sexta-feira, 4 de outubro de 2024

27º Domingo comum - Um só ser, uma só carne, com igual dignidade para revelar a essência de Deus que é homem e mulher, ao mesmo tempo!

Feminicídios e agressões contra as mulheres aumentam a cada dia no mundo todo. Muitos homens parecem não aceitar mais um ‘não’ de uma namorada ou de uma companheira. Alguns ‘machos providentes’ sequer aceitam que mulher ganhe mais do que eles! A solução que muitos machos fracassados adotam para essa insana insubordinação da mulher é a sua eliminação física ou a sua radical rejeição. Jesus, antes mesmo de defender o matrimônio em si, e seus recíprocos compromissos, lembra aos homens fariseus que a inalienável igualdade entre homens e mulheres tem sua origem no Deus Criador e não em leis e tradições humanas. ’Ninguém é dono de ninguém, e os direitos de um são os direitos da outra também’! E isso porque Deus os criou ‘homens e mulheres’, simultaneamente. Somente juntos, em pé de igualdade, revelam o rosto inefável de um Deus que é, simultaneamente, homem e mulher, pai e mãe, ao mesmo tempo! A eliminação, a rejeição, a negação, ou o não reconhecimento da dignidade de um dos dois, seja quem for, é negar a própria essência de Deus, o Deus de Jesus de Nazaré! 


27ª domenica comune - Un solo essere, una sola carne, con uguale dignitá per rivelare Dio che é uomo e donna allo staesso tempo!

I femminicidi e gli attacchi contro le donne aumentano ogni giorno in tutto il mondo. Molti uomini sembrano non accettare più un semplice "no" da parte di una sposa o di una partner. Alcuni “maschi apparentemente provvidenti” non accettano nemmeno che le donne guadagnino più di loro! La soluzione che molti 'maschi falliti' adottano per quella che essi considerano una 'folle insubordinazione' da parte delle donne è l'eliminazione fisica o il rifiuto radicale . Gesù, prima ancora di difendere il matrimonio stesso e i suoi impegni reciproci, ricorda agli uomini farisei che l'uguaglianza inalienabile tra uomo e donna ha la sua origine nel Dio Creatore e non nelle leggi e nelle tradizioni umane."Nessuno possiede nessuno, e i diritti dell'uno sono anche i diritti dell'altra"!E questo perché Dio ha creato "uomini e donne" simultaneamente. Solo insieme, essendo una sola carne/essere indivisibile, su un medesimo livello dignità, rivelano il volto ineffabile di un Dio che è 'maschio e femmina', uomo e donna, padre e madre, allo stesso tempo! L'eliminazione, il rifiuto, la negazione o il non riconoscimento della dignità di uno dei due, chiunque esso sia, è negare l'essenza stessa di Dio, il Dio di Gesù di Nazareth! 


domingo, 29 de setembro de 2024

Candidaturas indígenas crescem, mas enfrentam o racismo e a velha politicagem

 Se antes não havia rostos, vozes e adereços indígenas na política, hoje a realidade é outra. Desde que o movimento indígena se organizou para tentar eleger mais representantes, o número de candidaturas aumenta a cada pleito. Poucos, no entanto, conseguem se eleger. As campanhas enfrentam inúmeras dificuldades, como o preconceito, a falta de verbas e um modo de fazer política que favorece outras candidaturas, como o uso da máquina pública. A Repórter Brasil conversou com seis candidatos indígenas (dois a prefeito e quatro a vereador) em municípios do Norte, Nordeste e Sudeste do país, para conhecer os principais desafios das campanhas e suas expectativas na política.

Candidata a vereadora em Manaus (AM) pela Rede Sustentabilidade, Vanda Witoto diz que o preconceito e a compra de votos estão entre os principais desafios. Ela destaca que há muita violência na política partidária como parte de um racismo institucional, prevalente em espaços públicos ocupados por homens brancos. Em 2022, quando era candidata à deputada federal pelo Amazonas, Vanda foi hostilizada por um grupo de pessoas vestidas de verde e amarelo na chegada ao colégio eleitoral, no dia da votação. Ela estava com a sobrinha, ambas pintadas e com adereços e trajes tradicionais. “Vivenciamos situações como essa inúmeras vezes. Este é um campo muito violento, principalmente para as mulheres. Nos desqualificam. Temos que provar que a gente tem condição de estar ali, de estar concorrendo e ser eleita”, conta Vanda. Líder do povo Witoto, Vanda teve uma votação expressiva em 2022, com 25.545 votos, mas insuficiente para se eleger. Manaus é a cidade com mais indígenas do país: 71,7 mil pessoas, ou 3,5% da população. Ainda assim, não elegeu nenhum indígena para as 8 vagas de deputado federal em 2022, nem para as 34 vagas de suplente. A maioria eram brancos e pardos.

Vanda diz que, em período eleitoral, muitos candidatos cooptam lideranças indígenas para que os apoiem em troca de favores. Por isso, ela vê sua campanha também como um ato de consciência política. “O que chega aos nossos territórios, comunidades indígenas e periferias da cidade de Manaus é a compra de voto, por meio das cestas básicas, da compra da receita do remédio e do botijão de gás. Esse é o mecanismo da politicagem no nosso município, é essa a estrutura colocada para o nosso povo. Então, a minha caminhada tem esse mecanismo também de educação, de consciência política, de a gente perceber o voto como um instrumento de garantia dos nossos direitos”, pontua.A política partidária foi por um tempo um dilema para o movimento indígena, explica Kleber Karipuna, coordenador da Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Aos poucos, contudo, o movimento foi entendendo que era necessária uma participação mais organizada na política, como estratégia para defesa de direitos e territórios indígenas.

Foi assim que, em 2017, a Apib lançou o primeiro manifesto de apoio a candidaturas indígenas no Brasil, no âmbito do Acampamento Terra Livre (ATL), que acontece anualmente em abril. “Por um tempo éramos muito isentos nesse debate, mas com o tempo começamos a avaliar que era necessário estar nesse meio. Porque é ali que começamos a entender várias discussões do rumo do país e, por consequência, dos povos indígenas”, reflete o coordenador. Um marco desse momento foi a eleição da primeira mulher indígena deputada federal em 2018, Joênia Wapichana, pela Rede em Roraima. Atualmente ela é presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) – antes dela, apenas o xavante Mario Juruna havia sido eleito pelo Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados, em 1982.Na eleição de 2022, o movimento conseguiu eleger duas candidaturas da “bancada do cocar” para a Câmara dos Deputados: Célia Xakriabá (PSOL/MG) e Sônia Guajajara (PSOL/SP), atual Ministra dos Povos Indígenas. O movimento acredita que o resultado disso é o aumento de candidaturas nas eleições municipais de 2024, com 2.479 registros – 14% a mais do que em 2020. O crescimento entre os indígenas foi o único registrado entre candidatos brancos, pardos, pretos, amarelos e os que não informaram.

sábado, 28 de setembro de 2024

26º domingo comum - No 'lixão' ou 'pedra no pescoço' para quem rouba, violenta e humilha os humildes do Reino!

 

Muitas vezes, parece que vivemos numa espécie de paranoia coletiva. Respiramos uma cultura social e religiosa em que vemos inimigos e perseguidores em tudo o que é canto! Desconfiados de tudo e de todos nos retiramos, ou no nosso mundinho feito de pânico e paralisia, ou em algum ambiente que parece nos proteger e defender. Jesus é mente aberta! Ele nos alerta que aquelas pessoas que, - mesmo não fazendo parte do nosso grupo ou igreja, mas vivem os valores em que nós acreditamos, - são aliados, e não inimigos! Mais do que isso: se esse nosso fechamento mental-espiritual excludente, que é escandaloso, leva os 'pequenos', ou seja, as pessoas simples do nosso grupo-igreja a pecar, temos o dever de mudar 'radicalmente', extirpando, de vez, a causa de tão grave comportamento. Jesus cita, concretamente, quais são as principais causas do escândalo-divisão dentro do grupo-igreja: o olho grande, insaciável, invejoso e que deseja ter sempre mais; a mão que rouba salário e esperança, e que agride e violenta; os pés que esmagam, humilham e dominam pessoas. Pessoas assim, se não mudarem radicalmente, não têm espaço no sistema de governo de Deus. O lugar delas é o 'lixão' sempre em chamas....ou as profundezas do mar das trevas.


sábado, 21 de setembro de 2024

25° domingo - Para seguir Jesus é preciso ser o último entre os últimos

 Como um ser humano pode entender e incorporar a força transformadora do amor e do serviço gratuito se a sociedade na sua totalidade enaltece práticas de ódio, de intolerância, e de disputa sem trégua? Como entender Jesus, então, quando afirma que será entregue aos homens para ser morto, derrotado, e reviver após três dias quando se queria pegar carona com Ele para ganhar um 'lugar ao sol', graças às perspectivas de se tornar um líder de um futuro reino? Pelo visto, pouco servem os raros exemplos de abnegação e gratuidade se persiste um sistema social que pressiona as pessoas a se darem bem na vida, ambicionando a ocuparem sempre os melhores lugares e serem socialmente reconhecidas! O discípulo de Jesus tem que encontrar dentro de si a coragem de romper com a ideologia da vitória, do sucesso e do prestígio, e fazer o contrário! Ao prepotente maníaco de poder e honrarias o seguidor de Jesus não teme servir no anonimato. E, diante daquele que arde por sobressair-se ele se coloca, de forma humilde e sistemática, no último lugar ao lado dos últimos e dos ignorados.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

No Sudão se continua a matar sob a indiferença do mundo. População está fugindo

Todos estão fugindo do Sudão. Fugindo homens, horrorizados por uma guerra entre o exército e milícias que traz apenas devastação e morte. Fugindo mulheres, desesperadas para salvar seus filhos. Fugindo muçulmanos, a maioria religiosa cansada de ver suas casas e lojas atacadas, e seus entes queridos assassinados a sangue frio. Fugindo também os católicos, que antes do conflito eram uma minúscula minoria de um milhão, mas agora mal representam a metade. Eles tentam escapar para onde conseguem: Sudão do Sul, Chade, Egito. Querem esquecer horrores como o denunciado a veículos de comunicação vaticanos por um religioso que prefere permanecer anônimo, para não colocar em risco sua segurança e a de seus irmãos na fé: "Na cidade de Sennar, há alguns dias, um mercado foi destruído por bombardeios. As vítimas foram cerca de quarenta, pessoas pobres cuja única culpa foi buscar comida para tentar sobreviver". Uma notícia que ficou presa nas profundezas da informação internacional, que ignorou também outras dezenas de tragédias diárias, como a ocorrida em meados de agosto em El Obeid, capital do estado do Kordofã do Norte. O religioso se emociona ao tentar lembrá-la, sua voz quase falha: "Dezenas de crianças morreram sob os escombros de uma escola derrubada por mísseis. Um ataque absurdo e deliberado do qual ninguém se importou". Ninguém tem interesse em uma guerra, que já dura mais de um ano apenas pela conquista do poder, que opõe o exército a milicianos. E que vive uma situação de dramático impasse: Cartum, a capital, devastada por bombardeios constantes; os vilarejos de Darfur, na província a oeste do país, completamente queimados e saqueados, uma vez pelo exército e na próxima pelos milicianos; as cidades de El Obeid, Sennar e Kaduqli se tornaram fantasmas, vítimas de ataques a tiros e bombardeios. Não se vence e não se perde, apenas continuam a morrer. (Vatican News)

BREVES SOBRE INCÊNDIOS NO BRASIL

Levantamento do IPAM estima que o desmatamento do Cerrado entre janeiro de 2023 e julho de 2024 emitiu mais de 135 milhões de toneladas de CO2. O desmatamento do Cerrado no último ano e meio foi responsável por emissões de gases de efeito estufa quase equivalentes às da indústria brasileira. Essa é a conclusão de um novo estudo divulgado pelo IPAM, que estimou que a perda de vegetação nativa no bioma lançou mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera entre janeiro de 2023 e julho de 2024, quase o mesmo que as emissões de todo o parque industrial nacional, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC). Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Cerrado. 

Professor da UFMS ressalta a necessidade da criação de políticas de manejo do fogo, a fim de minimizar cenários que favorecem os incêndios no bioma. Uma região forjada e dependente do fogo. É assim que o professor Geraldo Alves Damasceno Junior, do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), descreve o Pantanal, que apesar de ser úmido, tem o fogo como peça fundamental para a manutenção de suas características. Isso porque o Pantanal tem fatores que favorecem as queimadas, porém também é vulnerável a situações em que pequenos incidentes se transformam em grandes incêndios. A faísca do escapamento de um caminhão, por exemplo, pode dar início ao fogo com potencial de se espalhar rapidamente a ponto de fazer o caminhão explodir. Mas, este ano, o número recorde de queimadas pode ser explicado pelo que Damasceno chama de Regra dos 30: 30 dias sem chover, umidade abaixo de 30%, temperatura acima de 30°C e ventos acima de 30 km/h.

"O Brasil inteiro respira fumaça, respira fumaça porque não cuidamos da obra que Deus nos confiou", denuncia o arcebispo de Manaus, card. Leonardo Steiner, que ressalta que "a Igreja nesses anos todos tem sempre de novo procurado conscientizar e se responsabilizar nas comunidades pelo cuidado da obra da Criação". A Amazônia passa por um momento dramático, uma situação que tem como causa a emergência ambiental derivada do aumento das queimadas e da seca. Só no Estado do Amazonas, os dados da Defesa Civil falam de 330 mil pessoas atingidas pelos impactos da seca, e todos os 62 municípios do Estado estão em emergência ambiental. Cada dia aumenta o número de comunidades isoladas ou com grande dificuldade de acesso. Uma situação que piora com o aumento das queimadas, o maior número desde 2010, que tem coberto de fumaça Manaus e muitas outras cidades da Amazônia e do Brasil.

Governo e STF defendem a medida, mas Câmara e Senado continuam lavando as mãos nas ações contra a tragédia do fogo em todo o país. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acha que a legislação brasileira contra crimes ambientais é “a mais rígida, dura e forte que existe no mundo”. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pede equilíbrio para evitar “populismo legislativo”. E enquanto os líderes do Congresso tergiversam, os incêndios continuam, e o parlamento age como se nada tivesse a ver com isso.


segunda-feira, 16 de setembro de 2024

“Tudo muda, portanto, há esperança”. Artigo de Vito Mancuso

É possível, neste mundo em que sentimos a mudança contínua e desestabilizadora, cultivar a esperança? Em particular, a esperança de que algo não mude, mas permaneça estável e se torne o ponto de apoio para a existência? A essa pergunta, respondo que sim, e o faço com base em dois argumentos, o primeiro baseado na lógica e o segundo na ética.

Do ponto de vista lógico, a afirmação “tudo muda” é falsa ou verdadeira. Se for falsa, então, na realidade, algo não muda; se for verdadeira, então a frase “tudo muda” estará em si sempre dizendo a verdade e, portanto, não mudará. Em ambos os casos, dizer “tudo muda” demonstra a não mudança de algo. Isso atesta a possibilidade de nossa mente alcançar uma dimensão não sujeita à mudança, ou seja, participar de uma dimensão superior, desprovida de mudanças, capaz de descortinar eternas verdades. Isso é o que também foi experimentado por músicos (Bach, Mozart, Beethoven) e cientistas (Bohr, Heisenberg, Schrödinger). Como violinista amador que era, Einstein sintetizou em si mesmo as duas dimensões, e conta-se que certa noite, em 1929, em Berlim, ao final de um concerto do grande virtuoso Yehudi Menhuin, ele foi até seu camarim e disse: “Agora sei que existe um Deus no céu”. Não por isso Einstein se converteu ao Deus bíblico, considerando que sempre defendeu a ideia de Spinoza de identificar Deus e Natureza (Deus sive Natura), mas é claro que, graças à música, ele teve uma experiência de transcendência, ou seja, de uma dimensão do ser não sujeita à mudança.

O segundo argumento a favor da esperança baseia-se na ética. Quando, de fato, neste mundo, onde tudo se move de acordo com a necessidade e todos agem de acordo com o instinto ou o cálculo, mesmo assim o ser humano se mostra capaz do mais puro bem, então acontece um fenômeno inesperado, inconcebível, mas real, que mostra à razão a existência de outra dimensão, não baseada no cálculo e na vontade de poder, mas em um desejo de harmonia e de bem que, por sua vez, abre à transcendência. Foi seguindo esse caminho que Kant encontrou o fundamento para a refundação da esperança: “A lei moral me revela uma vida que é independente da animalidade e também de todo o mundo sensorial”. Falar de uma vida que é independente da animalidade e do mundo sensorial significa falar de outra vida, de uma vida outra, totalmente diferente da vida que conhecemos, que é vida animal e sensorial: ou seja, significa falar da transcendência. É por isso que Kant declarou na Crítica da Razão Pura: “Acreditarei infalivelmente na existência de Deus e numa vida futura e estou seguro de que nada pode tornar essa fé vacilante, porque assim seriam derrubados os meus próprios princípios morais, a que não posso renunciar sem aos meus próprios olhos me tornar digno de desprezo”. O que significa: ou o fenômeno moral é falso ou, se for verdadeiro, abre outro caminho. E, talvez, outra vida. E ser falso ou verdadeiro, depende apenas “de você”. Os dois conceitos em jogo, de mudança e de esperança, geralmente são vistos em oposição.

Como tudo muda, costuma-se dizer, então não há esperança de que algo possa permanecer e, portanto, aquela dimensão do ser não sujeita ao tempo, que é o eterno, não existe. Penso, no entanto, que, tanto do ponto de vista lógico quanto ético, existe a possibilidade de afirmar que, precisamente porque tudo muda neste mundo, nós, quando nos tornamos capazes de raciocínios e de atos não sujeitos à mudança, demonstramos pertencer com uma parte de nós (com a mente e o coração, ou seja, o nosso espírito) a outra dimensão do ser. Isso nunca será um atestado incontestável como o conhecimento absoluto ao qual Hegel aspirava. Mas, ainda assim, será uma esperança fundamentada, com a qual viver o tempo que nos é dado com mais otimismo e serenidade.

O que, aliás, não diz respeito apenas aos crentes. Ernst Bloch, filósofo marxista dissidente e cético em relação à fé religiosa, intitulou sua obra-prima O Princípio Esperança e nela escreveu: “Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? O que nós esperamos? E o que nos espera? Muitos se sentem apenas confusos. O chão vacila, e eles não sabem por que ou devido ao quê. Provam uma condição de angústia, que se torna medo se assumir contornos mais precisos”. E continuou: “O importante é aprender a esperar. O trabalho da esperança não é renunciatório porque por si deseja ter êxito e não falir. O esperar, superior ao ter medo não é nem passivo como este sentimento nem, menos do que tudo, bloqueado no nada. O afeto da esperança expande-se, amplia os homens e não os reduz”. Theodor Adorno, um dos fundadores da Escola de Frankfurt, musicólogo e filósofo, replica assim nos Minima moralia: “Por fim, a esperança, tal como ela se arranca à realidade, enquanto esta nega aquela, é a única figura em que a verdade aparece. Sem esperança, a ideia de verdade dificilmente seria pensável”. Tudo muda, portanto, há esperança.


Retomada Guarani e Kaiowá da TI Nhanderu Marangatu é alvo de ataque policial e deixa três feridos

Na tarde do dia 12 de setembro deste, indígenas Guarani e Kaiowá retomaram a Fazenda Barra sobreposta à Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, localizada no município de Antônio João, no estado do Mato Grosso do Sul. A comunidade foi atacada pela Polícia Militar. Três pessoas, uma mulher e dois homens, foram feridos, estando uma delas internada em um hospital do município. Após os eventos, a Força Nacional foi para a região. Os indígenas resistem cercados na sede da fazenda. Essa é a última propriedade que ainda não havia sido retomada pela comunidade, sendo que a última tentativa ocorreu em 2016. Na ocasião, houve um forte ataque de fazendeiros da localidade, que contaram com o apoio de políticos.O ataque resultou na morte, a tiros, de Simião Vilhalva. Na TI Nhanderu Marangatu também foram assassinados Dorvalino Rocha, em 24 de dezembro de 2005, e Marçal Tupã, em novembro de 1983.Após o ataque violento da Polícia Militar na tarde de ontem (12), a Justiça Federal de Ponta Porã, em decisão controversa e apressada, publicada na noite do mesmo dia, autorizou a atuação da polícia estadual em proteção à propriedade privada, legitimando a violência contra a comunidade indígena (IHU)

sábado, 14 de setembro de 2024

24º domingo - É preferível sermos discípulos derrotados ao lado do Filho do Homem, a sermos vencedores com os 'Messias' desumanos!

Adoramos vencer sempre na vida. Admiramos quem supera limites e se dá bem. Somos devotos de um arcaico/antigo testamento em que quem ganha é um abençoado por Deus e quem perde um amaldiçoado. Somos seguidores convictos da teologia da glória, da vitória a qualquer custo, e da onipotência. É nessa sensação de invencibilidade que Deus estaria ao nosso lado nos aprovando e confirmando. Jesus, contudo, afirma o contrário! Quem quer se dar bem na vida é um satanás, um aproveitador e um ‘traíra’ do evangelho. O seguidor de Jesus é, afinal, um discípulo de uma causa perdida. E, mesmo derrotado, persiste em sua missão. Encara a cruz não como castigo ou fracasso, mas como expressão máxima de sua doação e solidariedade com as vítimas da violência e da doença com quem convive. Crê no ‘Filho do Homem’ coerente até a morte mesmo que derrotado, mas desconfia sempre dos ‘Messias’ com superpoderes que salvam e redimem todo o mundo! O discípulo de Jesus não propaga teologias da glória e da vitória, mas se coloca, humildemente, atrás do Mestre, aprendendo com ele a espiritualidade do serviço radical e do amor incondicional. E seja o que Deus quiser!


sábado, 7 de setembro de 2024

23º domingo - É preciso reaprender a escutar e a anunciar na escola do pedagogo Jesus de Nazaré!

Vivemos numa multidão de seres humanos de mil cores e credos, de numerosas culturas e ínguas, mas não por isso sabemos falar e escutar, conviver e colaborar! A falta de empatia e de sintonia entre nós, as manipulações e as competições, as pressões e os conflitos de todo tipo nos condicionam e nos bloqueiam. Descobrimo-nos, de repente, ‘surdos e mudos’ numa massa de loquazes, incapazes de ouvir quem clama e reclama, quem chora por socorro e quem silencia perante aquele que o reprime. É preciso ter a coragem de se afastar, estrategicamente, da multidão, para reaprender a ‘ouvir e a falar’ tendo, porém, Jesus como mestre. A narração evangélica de hoje é uma parábola da vida, de quem desaprendeu a escutar e a anunciar como Jesus, e que precisa voltar a se ‘reeducar’ pelo Pedagogo de Nazaré. Quando nos reconhecemos 'surdos e mudos', mas nos deixamos tocar pelo Mestre, a nossa mente e o nosso coração se abrem, e nos tornamos ‘novas criaturas’ habilitados, agora sim, a voltar para a multidão e ouvir seus anseios e angústias, seus sonhos e desejos. E anunciar-lhe com as palavras da compaixão que uma nova criação começou.


sábado, 31 de agosto de 2024

22ª Domenica - Rompere con la logica delle apparenze e concentrarsi in ció che é essenziale

Siamo vittime della logica delle apparenze, ma siamo pure i suoi alimentatori. Disprezziamo coloro che cultuano la propria immagine e status, ma entriamo in crisi quando siamo criticati per la nostra performance sociale. Condanniamo l’ipocrisia come immorale e odiosa, ma non siamo mossi dalla preoccupazione etica e dalla responsabilitá sociale. Siamo vittime e boia imprigionati in una realtá che ci trascina nella sua spirale folle e autodestruttiva. Gesú ci convoca a porre fine a questo tipo di logica e a concentraci, definitivamente,  nell’essenziale della nostra vita, e lasciare in secondo piano tutto il resto. Periferico e secondario nella nostra vita é dare attenzione ai protocolli liturgici-religiosi, alle devozioni alienanti, ai precetti e canoni, ai dogmi arcaici, al mangiare, al bere, al vestire. Essenziale é incorporare gli stessi sentimenti di Gesú che germinano dal profondo del suo cuore: la compassione, l’amabilitá, la sensibilitá, la comprensione. Infine, la capacitá di piangere con coloro che piangono, e gioire con coloro che hanno scoperto il senso della loro vita. 

 

22ª Domenica - Romper com a lógica das aparências e focar no essencial

Somos vítimas da lógica das aparências, mas também somos seus alimentadores. Desprezamos quem cultua a própria imagem e status, mas entramos em crise quando somos criticados pelo nosso desempenho social. Condenamos a hipocrisia como algo abjeto e imoral, mas não nos pautamos pela ética e a responsabilidade social. Somos vítimas e algozes presos em uma realidade que nos arrasta para a sua espiral insana e autodestrutiva. Jesus nos convoca a dar um basta a esse tipo de lógica e a focar, definitivamente, no essencial na nossa vida, deixando o resto em segundo plano. Periférico e secundário na nossa vida é cuidar da etiqueta litúrgico-religiosa, das devoções piegas, dos preceitos e cânones, dos dogmas arcaicos, do comer, do beber e do vestir. Essencial é incorporar os mesmos sentimentos de Jesus que brotam do âmago do seu coração: a compaixão, a amabilidade, a sensibilidade, a compreensão. Enfim, a capacidade de chorar com quem chora e de se alegrar com quem descobriu o verdadeiro sentido da sua vida.


Pobreza extrema cai 40%, mas abismo para super-ricos aumenta no Brasil

Observatório Brasileiro das Desigualdades divulgou relatório com monitoramento anual de 42 indicadores. De acordo com o observatório, houve queda de 40% na proporção de pessoas em situação de extrema pobreza de 2022 para 2023. O estudo cita dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera extremamente pobres pessoas com renda de até R$ 105 por mês em 2022 e até R$ 109 em 2023.

A queda da pobreza entre mulheres negras foi ainda maior: 45,2%. O observatório também apontou uma redução de cerca de 20% do desemprego no país de 2022 para 2023, também usando dados do IBGE. O instituto ainda mediu um aumento de cerca de 8,3% dos ganhos dos trabalhadores, o que também é citado pelo observatório. O ganho foi maior para mulheres do que para homens: 9,6% contra 7,7%.

Apesar disso, a desigualdade de renda subiu ligeiramente no Brasil. Em 2022, o 1% mais rico da população tinha rendimento 30,2 vezes maior do que os 50% mais pobres. Em 2023, o rendimento dos mais ricos subiu para 31,2 vezes o dos mais pobres. “É uma desigualdade muito grande”, afirmou o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais e um dos colaboradores do observatório, em entrevista ao Central do Brasil, produzido pelo Brasil de Fato.

Segundo ele, as desigualdades no Brasil são um problema estrutural, de difícil enfrentamento. “Por outro lado, já se observa que, em 2023, fruto de políticas públicas importantes especialmente no âmbito federal, houve um impacto na redução da desigualdade”, acrescentou.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Lideranças indígenas são perseguidas e atropeladas ao voltar de moto para retomada em Douradina (MS)

Um casal Guarani-Kaiowá, lideranças de uma retomada da Terra Indígena Panambi Lagoa-Rica, em Douradina (MS), relata ter sofrido uma tentativa de homicídio no último sábado (24). Voltavam de moto da cidade para a área que, sobreposta por fazendas, está ocupada pelos indígenas desde meados de julho, quando um carro os perseguiu e atropelou. O homem machucou a perna e a mulher se feriu seriamente no rosto, além do joelho e braço. Por segurança, ambos pediram para não ser identificados.

Este é o quarto ataque sofrido pelos Guarani-Kaiowá desde que realizaram três retomadas neste território indígena, em 13 de julho. Além de um acampamento de fazendeiros, montado a poucos metros de uma das áreas recuperadas, o tekoha -- 'lugar onde se é', em guarani -- Yvy Ajerê, houve atentados contra as comunidades indígenas feitos por homens armados, de cima de caminhonetes. No último 3 de agosto, entre dez feridos, dois jovens foram alvejados no pescoço e na cabeça, mas sobreviveram. Desta vez, segundo relata o casal Guarani-Kaiowá ao Brasil de Fato, a perseguição na estrada foi feita por "pistoleiros" em um uno vermelho. Por volta das 19h deste sábado (24), quando voltavam do mercado, os indígenas da retomada Yvy Ajerê passaram de moto e foram reconhecidos por homens que estavam em um bar. Ainda de acordo com eles, os homens os perseguiram de carro por cerca de 1 km, até os derrubar.

Sobreposta por fazendas, a TI Panambi-Lagoa Rica já foi reconhecida e delimitada pela Funai como de ocupação tradicional indígena em 2011. Passados 13 anos, o processo demarcatório, que depende ainda da portaria declaratória e da homologação, está estagnado. Cansados de esperar, indígenas optaram por recuperar áreas das quais seu povo foi expulso na década de 1940, quando o Estado brasileiro os confinou em reservas e emitiu títulos de colônias agrícolas para fazendeiros. (Brasil de fato)

Estudo do IPAM reforça hipótese do “Dia do Fogo” em São Paulo

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM divulgou na terça-feira, 27-08, uma análise sobre a dinâmica dos incomuns focos de incêndio registrados no final da última semana em São Paulo. Os resultados reforçam a hipótese levantada pelo Governo Federal de que a ação tenha sido orquestrada.

Para realizar a análise, o IPAM combinou informações de satélites de referência para focos de calor com dados de cobertura e uso da terra, referentes a 2023, produzidos pela Rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte. Também foram utilizadas imagens do satélite GOES para visualização da fumaça e anomalia térmica. Segundo a organização, imagens do satélite geoestacionário, que captura uma nova cena a cada dez minutos, indicam que as colunas de fumaça registradas no oeste paulista surgiram durante um intervalo de apenas 90 minutos, entre 10h30 e 12h do dia 23. Colunas de fumaça registradas no oeste paulista surgiram durante um intervalo de apenas 90 minutos, entre 10h30 e 12h do dia 23.

Já o satélite que capta focos de calor passa sobre a região na parte da manhã e no final da tarde. Entre suas duas passagens, naquele mesmo dia, o número de focos foi de 25 para 1.886 no estado. No total, entre os dias 22 e 24 de agosto foram contabilizados 2,6 mil focos de calor registrados em solo paulista, 81,28% deles concentrados em áreas de uso agropecuário, como cana de açúcar e pastagem. “Não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período, ainda mais em uma região como São Paulo. É como se fosse um Dia do Fogo exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, comenta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

“Seja uma ação orquestrada ou não, é urgente reduzir o uso do fogo no manejo é agropecuário, e ser muito responsável no controle do fogo quando ele estiver sendo utilizado. O uso indiscriminado e irresponsável do fogo pode causar danos não só ao meio ambiente, mas também à propriedade e à vida das pessoas que, mesmo distantes, recebem o impacto da fumaça”, conclui Alencar.

Investigações

Em coletiva de imprensa no último domingo, o governo federal anunciou que havia acionado a Polícia Federal para investigar a possível origem criminosa das queimadas registradas em São Paulo. Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, o governo trabalha com a suspeita de uma ação criminosa similar ao “dia do fogo”, numa referência ao 10 de agosto de 2019, quando uma ação orquestrada de criminosos ateou fogo em mais de 470 propriedades rurais no Pará. “Há uma forte suspeita de que está acontecendo de novo. Em São Paulo, não é natural, em hipótese alguma, que em dois dias tenha diversas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios”, afirmou.

 

“Desmatamento é caro, fogo é mais barato”. Entrevista com Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama

De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, por trás desses números aterradores, há uma combinação de fatores: agravamento da crise climática, desmatamento de anos anteriores, falta de conscientização e uma mudança na estratégia de desmatamento. 

“As pessoas estão trabalhando numa lógica de “vamos degradar a floresta e vamos colocar gado do mesmo jeito. E, para degradar a floresta, vamos queimar”. […] É muito essa lógica: eu vou acabar com a floresta. Não preciso desmatar. Porque o desmatamento é caro. O fogo é muito mais barato, só comprar gasolina e sair espalhando”, comenta. Segundo Agostinho, essa estratégia explica o porquê de os incêndios serem tão intensos apesar da diminuição do desmatamento da Amazônia.

O presidente do Ibama afirma que fiscalizar incêndios criminosos é mais difícil que o desmatamento tradicional, que tem sido combatido por meio de satélites. “Você tem a pessoa que coloca fogo, que é criminoso, mas tem, às vezes, um monte de gente, vizinho dele, que é vítima […] O cara vai lá, passa o correntão, põe fogo, quer destruir mesmo. E, de repente, o vizinho dele queima também. O outro cara, que cuida de onça, também perde a fazenda. O outro que está lá preservando, porque gosta do Pantanal, também é vítima”, avalia. Questionado sobre qual deve ser a saída para reduzir as queimadas no Brasil, Agostinho defende que o Ibama vive ao mesmo tempo um momento de maior estrutura, com mais equipes e recursos, mas também de maior dificuldade para lidar com um clima mais extremo – e a saída não vai ser apenas investir na repressão aos crimes ambientais.

“Na natureza, quando pegava fogo no Cerrado? Quando estava começando a época de chuva e caíam os primeiros raios. Então, você já tinha umidade […] Quando o fogo ocorre nessa época [de seca], aí é tragédia. De maneira muito clara: as mudanças climáticas chegaram. […] Agora, se a gente não tivesse reduzido o desmatamento na Amazônia, a crise com certeza seria muito maior”, defende. (IHU)


domingo, 25 de agosto de 2024

Rios voadores da Amazônia viram corredores de fumaça tóxica

Brasileiros de Norte a Sul do País perderam o direito de ver o céu limpo. Em vez disso, quando alguém olha para cima não só vê uma “espécie de cobertor”, que faz o azul ficar com tons de cinza, como começa a sentir o cheiro da poluição do ar que afeta diretamente a saúde humana. A fumaça que há semanas queima a Amazônia e o Cerrado já atinge extensas áreas do Sul e Sudeste. Ela vem carregada dos perigos do carbono tóxico, emitido pela queima da vegetação. Este material, altamente absorvente, provoca o aquecimento atmosférico e causa doenças respiratórias.

“São valores bem altos”, explica o cientista Eduardo Landulfo, do Instituto de Pesquisas Energéticas (Inpe) e Nucleares e do Laser Environmental Applications Laboratory (Leal). Ele está se referindo aos índices de material particulado de 2,5 micrômetros, altamente concentrado na atmosfera. “Esse material vai se sedimentando, entrando no trato respiratório, então ele tem consequências para a saúde e para a qualidade do ar.” As imagens de satélite mostram que o Sul do Amazonas concentra os maiores focos de incêndio. O rastro de queimadas começa na região Norte do País, incluindo também os Estados do Acre e de Rondônia, estendendo-se pelo Centro-Oeste (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). A Amazônia boliviana é outra fonte emissora de fumaça, já que a prática de queimadas também ocorre no país vizinho. “Estão pegando carona. Tem uma parte que certamente é da queimada localizada na Amazônia, mas está queimando tudo, infelizmente”, explica o pesquisador do Inpe.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já registrou 5.454 focos de queimadas no Amazonas nesses primeiros 20 dias de agosto. No mesmo período do ano passado foram registrados 2.331 focos, o que significa um crescimento de 233%. A fumaça das queimadas na Amazônia segue praticamente a mesma rota que os rios voadores, fenômeno que ocorre quando a umidade da floresta tropical desce com força total por um corredor que passa pelo Centro-Oeste e chega até o Sul e o Sudeste – que intensificou a grande enchente no início deste ano.

Agora, em vez de grandes volumes de água suspensa, o que está “descendo” para o Sul do País são gases tóxicos. Essa fumaça das queimadas na Amazônia, segundo Landulfo, vem avançando por diversas cidades brasileiras, incluindo Cuiabá, Campo Grande, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis. “A qualidade do ar está péssima, justamente em função do material particulado pequeno, 2,5 micrômetro ou abaixo disso”, conclui. (IHU)


Jesus de Nazaré, nosso contemporâneo. - Por Flávio Lazzarin

 Acontece-me, e parece-me uma atitude típica dos idosos, que muitas vezes sou quase obrigado a aceitar memórias da vida passada. Em muitos casos, o passado não se espelha em uma repetição especular, mas contém provocações que abrem a porta para reflexões inéditas, que não conseguiram germinar na juventude. Isso aconteceu com a memória de Kierkegaard. Quando eu era jovem, sua radicalidade me perturbava e me deixava confuso, contagiado por seu "temor e tremor". Sua fé, vivida além da estética hedonista e além da ética familiar e sistemicamente social, ressoou em mim como impossibilidade e impraticabilidade. Se é difícil aceitar despojar-se de Dom Juan, intimamente identificado conosco, o convite a se dissociar da ética do juiz Wilhelm, esposo fiel e obediente às regras de responsabilidade e dever, é quase uma blasfêmia. Certamente, a vida e os escritos de Kierkegaard revelam que ele próprio não estava imune à influência estética e ética e marcado pelo medo diante do deus cristão, sofredor e angustiado, mas insistentemente orientado na perspectiva da fé, do amor e da contemporaneidade da presença de Jesus de Nazaré.

A história da filosofia continua a apresentá-lo como o pai do existencialismo e o inspirador de autores diferentes e, em alguns casos, não conciliáveis como Nietzsche, Sartre, Levinas, Wittgenstein e Camus. É difícil, no entanto, para mim confinar Kierkegaard ao reino da filosofia e esquecer a centralidade constitutiva de sua polêmica antifilosófica, que o opõe primeiro a Schelling, “que não tem nada a ensinar”, e depois a Hegel, "um filósofo que cai no ridículo". Ele não aborda apenas a presunção sistemática do hegelianismo, porque se opõe radicalmente aos delírios metafísicos da tradição platônica e aristotélica, que revelam a absoluta impotência da filosofia especulativa para compreender e revelar a inexplicável realidade concreta em sua individualidade, singularidade e unicidade.

Então, se eu realmente não posso resistir à tentação de oferecer-lhe um companheiro de estrada, não vou pensar em Schopenhauer, mas em Pascal: um católico e um luterano unidos na defesa de uma fé purificada das contradições do catolicismo e do protestantismo luterano. Sem esquecer o único filósofo pré-cristão que Kierkegaard admirava como precursor, o maiêutico Sócrates. Há 150 anos que nos repete uma profecia indispensável: no caminho da fé, a verdade afirma-se na ação e não no conhecimento. E contra as ilusões cronológicas da interpretação da história de Hegel, ele nos repete que na relação com Deus "há de fato apenas um tempo: o presente; para aquele que não é contemporâneo do Absoluto, o Absoluto não existe de forma alguma. E como Cristo é o Absoluto, é fácil ver que, em relação a ele, apenas uma situação é possível: a da contemporaneidade" (S. Kierkegaard, Exercício do cristianismo, editado por C. Fabro, Studium, Roma 1971, p. 126).

Kairós em vez de kronos

E em oposição à dialética ternária de Hegel, que prevê a superação das contradições, de síntese em síntese, até a realização do espírito absoluto no tempo, ele afirma uma dialética binária, aquela que marca o drama da vida acompanhada de contradições incuráveis. O Jesus que ele contemplou não pode corresponder ao Cristo atemporal das teologias que não renunciam ao "ser" do pensamento grego, nem ao Cristo "temporal" das teologias que, ainda de modo essencial, enfatizam sua humanidade concreta.O Jesus de Kierkegaard está presente, contemporâneo daqueles que o procuram e só puderam acolhê-lo e imitá-lo com gratidão, porém, e nunca com um esforço ascético e fundado numa ética do dever. Viver a fé é imitar, é atualizar um acontecimento e não professar uma doutrina.

Teremos que esperar até o século seguinte para ouvir novamente uma análoga profecia. A mesma, a encontramos nos escritos e na vida do mártir Dietrich Bonhoeffer, de quem se repete que ele, com Barth, seriam os inspiradores da renovação da reflexão teológica do século XX. Em Sequela, em 1937, na época do poder indiscutível de Hitler e do Terceiro Reich, ele retomou o tema da imitação do Jesus das bem-aventuranças, e isso não se reduziu a um solipsismo intimista, mas, inevitavelmente, levou a uma oposição militante contra as atrocidades nacional-socialistas. Na companhia de Jesus, ele se opôs ao mal do nazismo, mas também à traição da Igreja Luterana. Em 1938 publicou 'Vida em comunhão’' , uma profecia sobre comunidades eclesiais, que não anulam a individualidade e a singularidade, mas são um serviço coral ao desenvolvimento de sujeitos livres, adultos, responsáveis, que são chamados a viver juntos a espera do Messias, que também para Bonhoeffer não pode ser objeto de reflexão filosófica, mas uma Presença que nos convida a decidir por Ele e a morrer com Ele. Uma Igreja humilde convidada a recomeçar a partir da doutrina do silêncio. Ele é um Jesus que pode ser simultaneamente pro me, pro nobis e pro aliis, para mim, para nós, para o mundo.

A Sexta-feira Santa e a Páscoa têm essa qualidade libertadora, que o pensamento é desviado do destino pessoal e levado muito além, para o sentido último da vida, do sofrimento, do curso dos acontecimentos, e nos é dado conceber uma grande esperança.Kierkegaard e Bonhoeffer: profecias que ressoam do passado, mas que hoje poderiam nos acompanhar novamente em tempos trágicos e dolorosos, duros e desesperados, da história atual, para nos deixarmos seduzir pela contemporaneidade de Jesus de Nazaré, que não nos oferece códigos, doutrinas e explicações, mas simplesmente sua companhia crucificada e ressuscitada. 


sábado, 24 de agosto de 2024

XXI Domingo Comum - É preciso optar: ou missas frias e insossas, ou sermos eucaristias itinerantes que criam comunhão e saciam famintos!

Transformar uma missa numa eucaristia permanente não é fácil. Exige partilha, e generosidade. Comer ‘pão e beber vinho’ na missa não incomoda, mas ‘ser pão e ser sangue fonte de vida’ para famintos e sedentos de justiça e compaixão é um desafio incomum. Isto não é somente um ‘discurso duro’, mas é uma ‘prática dura’ que somente alguns entendem e pouquíssimos aceitam. Eucaristia implica denunciar ‘os traidores e incrédulos’ que sonegam o pão do direito e do respeito, e que derramam o sangue de inúmeros inocentes! Muitos ‘seguidores’ preferem ‘celebrar missas solenes e fazer longas adorações’ em altivas catedrais e em apoteóticos shows, a partilhar direito, assistência, e pão com tantos lázaros ignorados que vivem à porta de palácios episcopais, casas paroquiais, bancos e palácios de governos e.... nas nossas ruas!


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

XX domenica comune - Basta sacrifici e sangue versato! É ora di incorporare le scelte del Figlio dell'Uomo

 Con Gesú si mette fine ai sacrifici indirizzati a conquistare la benevolenza di Dio. Basta agnelli sacrificati e sangue sparso. Basta mortificazioni ed espiazioni. Giá bastano le vittime delle guerre assurde e della fame prodotta dagli affamati di capitale e di potere! Il Padre ama e perdona senza esigere niente in cambio. Se vogliamo saziarci di vita piena e Felice (eterna) dobbiamo incorporare/ingerire le scelte e lo stile di vita di Gesú, ossia, amare come Egli ha amato, accogliere e assistere come Egli accolse gli affamati e assetati di giustizia, di protezione e di rispetto. Mangiare la Sua carne e bere il Suo sangue va ben oltre il semplice gesto di ‘far la comunione sotto le due speci’: é, innanzitutto, accogliere Gesú come alimento totale, integrale in ogni circostanza della vita (e non solo nella messa), e smettere, definitivamente, di mangiare ancora il falso pane dei ‘padri’ della violenza, della prepotenza, dell’accumulazione, del razzismo e dell’intolleranza. 

sábado, 3 de agosto de 2024

18° Domênica comune - Cerchiamo miracoli o vogliamo mettere in pratica i segni di Gesú?

Oggi, come ieri, vogliamo miracoli, non segni! I segni devono essere compresi e messi in pratica. I miracoli, invece, solo possono essere accettati e approfittati! Quale Gesú cerchiamo noi, oggi? Il re generoso che ci dá le cose da noi desiderate al momento giusto o il profeta educatore di vita che ci istruisce permanentemente a operare in favore di tanti bisognosi carenti del vero alimento che non illude, non aliena e non perisce? Anche noi come i beneficiati dal pane e dal pesce di allora non vogliamo capire che spetta a noi e non a un re portentoso e divino offrire il pane quotidiano della condivisione, della genuina accoglienza e della giustizia a milioni di fratelli e sorelle che noi stessi  escludiamo dal banchetto della vita. É giunta l’ora di ‘realizzare’ eucaristie e non di ‘celebrare’ messe! 

sábado, 27 de julho de 2024

17° domenica comune - moltiplicare condivisione ed equitá perché nessuno muoia di fame

 Si, esistono miracoli! Un giovane generoso e libero dall’egoismo tipico degli adulti che mette tutto il suo capitale alimentare a disposizione di tutti, perché tutti possano saziarsi; un Maestro giudeo che non crede nel potere dei soldi per ‘comprare’ pane in supermercati dove solo chi ha denaro puó accedere, ma che Lui stesso lo distribuisce equanimamente e gratuitamente a tutti; una folla intera che capisce che mettendo in comune il poco o il molto che si ha si ottiene un avanzo di cibo-pane (12 cesti) sufficiente per sfamare l’intera umanitá, senza spendere soldi. Un banchetto eucarístico ridotto a freddo rito e che non si preoccupa con la fame degli invitati é pura alienazione e ipocrisia. Che l’eucarestia sia un rinnovato e permanente impegno reale e concreto per superare la fame e l’esclusione sociale dell’umanitá.


sábado, 20 de julho de 2024

16° domenica comune - Pastori empatici e compassivi per sconfiggere i lupi della violenza e dell'indifferenza

Ci consideriamo indipendenti ma senza la collaborazione di altri esseri non esistiremmo. Ci consideriamo emancipati ma senza l’appoggio, la vicinanza affettiva ed effettiva di amici e famigliari saremmo trottole la cui vita ha perso valore. Ci sentiamo potenti ma abbiamo la necessitá di essere capiti, protetti, accolti e amati. Il vangelo domenicale ci invita a vincere l’indifferenza e la mancanza di empatia ed essere persone cariche di compassione. Persone che si fanno carico di altre persone abbandonate a se stesse, senza affetti e diletti. Aver cura di tutti coloro che sono stati scaricati dai falsi pastori-curatori e vagano in cerca di um ovile umano che li protegga e difenda. Oggi la sensazione di essere in balia di noi stessi, di essere soli nel cuore della terra trasforma la vita in disperazione e senza senso. É urgente assumere la missione di essere pastori empatici e compassivi.

sábado, 13 de julho de 2024

15° domenica comune - O si esce dalle sagrestie e dai templi o non si liberano gli schiavi dal potere degli 'spiriti impuri'

 Con i tempi che corrono molti pensano che si puó annunciare la buona novella usando solamente i sofisticati mezzi tecnologici moderni, efficaci e convincenti. Si pensa che il contatto diretto, personale, stretto e presenziale sia ormai scaduto e dispensabile. Molti ignorano che annunciare non é convincere qualcuno su qualcosa e nemmeno realizzare lavaggi cerebrali spirituali o teologici. Secondo il vangelo di oggi tuttora valido, nonostante le trasformazioni sociali e culturali, l’annuncio richiede la presenza dell’annunciatore che visita, che sta con le persone e che libera. L’obiettivo infatti é eliminare gli spiriti immondi che schiavizzano e che minacciano la vita, affinché la persona, uma volta libera, si metta a servizio del nuovo modo di governare di Dio. E il metodo da seguire per essere credibili rimane sempre lo stesso: semplicitá di mezzi e di vita, rispetto per la libertá delle persone, senza insistere o pressionare, accettare ció che é offerto e andarsene da un’altra parte se non ci sará accoglienza. Annuncio é proposta di vita e non indottrinamento, é testimonianza e non minaccia di castigo divino. É il povero, il piccolo, l’invisibile che libera il povero e il dipendente. Solo loro per capire e lottare contro coloro che vogliono ancora morte, sofferenze e schiavitú.

sábado, 6 de julho de 2024

14° domenica comune - Apriti al tuo vicino che pensi di conoscere e scopri la ricchezza umana che c'é in lui


Gesú ritorna al suo paese, dopo il battesimo, trasformato e irriconoscibile. I suoi compaesani e famigliari non capiscono e non accettano che uno come loro possa parlare con autorevolezza, e meglio ancora dei loro profissionisti scribi. I suoi compaesani vivono ingessati nel loro modo ottuso  di vedere le cose e le persone. Non ammettono e non tollerano che un semplice falegname che ha sempre convissuto tra di loro possa esibire saggezza e conoscenza rompendo i consolidati e tradizionali schemi mentali e sociali. Invece di gioire e di rimanerne orgogliosi si scandalizzano! Purtroppo é troppo frequente anche oggi nella chiesa e nella societá l’incapacitá di ammettere la possibilitá che ogni persona ha di cambiare sempre, e cambiare in meglio. É come se qualcuno fosse nato solo per servire e un altro per comandare, uno per insegnare e un altro solo per imparare. La chiusura mentale e l’intolleranza ci portano a non vedere e a non apprezzare il bello e il buono che esiste in ogni persona, principalmente in quelle che noi pensiamo di conoscere ma che, spesso, giudichiamo incapaci e limitate. Perdiamo cosí veri tesori umani capaci di scuoterci e rinnovarci. 

sexta-feira, 28 de junho de 2024

13° Domenica comune - Mai rassegnarsi, ma cercare sempre di eliminare le emorragie imposte dalle sanguisughe sociali e religiose

 La morte sembra meno tragica quando avviene in maniera indolore e rapida. Spesso, peró, la vita ci é tolta lentamente, progressivamente e quasi silenziosamente. Il drammatico, tuttavia, é quando scopriamo che le persone che ci vivono accanto, invece do appoggiarci nel nostro sforzo e voglia di pienezza di vita, ci mettono limiti e ostacoli di ogni sorta. La donna del vangelo odierno é il simbolo di tutti coloro che da uma vita (12 é símbolo di totalitá) vivono essendo dissanguati lentamente dall’esclusione, dallo sfruttamento, dai pregiudizi e dall’umigliazione. Allo stesso tempo, peró, diventa il modello di resistenza e persistenza perché non si rassegna con la sua situazione di marginalizzazione e dai limiti imposti dalle leggi e dalle norme di quelle sanguisughe sociali e religiose che la vorrebbero rassegnata e innoqua. Agli occhi ipocriti dei bigottoni la donna appare impura e infrattora delle norme di purezza, ma agli occhi di Gesú lei é il modello di fede autentica e tenace. Infatti ha saputo trasporre i confini imposti dalle istituzioni e religioni per cercare di porre fine all’emorragia che la faceva morire lentamente e l’ha trovata in quel Maestro che ha sempre creduto che i figli e le figlie di Dio sono chiamati a vivere sempre nella libertá, nella felicitá e pienezza di vita.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

12° domingo comum - Se as águas do mar da vida quiserem te afogar segura na mão do Ressuscitado e atravessa!

Quantas angústias e tempestades interiores experimentamos quando temos que abandonar a nossa margem e ir á outra margem! A margem do mundo do outro, conhecer sua realidade, dores e tragédias para lhe  manifestar amizade, solidariedade e compaixão! O medo de perder segurança e estabilidade e o temor de sermos rejeitados e perseguidos pela 'outra margem' parecem nos paralisar. Nessa travessia desafiadora nos sentimos questionados no nosso modo de ser e de agir, e tudo parece se revoltar. Toda vez que Jesus convida os seus a ir á outra margem do lago, a habitada pelos estrangeiros e pagãos os seus discípulos resistem. Temem enfrentar conflitos e rejeições. Preferem permanecer no certo do que encarar ou incerto, temem perder o seguro pelo inseguro. É a imagem de uma igreja de sacristia, fechada e acomodada que é chamada a sair de si mesma e a não ter medo de encarar lobos e ovelhas, e de mergulhar nos normais conflitos e tempestades da história. Afinal, é a mesma igreja que de um lado proclama que Jesus venceu o mar da morte, da violência e da opressão, mas que do outro lado se sente dominada pela sua pouca fé, pelo medo de afogar e ser engolida pelas ondas das forças diabólicas da brutalidade humana. É preciso recuperar, hoje, a certeza de que se o Ressuscitado está no nosso mesmo barco, que 'Ele já venceu o mundo' e que, mesmo que um tanto adormecido, jamais iremos naufragar! Temos fé para tanto?

sexta-feira, 14 de junho de 2024

11 domingo comum - Tremem: a semente do inédito de Deus foi plantada. Nada será como antes!

Em geral aqueles que ocupam lugares de poder temem o semeador de ideias inéditas. Temem perder o controle sobre as mentes. Apavoram-se só em pensar que alguém poderia ocupar o seu lugar valendo-se de pensamentos e práticas que eles abominam. Os senhores do poder político, religioso e econômico diante de novas ideias e práticas podem, inicialmente, até esnobar não lhes dando o devido valor, pois acreditam que jamais irão vingar. Contudo, basta eles identificarem pequenos sinais de que aquelas ideias estão germinando e dando frutos para iniciarem um movimento de perseguição. Jesus narra a parábola da semente para aqueles seguidores seus que, diante das perseguições, eram tentados em desistir de semear a ideia/sonho de um novo jeito de governar de Deus, e desacreditavam o poder da própria semente. Jesus lembra-lhes que a semente possui uma dinâmica interna própria que não depende exclusivamente do semeador. Depende de muitos outros fatores que escapam do controle do próprio semeador. Um fato é inegável: a semente pequena ou grande já foi lançada no solo e aí seus frutos são imprevisíveis. Não há como voltar atrás. Na história, às vezes, o poderoso vistoso é destronado, e o invisível humilhado se torna um influente referencial. É preciso acreditar! 


Morre aos 98 anos o teólogo Jurgen Moltmann o pai da Teologia da esperança

Moltmann já foi um dos teólogos mais proeminentes do mundo – tanto no pensamento protestante quanto no católico. Após a morte de Moltmann, um comentarista disse que é “quase impossível entender a teologia protestante moderna sem ler O Deus Crucificado”. Na Teologia da Libertação, ele foi uma espécie de pai fundador. Um indicador revelador da importância de Moltmann pode ser encontrado num artigo de 1972 publicado pela revista America que criticava em grande parte os teólogos da época. “Como toda teoria, a teologia é essencialmente derivada e secundária”, escreveu Russell Barta, professor de ciências sociais no Mundelein College na época. “A Boa Nova, em suma, vem do Evangelho e da boca de Jesus – não de um Rahner ou de um Moltmann”. Lembre-se: você não é ninguém até que alguém diga que você não é Jesus.

Moltmann nasceu em 1926 em Hamburgo, na Alemanha. Convocado para o exército alemão ainda adolescente durante a Segunda Guerra Mundial, ele escapou por pouco da morte durante os bombardeios aliados em Hamburgo. Mais tarde, refletiu que as suas experiências na guerra (e depois em vários campos de prisioneiros de guerra) lhe ensinaram muito sobre esperança e sofrimento – e sobre como a humanidade pode encontrar significado num mundo profundamente desumano. Em um campo, Moltmann recebeu um exemplar do Novo Testamento e de A natureza e o destino do homem, de Reinhold Niebuhr, livro que mais tarde ele atribuiu por tê-lo feito querer seguir a teologia.Recebeu seu título de doutor em teologia pela Universidade de Göttingen em 1952. Em 1963, foi contratado pela Universidade de Bonn; quatro anos depois, mudou-se para a Universidade de Tübingen, onde permaneceria como professor de Teologia Sistemática até se aposentar em 1994. Também recebeu nomeações como professor visitante em várias universidades na América do Norte e na Europa.

Moltmann é autor de mais de 40 livros, incluindo sua famosa trilogia Teologia da Esperança (1964), O Deus Crucificado (1972) e A Igreja no Poder do Espírito (1975) e uma série posterior de “contribuições sistemáticas”, incluindo A Trindade e o ReinoDeus na CriaçãoO Caminho de JesusO Espírito de VidaA Vinda de Deus e Experiências em TeologiaNa Teologia da EsperançaMoltmann começou a expor sua escatologia do “Reino de Deus”, baseada na esperança na ressurreição, mas mais focada no aqui e agora do que em qualquer julgamento final ou individual. Ele também rejeitou qualquer noção de que o cristianismo pudesse ser reduzido à busca pessoal de um indivíduo para alcançar a salvação. “Se a esperança cristã for reduzida à salvação da alma num céu para além da morte, ela perde o seu poder de renovar a vida e mudar o mundo, e a sua chama é apagada”, escreveu mais tarde, um sentimento central também para a Teologia da Libertação.

Moltmann foi profundamente influenciado pela “filosofia da esperança” de matiz marxista do filósofo e crítico social alemão Ernst Bloch, embora o trabalho de Bloch raramente tenha sido traduzido para o inglês por muitos anos, fazendo da “teologia da esperança” de Moltmann a introdução aos insights e influência de Bloch para muitos teólogos de língua inglesa.Como Moltmann também enfatizou que a ação de Deus na ressurreição oferecia a promessa de salvação para todos, a sua teologia forneceu uma base para muitos teólogos da libertação emergentes que enfatizariam a opção preferencial da Igreja pelos pobres. Embora Moltmann acreditasse que a história da salvação incluiria, em última análise, a reconciliação do opressor com os oprimidos, a libertação destes últimos teve precedência.

Ele também acreditava firmemente que qualquer teologia, a cruz ou a ressurreição era, por natureza, teologia política, na medida em que não podia aceitar o status quo ou afirmar que a salvação era possível fora da história – uma afirmação semelhante à do seu homólogo católico, Johann Baptist Metz.

Em O Deus CrucificadoMoltmann sugeriu – contrariamente à maior parte da teologia cristã – que Deus, o Pai, sofreu na paixão terrena de Jesus e que a crucificação faz parte da identificação de Deus com o sofrimento humano em geral. Se você é um caçador de heresias, isso soa como patripassianismo ou modalismo; mas se você procurar entender em um mundo pós-Holocausto como Deus permite um sofrimento tão enorme, isso oferece uma espécie de chave interpretativa. O Deus Crucificado contou com uma resenha publicado pela revista America em 1972 por Leo O'Donovan, SJ (ele mesmo um ex-aluno de Rahner), que notou o envolvimento de Moltmann com a “Escola de Frankfurt” de teoria crítica, incluindo Max Horkheimer e Theodor Adorno, e escreveu que Moltmann “examina nosso passado comum em busca da fonte de nossa esperança futura de ressurreição. Seu foco está na identificação de Deus, através da cruz de Cristo, com os sofrimentos do homem”. O'Donovan resumiu o argumento de Moltmann em O Deus Crucificado como uma pergunta: “Como podemos encontrar um Deus humano num mundo desumanizado?”

 A “trilogia” original de Moltmann trouxe-lhe destaque no mundo da teologia e permitiu-lhe influenciar várias gerações de estudantes e colegas e apresentar as suas ideias teológicas a um mundo mais amplo. Em 1968, ele apareceu no New York Times em uma matéria de primeira página sobre a “teologia da esperança”. (Apareceu ao lado de “Ativismo Político Nova 'Coisa' Hippie'”). Em 1984-1985, ele proferiu as prestigiadas palestras de Gifford (Gifford Lectures) na Universidade de EdimburgoDepois que sua esposa Elizabeth morreu em 2016, ele escreveu Resurrected to Eternal Life: On Dying and Rising, uma meditação sobre a morte e a ressurreição. Foi publicado em inglês em 2021.

No mencionado artigo de 1968 no New York TimesMartin Marty, de quarenta e poucos anos (já na Universidade de Chicago), comentou o pensamento de Moltmann. É “uma teologia que poderia fazer a diferença num mundo revolucionário”, disse Marty, continuando: "Poderia ajudar a informar e inspirar uma Igreja incerta. Poderia forçar a repensar os princípios e mandatos cristãos básicos; poderia libertar as pessoas das mãos mortas de um passado morto".

 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Dois indígenas são vítimas de acidente de carro pela irresponsabilidade de terceiros

Dois acidentes fatais marcaram esse final de semana envolvendo dois indígenas. O primeiro aconteceu no sábado 09 na estrada que vai para Itaipava de Grajaú. Um caminhão madeireiro transportando estacas ao chegar numa subida bastante íngreme não teve força suficiente e, provavelmente sem freios, acabou voltando atrás, chegando a capotar e esmagando o indígena Zezinho Guajajara de 45 da aldeia Sumaúma, na Terra Canabrava. Ele havia sido contratado pelo madeireiro para ajudar no serviço, mas acabou pagando as consequências de quem de forma irresponsável não se preocupa com a manutenção do veículo e com a segurança dos seus trabalhadores. O enterro foi domingo de tarde numa clima de comoção e dor dos filhos e familiares. Agora se espera que haja uma investigação para verificar se houve dolo no acidente.

O outro acidente ocorreu no mesmo sábado na MA 006 que delimita a Terra indígena Arariboia e liga Grajaú a Arame. Uma mãe da aldeia Vila Nova Tarrafa se deslocava de moto, com dois filhos na garupa, para pescar quando foi barroada por um carro vermelho de placa QOE6G53 cujo condutor estava totalmente alcoolizado. No carro foram encontrados vários cascos de garrafas de cerveja. No impacto a mulher teve morte instantânea, já um dos filhos teve a perna quebrada e o outro teve ferimentos leves. Pelas informações o dono do carro encontra-se foragido.  Esta morte vem se somar a tantas outras que ocorreram nesses últimos 15 meses ceifando a vida de mais de 08 indígenas só na região de Araribóia. Espera-se que o dono do veiculo seja encontrado e investigado. 

sábado, 8 de junho de 2024

10 domingo comum - Sem 'loucura' não se muda uma humanidade 'possuída e dependente'

 Quem de nós já não fez a experiência de ser incompreendido e hostilizado? Agora, tudo isso vindo de dentro da própria família dói duplamente. Jesus se encontra escanteado e isolado pelos seus familiares que o consideram louco, e o procuram para amarrá-lo e, ao mesmo tempo, pelos seus adversários que o consideram possuído por um espírito mau. Jesus reage do seu jeito dando um 'chega para lá' para os dois. Aos seus parentes lembra que perderam o direito sobre Ele, pois a sua família,agora, são os excluídos e os impuros que escutam e praticam a vontade do Pai. E aos seus adversários retruca, ironicamente, que não seria lógico agir em nome de Satanás contrariando e agindo contra o próprio Satanás. Colocaria tudo a perder! Uma coisa, todavia, todos deveriam compreender: não acreditar que o Espírito de Deus não tem poder de fazer renascer pessoas devolvendo esperança e dignidade é algo imperdoável. Talvez, hoje, sejam os próprios anunciadores que tenham perdido perspectivas e motivações de transformação radical da humanidade e se sentem perseguidos por sua própria falta de esperança e fé naquele Espírito que, contraditoriamente, eles mesmos proclamam, sem entusiasmo.

sábado, 1 de junho de 2024

9° domingo comum - Dane-se a lei, defenda a vida!

 Lei não garante direitos. É preciso se perguntar quem fez a lei e para beneficiar quais pessoas. Muitas vezes leis são feitas para assegurar privilégios de alguns e impor obrigações para outros. Os senhores das leis as elaboram, interpretam e julgam de acordo com seus interesses e, pior, frequentemente, as vendem e impõem justificando-as como se fossem inspiradas ou até ditadas por Deus para lhes dar mais autoridade. Jesus desmascara esse conluio ideológico desrespeitando frontalmente uma lei considerada central no judaísmo: o repouso absoluto no sábado. Recupera e reitera radicalmente que a vida está acima de todo tipo de lei. As necessidades básicas de todo ser humano se não forem reconhecidas e respeitadas por lei devem ser buscadas á sua revelia. Matar a fome e cuidar das pessoas em perigo é mais importante do que  obedecer passivamente a uma lei que não garante e nem respeita o direito sagrado de VIVER COM DIGNIDADE.

terça-feira, 28 de maio de 2024

Sou teólogo, ou assim me acho.....- Por Anônimo

Sou teólogo, ou assim me acho: de um deus anônimo, sem alma, sem rosto, e jamais conhecido:

De um ser adorado e idolatrado que estaria presente em cada átomo e em cada flor,

Criador e senhor de nebulosas e constelações e pelas infindáveis fendas do cosmos sempre imergido,

Mas que, de seus temores e amores todo ser mortal se nutriu com misterioso estupor. 


Sou teólogo, ou assim me acho: de catedrais e de altares, onde atemorizados se ajoelhavam os ancestrais;

De seus clamores e ritos, de fórmulas e rezas onde a promessa era selada,

E entre címbalos e danças, no acre olor do incenso e das carnes sacrificadas pelos magistrais,

O onipotente invisível dos finitos era aclamado e, enfim, sua ira podia ser aplacada. 


Sou teólogo, ou assim me acho: de um deus que foi criado e manipulado à imagem da criatura:

De um rei que reprime, de um patrão que extorque, de um religioso que ameaça,

De um pai que controla e que legisla, de um varão, macho violento que perdeu toda a brandura,

Não há o que contemplar e confiar numa tal projeção humana de infame trapaça. 


Sou teólogo, ou assim me acho: de escritos sagrados de humana feitura, e que inspirados jamais eles foram; 

De paraísos perdidos e de infernos malditos, ausentes de anjos e de demônios, 

Em que almas e corpos no medo e no terror foram batizados, e em patíbulos e rogos muitos fervorosos incendiaram;

Porque procurar ‘deus’ numa criação dominada por criaturas sem fé e sem sonhos? 


CORPUS CHRISTI, CORPUS HOMINI....QUAL CORPO?

 CORPUS CHRISTI...

Corpo reluzente, escultural, definido, estético ,

Corpo glorioso, luminoso, vitorioso, ressurgido,

Corpo venerado, adorado, idolatrado, divinizado........

.....ECCE CORPUS HOMINI

Corpo ensanguentado, dilacerado, desfigurado, esquartejado

Corpo sequestrado, seviciado, torturado, crucificado

Corpo comercializado, abusado, prostituído, sacrificado;

Qual corpo se quer celebrar na solenidade do Corpus? É de ‘corpo específico’ que falamos, ou de corpo genérico ‘feito pão’, sacramentalmente, para alimentar outros corpos? É de ‘corpos crucificados e sacrificados’ que devem ser resgatados e ‘ingeridos’ pela alma para que outros corpos não morram, ou queremos celebrar outros tipos de corpos?

Não cabe mais aos nossos dias continuar a alimentar devoções que se fixam e se cristalizam numa imagem/sinal totalmente descontextualizada: um ‘pedaço de pão/hóstia’ sobrante de um banquete eucarístico, oportunamente consagrado, é ‘retirado e isolado’ e colocado num ostensório prateado ou dourado e exposto publicamente para que os devotos prestem suas homenagens e realizem suas devoções....

A trágica redução do revolucionário banquete pascal do Mestre de Nazaré onde o seu corpo estava para ser preso, violentado, sacrificado e crucificado pelos senhores do pão e dos corpos é, agora, simplesmente abstraído do seu contexto original e se torna exposição devocional e midiática. 

A hóstia glorificada e enaltecida que emerge acima da massa e é publicamente homenageada deixa de mostrar as feridas infeccionadas, as chagas, as sevícias, os buracos dos pregos de tantos corpos dilacerados pela guerra, pela fome, pela arrogância e pela brutalidade humana. 

A hóstia adorada e incensada oculta o verdadeiro pão que alimenta anjos, pobres, escravos, martirizados que deveriam estar sentados ao mesmo e permanente banquete da partilha, do serviço, e do recíproco lavar-os-pés. 

A hóstia glorificada se torna, agora, o instrumento privilegiado e quase absoluto para abençoar dignamente as massas, mesmo que estas tenham em seus corpos o ‘pão do banquete’ recém ingerido numa comunhão feita de partilha e solidariedade. O participante do banquete deixa de ser o verdadeiro sacrário itinerante que leva vida renovada e fartura para todos por ter incorporado o verdadeiro Senhor/Servidor do pão e dos corpos. 

Que o CORPUS CHRISTI revelador do CORPUS HOMINI não nos deixe em paz ao ingerirmos o ‘Panis angelicus’, o ‘corpo e sangue’ do Ressuscitado!

Sugestão litúrgica para uma renovada celebração do Corpus Christi

Não há como negar que a prática tradicional da procissão do Corpus Christi exibindo ostensivamente a hóstia consagrada já faz parte do capital devocional de muitos católicos. Sem menosprezar isso, sugiro que se promova um verdadeiro ‘banquete itinerante’ em que o sentido de banquete eucarístico dê o tom da celebração de ponta a ponta. 

Uma missa por etapas, devidamente preparadas, com a instalação de várias mesas ao longo do caminho: 1. Mesa do pão da palavra, 2. Mesa do pão solidário oferecido, 3. Mesa do pão e vinho feitos corpo e sangue vivo, 4. Mesa do pão da comunhão, do pão partilhado e distribuído. Pode-se convidar todos os presentes a levar comida a ser trocada no final; deveria haver um destaque para todas as pessoas têm em seus corpos os sinais da fragilidade humana: cadeirantes, idosos e outros e que pudessem participar ativamente, assistidos e cuidados pelos presentes. É o pão partilhado e não adorado que deve prevalecer. É o corpo dilacerado/sacrificado de Jesus e de tantos seguidores de hoje que deve ser resgatado, ‘incorporado e ingerido’ no nosso ser e no nosso corpo! Como, por exemplo, entender uma bênção solene com a hóstia no ostensório se todos se alimentaram do ‘corpo eucarístico’ e conservam dentro de si como verdadeiros sacrários o ‘pão da vida’? A hóstia do ostensório teria mais poder divino do que a hóstia ingerida no banquete eucarístico? Não precisamos eliminar nem a solenidade e nem a procissão, mas ressignificá-la e transformá-la radicalmente numa permanente e itinerante eucaristia como peregrinos que não se acomodam e que, ‘cingidos os lombos, sandálias nos pés e cajado na mão comem apressadamente a ‘Páscoa do Senhor ‘ porque, afinal, o ‘tempo se encurtou’!


sábado, 25 de maio de 2024

Francisco, o diaconato, o clericalismo e a questão das mulheres

Primeira longa entrevista exclusiva de um papa para a televisão estadunidense. Há um elemento de novidade pouco notado, inerente à entrevista concedida por Francisco ao programa “60 minutes” da CBS. Entre os pontos mais relevantes esteve a resposta à questão sobre a possibilidade de as mulheres serem ordenadas presbíteras ou diáconas.

Sobre o primeiro ponto, a resposta foi muito clara: a possibilidade não existe. Sobre o segundo, o papa disse que, se fossem “diáconas com a Ordem Sagrada, não”. O que isso significa? O diaconato pode ser entendido como um ministério que tem dignidade em si mesmo e por si mesmo, ou pode ser entendido como o primeiro grau que leva ao acesso ao presbiterado. Portanto, o papa, na minha opinião, deu a entender o que o diaconato poderia se tornar (mesmo que feminino), imaginando também uma forma que não seja mais o primeiro grau da ordem sagrada, mas sim uma expressão da unção batismal. O outro tipo, aquele que permite o trânsito para o presbiterado, permaneceria limitado como é hoje.

Esse “sim” e “não” devem ser entendidos: o papa está travando uma batalha cultural contra o clericalismo e não acredita que uma espécie de clericalismo feminino seja a solução para o problema feminino na Igreja. Portanto, não me parece correto dizer que o papa disse “não ao diaconato feminino”: sobre os outros temas, ele já permitiu que fossem discutidos mesmo que discordassem dele, mas, sobre isso, deixou claro que, na sua Igreja totalmente ministerial, isto é, onde cada um realiza um serviço (na linguagem eclesial “ministério” significa “serviço”), cada ministério tem sua importância e dignidade. É o clericalismo que faz com que o ministério presbiteral seja considerado mais importante. E, na sua Igreja sinodal, essa igualdade na diversidade deveria adquirir uma maior importância.

Então, para mim, parece ser um “sim” ao diaconato feminino permanente. Mas o que isso significaria, concretamente? Se as mulheres tivessem acesso a esse “diaconato permanente”, uma mulher poderia administrar o batismo, distribuir a comunhão, abençoar os cônjuges, presidir um funeral. No entanto, a questão será objeto dos trabalhos do Sínodo.

Francisco instituiu um grupo de trabalho precisamente sobre esse assunto, mas o que é importante de ser sublinhado aqui é, para além dos ordenamentos internos da Igreja, a questão cultural de fundo. Que é a questão feminina. O Papa Francisco parece temer claramente que a ideia de cooptar mulheres para o clero seria uma rendição ao clericalismo, aquele que, por exemplo, considera o padre como ‘dono de casa” na paróquia, tal como o marido é o dono de casa na casa patriarcal, ou seja, em muitas das nossas casas, mas isso não resolveria a questão feminino. Eu entendo, mas isso não resolve a questão feminina que permanece com toda a sua evidência (assim como o clericalismo): para dizer isso, porém, não é preciso dizer que o papa é contra o diaconato feminino. Suas palavras não me parecem dizer isso.

O ponto de vista dele me ajuda a entender melhor, penso eu, como ele gostaria que a sua Igreja fosse. Mas temo que o clericalismo e o machismo ainda são tão fortes que ambos exijam administrações massivas de anticorpos.


Metade de alimentos ultraprocessados testados em pesquisa contém agrotóxicos

Estudo do Idec testou 24 tipos de bebidas e alimentos ultraprocessados e encontrou resíduos de pesticidas em metade deles; Anvisa não monitora presença de agrotóxicos nesses produtos, e fabricantes dizem seguir legislação.

Hambúrguer à base de plantas, macarrão instantâneo sabor galinha, biscoito de maisena e bolinho sabor chocolate – com vestígios de agrotóxicos. Metade de alguns dos alimentos ultraprocessados mais consumidos no país, inclusive por crianças, apresentou resíduos de pesticidas em testes de laboratório, segundo pesquisa lançada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) nesta terça-feira (21). Parte deles revelou até quatro agrotóxicos em sua composição. Ultraprocessados são comidas e bebidas industrializadas, com adição de aromatizantes, gorduras, açúcar e sódio.

O terceiro volume do estudo “Tem Veneno Nesse Pacote“, obtido com antecedência pela Repórter Brasil, testou 24 produtos de marcas conhecidas, como Sadia, Seara, Panco e Piracanjuba. Em 12 deles, foram identificadas substâncias como glifosato e cipermetrina, que podem gerar danos à saúde e ao meio ambiente. Em 2021, o Idec já havia mostrado que 59% de uma cesta de alimentos consumidos principalmente por crianças, como bolachas recheadas, bisnaguinhas e salgadinhos, tinham traços de agrotóxicos. Um ano depois, outro levantamento comprovou que, mesmo depois do processamento da carne e do leite, ainda era possível identificar resíduos em 58% dos alimentos testados. Agora, pela terceira vez, chama a atenção a presença de agrotóxicos em produtos populares nas mesas dos brasileiros.

Mineração, agronegócio e obras ameaçam 98% dos Territórios Quilombolas

O avanço de obras de infraestrutura, projetos de mineração e do agronegócio pode “atropelar” a esmagadora maioria dos Territórios Quilombolas. Um levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) e da Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) apontou que 98,2% dessas áreas estão ameaçadas por algum desses empreendimentos.

Além de violar os Direitos das Comunidades Quilombolas, essas atividades podem intensificar o desmatamento, a degradação florestal e a ocorrência de queimadas em muitas das áreas mais conservadas de vegetação nativa do país. Dos 3,8 milhões de hectares demarcados para quilombolas, mais de 3,4 milhões estão conservados. No que diz respeito às obras de infraestrutura, os Territórios Quilombolas nas regiões Centro-Oeste e Norte estão entre os mais ameaçados, com 57% e 55%, respectivamente. O quilombo Kalunga do Mimoso, em Tocantins, tem 100% de sua área em sobreposição com projetos de uma rodovia, uma ferrovia e uma usina hidrelétrica.

Os Territórios Quilombolas do Centro-Oeste também estão particularmente ameaçados por projetos de exploração mineral. De acordo com a análise, 35% dessas áreas podem ser impactadas por requerimentos minerários. A ameaça da mineração também é grande no Sul, com 25% de seus territórios sob pressão mineral, e no Sudeste, com 21%. Já os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) indicam que mais de 15 mil imóveis rurais foram identificados em sobreposição às áreas quilombolas. As regiões Sul e Centro-Oeste são as mais impactadas, onde 73% e 71% dos territórios, respectivamente, encontram-se pressionados por imóveis rurais privados. “As medidas pensadas para proteger e preservar o meio ambiente devem levar em consideração a grande população que depende e cuida desses recursos”, observou Francisco Chagas, integrante da CONAQ. “É essencial consultar estas comunidades para aplicar políticas de forma adequada em seus territórios”. (IHU)

Desocupação de Terras Indígenas vira dor de cabeça para o governo federal

O governo federal vem quebrando a cabeça para cumprir a determinação do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), para a desintrusão de sete Terras Indígenas em situação crítica. Segundo O Globo, pessoas diretamente envolvidas nas operações de retirada dos invasores avaliam que está difícil para o governo cumprir a ordem. Dos sete indicados por Barroso como prioritários para desintrusão, dois foram recentemente desocupados – as Terras Apyterewa e Trincheira Bacajá, ambas no Pará. O governo espera concluir a retirada dos invasores de outros dois territórios – Yanomami (RO) e Munduruku (PA) – até o final do ano. A Terra Alto Rio Guamá (PA), que não consta na ordem do STF, também foi palco recente de operações de desintrusão.

A principal dificuldade do governo é a falta de recursos orçamentários e de pessoal. Em geral, as operações de desintrusão estão utilizando efetivo da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal. Além da retirada dos invasores, esses agentes precisam ficar no território por algum tempo para evitar o retorno dos não indígenas. É nesse ponto que a falta de efetivo vira um gargalo. E o envio de efetivos da Força Nacional para ajudar no resgate das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul esvaziou as tropas que atuariam no combate ao garimpo em Terras Indígenas na Amazônia. O próprio governo reconheceu esse problema em manifestação recente ao STF. “Não se pode ignorar a existência de relevante fator circunstancial superveniente, qual seja, o recente evento climático extremo que atingiu o estado do RS, a exigir intensa mobilização de efetivos de diferentes órgãos federais”, destacou a Advocacia-Geral da União (AGU), citada pela CNN Brasil. O Liberal também abordou essa informação. As dúvidas não se resumem às operações de desintrusão, ao menos no que diz respeito à Terra Yanomami, que atravessa uma grave crise humanitária. Rubens Valente destacou na Agência Pública o ceticismo de especialistas e profissionais de saúde com a estratégia do governo federal para reverter o quadro crítico dos indicadores de saúde no território.

Um dos incômodos é a insuficiência injustificada de algumas metas do novo plano de ação para saúde pública Yanomami. Por exemplo, o governo definiu como objetivos reduzir a mortalidade infantil em 30% e ampliar a cobertura vacinal em 70% até 2027. “É muito pouco isso de 30%. Falar nessa redução tão pequena é como dizer aos indígenas que estão entregues à morte”, afirmou um profissional de saúde que atua no território à reportagem da Pública (IHU)

Trindade Santa - Ainda é proclamado e testemunhado o Deus dos pequenos, que escuta o clamor do seu povo e desce para libertá-lo?

Na solenidade da Santíssima Trindade não cabem perguntas do tipo: Deus existe? Ou quem é Deus? Como, apesar de existirem três pessoas, temos UM SÒ DEUS? Só cabe acolher ou rejeitar, por uma opção personalíssima de fé, que uma ‘Centelha Primordial’ de insondável origem, carregada de amor e de vida fez o universo existir e dar-lhe sentido. Não há como negar que as inúmeras imagens que foram construídas ao longo da história a respeito de Deus são fruto de heranças culturais, religiosas e históricas. A própria bíblia revela infinitos rostos de Deus de acordo com tradições e lugares sociais específicos. Ela, afinal, reflete nada mais que o pensamento humano sobre Deus, um Deus que jamais foi visto, e que jamais se deixará prender em nossas categorias humanas, limitadas. Porque, então, falarmos, ainda hoje, de 'três pessoas’, um só Deus? 

Qual a conveniência ou utilidade teológica em afirmar velhos dogmas que tentam preservar, afinal, a divindade do humano Jesus de Nazaré sem negar, contudo, a essência monoteísta, juntamente com a preexistência do Espírito Santo? A própria inadequação da utilização da categoria ‘pessoa’ aplicada ao Espírito Santo que, inclusive, é sempre representada, simbolicamente, sob forma de pomba, pouco nos ajuda a mergulhar na identidade do Deus Trinitário. Não há como negar que o pouco que sabemos de Jesus de Nazaré, o Filho, até pelos dados evangélicos, ele nunca se declarou Deus, ou Filho de Deus. Até quando o chamavam de ‘bom’ ele repetia que ‘um só é o Bom, o Pai vosso que está nos céus’. Alguém duvida que Jesus não fosse um ‘monoteísta’, ou ele já se incluía entre a tríade santa?! Jesus com toda probabilidade havia sido educado e formado a ter uma determinada e peculiar relação com Deus, entendido como Pai cheio de compaixão e de misericórdia e que poderia em tempos curtos reinar em Israel com o seu jeito específico. Difícil dizer qual fosse a consciência e a compreensão que Jesus tinha a respeito da sua missão e dos possíveis sinais que operava entre os pobres de Israel. Certamente, graças a tudo isso, não significava que ele mesmo fosse Deus e que como tal quisesse ser equiparado e tratado! O profeta Jesus era, isso sim, pelo que sabemos, um homem de fé profunda em um Deus que, mesmo não o conhecendo, - como todos os humanos, - o entendia e o acolhia como um pai que cuida dos pequeninos, dos doentes, dos esquecidos e até dos passarinhos. 

Os seus seguidores, após a morte de Jesus, ao resgatar paulatinamente toda a sua pratica e pregação iniciaram um processo de ‘normal divinização’ do Mestre, o que se consolidou, mais tarde na atribuição de títulos como ‘filho de Deus’, ‘Segunda pessoa da Santíssima Trindade’, ‘Verdadeiro Deus e verdadeiro homem’, ‘gerado não criado, da mesma substância do Pai’....Daí advém que até Maria, mãe de Jesus, se torna ‘Mãe de Deus’, inclusive, na base de ameaças e chantagens do imperador que patrocinava o Concílio. Deixa de ser uma simples mãe biológica, e se torna quase que geneticamente anterior ao próprio Deus por ‘ter gerado Aquele que não foi criado e nem gerado’!!!! É notório que todas essas atribuições a Deus, ao Filho, ao Espírito Santo se deram ao longo dos séculos mediante disputas e debates teológicos ferrenhos e impositivos, como se a verdade pudesse estar do lado do vencedor, e ainda mais, imposta! Compreendemos, assim, o quanto a reflexão sobre Deus e a Santíssima Trindade se complexificou, teologicamente, deixando em segundo lugar, contudo, o alcance catequético-pastoral da solenidade. 

Acredito que a maioria dos padres ou ministros da palavra terá dificuldade de ‘encontrar iluminações adequadas’ nesta ocasião. Falar-se-á, certamente, de que o nosso Deus é um ‘Deus comunitário, e não solitário’, que ‘a Trindade é uma comunidade de amor’, e assim por diante....Resta o dilema: o Deus que é utilizado pela direita e pela esquerda, e que todos acham que está acima de tudo e de todos, e que é apontado como o responsável de tudo, do bem e do mal que existem, sendo ele trinitário ou não, poderá ainda ser revelado e testemunhado como o ‘Deus dos pequeninos’, como o Deus que ‘desce para libertar o seu povo porque sabe escutar ainda o seu clamor e entender a sua dor’?