domingo, 30 de abril de 2023

Guajajara da Canabrava -Maranhão - ganham na justiça contra Eletronorte. Finalmente!

Subsidiária da Eletrobras, a Eletronorte foi condenada pela 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) a fazer um depósito mensal de um salário mínimo a 13.199 indivíduos do Povo Indígena Guajajara, no Maranhão, num total de R$ 17,2 milhões. É uma compensação financeira pela falta de adoção de medidas contra o impacto ambiental decorrente da instalação das linhas de transmissão Tucuruí-Marabá-Imperatriz-Presidente Dutra nas Terras Indígenas Canabrava/Guajajara, Rodeador, Lagoa Comprida e Urucu/Juruá. Caso não faça o pagamento, a empresa está sujeita a uma multa diária de R$ 100 mil.

Ao mesmo tempo o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) determinou a suspensão das atividades e das licenças concedidas à linha de transmissão da Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), que atravessa as terras indígenas Canabrava/Guajajara, Rodeador, Lagoa Comprida e Urucu/Juruá, no Maranhão. A região vive sob conflitos com os indígenas, que estão insatisfeitos com a compensação dadas a eles por conta da construção das linhas dentro de suas terras. Em dezembro de 2021, por exemplo, lideranças chegaram a derrubar as torres de energia, em protesto. Na época, cerca de 60 lideranças do Conselho Supremo dos Guajajara reclamavam das cestas básicas recebidas como forma de compensação ambiental. Eles pediam que as cestas fossem trocadas por vale-alimentação e o direito de escolha dos próprios alimentos. Diante dos conflitos, o Ministério Público Federal investigou e apontou irregularidades no licenciamento ambiental do empreendimento e a necessidade de realização do Estudo do Componente Indígena (ECI), com o objetivo de proteger os direitos das comunidades tradicionais afetadas. No dia 25 de abril, o desembargador federal Souza Prudente atendeu a pedido do Conselho Supremo de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Canabrava/Guajajara e determinou que as atividades permaneçam suspensas até a realização do estudo, e que a Eletronorte deposite mensalmente um salário mínimo para cada habitante das comunidades, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia de atraso.

O Tribunal ordenou ainda que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), também réus na ação, exijam a realização do ECI, não concedam novas licenças ou autorizações à Linha de Transmissão 500 KV Tucuruí-Marabá-Imperatriz-Presidente Dutra e fiscalizem se haverá efetiva participação e prévia consulta aos indígenas na elaboração dos estudos.


sábado, 29 de abril de 2023

IV domingo de Páscoa -' Vocês dispersaram, e não cuidaram das ovelhas'!

 Jesus não tem receio em dizer quem são os maus pastores. São todos aqueles que não entram pela porta principal, e pegam atalhos: que entram na vida pública, nas instituições políticas e religiosas, de forma sorrateira, disfarçada, que cometem arbitrariedades e abusos de todo tipo. Pastores farsantes que se valem da fragilidade das ovelhas para manipulá-las e sangrá-las. Mas onde estão e se escondem esses maus pastores? Jesus nos diz que eles se ‘ENCONTRAM’ no aprisco, ou seja, no TEMPLO! Eles ocupam os lugares institucionais de visibilidade, e de aparente legalidade.  O disfarce de ‘pastor’ serve só para se apropriar da alma e da consciência das ovelhas. E quem é, afinal, o bom pastor? Bom pastor é todo aquele que como Jesus ‘CONDUZ AS OVELHAS PARA FORA DO TEMPLO', para longe do aprisco que se tornou um MATADOURO DA FÉ e do serviço gratuito. Como Jeremias hoje queremos gritar: "Foram vocês que dispersaram e expulsa­ram o meu rebanho e não cuidaram dele. Mas eu vou castigar vocês pelos seus maus procedimen­tos”, declara o Senhor’.(Jr. 23,2)

Indígenas Xokleng denunciam “clima de terror” respaldado por autoridades em Santa Catarina

 Indígenas do povo Xokleng são alvo de ameaças de morte, agressões físicas e verbais e racismo por parte da população de Rio do Oeste, cidade na região sudeste de Santa Catarina. As ameaças são inflamadas pela prefeitura e outras autoridades do município, como mostram documentos do Ministério Público Federal (MPF) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) a que a Agência Pública teve acesso. Desde o dia 22 de fevereiro, os indígenas estavam acampados no Parque Municipal Gruta do Tigre, uma área de menos de 1 hectare de remanescente de Mata Atlântica nos arredores da cidade que possui sítios arqueológicos onde foram encontradas ossadas do povo Xokleng. 

Na ocupação, batizada de Retomada Kuzum Lavan, os indígenas contestam a exposição das ossadas de seus ancestrais como ponto turístico e reivindicam a criação de uma aldeia no local. O acampamento foi encerrado nesta terça-feira (25) com a determinação de reintegração de posse pela 1ª Vara da Justiça Federal de Rio do Sul em favor da prefeitura de Rio do Oeste. A operação foi realizada pelas polícias Federal e Militar, acompanhadas pela Funai, e presenciadas por moradores da cidade.  

Segundo recurso da Funai, que pediu a suspensão da medida liminar que autorizou a reintegração de posse, a comunidade indígena viveu um “clima de terror” por conta de várias situações durante os dois meses em que os cerca de 25 indígenas passaram acampados. Entre elas estão o recebimento de áudios com ameaças de morte, tentativa de esfaqueamento, provocação de ruídos e sirenes por parte da polícia durante a madrugada, uso de drones para monitoramento da área, tentativa de suborno aos indígenas para a retirada do acampamento do local, além de gritos e tiros nas imediações do parque durante a noite. O MPF em Santa Catarina também tentou impedir a reintegração de posse e a retirada dos indígenas do parque municipal. De acordo com o MPF, parte dos cidadãos de Rio do Oeste fabricou um “clima de hostilidade” contra os indígenas, com respaldo do município e de “algumas autoridades locais”. Como autora da ação de reintegração de posse, a prefeitura juntou documentos e depoimentos no processo para afirmar que os indígenas “usam de violência e ameaça” contra os moradores do município, materiais que, segundo o MPF, são inverídicos.

Ameaças de morte e disparos

A reportagem teve acesso a áudios gravados entre fevereiro e abril de 2023 em que são feitas ameaças de morte aos indígenas supostamente gravados pelo vereador Silvio dos Santos (PSD), que cumpre seu primeiro mandato no município de 7.500 habitantes. Em uma das gravações, uma pessoa que se identifica como o vereador afirma: “Cara, nós temos que resolver isso lá antes de começar a vir gente, cara. Pegar esses índios lá e, eu sou parceiro, eu vou de noite sozinho lá e resolvo. Mas tem que ir o quanto antes porque daqui a pouco vai chegar criança e daí chegar aqui não dá mais jeito. Tem que matar o mal pela raiz rápido”. Na semana passada, as ameaças de morte ganharam tom enérgico. “Os índios de Rio do Oeste vai ser todos morto [sic], mortos pelas minhas mãos, Silvio dos Santos, vereador. Eu vou matar todos os índios, mexeram com o cara mais errado do mundo de Rio do Oeste.”  Ainda segundo os áudios, a justificativa para “matar os Xokleng” é que os indígenas teriam agredido o filho menor de idade do vereador. À reportagem, Santos afirmou que os áudios são montagens. Os indígenas negam que tenham atacado o jovem e afirmam que o adolescente de 17 anos foi até o acampamento armado com uma faca e ameaçou a cacica Joselina Wailui Patté de morte, tendo-a agredido fisicamente com chutes nas pernas, no dia 14 de abril. Ela está grávida de três meses. A liderança indígena registrou boletim de ocorrência na delegacia de Polícia Civil. Adultos e crianças presenciaram o ataque. Segundo a liderança, o filho do vereador afirmou que ela iria morrer naquele dia e que levaria a sua cabeça. “Ele disse: ‘Hoje tu vai me pagar, quem me mandou aqui foi o Marcos, o prefeito e o meu pai. Esse lugar aqui é nosso, é meu, meu território, não é para vocês estarem aqui’”, relembra Patté.

Em nota, a Polícia Civil respondeu que realizou um Termo Circunstanciado para apurar a suposta lesão corporal contra o adolescente por parte dos indígenas e que o adolescente responde por ato irracional que teria praticado contra a cacica. Os indígenas denunciam ainda disparos de arma de fogo para o alto, durante a noite, na mata ao redor do parque. “Já faz dias que estão assim de soltar tiro em cima de nós. Um foi bem gravíssimo, tiro mesmo, um atrás do outro”, afirma a cacica Patté. Antes da reintegração de posse desta terça-feira, os indígenas denunciaram a omissão da Polícia Militar. “Nós chamamos a polícia, demoraram para vir, mas quando vieram falaram assim para nós, que nós procuramos, que nós estamos no território dos brancos, e que não é crime ficar no mato atirando”, completa a cacica. “As crianças estão apavoradas.” Em nota, a PM de Santa Catarina afirmou que não tem registros das denúncias dos indígenas e que “atende aos pedidos das instituições municipais, estaduais e federais, de apoio, bem como também atende a todas as solicitações dos cidadãos catarinenses”.

(Fonte: Agência Pública)


sexta-feira, 28 de abril de 2023

Lula homologa seis terras indígenas, após 5 anos de descaso com a legalização territorial dos povos indígenas

 


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, na manhã desta sexta-feira (28), decretos de homologação de seis Terras Indígenas (TIs), em seis estados brasileiros. As áreas são as primeiras reconhecidas após cinco anos de paralisação dos processos de demarcação dos territórios tradicionais, nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Os atos normativos foram assinados no encontro de encerramento da 19ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL 2023), em Brasília. Acompanhado de ministros, parlamentares e lideranças indígenas, o presidente destacou que os decretos de hoje marcam o início da retomada da garantia dos direitos indígenas. A demarcação de TIs foi uma das principais promessas da campanha eleitoral. Durante o governo de transição, o grupo de trabalho responsável pela elaboração de políticas públicas voltadas aos povos originários, recomendou o reconhecimento de 14 territórios. Desse total, 12 reuniam condições de serem demarcados imediatamente.

Contudo, apenas a metade foi contemplada nos decretos assinados hoje. Logo no início de sua fala, Lula reafirmou o compromisso de campanha, mas ponderou que o processo de homologação ainda é demorado. “Tem que passar por muitas mãos. Mas a gente vai trabalhar muito para fazer a demarcação do maior número possível de terras indígenas. Não só porque é um direito de vocês, mas porque se a gente quer chegar até 2030 com o desmatamento zero na Amazônia, vamos precisar de vocês como guardiões da promessa”, disse o presidente. “A Sônia (Guajajara, ministra dos Povos Indígenas) vive cobrando do advogado-geral da União para apressar a demarcação. Eu não quero deixar nenhuma terra indígena que não seja demarcada nesse meu mandato de quatro anos. É um compromisso que tenho e que fiz antes da campanha. O que queremos é que, ao terminar nosso mandato, os indígenas brasileiros sejam respeitados e tratados com toda a dignidade que os seres humanos merecem em nosso país. Os indígenas não devem favor a nenhum outro povo”, reforçou Lula. 

Funai

Em Brasília desde segunda (24) para o ATL, os cerca de 6 mil indígenas, de mais de 200 povos apresentou um série de reivindicações e cobranças ao governo federal. Entre elas, um plano de carreira para os servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A demanda foi citada por Lula durante o evento do encerramento da mobilização, que aproveitou para destacar que seu governo pretende reestruturar o funcionalismo. “Nós queremos recuperar, porque trabalhar na Funai é tão importante quanto trabalhar em qualquer outra repartição pública”. 

Terras Indígenas reconhecidas

Ao lado dos direitos territoriais, Lula também afirmou que a saúde indígena é outra prioridade de seu mandato. Ele lembrou da situação de emergência sanitária dos povos Yanomami que, sob o governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), foram submetidos à maior crise humanitária do século no Brasil. “As pessoas mal levantavam de fome, com o braço da grossura de um dedo, no terceiro maior país produtor de alimentos do mundo. Na verdade, aquele povo estava no esquecimento, refém de garimpeiros” No encerramento de sua fala, o presidente ressaltou a importância de uma política de Estado para a conservação ambiental. “Temos que convencer (a opinião pública) que uma árvore em pé vale mais do que uma derrubada para plantar soja. (…) Temos mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser recuperadas. E nessa terra, pode dobrar a produção agrícola desse país, sem precisar mexer com ninguém, sem precisar poluir a nossa água e sem precisar derrubar a nossa floresta.” 

As novas TIs homologadas hoje por Lula são:

TI Arara do Rio Amônia, no Acre;

TI Kariri-Xocó, em Alagoas;

TI Rio dos Índios, no Rio Grande do Sul;

TI Tremembé da Barra do Mundaú, no Ceará;

TI Uneiuxi, no Amazonas;

e TI Avá-Canoeiro, em Goiás. 

domingo, 23 de abril de 2023

III domingo de Páscoa - O caminho se ilumina caminhando, sem fugir!

Desilusões e decepções fazem parte da vida. Mas nem sempre conseguimos compreendê-las e aceitá-las. Às vezes, nos sentimos como se tivéssemos sido traídos! Elas nos parecem vinganças e punições da vida por termos acreditado demais. Por termos sonhado de forma exagerada. Parece ter sido esta também a experiência dos dois discípulos de Emaús! Os dois haviam alimentado uma enorme e, talvez, irreal expectativa com relação ao futuro de Israel, a partir da ‘passagem’ de Jesus de Nazaré. Os discípulos precisavam se afastar imediatamente de Jerusalém que só lhes fazia recordar morte e frustração. Tornava-se urgente fugir ou regressar  aos lugares originais, ‘à realidade crua’ que haviam momentaneamente abandonado. É interessante observar no texto evangélico que na medida em que os dois discípulos se afastam de Jerusalém, mais lucidez adquirem sobre o que lhes aconteceu. Essa nova e progressiva consciência alcança o seu ápice quando começam a reproduzir o mesmo gesto/experiência de partir e partilhar o pão da fraternidade, do serviço gratuito, da misericórdia ampla que haviam visto e aprendido de Jesus de Nazaré. Somente nessa hora os dois discípulos compreendem que também Jerusalém podia se transformar de um lugar de morte e de humilhação, em um lugar de vida nova. 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

19 de abril - Dia dos povos originários do Brasil. Uma reflexão

 ‘O Brasil precisa se reconciliar com sua história, aceitar que foi’ construído’ sobre um cemitério’. Assim se expressa o líder e educador indígena Daniel Munduruku ao analisar a formação social e política do nosso País. De um lado, existe uma mão que precisa ser sistemática e reciprocamente estendida para um permanente e intenso movimento de reconciliação nacional e de aliança entre a Nação-Brasil e seus povos originários. E, do outro, uma humilde e realista admissão de que a Nação-Brasil se ‘agigantou’, historicamente, sobre os ‘túmulos coletivos’ de centenas de povos indígenas, escavados em seus sagrados territórios pelos seus carrascos. A reconciliação só será possível se houver um reconhecimento público das nossas responsabilidades como Nação, e se apresentarmos um humilde e efetivo pedido de perdão pelos extermínios praticados e pelas práticas escravistas e excludentes contra os povos originários, nossos ‘conacionais’. 

Como cristãos não podemos deixar de nos penitenciar e reconhecer que, se de um lado o símbolo sagrado da cruz foi erguido ladeando as espadas dos conquistadores, do outro lado, temos que continuar a nos inspirar pela ação profética de centenas de missionários combativos, de lideranças indígenas, e de cidadãos corajosos e solidários que têm denunciado toda tentativa de escravizar e exterminar povos e culturas. Nesse período litúrgico-existencial em que fazemos o memorial da paixão, morte e Ressurreição de Jesus, somos convidados a contemplar, simultaneamente, a renovada ‘insurgência’ de inúmeros povos indígenas que ‘ressurgem’ como verdadeiros protagonistas sociais e políticos. Apesar de serem continuamente agredidos e ameaçados, - e suas terras-mães sistematicamente feridas pelos carrascos de hoje, - muitos povos originários se levantam impávidos e resilientes não para se vingar, mas para refundar a Nação-Brasil, estreitar alianças, exigir respeito e participação plena na arena política e social. É nesse sentido que como igrejas, como movimentos e como sociedade civil atenta aos desafios lançados pelos mais de 220 povos originários no Brasil somos impelidos a identificar e assumir posturas políticas específicas, metodologias eficazes que venham a fortalecer a unidade nacional na pluralidade e no recíproco respeito, principalmente com aqueles grupos, culturas, povos, considerados ‘minoritários’. Aponto duas posturas que me parecem profundamente enraizadas na prática de Jesus de Nazaré e que podem fazer a diferença na nossa pastoral e na nossa sociedade ainda tão marcada por preconceitos étnico-raciais, por intransigências religiosas, por machismos, homofobias, etc..

A primeira é alimentar um profundo respeito pelo modo de ser, de se expressar e de pensar de todo ser humano, sem prejulgar, sem ridicularizar ou condenar, principalmente quando nos falta o conhecimento mínimo do ‘outro’. Jesus não condenou de antemão pecadores clássicos como os publicanos, e não se furtou em comer e beber com pessoas consideradas impuras. A segunda postura é a de nos colocar sempre à escuta atenta e humilde do outro que, aparentemente, pode se apresentar bem diferente de nós. O outro, mesmo com suas diversidades e contradições, sempre tem algo a nos ensinar. O nosso desafio continua o de sermos ‘eternos aprendizes’, sem mistificar ou idealizar quem quer que seja. ‘Ó Mulher, grande é a tua fé’ disse o surpreendido Jesus à estrangeira e pagã mulher Cananeia, - apelidada de ‘cachorra’ pelos israelitas, - e que pedia com fé a cura da sua filha. Hoje, as igrejas e os movimentos sociais de amplo espectro social e político precisam acreditar que é possível não só ajudar a carregar a cruz da persistente perseguição, do preconceito e da sórdida agressão física e moral que fere a dignidade de mais de 800 mil indígenas do nosso País, mas retirar, definitivamente, as pedras pesadas que ainda os mantêm ‘enclausurados’ em sepulcros sociais que cheiram a exclusão, abandono e morte para que façamos com eles a experiência pascal da ‘vida nova’. Da ‘terra sem males’, do ‘bem viver’. Do bem querer! 


sábado, 15 de abril de 2023

IIº domingo de Páscoa - Tomé, o corajoso 'gêmeo' de Jesus!

 Diferentemente dos medrosos discípulos que viviam trancafiados por medo de fazerem o mesmo fim de Jesus, Tomé agia solto na rua. Ele tinha entendido que Jesus continuava sendo encontrado lá onde as pessoas vivem com 'feridas abertas' de todo tipo. Ele agia como Jesus sempre agiu. É por isso que Tomé era chamado de ‘gêmeo’ pelo grupo, pois ele era parecido demais com o Mestre no seu modo de agir. Tomé, no entanto, tinha dificuldade de entender que Jesus Ressuscitado podia ser encontrado também lá onde têm pessoas que se reúnem fazendo memória da sua morte e Ressurreição e celebrando a vida. Inicialmente, Tomé fez resistências. Somente quando começa a mergulhar, progressivamente, nessa experiência fraterna de celebrar, fazer memória, se motivar e partilhar com os outros apóstolos, descobre o Ressuscitado vivo.  Tomé descobre que o 'Meu Senhor e o meu Deus' se torna visível, presente e atuante mediante a ação misericordiosa daqueles que não tem medo de colocar o dedo-fé nas feridas abertas de tantas vítimas crucificadas. 

domingo, 9 de abril de 2023

Ressurreição - Mulheres que amam não se conformam com a morte do amado!

Só as mulheres sabem amar mesmo após a morte da pessoa amada. As mulheres visitadoras do corpo sem vida de Jesus tomam consciência que Jesus o profeta da Boa Nova assassinado e enterrado não podia continuar preso naquele túmulo, pois lá, no cemitério, era o ‘lugar reservado aos mortos’ e não o lugar dos vivos. Percebem que continuar a cultuar o cadáver de Jesus seria como que matar uma segunda vez Aquele que foi o defensor da vida. Amar vai além do contato físico-corpóreo. Amar é reproduzir tudo o que o amado dizia e fazia, o tempo todo, com ou sem ele.....

Era preciso, portanto, voltar para onde tudo começou: à Galileia dos doentes, dos cegos, dos paralíticos, dos surdos, dos famintos, e fazer reviver as opções do Mestre amado, dando vida nova àqueles corpos deformados e negados em sua dignidade. Naquelas vidas ressurgidas pelos seguidores e seguidoras de Jesus o Mestre se tornaria novamente vivo e visível. Ressurreição sempre acontece quando ao fazermos a experiência dramática de nos sentir negados, excluídos e desumanizados descobrimos em nós a força-energia e a consciência de que podemos dar a volta por cima, e ressurgir! O testemunho de quem 'muito amou' nos ajuda a superar todo obstáculo e barreira.


 


sexta-feira, 7 de abril de 2023

A sexta feira santa dos derrotados que teimam em....esperançar!

 A quantos suplicam para que alguém lhes afaste o cálice amargo do abandono e da rejeição, mas têm que bebê-lo de qualquer jeito;

A quantos gritam ‘tenho sede’, mas lhes é oferecido somente o vinagre do amor traído e do ódio;

A quantos sucumbem sob o peso maldito de uma cruz fabricada pelas habilidosas mãos de devotos e inescrupulosos ‘homens de bem’;

A quantos clamam no seu cego desespero ‘meu Deus, meu Deus porque me abandonaste’, mas morrem sozinhos e sem conforto;

A quantos continuam a procurar, em vão, vida e ressurreição em sepulcros lacrados pela indiferença e a falta de compaixão...

DESEJAMOS que encontrem em outros humanos crucifixos verdadeiros anjos anunciadores e realizadores de contínuas e surpreendentes ‘Páscoas-travessias’. 


quarta-feira, 5 de abril de 2023

Quinta-feira santa - a 'estranha' missa de Jesus!

A celebração da Ceia se dá numa casa particular, comum, e não num templo consagrado....Não acontece sob a presidência de um sacerdote profissional, mas aí todos são celebrantes...Não havia um altar apropriado, mas uma mesa comum....os objetos litúrgicos (cálices, pratos...)não eram dourados e nem consagrados....Todos comem, bebem, e consomem, ninguém oferece em sacrifício ou em expiação.....

Não há por parte de Jesus qualquer ordem específica para que somente algumas pessoas possam reproduzir aquele seu gesto. A todos é dado o poder-dever moral de 'repetir aquele gesto', salvaguardando, contudo, a memória do Mestre. Naquela missa se respira um ar de tensão e de apreensão, deixando a entender que os acontecimentos do cotidiano interferiam no clima daquela celebração....da vida.

Será que os canonistas de hoje iriam validar aquela missa sacrílega preocupados como estão nas exterioridades? Não esqueçamos que cada batizado deve exercer a sua missão de Administrador, Anunciador e Sacerdote fazendo a 'eucaristia/comunhão acontecer', não importa o lugar, a circunstância e os meios litúrgicos disponíveis.... 

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ainda sobre a cruz......

 Muitos se sentem desrespeitados em ver uma cruz pendurada numa parede, mas não sentem escrúpulo algum em pendurar pessoas nos patíbulos da ofensa e da execração pública...

A cruz ladeou por séculos a fio a espada de imperadores e reizinhos, e seus exércitos; muitos se esquecem que quem erguia a cruz e brandia a espada só pensava em crucificar corpos e almas, e se apossar de suas terras onde os enterraria fincando em suas covas coletivas uma cruz bem visível.....

‘Cada um tem que carregar sua própria cruz! Será? Não seria mais lógico tentar neutralizar quem as fabrica e as coloca, descaradamente, nos ombros de tantos inocentes? E lá onde é impossível se livrar da ‘própria cruz’ porque deveríamos carregá-la sozinhos? Onde estão os ‘Cireneus humanos’ de hoje que nos ajudam a carregar a 'nossa cruz'? 

Não esqueçamos que tirar totalmente a cruz dos ombros de alguém nem sempre é historicamente possível, mas aliviar o seu peso carregando-a com o outro crucificado que caminha ao nosso lado, ainda está ao nosso alcance! Sejamos humildes 'Cireneus' voluntários....  


sábado, 1 de abril de 2023

Domingo de Ramos - Bendito aquele que vem entre nós em mansidão e serviço humilde!

Jesus, ao longo da sua vida, nunca buscou palanque. Manteve-se sempre discreto e esquivava-se de qualquer tentativa de torná-Lo protagonista. Obviamente, havia entre os fãs do Mestre quem quisesse que Ele assumisse, ostensivamente, em Jerusalém, a Sua ‘opção messiânica’. Que sinalizasse de maneira inequívoca o seu prestígio moral e a sua liderança política. Contudo, Jesus o Galileu, no auge da sua caminhada, avança pelas ruelas da antiga cidade montando um potro de jumenta. Para muitos, uma cena patética. Destoava demais com os sonhos de poder e glória acalentados por séculos, por uma nação inteira! A suposta ‘entrada triunfal’ do ‘Messias Galileu’ montando não um imponente cavalo branco, mas um vulgar potro de jumenta, cercado por seguidores que brandiam não espadas, mas palmas, era premonição de derrota. Ocorre que Jesus nunca havia iludido seus seguidores, e jamais lançou mão de sinais equivocados. O novo rei-messias deixa claro que o ‘ungido do Reino’ condenava as falsas expectativas de quem continua a acreditar, ainda hoje, que é ‘batendo, arrebentando e prendendo’ que se constrói ‘o Reino para os pobres’, a ‘nova sociedade’, o ‘bem-viver’, a ‘terra sem males’.