuniões, de paralisar as obras. A versão da prefeitura, no entanto, não condiz com o que afirmam as lideranças indígenas Pataxós e os donos dos imóveis. Segundo eles, não houve qualquer diálogo ou aviso prévio às demolições. O MPF declarou que sua participação no episódio se restringiu a apuração de possíveis infrações e que “não tem relação” com a “demolição de construções na área litorânea de Ponta Grande”. A reportagem procurou a Polícia Militar da Bahia e até o fechamento dessa matéria não obteve resposta. (Fonte: Brasil de fato)


sábado, 11 de setembro de 2021

Dia da independência bolsonarista: 'uma conspiração antipatriótica por ativistas de aluguel para difundir a cultura da idolatria de Bolsonaro'! Algumas análises

 Ao invés de atos politizados organizados por cidadãos que reivindicam o cumprimento da democracia, o que se pôde observar nas manifestações da última terça-feira, 07 de setembro, foi uma "política despolitizada, divorciada da concepção clássica e civilizada de política, que aqui deixou de ser de cidadãos para ser de atores", disse o sociólogo José de Souza Martins. Os atos que marcaram o dia da Independência, avalia, foram "uma grande conspiração antipatriótica para difundir a cultura da idolatria de Bolsonaro como substituta da consciência de pátria", formados pela "presença de ativistas de aluguel".

O jurista e ex-reitor da Universidade de Brasília - UnB, José Geraldo de Sousa Junior, compartilha da mesma análise. "No gramado e na avenida, um presidente isolado numa bolha de mobilização artificial, preparada com antecedência e financiada pelo setor mais canibalizador da economia, o agronegócio, sequestrou o dia da Independência", destacou na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Em seus pronunciamentos, observa, Bolsonaro "falou como um presidente que não governa, que conspira; que não se solidariza com o social, mas com os seus interesses, de seus domésticos e associados; que não tem empatia com o povo e com a vida, só se liga nos negócios".

O economista José Luís Oreiro sublinha que a "manifestação de 7 de setembro foi feita, no fundo, com dois objetivos: primeiro, animar a sua plateia e, segundo, para juntá-los em poucos lugares para dar a impressão para o Congresso Nacional e para o Supremo Tribunal Federal de que o Bolsonaro tem muita força". Mas a agenda do presidente até as eleições presidenciais do próximo ano, ressalta, é tentar manter o grupo de apoiadores coeso. "O que as manifestações indicam é o desespero de Bolsonaro, que está tentando, com essas manobras, manter os seus 20% de aprovação para ver se ele consegue chegar no segundo turno [das eleições de 2022] e aí polarizar com Lula".

Para o historiador Valério Arcary, nas manifestações "Bolsonaro deixou claro que não renunciará à luta implacável pelo poder". A tática do presidente no momento, pontua, "consiste em ganhar tempo. Morde a assopra. Ocupa o centro das cidades, mas não autoriza distúrbios. Faz ameaças golpistas, mas lança uma carta apaziguadora. Mas qual é a estratégia? Garantir um reposicionamento melhor para a disputa eleitoral, e garantir a reeleição? Sim, mas não é só isso. O governo da extrema direita liderado por um neofascista não é um governo 'normal' com uma agenda de contrarreformas neoliberais. Bolsonaro tem como estratégia uma nova localização do capitalismo brasileiro no mundo em uma aliança estratégica com uma fração do imperialismo norte-americano contra a China".

(Fonte IHU)

 

24º domingo comum - O seguidor de Jesus que quer se dar bem na vida será um eterno infeliz! (Mt. 8,27-35)

Ao longo da nossa vida fazemos muitas experiências de morte. São momentos de angústia e de desânimo que parecem minar a nossa vontade de lutar e de viver. Experiências em que os nossos sonhos e ideais não encontram correspondência na realidade crua do dia-a-dia. Sonhamos com algo bonito, mas nos chocamos com uma realidade totalmente contrária. Percebemos que não somos os donos de nós mesmos, e nem dessa vontade pessoal. Sentimos interiormente a obrigação de ter que fazer algo que não foi planejado por nós! Diante disso, alguns se assustam e fingem que nada está acontecendo. Outros se fogem da realidade, e se refugiam em experiências alienantes. Outros encaram e assumem com coragem o que a vida lhes apresenta, gostando ou não! Algo que não pode ser negado e nem evitado. 

O trecho evangélico desse domingo põe em evidência as circunstâncias em que Jesus começa a se compreender como um profeta rejeitado e perdedor, pelo menos perante os olhos humanos! Jesus começa a perceber que todos, - inclusive os seus discípulos, - não entendiam e nem aceitavam a sua mensagem sobre a proximidade do Reino de Deus em favor dos pobres. Toma consciência que a sua missão não vinha criando grandes impactos, e estava afastando muita gente. Diante da perspectiva do fracasso Jesus sente que chegou a hora de mudar de metodologia. E Ele próprio começa a ter uma nova compreensão de si mesmo e da sua missão. A narração de Mateus colocada justamente bem no centro do seu evangelho se apresenta como um divisor de águas, uma situação-limite. Agora é tudo ou nada! A partir desse momento crucial o ‘novo Jesus’ deixa claro algumas atitudes que devem se tornar centrais para qualquer seu seguidor!

1. Jesus proíbe a Pedro que continue achando que Jesus é o Messias glorioso, vencedor, triunfante, vingador, dominador como todos achavam! Jesus deixa claro que todo discípulo que tenta segui-lo para se dar bem na vida é um verdadeiro satanás! Quem entra no grupo de Jesus para obter prestígio e poder está deformando a missão e a identidade de Jesus. E deixa de ser um cristão seguidor. Vira um mercenário! 

2. Para Jesus é importante que o discípulo não fuja diante dos desafios da missão, e nem se apavore diante dos possíveis fracassos, perseguições e sofrimentos, pois isso faz parte da própria missão. A igreja de Jesus não promete benesses e nem ilude seus seguidores. Quem acha que a nossa igreja é um trampolim para uma vida de sucesso e de bem-estar errou de endereço!

3. A última dica de Jesus aos seus discípulos pode chocar muita gente, ou seja, renegar a si mesmo e carregar a cruz! Renegar a si mesmo não significa rejeitar o bom e bonito que somos e que temos, e ao qual temos que aspirar, sempre. Não significa tampouco renunciar a lutar e defender os nossos direitos à felicidade. Ao contrário, para Jesus significa renegar e rejeitar as nossas ambições interiores e os projetos de dominação, opressão e manipulação que existem dentro de nós! E. sabendo que quando fazemos isso, tal renúncia produz necessariamente cruz, humilhação e perseguição por parte de quem fez outras opções de vida! A recusa a seguir Jesus no sofrimento significa perder o sentido da própria existência. Perde-se a felicidade interior própria de quem se sente em paz consigo mesmo e com os outros. 

Cair na tentação de levar adiante os próprios projetos de dominação, de esperteza, de salvaguarda de privilégios pessoais, vai necessariamente produzir sentimentos de perdição e de infelicidade. Jesus, o profeta sofredor rejeitado, nos ensina que é preciso desmascarar hoje as falsas promessas de salvação e felicidade fácil e imediata. Que é preciso ir contra as tendências planetárias segundo as quais se salva e sobrevive somente aquele que sabe ser atrevido e esperto em tirar proveito de tudo e de todos, sem ética e sem respeito. Quem assim agir já perdeu a sua vida, mesmo que não venha a ser materialmente “crucificado”.


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Provocações, tentativa de invasão, defesa do AI-5, churrasco caro: os bastidores da manifestação bolsonarista em Brasília

 Repórter narra bastidores da ação bolsonarista em Brasília.

Um grupo de 20 ou 30 pessoas tenta convencer caminhoneiros a invadir a via que leva ao prédio do Supremo Tribunal Federal. No carro de som, um homem de 70 anos diz que foi agente da comunidade de informações durante o regime militar e prega a decretação de um AI-5.Na hora do almoço, churrascarias caríssimas ficam lotadas de manifestantes bolsonaristas, grande parte ligada ao agronegócio. Ao longo de toda a tarde, grupos xingam policiais: “Traidores!”, berram. "O que a gente viveu hoje é mais um passo da erosão democrática. Está tendo um afunilamento desse processo. A cara de pau, a covardia de algumas pessoas vai ser colocada à prova agora. Essas pessoas estão sendo levadas a tomar uma atitude final. A sociedade brasileira percebe a gravidade desse momento”, afirma o jornalista.

Repórter experiente, Valente compara a manifestação do 7 de Setembro deste ano em Brasília com outros protestos na cidade. Observa que houve uma escalada no discurso golpista. Dezenas de faixas e cartazes com palavras antidemocráticas e pedindo o fechamento do STF cada vez mais na linha de frente da manifestação. No entanto, ressalta, “a absoluta maioria não embarcou numa minoria mais radical que queria invadir a via de acesso para chegar ao Supremo. Eram 20 ou 30 pessoas, chamando outros. Várias vezes, tentaram convencer os motoristas a ligar os caminhões e avançar sobre a PM. A absoluta maioria não embarcou nesse discurso. De certa forma, Bolsonaro não conseguiu o que ele queria. Foi um derrotado nesse sentido. Mas ele vai nesse processo de erosão e de cansaço das instituições, de demolição das instituições. Ele pode mudar esse jogo”.

Diferentemente de protestos anteriores, Valente não viu muitos moradores de Brasília, reduto eleitoral de Bolsonaro, eleito no Distrito Federal com 70% dos votos. Lembra que é “a cidade do funcionalismo público”, agora atingido pelo governo Bolsonaro que prepara uma reforma administrativa que será calamitosa para a população.“Essa massa parece que começou a abandonar Bolsonaro. Vi poucas placas de carros de Brasília, talvez 10%. O que aconteceu foi o interior chegando em caravanas”, conta Valente. “É o momento de os democratas de várias tendências partidárias, as pessoas de bom senso agirem para evitar uma cena como a dos EUA [no Capitólio]. Não chegamos ainda a ver a invasão de um prédio público, um quebra-quebra com mortes, como lá. Estamos na beira do precipício de isso acontecer.”

Rubens Valente  é autor de “Os Fuzis e as Flechas: História de Sangue e Resistência Indígena na Ditadura”, entre outros

Empresas que invadiram Esplanada têm histórico de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos agrários

 De Olho nos Ruralistas pesquisou marcas estampadas nos caminhões que participaram dos ataques de 6 e 7 de setembro; donos do Grupo Jacto, que distribuíram dinheiro em ônibus, doaram para campanhas de políticos ruralistas, como o deputado Neri Geller. Empresários do agronegócio ajudaram a arquitetar — e a financiar — a invasão da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e demais ações golpistas do feriado. No Dia da Independência, a presença de caminhões de suas empresas no local mostrava a participação delas na invasão antidemocrática da véspera. Os manifestantes pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Por trás dos logotipos nas laterais das carretas, De Olho nos Ruralistas identificou histórias de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos com camponeses — além de lobbies junto a congressistas.

Vários caminhões entraram na área destinada apenas ao público. E não somente o caminhão de som. Entre eles estavam os da Dez Alimentos, de Morrinhos (GO), uma das maiores processadoras de tomate do Brasil. Pelo menos dois caminhões dela ocuparam as primeiras filas. O dono Paulo César Chiari e seus sócios foram processados há nove anos por submeterem trabalhadores rurais à condição análoga à de escravidão. Quem também esteve na Esplanada foi a ID Agronegócio, de Itaúna (MG), especialista em feno. Ao menos dois caminhões dela estavam na área invadida. A Sidersa é uma das siderúrgicas apontadas como responsáveis pela desestruturação do Cerrado na região Norte de Minas Gerais e pela expropriação de terras das comunidades tradicionais.

Em que pese já terem apresentado plano de recuperação judicial, os sócios do Grupo Grão Dourado, produtor de arroz, feijão, milho e soja em Piracanjuba (GO), foram outros que não se furtaram de participar dos atos, com cerca de uma dezena de caminhões. A marca da empresa era a que mais se destacava na área invadida. Em agosto de 2012, Nilton Pinheiro de Melo, que é membro da Associação Goiana de Suinocultores, Jonas Pinheiro de Melo e Ivan Pinheiro de Melo alegaram que os prejuízos refletiam na capacidade de pagamento de credores, inclusive trabalhistas. A empresa goiana Dez Alimentos se vangloria de dominar toda a cadeia de produção, do plantio às gôndolas. Mas essa cadeia nem sempre segue configurações republicanas. Conforme o Ministério Público do Trabalho (MPT), trabalhadores rurais da empresa eram arregimentados na região de Centralina (MG) e administrados nas lavouras por agenciadores de mão de obra, comumente chamados de “gatos”.


A reportagem é de Leonardo Fuhrmann e Mariana Franco Ramos, publicada por De Olho nos Ruralistas, 09-09-2021.


FRASES DO DIA....

 Busca de proteção, não de diálogo e pacificação

 “O texto (do presidente) pode parecer um recuo, mas é, na verdade, um pedido de habeas corpus para um político em perigo. Os dez parágrafos da declaração publicada nesta quinta (9) pelo Planalto dão todos os sinais de que Bolsonaro está em busca de proteção, não de diálogo e pacificação. No texto, o presidente ignora sua ameaça pública de descumprir decisões judiciais e torce para que a manobra seja suficiente para não ser punido pelos crimes que já cometeu” – Bruno Boghossian, jornalista – Folha de S. Paulo, 10-09-2021.

Impeachment. Conversas ganham corpo

 “O presidente percebeu que as investigações contra seu grupo político vão continuar e que conversas sobre um impeachment começam a ganhar corpo. Ameaçado, ele simula um passo atrás para reduzir temporariamente as pressões sobre o governo até que fique confortável o suficiente para atacar de novo”

Bolsonarismo sem Bolsonaro

 “Bolsonaro é destrambelhado e estúpido demais, e os bolsonaristas logo precisarão de alguém melhor. Um indício de que já começaram a se mover sozinhos é a classificação de "frouxo" dada publicamente a ele por um patético caubói caminhoneiro, por Bolsonaro ter ordenado a dissolução da greve da categoria. Hoje sabemos que o bolsonarismo já existia antes de Bolsonaro. O trágico é descobrir que talvez sobreviva a ele”

Barbarizar – atitude ‘racional’ de Bolsonaro

 “Bolsonaro é motivo de incertezas que chutam o dólar para cima, tolhem investimentos e provocam aumento de preços preventivos. Quanto mais durem as incertezas, como as fiscais, mais difícil conter a deterioração por inércia: inércia da inflação, de contenção de consumo e investimento por precaução, das condições financeiras ruins. Dado o estrago que já foi feito, quem sabe a atitude “racional” de Bolsonaro seja mesmo barbarizar. Se por mais não fosse, tem ainda o impulso essencial da imbecilidade desvairada e de seu projeto de fundo (tirania e escapar da cadeia)”

Bolsonaro dá chapéu em ministros e entrega a Temer papel de pacificador

 “É dura a vida de quem tem de lidar com Jair Bolsonaro. Flávia Arruda e Ciro Nogueira suaram a camisa depois da terça-feira do 7 de Setembro para convencer o presidente a desarmar o espírito e estender a mão ao STF, mas tomaram um “chapéu” do presidente. Fizeram a cama, nas palavras de um palaciano, mas quem deitou nela e ficou com a fama foi Michel Temer, muito à vontade no papel de “pacificador”.

O ex-presidente ainda conservou a imagem de “independente”: na mesma terça fatídica, chancelou, com Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, a dura nota do MDB contra Bolsonaro” - Alberto Bombig e Matheus Lara – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 10-09-2021.

Vixe

 “Para piorar, enquanto Bolsonaro se entendia com Temer, e os “moderados” do Planalto, junto com Arthur Lira, trabalhavam pelo armistício entre Poderes, Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, castigava o governo e Bolsonaro na GloboNews”

Por…

 “Segundo um conhecedor das tramas do Planalto, o “erro” de Lira e de Nogueira foi figurarem em reportagens da imprensa no papel de “fiadores” da estabilidade e da moderação, capazes de frear Bolsonaro. Esqueceram-se de combinar com o presidente”

…conta

 “Bolsonaro fica contrariado com esses movimentos e gosta de fazer justamente o contrário”

Bichos

 “Os adversários de Bolsonaro foram à loucura nas redes sociais. “O leão virou um rato”, escreveu João Doria (PSDB-SP)”

Raiva, ameaças e agressões

 “Não dá para tapar o sol com a peneira: os atos de 7 de Setembro, que não foram a favor de nada, só a favor do próprio Bolsonaro e contra o Supremo e a democracia, foram um sucesso para ele. Mas, em vez de comemorar, de transmitir segurança e alegria – como gostaria Ramos – o presidente jogou tudo fora ao reagir com raiva, ameaças, agressões” – Eliane Cantanhêde, jornalista – O Estado de S. Paulo, 10-09-2021.

Erro grave

 “Um erro grave nos esportes e na política é subestimar adversários. É imperdoável as esquerdas e a oposição em geral tentarem reduzir o peso político dos atos, que tiveram expressiva participação popular. Ok. Não havia 500 mil em Brasília nem 2 milhões a 3 milhões em São Paulo, como esperava Bolsonaro, mas as imagens não mentem. Tinha muita gente, sim, muito mais do que o razoável em meio à pandemia, o desemprego e a miséria, com um presidente que não governa, vive de messianismo”

Passo de mágica

 "As coisas não ficarão como estão e nem tudo mudará para melhor subitamente num passo de mágica. Estava claro. Este é o Brasil, o país do 'deixa disso' e do 'veja bem'" – Bernardo Kuster, editor do jornal olavista Brasil Sem Medo – Folha de S. Paulo, 10-09-2021.

Covarde

 "Este é o meu recado para o presidente Bolsonaro. O general que vai para a guerra com medo de levar um tiro é tido como covarde... E não merece a lealdade da tropa nem as honras do soberano" - Wagner Cunha, que se apresentou como psicólogo, escritor e ativista político – Folha de S. Paulo, 10-09-2021.

(Fonte: IHU)


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Povos indígenas no Brasil - Marco temporal: nossa história não começa em 1988! -

 Ao congelar a situação das terras indígenas em 1988 (e recordemos que o prazo de cinco anos para finalizar as demarcações das terras indígenas não foi cumprido, como não o foi depois de 1973, como estipulado pelo morto-vivo Estatuto do Índio)[iv], a tese legaliza e legitima as violências a que os povos foram submetidos até a promulgação da Constituição, em especial durante a ditadura. Além disso, ela ignora o fato de que, até 1988, os povos indígenas não tinham autonomia para lutar judicialmente por seus direitos. Esses povos diziam, em manifestações e mobilizações após a promulgação da Constituição: “Nossa história não começa em 1988”. Pois bem, a tese do marco temporal quer que a história dos povos indígenas acabe em 1988. Pretende que a história pare ali.

Considerem o absurdo de um direito originário que só vale até uma certa data. A tese do marco temporal congela uma situação multissecular de expoliação territorial, transformando-a em “direito” (inclusive com insinuação solerte de “privilégio”). Ela equivale a recusar aos povos indígenas seu futuro; a expulsá-los da história como agentes, relegando-os ao passado. A intenção mal oculta de tudo isso é fazer com que os povos originários desapareçam aos poucos como povos. Aos poucos ou rapidamente, porque há pressa: é preciso acabar com tudo antes que tudo acabe. A anulação de terras indígenas com base em um marco temporal de 05/10/88, como observou a advogada Juliana de Paula Batista, torna regularizáveis todas as invasões recentes. Isto é uma distorção radical do direito originário, anulando o D 6° do artigo 231. Extingue-se a tese do indigenato? Reedita-se o Requerimento, a infame ordem de despejo lida pelos conquistadores espanhóis diante dos povos indígenas?[v] Com que direito moral (se me permitem a expressão) se recusa aos povos indígenas os seus direitos constitucionais? Como ousam? 

E cabe perguntar: quantos brasileiros não-indígenas têm sua vida melhorada a cada centímetro de terra que se recusa aos povos indígenas? A vida de quais brasileiros? Ou, aliás, e também, a vida de quais estrangeiros? Quem lucra com o esbulho das terras indígenas? A preocupação dos autodesignados tutores da nacionalidade com a “internacionalização da Amazônia” parece sempre mirar nos povos originários. Enquanto isso, há mais de 28 mil propriedades de terra em nome de estrangeiros. Juntas, essas áreas somam 3,617 milhões de hectares, uma área do território nacional quase equivalente à do Estado do Rio de Janeiro.Pela lei, estrangeiros podem adquirir ou arrendar até 25% da área territorial de cada município, e estão presentes em 60% dos municípios brasileiros. Mas o perigo são os indígenas, isto é, os menos estrangeiros de todos os habitantes do território nacional.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Relator da ONU pede que STF rejeite marco temporal e defenda indígenas do Brasil

 


Relator Especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Francisco Cali Tzay faz um apelo para que o Supremo Tribunal Federal (STF) garanta os direitos dos povos indígenas a suas terras, e que rejeite um argumento legal promovido por agentes comerciais com o fim de explorar recursos naturais em terras indígenas tradicionais. 

"A aceitação de uma doutrina de marco temporal resultaria em uma negação significativa de justiça para muitos povos indígenas que buscam o reconhecimento de seus direitos tradicionais à terra. De acordo com a Constituição, os povos indígenas têm direito à posse permanente das terras que tradicionalmente ocupam", disse o relator. "A decisão do STF não só determinará o futuro destas questões no Brasil para os próximos anos, mas também sinalizará se o país pretende estar à altura de suas obrigações internacionais de direitos humanos e se respeitará as comunidades indígenas que não foram autorizadas a participar de processos legais que revogaram seus direitos de terra", disse Tzay. Ele disse, ainda, que é vital que o Supremo Tribunal Federal - e todas as instituições e autoridades públicas - respeitem as normas legais, incluindo a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais. 

O argumento legal em questão é conhecido como "marco temporal", o qual os indígenas temem que possa legalizar a invasão de suas terras. Interesses empresariais que buscam explorar terras indígenas para mineração e agricultura industrial argumentam que os povos indígenas devem provar que ocuparam as terras na época da Constituição do Brasil, adotada em 1988. "Ironicamente, esta mesma Constituição deveria ter garantido seus direitos de terra", disse Tzay. Os povos indígenas e ativistas de direitos humanos argumentam que a Constituição não estabelece nenhum limite de tempo para estes direitos à terra indígena. Há um mês, a assessoria especial da ONU para a prevenção do genocídio citou, pela primeira vez, o Brasil na lista de locais onde haveria tal risco para os povos indígenas. No Tribunal Penal Internacional, já são duas denúncias contra Bolsonaro que foram entregues por grupos nacionais contra o presidente. Ambas denunciam crimes contra a humanidade e crimes de genocídio.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

MORREU MANUEL DA CONCEIÇÃO, UMA DAS MAIORES LIDERANÇAS CAMPONESAS DO BRASIL!

 


Morreu nesta quarta-feira (18), na cidade de Imperatriz, na Região Tocantina, o líder camponês Manoel da Conceição, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e símbolo da resistência contra a Ditadura Militar. O líder camponês tinha 86 anos e estava internado há quatro semanas no Hospital Regional de Imperatriz, com quadro de broncopneumonia aguda.

Manoel da Conceição nasceu em 1935 na região de Coroatá, no Maranhão. Em 1960, o líder camponês organizou, com outros companheiros, dezenas de escolas para alfabetizar camponeses na região de Pindaré-Mirim, depois de frequentar um curso do Movimento de Educação de Base, o MEB, do educador Paulo Freire. Já no ano de 1963, Manoel fundou e foi eleito presidente do primeiro Sindicato de Trabalhadores Rurais do Maranhão. Durante a Ditadura Militar no Brasil, Manoel foi exilado em Genebra, na Suíça, onde participou da resistência à ditadura brasileira. O líder camponês também foi um dos primeiros exilados a retornar ao Brasil com a Anistia em 1979. Em 1980, Manoel participou da criação e da primeira direção nacional do Partido dos Trabalhadores e se tornou o primeiro-secretário nacional agrário do partido. Em 1983, Manoel também ajudou na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Depois ele foi o primeiro presidente do PT no Estado de Pernambuco e, após retornar ao Maranhão, disputou o Senado pelo PT em 1986, mas não foi eleito.

O PT também publicou, em sua página internet, uma nota de pesar.

"A classe trabalhadora do campo e da cidade perdeu um de seus maiores heróis: Manoel da Conceição, líder camponês histórico, preso, mutilado, torturado e exilado pela ditadura, fundador do PT e da CUT, faleceu hoje aos 86 anos de idade, no Maranhão, onde iniciou sua luta nos anos 1960... Manoel da Conceição nunca deixou de lutar pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores no Maranhão e no Brasil. Nos últimos anos, lutou pela criação da Reserva Extrativista do Ciríaco e da Rede Frutos do Cerrado. Estimulou a organização dos pequenos produtores e de cooperativas de agricultura saudável, sendo um dos criadores da União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar de Economia Solidária", diz um trecho da nota. O partido também destacou que Manoel da Conceição foi testemunha do processo histórico de resistência no Brasil.

O governo do Maranhão também emitiu nota de pesar pela morte do líder camponês, destacando que Manoel foi um dos maiores articuladores da luta camponesa em resistência ao regime militar no Brasil.

"Manoel Conceição Santos foi um dos maiores articuladores da luta camponesa em resistência ao regime militar no país. Começou organizando o sindicato de trabalhadores rurais no Vale do Pindaré, posteriormente contribuiu na organização de entidades importantes no cenário nacional como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU). Neste momento de dor, o Governo do Maranhão se solidariza com os familiares, amigos e admiradores", diz um trecho da nota do governo. A Assembleia Legislativa do Maranhão também manifestou pesar. Por meio de nota, a Alema afirmou que Manoel da Conceição foi um atuante defensor dos trabalhadores do campo.

"Manoel da Conceição foi um atuante defensor dos trabalhadores do campo e fez parte da história de resistência do país, na luta contra o regime militar, além de contribuir na organização de entidades importantes, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Neste momento de dor, decretamos luto oficial de três dias na Assembleia e prestamos condolências aos familiares, amigos e admiradores de Manoel da Conceição, rendendo nossas homenagens à sua trajetória de luta e resistência, que não deve ser esquecida", diz a nota.


XXI domingo comum - VOCÊS TAMBÉM QUEREM IR EMBORA? (Jo.6,60-69)

 ‘Esta palavra é dura’ – Não podia ser diferente. Jesus acabava de derrubar o mito do êxodo, da libertação da escravidão, no Egito. Com críticas ferozes aos antepassados, Jesus fala claramente que os seus contemporâneos continuam tendo uma relação equivocada de Deus e Dele mesmo. Continuam comendo o maná da lei e do ritualismo vazio. ‘Os vossos pais saíram sim do Egito, comeram o maná no deserto mas morreram’. Faltava só dizer que eles estão mortos por dentro! Jesus, o pão descido do céu, - ou seja, que não ficou nas alturas, distante, mas que se fez alimento doando-se, - não encontra adesão e compreensão. Jesus deixa claro que ‘comer o pão descido do céu’ e não se tornar pão a serviço dos irmãos não serve para nada! Para Paulo significa ‘receber indignamente o corpo e o sangue do Senhor’!

‘Murmuravam entre si’ – O evangelista usa a mesma expressão que o autor do livro do Êxodo quando descreve que o povo murmurava contra Moisés, acusando-o de o ter tirado do Egito para deixá-lo morrer no deserto. A murmuração surge quando expectativas subjetivas, projetos pessoais, ambições, interesses individuais e manias de poder não são atendidas. É a revolta silenciosa, escondida e suja, pois falta franqueza e honestidade. A murmuração deixa de ser uma crítica honesta e se torna fofoca, difamação, calúnia.

‘Isso vos escandaliza? - A murmuração faz eclodir o escândalo: o escândalo da morte-Ressurreição de Jesus, o filho do homem, que retorna ao céu de onde veio, mas que muitos não acreditam. A morte de Jesus é escândalo para quem sonha obter privilégios e benesses graças a Ele. Para quem é movido pelos anseios da carne, pelos interesses materiais. É escândalo para quem acha que morrendo tudo acaba. Acaba a carne, pois apodrece, mas não morre o espírito de quem semeou respeito, honestidade, compaixão, amor verdadeiro!

‘Muitos de seus discípulos deixaram de segui-lo…’ É a consequência do escândalo. É o abandono por parte de quem não é atendido em suas expectativas. De quem se iludiu que ia ganhar vantagens apoiando o Mestre. Mas Jesus não senta para fazer média. Para tentar negociar um acordo, para amenizar as exigências do Reino. Os discípulos são livres para abandonar o Mestre, sem medo de serem amaldiçoados ou ameaçados por Ele! Jesus está disposto a seguir adiante sozinho, com ou sem eles. O Reino, afinal, é inegociável!

‘Vocês também querem ir embora? -  Muitas vezes tem-se a impressão que esta mesma pergunta a dirigida a muitos cristãos católicos engajados que trabalham em situação de fronteira. Ao se doar, sem ver muitos resultados, assistindo a um crescente esvaziamento de igrejas, vendo o sumiço de pessoas outrora presentes, e a triste falta de novas lideranças, surge espontâneo se perguntar: ‘o que estou fazendo aqui? ’ ’O que me segura ainda nessa igreja, nessa missão? ’ Às vezes parece que por trás de muito fervor, muita devoção,  muitos louvores não existe o propósito firme de ser pão, de servir sem exigir nada em troca. Muitos querem ser só fregueses de uma igreja que celebra, que canta, que louva, mas que está longe de enfrentar o mal espalhado, a fome, e a desagregação social. Não seria essa uma das causas também da saída ou do afastamento de muitos católicos hoje em dia: achar duro servir, lutar, enfrentar os senhores que dominam, que acumulam, que agridem para ingressar em igrejas aliadas ao governo de turno, e que prometem riqueza, saúde plena e prosperidade? 

‘A quem iremos, Senhor...?’ – A resposta de Pedro é verdadeira pela metade. Está certo reconhecer que Jesus tem palavras de vida eterna, pois Jesus não fala só por falar. Suas palavras são gestos concretos, ações que transformam. E que produzem vida plena, de qualidade. Entretanto, quando Pedro fala que Jesus é ‘o Santo de Deus’ ele se refere ainda a um messias triunfante, que vem na glória, implementando a religião da lei, dos preceitos, e do templo. Tudo o contrário daquilo que Jesus desejava. Os endemoninhados diziam a mesma coisa! Jesus continua sendo o ‘filho do homem’ frágil, sofredor, que se doa gratuitamente, e que ama infinitamente, para além de leis, normas, e da desistência de seus discípulos!


Sou Amazônia: cuida de mim

  Sou povo da floresta, homem, mulher – de todos os sexos, de todos os credos. Sou mistura de sangue, de genes, de cores... Sou mistura de culturas. Sou, estou, quero viver e ser vida e não me sentir como agora: tão ferida.

Sou verde, marrom, multicolorida. Sou árvores, flores, folhas, fauna, flora, água, rios, igarapés... Sou fontes, o explorado, o inexplorado. O fantasioso e o real. Sou Amazônia, cuida de mim!

Sou forte e sou frágil. Sou vento, raios, correntezas, cheias, secas, cachoeiras, vazantes.

Sou única. Sou gente: índia, branca, negra, sinônimo de miscigenação, de um viver multicultural. Sou ímpar, sem igual.

O meu sangue é da cor do açaí que corre nas veias do ser vivente em seus muitos processos de vida, e, minha esperança é da cor do sol e arde como uma pele em brasas, em tom de alerta, em tom de vitalidade.

Por mim matam, mentem, exploram e de forma decrescente deixam de ser gente, se desumanizam. Sou Amazônia, cuida de mim!

Sou gavião, rouxinol, arara, tucano, sou pássaro! Ao olhar para baixo vejo o ideal, o anormal, o acidental e ainda assim, não perco a esperança de uma criança.

Sou peixe e ao olhar para cima, o ar me escapa, me estafa, o meu habitat some. Me pergunto: meu Deus cadê o ar da vida?

Sou os quatro elementos:

Água negra, barrenta, branca, esverdeada, que sacia a sede dos seres vivos, que inunda, que é vida e um dia pode faltar e, então, o que acontecerá?

Não quero sumir, a humanidade precisa de mim.

Sou fogo que aquece culturas, que ilumina o escuro, que faz seguir um caminho. Mas que também destrói, porque fico à mercê de homens sem coração, homens que não medem suas ações.

Sou terra que tudo dá, que tudo nasce, sou a força de muita gente, mas por mim, acontecem atrocidades e isso eu não aguento. Grito, imploro e não estão ouvindo meu lamento. Sou Amazônia, cuida de mim!

Sou ar, purifico e trago o vento, o vento da bonança. Sou o vento da respiração, da inspiração. Quero muito continuar ainda a ser o vento que não leva mais poluição e nem trazer desesperança... Cuida de mim eu imploro é a forma de eu bradar por mais cuidado, cuidado que deveria vir do coração.

Fui, sou e quero crer que ainda serei.

Serei centenas de povos, milhares de vozes, uma planta que nasce e que morre sem ações ambiciosas e atrozes.

Serei pacata onde tiver que ser e progredir sem ser vítima da praga da ambição que tudo ataca.

Serei para sempre Amazônia, só preciso que cuide de mim.

(Rita Floramar)


Igreja católica de Pernambuco reage à tentativa do governo Bolsonaro de instalar usina nuclear no estado

 Lideranças da Igreja Católica se reúnem com parlamentares pernambucanos, nesta sexta-feira (20), para debater o projeto de instalação de uma usina nuclear e seus impactos ambientais e socioeconômicos, em Itacuruba, no sertão. O encontro será virtual, por meio da plataforma Google Meet, às 19h.A iniciativa é do arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, em conjunto com o seu bispo auxiliar, dom Limacêdo Antonio da Silva, e com o bispo da Diocese de Floresta (PE), dom Gabriel Marchesi. Os religiosos convocaram e estarão presentes deputados estaduais, federais e senadores.

A criação da fonte atômica de energia foi sinalizada no Plano Nacional de Energia 2050, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), do Governo Bolsonaro. Além de Itacuruba, outras oito localidades no Nordeste e Sudeste do país estão sendo estudadas para abrigar usinas. De acordo com informações da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia e divulgadas pela imprensa, a Eletronuclear já concluiu estudos que indicam Itacuruba como a área ideal para a construção do empreendimento com seis reatores às margens do Rio São Francisco e que custaria R$ 30 bilhões. Pelo menos desde o ano passado, a Igreja com apoio dos movimentos sociais, pesquisadores e artistas vêm provocando o debate alertando toda sociedade acerca dos riscos ambientais como a morte do Rio São Francisco e os possíveis vazamentos de radiação, por exemplo. A preocupação também gira em torno do impacto social e econômico sobre as comunidades tradicionais que vivem na região.

Apesar da intenção do Governo Federal, a legislação estadual impede a instalação de uma usina atômica em Pernambuco. De acordo com o Artigo 216 da Constituição Estadual, está proibida a instalação de usinas nucleares no Estado enquanto não se esgotarem toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e de outras fontes. Recentemente, a Controladoria Geral da União (CGU) ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a constitucionalidade do artigo que garante a segurança do meio ambiente e de todos que habitam no Estado. A expectativa é de que durante a reunião com as autoridades religiosas, os deputados e senadores conheçam melhor os riscos que o empreendimento pode trazer ao estado e, dessa forma, possam se posicionar contrários à destruição de tantas vidas no sertão. (IHU)