Outro dia li num status de uma pessoa a seguinte frase: ‘quando não nos deixam chamar alguém de ladrão é sinal que tiraram a nossa liberdade’! Dificilmente passa pela cabecinha dela que sem provas a firmação não passa de uma grave calúnia. Mergulhamos, hoje em dia, no senso comum mais escrachado, na onda dominante das fakes e alimentamos, farisaicamente, perseguições e cacas às bruxas destruindo vidas e honras só porque determinados veículos de informação nos martelam sistematicamente que ‘ele é ladrão’! Acriticamente, não percebemos que, de repente, o mesmo veiculo informativo sonega-rouba milhões de Reais à Fazenda Federal! Quantos de nós não somos vítimas do ‘Pega ladrão’ quando esse grito de alerta contagiante emerge de uma multidão enfurecida toda vez que um adolescente é flagrado roubando um celular ou outro objeto de valor? ‘Ladrão’ é a pecha que sempre colamos em determinados candidatos, - nossos inimigos, naturalmente, - pressupondo que, por serem políticos, eles o são efetivamente. Não importa se possuímos ou não provas factuais ou se papagaiamos o que uma horda de sanguinários deseja. É um fato: ladrões e pervertidos são sempre os outros, mas a segunda dos interesses em jogo nós mesmo justificamos, hipocritamente, as mesmas supostas ações delituosas de outras pessoas ou candidatos que estão ligados a nós ou, na nossa ingenuidade, achamos que eles não roubam o mesmo tanto que os demais... Roubo, afinal, parece ser algo externo a nós e, ao mesmo tempo, possuindo sempre uma conotação material, econômica, e jamais moral. Alguns roubam e desviam dinheiro público destinado à saúde, educação, segurança, etc. e outros roubam dignidades, diretos e honra. Outros, ainda, roubam sistematicamente as duas coisas. Quem mais, quem menos, somos todos infratores. E se alguém disser que nunca roubou nada de ninguém com boas probabilidades, em algumas circunstâncias da vida, deixou de denunciar quem roubou de fato, ou se omitiu ou foi cúmplice indireto, alimentando, assim, o roubo alheio, e se beneficiando das vantagens que provinham dele (do roubo alheio)!
Jesus de Nazaré, dois mil anos atrás, fazia uma profunda análise do comportamento social de seus contemporâneos que, ironicamente, pouco diverge do nosso, hoje! É justamente pelo fato de Jesus perceber que todos nós somos, de alguma forma, alimentadores ou cúmplices de tantas roubalheira material e moral que ocorre na prática humana que Ele nos alerta a não apontar o dedo aos outros e a não gritar com demasiada leviandade ‘pega ladrão’ ou a taxar somente os outros de ‘ladrão’. Com muito realismo e com muita humildade Jesus no evangelho nos alerta em analisar em profundidade muito mais as nossas contradições que a condenar as dos outros. Com isso não significa passarmos uma esponja nos grandes crimes de exploração e roubalheira que reduzem milhões de pessoas à pobreza e à miséria, - pois afinal, somos todos pecadores, - mas, ao contrário... Ao tomar consciência de nossos ‘pequenos crimes’ – que não deixam de ser crimes, - deveríamos juntos, com humildade, firmeza e honestidade iniciarmos relações sociais pautadas pelo respeito, pela transparência e pela correção fraterna. E sem condenar de antemão aqueles que poderão mudar de comportamento e se tornarem nossos aliados, construirmos o verdadeiro Reino, incorruptível e justo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário