quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal: dar à luz um novo jeito de sermos humanos


Às vezes a festa do Natal é apresentada e utilizada como um momento mágico e irreal. Uma viagem sobre as asas de um sonho. Luzes e presentes parecem nos dizer que nos é possível conquistar tudo o que queremos. Entretanto, parece não passar de mais um pretexto para não encararmos os dramas e as tragédias do nosso cotidiano. E compreendermos que é ali que Jesus-esperança vai ter que nascer!

Lembrar a dureza do nosso cotidiano no período natalino parece ser uma forma para tornar indigesta a ceia natalina e quebrar o clima de aparente harmonia na hora de trocar os presentes, pelo menos daqueles que podem! Até os anjos de vestes brancas e de vozes celestiais poderiam ficar revoltados. Natal é sim festa da vida na sua totalidade, mas da vida que estamos vivendo, aqui e hoje. Aquela vida que não esconde e não usa maquiagem para disfarçar as rugas da sua dureza, embora não ignore também a que sonhamos e queremos viver.

O Natal desse ano não poderá ignorar a vida de mais de 120 pessoas arrastada junto com a lama e os detritos das enchentes em várias cidades de Santa Catarina, Minas Gerais e Rio. Nem poderá ignorar as lágrimas dos que ficaram a reconstruir um futuro sempre mais inseguro. Uma tragédia anunciada, onde a natureza duramente atacada e deturpada pela mão irracional e gananciosa dos humanos revolta-se contra eles mesmos. A palavra “desastre natural” está sendo banida, hoje, no planeta. Fica sempre mais comprovado que os humanos são sempre mais a única causa de tamanha revolta da natureza!

O Natal desse ano não poderá servir de cortina de fumaça para esconder uma crise econômica que já está afetando centenas de milhares de pais de famílias no Brasil e no mundo. Uma crise que vem deixando um rasto de insegurança e desconfiança quanto à capacidade de os humanos se organizarem e distribuírem seus bens com justiça e equidade. Uma crise, também essa, anunciada, aonde a sede de lucro sem escrúpulos vem gerando fome planetária e guerras sem fim entre os próprios humanos.

O Natal, enfim, deveria ser celebrado como momento em que queremos encarar tudo o que no mundo está ameaçando a vida dos seres vivos e a esperança dos mais frágeis e desprotegidos. Ou seja, a vida dos milhões de “meninos-Jesus” que gostariam de nascer, poder crescer, se desenvolver e realizar uma missão como humanos/cidadãos, mas que não vão ter essa possibilidade.

Nós, os cristãos, queremos ser aqueles que como Maria, sabem “parir” uma nova esperança para a humanidade. “Dar à luz” um novo jeito de sermos humanos, construindo uma nova criação liberta das ameaças de tantos Herodes desumanos e da hipocrisia de numerosos doutores da lei. Uma humanidade que acredite na força dos pequenos, como o pequeno de Belém que era tão humano que só podia ser....Deus!

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