domingo, 31 de janeiro de 2021

Pastores afastam indígenas da vacinação, relatam lideranças. 'Estão alinhados com o discurso do Bozo' diz Nara Baré

 


Na Terra Indígena Araribóia, na Amazônia maranhense, doses de vacina contra a covid-19 começaram a chegar. Ao mesmo tempo que aldeias aguardam com ansiedade o imunizante, há também uma resistência grande. Pastores e membros de igrejas evangélicas locais vêm pedindo aos indígenas que não se vacinem, segundo relatos coletados pela DW Brasil. “Eles [líderes evangélicos] estão dizendo que [a vacina] vem junto com um chip, que tem o número da besta, que vira jacaré…”, conta uma assistente social que conversou com a DW Brasil e prefere não ter seu nome revelado nesta reportagem. Ela está em missão especial na região para esclarecer como as vacinas de fato funcionam. A campanha de desinformação é difundida via áudios e vídeos pelo celular, pelo sistema de radiofonia entre as aldeias e por cultos presenciais, aponta. No caso do Maranhão, relatam indígenas, a maior influência é da igreja Assembleia de Deus. A DW entrou em contato com a Convenção Geral das Assembleias de Deus para esclarecer se a entidade é contrária à vacinação, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. Até esta quinta-feira (28/01), mais de 220 mil brasileiros morreram vítimas da covid-19. Segundo apontaram testes, as duas vacinas aplicadas atualmente momento no Brasil, Coronavac e Oxford-AstraZeneca, com eficácias diferentes, ajudam a diminuir o número de pacientes graves que precisam de internação, além de protegerem contra o vírus. Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, foram confirmados 41.251 casos da doença entre essa população, com 541 mortes. O dado oficial, que não considera aqueles que vivem fora dos territórios homologados, não reflete a realidade da pandemia, afirmam organizações indígenas, apontando que o número seria, na verdade, três vezes maior.

“Vacina não é de Deus”

No estado do Amazonas, que sofre com a alta de casos e falta de oxigênio para pacientes, há relatos semelhantes de desinformação. “Há pastores orientando os parentes [como indígenas se chamam] para que não tomem a vacina, porque ‘não é de Deus'”, afirma Nara Baré, coordenadora-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), mencionando casos relatados em Itacoatiara, região do rio Urubu, Manaus, Xingu (Mato Grosso) e Rondônia. Mapear o curso dessa campanha de desinformação entre indígenas, por outro lado, tem sido um desafio. “A grande questão é que os que são seguidores dessas igrejas não falam. São os familiares desses parentes que contam porque eles estão muito preocupados”, detalha. Na região do Vale do Javari, que tem a maior concentração de povos isolados do mundo, a situação se repete, segundo Beto Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava). “Aldeias já disseram à Sesai que não irão aceitar a vacina”, conta.As comunidades resistentes seriam aquelas vinculadas a grupos evangélicos. “Na comunicação que eles fazem por rádio, que todas as aldeias escutam, eles dizem que a vacina foi fabricada muito rápido para os indígenas virarem cobaia”, explica Marubo. A postura desses religiosos, analisa Nara Baré, está alinhado ao discurso do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. “Ele fala mal da vacina, deslegitima a própria ciência. E a gente agora está fazendo uma campanha para incentivar a vacinação e combater as fake news e essa propagação pelos pastores”, afirma. (Fonte DW Brasil)


sábado, 30 de janeiro de 2021

Paulo Ricardo, o cavaleiro bolsonarista ultraconservador de batina. Algumas vergonhosas pérolas.....

 ARMAS

Um dos seus posicionamentos mais conhecidos é sobre a questão da liberalização das armas de fogo no país. Justifica-o assim: “Bom, numa abordagem superficial, você pode pegar o catecismo a respeito da guerra, e você irá encontrar ali uns parágrafos bem suculentos na mão, àqueles que são a favor do desarmamento (...) A igreja é a favor do desarmamento. Errado, luz vermelha para você” Afirma que a Igreja não é a contra o armamento da população apenas no “contexto bem específico de corrida armamentista (...) Igreja é a favor de diminuir essas armas tão letais, de armas de destruição em massa (...) Entendamos meu irmão: o cristão é pacífico, não pacifista”.

A FACADA DO BOZO

O vídeo “Padre Paulo Ricardo se pronuncia sobre o atentado contra Bolsonaro e o vídeo viraliza na web” do dia 11 de setembro de 2018 mostra isso. Numa parte compreensível avista-se o cavaleiro do apocalipse de batina dizendo: “Como você cala a boca das pessoas? Ou você dá uma facada.... (a plateia diz: mito! Mito! Mito!)”. Com ele se percebe o apoio da plateia e do padre a Bolsonaro, quando mesmo discursando numa paróquia não pede para as pessoas se acalmarem diante da citação ao ocorrido ao candidato. Mais que isso. Com a afirmação indica que a facada sofrida por Bolsonaro no âmbito das eleições de 2018 foi uma tentativa de “calar” o candidato. No discurso desenha a figura do candidato Bolsonaro como um mártir. Na sequência lembra de um papa representativo para o catolicismo conservador: Bento XVI. Assim “ou você realiza aquilo que Bento XVI chama de ‘martírio dos tempos modernos’, que é caluniar, desacreditar, inventar mentiras sobre essas pessoas”. 



EDUCAÇÃO ESQUERDISTA E GRAMSCIANA 

O padre movido por absoluto preconceito contra os educadores tece acusações cegas típicas de teorias de conspiração primárias. Diz sobre os professores que “eles (...) não querem que você aprenda nada, que você estude nada, pra estudar, do jeito que eles querem, isso é o gramscismo, na prática!”. Ainda diz: “mesmo que você não tenha ouvido falar de Antonio Gramsci você é um profundo conhecedor de Gramsci (...) um conhecedor prático, porque foi vítima dele”. Culpa os professores de ensino básico de construir uma ideologia “esquerdista”, baseada em Gramsci, chamada por ele de “nova ordem mundial cristã. Assim, dá para entender por que Bolsonaro despreza a classe professoral.

COVID É HISTÉRIA...FRUTO DO PECADO

No dia 1 de abril, próximo à Páscoa, lançou mais um vídeo da série sobre o Covid-19. No material tenta responder à pergunta se o Covid-19, e outras pestes, são castigos de Deus. O padre indaga: – se Deus é um “pai bondoso e compassivo como permitiria tamanhos males sobre os inocentes?”. Nesse vídeo pondera que “o problema da humanidade é o pecado”, ou seja, o problema dos milhares de mortos no mundo é o pecado. Numa leitura teológica da realidade social e biológica entende que é o pecado que está matando as pessoas.  É impressionante que nesse momento com o número exponencial de mortes pelo Covid-19 tal evocação mais parece parte de um sadismo teológico, que pouco se identifica com o sofrimento das pessoas. Ainda mais comparando-o com o martírio de Jesus: “O que estou sofrendo não é nada, diante do que sofreu por mim na cruz”. Além disso, aproveita para chamar a pandemia de “histeria coletiva”.



4º domingo comum - Jesus desmascara os maus espíritos dos falsos pregadores que manipulam e dominam os filhos de Deus! (Mc 1,21-28)

Há pregadores que só pregam. Não interessa o seu conteúdo, e tampouco a coerência entre pregação e testemunho. Eles podem ser evangélicos, católicos ou de outra denominação. Repetem as mesmas coisas. Muitos ameaçam, alguns condenam, outros apelam para o moralismo barato, e há quem faça piadinhas de mau gosto, e outros, enfim, se exibem como cantores e showman. Eles mesmos são seu próprio púlpito. Os seus ouvintes, passivos, desligam e ficam a fantasiar até o ‘sermão’ findar. Os doutores da lei contemporâneos de Jesus se assemelhavam aos de hoje. O pregador da Galileia, no entanto, Jesus de Nazaré, se diferenciava deles. Não tinha mandato para pregar, mas o fazia igualmente. Não tinha diploma fornecido por nenhuma escola rabínica, mas mesmo assim ‘pregava com autoridade’. E por isso chama a atenção dos ouvintes, e os perturba profundamente. A diferença está na sua postura, no conteúdo e na metodologia. Quem dava aos escribas e doutores a suposta legitimidade para pregar era a lei e o seu sistema sofisticado. Algo que eles mesmos e a sua tradição haviam elaborado. Jesus falava com autoridade não porque exibia uma fascinante oratória, ou uma erudição incomum, mas porque atribuía o seu mandato de pregador ‘sui generis’ à própria autoridade divina. Nem homens, nem tradição e nem leis lhe davam legitimidade. É como se Jesus dissesse: ‘se Deus, hoje, estivesse aqui de forma visível, diria e faria tudo aquilo que estou dizendo e fazendo’! A pregação de Jesus carregada de ‘autoridade’ se diferencia das demais porque ela realiza o que prega. Prega e liberta, simultaneamente. Da mesma forma que Deus no Gênesis cria falando...’E Deus disse, e foi feito o céu...a terra....’!

A originalidade da pregação-testemunho de Jesus desperta nas pessoas não somente curiosidade, desnorteamento e perplexidade, mas também expõe seus complexos, suas fobias mais ocultas, e as neuroses que se alojam no seu inconsciente. Principalmente de quem foi educado de forma unidirecional e rígida. O novo, de fato, quase sempre assusta. Revela um lado desconhecido de si próprio. Informa que a sua vida poderia ser outra, e bem diferente do que é e aprendeu até então. As suas reações de caráter emotivo eclodem com virulência, pois não se sente mais seguro como acreditava ser: ’o que quer de nós Jesus de Nazaré, nós sabemos quem você é....’ É a típica reação agressiva de quem descobre que foi enganado o tempo todo, e não aceita que outros, de fora, lhe mostrem a sua dura realidade pessoal. E ataca quem lhe mostra, de fato, o outro lado da moeda, e quer libertá-lo. Começa a intuir que, talvez, alguém o tenha permanentemente manipulado e controlado. Percebe que aquele espaço sagrado foi utilizado por supostos ‘homens de Deus’ para submetê-lo às suas vontades humanas e interesseiras. Descobre-se, tragicamente, no fundo, um ‘possuído’, um não livre! O evangelista Marcos, dessa forma, com uma ironia atroz faz uma crítica ao sistema religioso da época. Na prática nos diz que os doutores da lei e os escribas eram eles mesmos, de fato, os maus espíritos que possuíam e dominavam seus fregueses. Jesus com sua pregação diametralmente oposta à deles estava a desmontar e a desmoralizar tudo aquilo que eles vinham ‘ensinando e pregando’! O ‘exorcista libertador’, Jesus, tem que intervir com força para devolver a liberdade e a vida àquele coitado possuído, para ele experimentar, definitivamente, o espírito bom que liberta e salva. 

O teólogo Marcos procede na sua crítica ao sistema religioso institucional sem pena e sem dó ao nos informar que ‘a possessão’ se dá, preferencialmente, nos templos/sinagogas/igrejas e nos dias a ele sagrados (sábado). Os maus espíritos rondam sistematicamente os espaços que o sistema religioso define como sagrados, diferentemente do que proclama Jesus segundo o qual tudo é sagrado e nada é impuro, a não ser o que sai de um coração humano cheio de ambições e arrogâncias. Hoje não podemos negar que essa prática persiste e se torna a cada dia sempre mais atual e ameaçadora. Baste, para tanto, constatar a atuação de um enorme exército de pregadores que não ensinam e não agem com a autoridade que vem de Deus, mas somente movidos por seus interesses pessoais e escusos. Pregadores, cujos patrocinadores são empresários sem responsabilidade social, setores podres do poder público, milícias, promotores de intolerância, etc. É preciso, portanto, assumir o ensinamento novo’ de Jesus de Nazaré denunciando esses abusos, esclarecer, educar e libertar pessoas para que não aceitem nenhuma forma de dominação, de mentiras revestidas de ‘falsa profecia’. Como nos dizia o evangelho de domingo passado é preciso se tornar ‘pescadores de homens’, ou seja, arrancar do mar da injustiça, da manipulação, da violência institucionalizada e do desespero todos aqueles humanos que nele estão a afogar!



sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Preso um suspeito de ter matado uma criança indígena de 5 anos no Maranhão

 A Polícia Civil prendeu, na tarde desta quarta-feira (27), um homem suspeito de ter matado a criança indígena Vanessa Guajajara na Aldeia Barreirinha, na região entre Buriticupu e Arame, a cerca de 476 km de São Luís. O local pertence a Terra Indígena Arariboia. O crime aconteceu na última terça-feira (26) e um laudo apontou morte por asfixia com a utilização de algum instrumento, que ainda não foi localizado. Vanessa tinha cinco anos e foi encontrada pelo pai no rio Zutiwa, na aldeia Barreirinha, com marcas de violência no pescoço. Após o crime, a polícia abriu um inquérito e cumpriu a prisão de um suspeito, com base em um mandado da Justiça. O homem, que não teve o nome revelado, foi levado para a Unidade Prisional de Santa Inês e as investigações continuam. 

Segundo as informações preliminares, a criança teria desaparecido na manhã do dia 25 de janeiro, quando estava junto de sua mãe, que teria se afastado momentaneamente para buscar água em um rio próximo a sua residência e deixado a criança brincando no chão. Logo após retornar, a criança teria desaparecido, tendo sido encontrada morta, 30 horas depois. A delegada de Polícia Civil Vilene Rodrigues, de Buriticupu, que comanda as investigações, esteve nesta quarta-feira (27) na região, acompanhada de investigadores, e colheu mais de quatro depoimentos. A mãe da criança relatou que a primeira pessoa que encontrou após o desaparecimento da menina foi um vizinho, que estava próximo da casa onde ela foi vista pela última vez. Ele foi um dos ouvidos pela polícia e segundo a delegada, pode ser um dos suspeitos. A mãe e o pai da criança foram ouvidos, um casal de vizinhos, e policiais militares que auxiliaram nas buscas no local onde o corpo da criança foi encontrado. "A criança é uma deficiente física, não andava direito, não falava. A Polícia Federal informou que o caso não se tratava de violação dos direitos indígenas e deve ficar a cargo da Polícia Civil, que ainda não sabe a motivação do crime. (Fonte:G1)


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O difícil diálogo entre Eletronorte e os Guajajara da T.I. Canabrava. A Polícia Federal interveio, mas não para defender os indígenas....

A Polícia Federal não se fez de rogada e chegou à Terra Indígena Canabrava, na aldeia Coquinho, Maranhão. Aqui, há vários dias se vive um clima de ‘alta tensão’. Não é para menos. De um lado a Eletronorte que há vários anos vem prometendo aos mais de 17.000 indígenas um plano global de intervenção, através de ações reparatórias e da partilha das royalties da distribuição de energia em cuja área, ao longo de 23 Km, passa a rede de alta tensão. E do outro lado, as centenas de aldeias impactadas que relembram sistematicamente as obrigações legais que a empresa tem para com a população indígena local. Já faz uma semana que o Conselho Geral dos caciques da terra Indígena convidou os diretores da Eletronorte a sentar, dialogar e negociar. Finalmente, uma comissão da empresa chegou à aldeia Coquinho e, na presença de centenas de indígenas, foram expostas inúmeras reivindicações, sem deixar de lembrar a histórica omissão no cumprimento de acordos informais e promessas feitas no passado. Diante da crise generalizada que afeta sobremaneira todas as aldeias, os indígenas engrossaram a voz e intimaram a empresa a comparecer e 'conceder' de forma emergencial uma ajuda econômica. Após inúmeras discussões, parecia que se estivesse chegando a um acordo, mas em vão. A quantia proposta pela Eletronorte foi considerada irrisória pelos indígenas, constatando o elevado número de famílias em situação de precariedade e, principalmente, diante dos ‘lucros’ que a empresa vem acumulando ao longo desses anos. 

Alguns caciques revelam que ‘estão cansados de serem enrolados toda vez que há uma audiência para se chegar a um acordo’. Não escondem que existem alguns setores indígenas que propõem ações mais ‘contundentes’ como forma de chamar para a responsabilidade social a diretoria da Eletronorte.  No início da semana deu-se conta de que uma das torres que sustenta a rede vinha sendo desmontada com a retirada de alguns enormes parafusos a partir de suas bases. Isso revoltou a empresa que não consegue perceber que, diante da sua própria ‘dureza’, aos índios só restaram essas armas... Hoje, - como alguns já esperavam, - chegou à aldeia a Polícia Federal, em diferentes carros e com um helicóptero. Mais uma vez o capital da Eletronorte deve ser defendido e protegido custe o que custar, inclusive utilizando a argumentação de que iria prejudicar milhares de famílias e indústrias que dependem da rede elétrica. Se isso é verdade, é bom também relembrar as repetidas omissões e descumprimentos de acordos da Eletronorte que beiram a criminalidade.  Lamentável, enfim, constatar que a mesma Polícia Federal que defende a Eletronorte não mostra o mesmo interesse, zelo e rapidez para combater madeireiros e invasores de todo tipo que vêm destruindo o escasso PATRIMÔNIO FEDERAL em que os indígenas da Canabrava sobrevivem!


Pastoral Carcerária do Ceará pede transparência sobre caso de tortura de presos em Sobral


A Pastoral Carcerária pedirá ao presidente do Conselho Penitenciário do Ceará, Cláudio Justa, que acompanhe as investigações sobre as denúncias de tortura a presos em Sobral. Nos dias 20 e 21 deste mês, pelo menos 40 internos da Penitenciária Industrial Regional de Sobral teriam sido espancados com golpes de cassetetes nas mãos e no abdômen, com spray de pimenta nos olhos e confinamento coletivo. Ontem, integrantes da Pastoral se reuniram para elaborar um documento pela transparência no processo investigatório. Principalmente no que diz respeito à informação para familiares dos lesionados. Até agora, segundo uma fonte, não foi aberto procedimento administrativo nem na Secretaria da Administração Penitenciária nem na Corregedoria Geral de Disciplina do Estado.

Mecanismo - O pivô das supostas torturas em Sobral envolveria a chefia de disciplina da penitenciária regional e os presos que, constantemente, estão em conflitos no interior da prisão. Em abril de 2019, um relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura apontou violações nos presídios cearenses.

Pimenta - Um dos pontos relacionados no documento do Mecanismo Nacional, que pertence ao Governo Federal, é exatamente o "uso de spray de pimenta" por policiais penais em presos que não mantém a "imobilidade e o silêncio para realização do procedimento".

Naturalização - Padre Marcos Passerini, ex-coordenador da Pastoral Carcerária, lembra que, na época das denúncias, houve um pacto entre órgãos do poder público na "naturalização da força excessiva" implementada pela Secretaria da Administração Penitenciária. Inclusive, afirma, dos bispos da CNBB no Ceará.


sábado, 16 de janeiro de 2021

II domingo comum - O que procurais em época de crise totalizante? (Jo. 1, 35-42)

Há encontros que são verdadeiros divisores de água. Verdadeiros marcos divisórios entre passado e presente. Encontros nem sempre pacíficos. Momentos intensos em que nos sentimos questionados sobre algo que nos parecia, até então, tranquilo e adquirido. São, afinal, encontros que provocam uma crise, crucial e dolorosa. Contudo, quase sempre necessária. Aconteceu com Jesus no Jordão por ocasião do batismo. O mesmo o experimentou o próprio João ao perceber que a sua missão estava para findar, e que Outro Profeta ‘mais forte do que ele’ estava a aparecer no mesmo caminho. O trecho evangélico hodierno descreve o início da crise de Pedro, André e de outros cidadãos ao se encontrarem com Jesus, e ao desejarem ser seus discípulos. Os dois irmãos de Cafarnaum, fiéis seguidores de João, entram em crise quando o seu próprio mestre, João, parece descarregá-los e entrega-os a Jesus. Contudo, o Batista o faz conscientemente, não sem ter ‘fixado’, antes, Jesus, e ter percebido que Ele ‘era o novo cordeiro’. Aquele que com o seu sangue liberta pessoas de dominadores militares, e de políticos religiosos. O novo Mestre os acolhe com um questionamento que parece aprofundar ainda mais a crise já implodida na vida dos dois ‘o que procurais’? Não se trata de procurar ‘uma pessoa’, mas de eles buscarem ‘o sentido da própria existência’. Algo grandioso a ser entendido e acolhido. Estavam em jogo a felicidade pessoal, a sua realização como seres inseridos no mundo, e o futuro do seu povo! 

André e Pedro não conseguem responder: em tempo de crise só sabemos dizer ‘o que não somos e o que não queremos’! Quase que gaguejando como que a despistar Jesus por aquela ‘pergunta crítica’, respondem com outra pergunta ‘onde moras’? Jesus percebe que os dois não têm a curiosidade de conhecer o local de residência, mas de vivenciar o seu estilo de vida, suas opções, motivações, seus sonhos e decepções. Jesus não explicita, teoricamente, o que eles desejam conhecer, mas, simplesmente, os convida a ir com Ele e ‘ver’, sentir e tocar com mão a nova realidade. Os discípulos não têm medo de mergulhar no desconhecido, de se separar da sua rotina cotidiana, e entrar no mundo do outro. Convivem e vivem o intenso dia com Jesus, até ao entardecer. Os dois tomam consciência que todo um passado estava sendo relegado na noite da vida. Não porque era insignificante, mas porque agora, estava a raiar para eles um novo dia. Uma página inédita de vida, carregada de sentido, de motivações profundas. Na prática da compaixão e de serviço humilde daquele Mestre eles haviam encontrado ‘o que procuravam’ desde o início!


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Filosofia del contatto, di Giorgio Agamben

Due corpi sono a contatto quando si toccano. Ma che significa toccarsi? Che cos’è un contatto? Giorgio Colli ne ha dato un’acuta definizione affermando che due punti sono a contatto quando sono separati soltanto da un vuoto di rappresentazione. Il contatto non è un punto di contatto, che in sé non può esistere, perché ogni quantità continua può essere divisa. Due enti si dicono a contatto, quando fra essi non si può inserire alcun medio, quando essi sono cioè immediati. Se fra due cose si situa una relazione di rappresentazione (ad esempio: soggetto-oggetto; marito-moglie; padrone-servo; distanza-vicinanza), essi non si diranno a contatto: ma se ogni rappresentazione viene meno, se fra di essi non vi è nulla, allora e solo allora potranno dirsi a contatto. Ciò si può anche esprimere dicendo che il contatto è irrappresentabile, che della relazione che è qui in questione non è possibile farsi una rappresentazione – o, come scrive Colli, che «il contatto è dunque l’indicazione di un nulla rappresentativo, di un interstizio metafisico».

Il difetto di questa definizione è che essa, in quanto deve ricorrere a espressioni puramente negative, come «nulla» e «non rappresentabile», rischia di sfumare nella mistica. Colli stesso precisa che il contatto può dirsi immediato solo approssimativamente, che la rappresentazione non può essere mai integralmente eliminata. Contro ogni rischio di astrattezza, sarà allora utile tornare al punto di partenza e chiedersi nuovamente che cosa significa «toccare» – interrogare, cioè, quel più umile e terrestre dei sensi che è il tatto.

Sulla natura particolare del tatto, che lo differenzia dagli altri sensi, ha riflettuto Aristotele. Per ogni senso esiste un medio (metaxy), che svolge una funzione determinante: per la vista, il medio è il diafano, che illuminato dal colore, agisce sugli occhi; per l’udito è l’aria, che mossa da un corpo sonoro, percuote l’orecchio. Ciò che distingue il tatto dagli altri sensi è che noi percepiamo il tangibile non «perché il medio esercita un’azione su di noi, ma insieme (ama) al medio». Questo medio, che non è esterno a noi, ma in noi, è la carne (sarx). Ma ciò significa che toccato non è solo l’oggetto esterno, ma anche la carne che ne è mossa o commossa – che, in altre parole, nel contatto noi tocchiamo la nostra stessa sensibilità, siamo affetti dalla nostra stessa ricettività. Mentre nella vista non possiamo vedere i nostri occhi e nell’udito non possiamo percepire la nostra facoltà di udire, nel tatto noi tocchiamo la nostra stessa capacità di toccare ed essere toccati. Il contatto con un altro corpo è, cioè, insieme e innanzitutto contatto con noi stessi. 

Il tatto, che sembra inferiore agli altri sensi, è, allora, in qualche modo il primo, perché è in esso che si genera qualcosa come un soggetto, che nella vista e negli altri sensi è in qualche modo astrattamente presupposto. Noi abbiamo per la prima volta un’esperienza di noi stessi quando, toccando un altro corpo, tocchiamo insieme la nostra carne.Se, come si cerca oggi perversamente di fare, si abolisse ogni contatto, se tutto e tutti fossero tenuti a distanza, noi perderemmo allora non soltanto l’esperienza degli altri corpi, ma innanzitutto ogni immediata esperienza di noi stessi, perderemmo cioè puramente e semplicemente la nostra carne.



Bolsonaro e o avanço irreversível da militarização - Por Luís Nassif

 Há tempos alguns analistas políticos insistem na extraordinária robustez das instituições brasileiras – que, na sua opinião, seriam um obstáculo permanente às pretensões golpistas de Jair Bolsonaro. Trata-se de um erro fatal de análise, que apenas contribui para desarmar as instituições quanto ao avanço real das investidas de Bolsonaro.

Há duas estratégias em curso por parte de Bolsonaro. Uma delas, é a retórica radical, destinada a manter a mobilização de suas milícias. Outra, as ações efetivas de ampliação do controle sobre os organismos de Estado. Os idiotas da objetividade – e, aparentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) – enxergam apenas as ações ostensivas e respectivas reações. Cria-se então um jogo de pega-bobo, no qual o bobo definitivamente não é Bolsonaro. Ele exagera na retórica. O STF emite sinais de reação. Bolsonaro recua e os idiotas da objetividade comemoram. Aí ele continua comendo pelas bordas, tomando medidas sem alarde que, dia após dia, vão ampliando o controle sobre o Estado. Quando o movimento torna-se mais explícito, Bolsonaro reage com uma nova declaração estapafúrdia. A opinião pública se incendeia, o STF ameaça reagir, cria um novo assunto, ele se cala novamente, o avanço institucional cai para segundo plano. E continua comendo pelas bordas.

Peça 1 – a militarização do governo. Em qualquer caso, considere-se que o bolsonarismo não é mais um fenômeno restrito a Bolsonaro. A cada dia que passa, vai se tornando cada vez mais um processo de militarização em curso. Daí, a importância de separar o acessório do essencial. Por acessório, entendam-se os pequenos muxoxos das relações militares-Bolsonaro, declarações em off de supostos oficiais do Alto Comando, espantados com a irracionalidade de Bolsonaro, notícias dando conta da não promoção de oficiais bolsonaristas. Por essencial, analise-se o fenômeno da militarização que, a  cada dia que passa, vai ficando mais nítido e espalhado.

Militarização

* Abertura indiscriminada de cargos na área civil para militares das Forças Armadas e da Polícia Militar.

* Ocupação, por militares, de cargos-chave nas guerras culturais centrais do Bolsonarismo, na questão ambiental, de educação e de costumes, acentuando a identificação ideológica com as Forças.

* Tentativa de colocar a Polícia Militar como a 4a arma das Forças Armadas: Exército, Aeronáutica, Marinha e Polícia Militar. Ontem, César Maia advertiu que esse movimento foi essencial para o golpe no Chile, já que os “carabineros” (a PM chilena) são distribuídos por todo o país, ao contrário das Forças Armadas.

*Dois projetos de lei tirando o controle dos governadores sobre as Polícias Militares estaduais. A ideia central é conferir à polícia a mesma autonomia relativa dos Ministérios Públicos, com mandatos para os comandantes, obrigatoriedade de seguir a lista tríplice, assim como a hierarquia na definição das chefias. Segundo o Ministério da Justiça, os projetos estão sendo preparados com entidades representativas dos militares, como a Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais e do DF (Feneme). Seu argumento é que deve existir semelhança com a hierarquia militar porque policiais e os bombeiros militares constituem a força auxiliar e reserva do Exército, de acordo com a legislação de 1969, em plena vigência do Ato Institucional número 5. Considere-se que o flerte aos militares não é exclusivo de Bolsonaro. João Dória Jr também aposta nessa área, com o estímulo às escolas militares.

*Os pactos políticos . A mudança da natureza hierárquica das polícias passa pela Câmara. As disputas pela presidência da Câmara e do Senado caminham nessa direção. Hoje em dia, na Câmara, a disputa se dá entre um bolsonarista e um seguidor de Michel Temer. A probabilidade do grupo de Temer apoiar golpes, desde que participando do banquete, é total, faz parte de sua natureza. 

Peça 2 – o avanço totalitário por fora

Por aí se incluem as milícias digitais e as milícias armadas ligadas aos Bolsonaro, e controladas pelo filho Eduardo. Note-se que um dos riscos da sublevação dos trumpistas são justamente as milícias armadas. Por aqui, se tem dois anos de estímulo a se armas as populações, especialmente os Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs),  clubes de tiro e caça estreitamente ligados aos Bolsonaro. Sem contar as milícias historicamente ligadas à família. Bolsonaro anunciou novas medidas para facilitar anda mais a importação de armas. No ano passado houve aumento de 90% na venda de armas registradas,. Para este ano, espera-se aumento maior ainda.

Peça 3  – o cenário de 2022

Há semelhanças entre 2022 e 2002, ano em que a opinião pública deserdou o neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso, depois dos desastre da política cambial em 1999 e do apagão. Além disso, houve um enorme acirramento da miséria, agravdo pela crise econômica pós-1999. Esses dois fatores reduziram as resistências da classe média ao PT. Até 2022 se terá uma economia em frangalhos, o aumento ainda maior do desemprego, o fim da ajuda emergencial, um programa de vacinação nas mãos de gestores medíocres, acentuando o quadro de desespero. A diferença maior está na falta de uma oposição organizada e unificada. Em cima desse quadro, há duas hipóteses para 2022:

Bolsonaro catalisando o desespero. Nessa hipótese, ele chegaria a 2022 em condições de vencer as eleições. Sendo reeleito, teria a força política necessária para tentar o golpe final.

Bolsonaro perdendo apoio. Havendo perspectiva de perdas das eleições, também tentaria o golpe final, conforme o ensaio nas últimas declarações de apoio a Trump. E encontraria pela frente uma oposição desorganizada, mesmo eventualmente elegendo um competidor.

 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O trampismo se infiltrou na igreja católica dos EUA - Entrevista com Massimo Faggioli

 O que significa a eleição de Joe Biden para os católicos norte-americanos? Ele é o primeiro presidente católico da história depois de JFK (John Fitzgerald Kennedy).

Nos primeiros duzentos e trinta anos da sua história, a grande maioria dos presidentes dos Estados Unidos pertencia a Igrejas cristãs não católicas: Episcopal, Presbiteriana, Metodista e Batista. Biden torna-se parte da história de um grupo religioso específico na América, a de uma Igreja há muito considerada estranha e hostil ao projeto americano. Ele não é apenas o segundo católico eleito depois de Kennedy (1961-1963), mas também o quarto a se candidatar às eleições (Al Smith, em 1928, e John Kerry, em 2004) para ocupar o cargo político, mas também moral e religioso, que é a presidência americana em um momento de transição delicado para a nação e para a Igreja. Biden fez da fé católica uma parte central de sua campanha, não deixando dúvidas sobre onde estão suas raízes e o que o ampara.

Por que tantas críticas ao líder democrata por parte de um setor do catolicismo norte-americano?

O tema central da crítica é o aborto, já que Biden é a favor do aborto legal, mas recentemente surgiram também novas questões sobre a liberdade religiosa e os direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Os bispos estadunidenses depositaram grandes esperanças em Trump e no final saíram não apenas derrotados, mas severamente prejudicados em sua autoridade, tendo ganhado muito pouco com esta presidência. Do regime fascista de Mussolini, a Igreja e o papado obtiveram, a um custo muito elevado (pago em grande parte por outros), algumas conquistas, como a Concordata e a resolução da “Questão Romana”. A Igreja estadunidense, ao contrário, não recebeu nada de Trump, exceto por um punhado de juízes da Suprema Corte que deixaram claro que a revogação da legalização do aborto não será alcançada por meios legais.

Alguns líderes cristãos (católicos e protestantes) teriam que pedir perdão por seu apoio, até o fim, às políticas de Donald Trump?

Por mais doloroso que seja admitir que esta violenta insurreição teve católicos nas fileiras dos insurgentes. Não só isso: também houve a tentativa de dar uma justificativa moral a esse ataque por parte da mídia católica (mais ou menos independente) dos Estados Unidos, como EWTN, Church Militant e Life Site News. O trumpismo se infiltrou na Igreja Católica e tem contado, desde 2015, com o apoio de membros do clero (incluindo alguns bispos), políticos e intelectuais católicos que não esconderam suas simpatias por uma pessoa que prometeu proteção especial à Igreja diante do poder político.

Houve ‘razões de fé’ após a invasão do Capitólio?

O movimento que apoia Trump dá voz a ressentimentos de vários tipos: econômicos, para um país em declínio no mundo onde os Estados Unidos não são mais o único poder; culturais, pela crescente separação entre áreas urbanas e suburbanas, de um lado, e áreas rurais e desindustrializadas, de outro; religiosos, para a luta desenfreada entre as almas religiosas e secularistas. Mas também existe – e este é o novo fator desde 2008 – um ressentimento étnico e racial que sai das margens e entra na corrente hegemônica. A retórica triunfal da “eleição roubada” nada mais é do que a rejeição de um resultado eleitoral determinado pelo fato de as minorias afro-americanas e latinas terem votado esmagadora e amplamente em Biden. As tentativas dos republicanos (há uma década) de frustrar os direitos de voto das minorias falharam, pelo menos nas eleições de 2020. Os discursos sobre a identidade racial e a religião estão totalmente entrelaçados nos Estados Unidos.

Como serão as relações Estados Unidos-Vaticano com Biden?

Acredito que as relações serão boas porque tanto o Papa quanto Biden são dois líderes em um momento de dificuldades políticas e culturais nas duas comunidades que representam. O Vaticano queria acabar com a presidência de Trump, que tem sido um desafio muito sério para a estabilidade do Sistema Internacional. Mas independentemente de quem seja o papa e o presidente dos Estados Unidos, sempre houve importantes diferenças entre o Vaticano e os Estados Unidos no nível da política internacional que surgirão com o tempo. 

Parte da Igreja dos Estados Unidos está por trás dos ataques a Francisco ou é apenas uma coisa de Viganò e Steve Bannon?

Viganò e Steve Bannon são apenas a ponta do iceberg: há um catolicismo tradicionalista e golpista para quem tanto Biden como Francisco são os inimigos. Não é apenas uma questão de identidade política, mas também eclesial e teológica. Aqueles que agora se opõem a Biden são os mesmos que tentaram fazer com que o Papa renunciasse em 2018: para deixar claro que esses católicos não obedecem às regras da política, nem da Igreja.

Massimo Faggioli é um dos maiores conhecedores da “alma religiosa” dos Estados Unidos e um dos intelectuais católicos que mais e melhor destacaram os perigos do trumpismo e sua relação com os setores mais ultraconservadores (senão sedevacantistas) da Igreja estadunidense, e as razões de seus ataques ao Papa Francisco. (Fonte:IHU)


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Acolitado, leitorado para mulheres....ainda muito pouco para reconhecer o papel fundamental das mulheres na igreja católica! Entrevista com Adriana Valério

 Vários membros do Sínodo dos Bispos para a Amazônia haviam pedido o diaconato feminino. Por que você acha que esta etapa ainda não foi alcançada?

Porque o diaconato é o primeiro passo dentro do sacerdócio ministerial, hoje diferente daquele dos fiéis, e não se quer que as mulheres participem dele. Se o leitorado e o acolitado pertencem às ordens menores, o diaconato pertence, ao contrário, às ordens maiores que fazem parte da ordem sagrada, onde as mulheres são excluídas. Ainda são muito fortes as resistências dentro da hierarquia ligadas ao que se chama de ‘costume’ (sempre foi assim) e, sobretudo, aos próprios privilégios que zelosamente defendem.

A estrutura da Igreja ainda é hierárquica e masculina em seus vértices. Por quê?

Todas as decisões na Igreja são tomadas por homens pertencentes ao clero ainda ligados a posições que tinham sua própria justificativa quando a visão social e antropológica considerava as mulheres impuras, inferiores e inadequadas para exercer o poder ou mesmo representar o divino.

Afinal, Francisco realizou passos significativos para as mulheres na Igreja ou você ainda os considera insuficientes?

O Papa Francisco iniciou um processo fundamental de desclericalização na Igreja Católica, exortando continuamente a presença significativa das mulheres nas estruturas da comunidade eclesial, mas as suas palavras não serão suficientes se não operar uma intervenção a nível institucional que reconheça uma efetiva igualdade homem-mulher. Reconhecer a dignidade e a autoridade da pessoa humana, de fato, significa permitir que ela participe dos processos de tomada de decisão. Não aceitar na mulher a capacidade de governar implica relegá-la à não visibilidade, à situação de minoridade de uma condição humana que requer para existir a presença da mediação masculina que controla, aprova, julga e dirige. Por acaso os homens aceitariam se ver representados por um conselho ou sínodo de mulheres tomando decisões também por eles? Eles iriam ridicularizá-lo, ririam dele ou se insurgiriam.

Adriana Valerio, teóloga e estudiosa da figura das mulheres no cristianismo 

Cumplicidade de muitos católicos, leigos, bispos e religiosos, com a violência e a xenofobia do Trump!

 Muitos católicos, de bispos a religiosos, das mídias eclesiais aos movimentos pró-life, são "cúmplices" do ataque ao Capitólio pelos partidários de Donald Trump. Se a hierarquia eclesiástica dos EUA silenciar ou se limitar a palavras circunstanciais para condenar violência sem qualquer autocrítica e quase sem mencionar Trump - como, por exemplo, o presidente da Conferência Episcopal e Bispo de Los Angeles, Dom José Horacio Gómez -, as associações de base e pela reforma da Igreja (reunidas na rede Cor, Catholics Organisations for Renewal) expressam um severo juízo sobre os acontecimentos de 6 de janeiro e, sobretudo, sobre as responsabilidades dos católicos. “Condenamos a cumplicidade e a participação da comunidade católica estadunidense na promoção do clima que encorajou e possibilitou tal violência”, afirmam em comunicado conjunto assinado por onze associações. "O caos e a violência que aterrorizaram nossa nação na quarta-feira foram o resultado direto e previsível de mais de quatro anos de retórica violenta, racista, xenófoba e misógina do presidente Trump", uma retórica "que muitos bispos dos EUA repetidamente deixaram de nomear e condenar, tanto individual quanto coletivamente”. 

Uma postura semelhante àquela assumida pelo movimento We Are Church: “A Igreja Católica deve ser um exemplo para o mundo na promoção da justiça, igualdade e paz, mas não é”. A esperança é que o assalto ao Capitólio seja uma "nova epifania", a partir da qual "a comunidade católica aprenda a se empenhar com maior diligência para se tornar uma comunidade de agentes da justiça". E Johnny Zokovitch, diretor executivo da Pax Christi Usa: "Os eventos de 6 de janeiro são o resultado da demagogia de um homem, o presidente Trump, e do fracasso de todos aqueles que desculparam, negligenciaram, rejeitaram ou estimularam o ódio e a retórica divisionista que caracterizou o mandato deste presidente", inclusive os católicos, "são o triste e previsível resultado desta abdicação de responsabilidades". A conclusão é quase apocalíptica: “No livro do profeta Oséias, Deus avisa: Quando semearem o vento, colherão a tempestade”. Esperamos, conclui o diretor executivo da Pax Christi, que esses fatos “sirvam como um momento de conversão para muitos”.


Pan-Amazônia já tem mais de 40.000 vítimas da Covid!

 Segundo os números recolhidos pela REPAM, já são 1.715.410 contagiados na Pan-Amazônia e 40.320 falecidos. Mesmo sendo números altos, existe a suspeita de uma alta subnotificação. Na região amazônica a vacina ainda não está sendo aplicada, o que eleva o risco numa população, especialmente os povos originários, com baixa imunidade diante de doenças chegadas de fora. Junto com isso, o sistema de saúde na região é altamente precário, o que exige uma maior atenção por parte dos diferentes estados, que na maioria dos casos não está sendo dada.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

"O Brasil está quebrado”, disse o bufão do Planalto......“Chama o torneiro mecânico que ele resolve” - Por Armando Rodrigues Coelho Neto

As Forças Armadas sabiam da estranha e diabólica personalidade daquele que escolheram para ser seu chefe. O site argentino âmbito.com, em matéria assinada por Marcelo Falak, citando alta fonte militar brasileira, diz que na construção da candidatura do Bozo, ele passou dois anos assistido por psiquiatras (2). A reedição do “Brasil está quebrado”, com a imediata ameaça de não comprar seringas para vacinar brasileiros contra a Covid-19, imunizante aliás que ele torce contra, é apenas o mais recente espasmo do Bozo. 

Quando se fala de Brasil quebrado vou ler textos e entrevistas de Maria Lúcia Fattorelli, auditora fiscal, militante da auditoria cidadã da dívida. A crise é falsa, é um programa de expropriação do povo. O “presidente” da República justificou sua inoperância, incapacidade e desgoverno com o falso mote do Brasil quebrado. Mas, nos últimos dez anos, o Brasil gastou quase três trilhões de reais para sustentar o Banco Central. O dinheiro vai para remunerar, ilegalmente a sobra de caixa dos bancos, diz a auditora Fattorelli (3). Brasil quebrado uma ova! “Temos quase R$ 5 trilhões na gaveta! R$ 1,289 trilhão na conta única do Tesouro Nacional, R$ 1,836 trilhão em reservas internacionais, R$ 1,393 trilhão de sobra de caixa dos bancos parados no Banco Central rendendo juros somente aos bancos, às custas do povo”, diz a auditora Maria Lúcia Fattorelli. Ela também chama a atenção para o fato de que o país teve superávit de mais de US$ 50 bi na balança comercial. No mais, existe forte potencial para arrecadar tributos de ricos que não pagam e várias outras fontes de recursos. Em poucas palavras o mantra do Brasil quebrado é desmontado, apoiada em fontes sólidas. Cabe lembrar que no Brasil, ricos não pagam impostos, empresas recebem incentivos e os lucros distribuídos a sócios são isentos. Também passa longe do fisco a remessa de valores para o exterior. O imposto sobre grandes fortunas nunca foi seriamente discutido ou regulamentado, embora previsto na Constituição.

O que chamam de “crise”, a rigor, é um projeto político lesa-Pátria. Só há “Teto de Gastos” no que se destina aos reais interesses da população. Estão livres de teto, sem controle ou limite os gastos financeiros com a chamada dívida pública que nunca foi auditada como manda a Constituição, diz Fattorelli! A crise não é em si crise, mas certamente tática. Em plena pandemia de Covid-19, os quatro maiores bancos do Brasil – Bradesco, Itaú, Santander e BB – lucraram R$ 28,4 bilhões no primeiro semestre de 2020. Mesmo sem precisar, receberam R$ 1,2 trilhão como socorro, informa o Sindicato dos Bancários.

Com cinco trilhões de reais paralisados na gaveta, Bozo surta e baba, num jogo de cena de passa boiada. No fundo, coloca sua loucura a serviço de um sistema que se nutre da miséria do povo. Não há dinheiro para auxílio emergencial, para compra de seringas e vacina, porque há um fim predeterminado para ele: bancos. E isso é apenas o começo. Bater no Bozo é diversionismo. Enquanto ele baba a boiada passa. Haja boi!


Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

domingo, 3 de janeiro de 2021

Os impuros estrangeiros revelam a Israel, Jesus, o verdadeiro rei de todos! (Mt 2,1-12)

 ‘Voltem para a sua terra, imundos estrangeiros: vocês querem nos tirar os poucos empregos que ainda nos restam?’ Frases desse feitio se tornam, a cada dia, mais comuns! Revelam não só uma imbecil xenofobia e um racismo incrustado, mas um ignóbil fechamento ao diálogo, à pluralidade, e ao princípio da equidade. O antigo Israel (o moderno pouco mudou...!) se autoproclamava ‘povo eleito, raça escolhida’, mas achava que fosse vontade do Deus nacionalista que o próprio povo havia criado à sua imagem e semelhança. ‘Primeiro nós, e depois, se sobrar algo, para os demais povos! Esse era o princípio constitutivo desses presunçosos! Um bom israelita não se esquecia de rezar cotidianamente para que ‘Deus’, esmagasse os estrangeiros e indignos pagãos! O judeu Mateus entende que com a chegada de Jesus de Nazaré essa teologia arcaica deve ser extinta. Ele nos diz que todos os povos ‘são povos eleitos, e todos somos dignos’. Para ele, o Deus de Jesus, - e não o dos nacionalistas, - se revela, preferencial e paradoxalmente, aos detestados pagãos. Mais escandaloso no evangelho de hoje, é que Mateus modifica mais ainda essa nova lógica: são os próprios estrangeiros impuros a revelar a presença de Jesus, agora proclamado como novo governante (rei) de Israel. Mostra desde já o que o Jesus adulto fará de forma rigorosa: anunciar e provar que a Realeza de Deus, - não mais o deus nacionalista, mas a do Pai de Jesus, - será colocada nas mãos dos pecadores, dos pagãos, dos estrangeiros e dos homens/mulheres de boa vontade. Ou seja, nas mãos de todos aqueles que O acolhem, não se importando da sua nacionalidade e da sua ficha judicial. 

O ano que se passou demonstrou exaustivamente que todos, infalivelmente, estamos no mesmo barco, sujeitos a adoecer, a sofrer, e a morrer. Ninguém se salva sozinho, por quão rico e privilegiado seja! Esse jardim planetário nunca fatiado por Deus pertence a todos, e não somente a alguns arrogantes que se autodeclaram mais puros e mais dignos que outros! O ‘ouro real’ é de todos porque todos podem governar/servir (reinar) com justiça e equidade. O ‘incenso sacerdotal’ é de todos, porque ninguém é excluído do compromisso/responsabilidade de celebrar, anunciar, e profetizar. A ‘Mirra esponsal’ pertence a todos, porque todos são chamados a amar e a estar em comunhão profunda principalmente com os rejeitados, os largados, os expulsos e os violentados da vida! Adorar o ‘menino Jesus’ é assumir o seu jeito simples de acolher e proteger dos nacionalistas Erode de hoje quem é tratado como estrangeiro imundo em sua própria terra, o jardim da humanidade!