Quem pode mostrar Deus, o invisível? Tornar conhecido aquele que não se deixa conhecer? Mais ainda, acreditar numa sua determinada existência e anunciá-lo sem incorrer no perigo de distorcer a sua identidade e de manipulá-lo? Deus não se encaixa nas representações que nós humanos fazemos a seu respeito. Não pode ser sequer identificado com um ‘ser humano’, homem ou mulher que seja. Nem com uma vaga e ilimitada expansão de energia, mesmo que eterna ou infinita. Ele é e continuará a ser o ‘totalmente outro’. O insondável. Aquele que não se deixa ‘provar e dissecar’ nos laboratórios da teologia, da filosofia, das religiões, das dissertações sobre espiritualidade e mística. Mas por que, então, em nome de Deus se fizeram guerras santas? Por que pessoas foram conduzidas à fogueira por tentar atribuir a Deus uma determinada dimensão por outras que atribuíam a Deus dimensões diferentes?
Por que líderes políticos, crentes ou não, igrejas de diferentes denominações, homens e mulheres de diferentes culturas continuam a invocá-lo e constroem templos e dogmas para supostamente facilitar o encontro com ele? Sob o nome de Deus sempre se tem escondido projetos de poder e de manipulação de alguns sobre outros. Deus tem sido utilizado como pára-choque e como bandeira para exigir submissão, obediência cega, aniquilação da vontade, da consciência e da autonomia pessoal. Já o segundo mandamento nos alertava sobre a tentação-perigo de ‘não pronunciar em vão o nome de Deus’, ou seja, de não utilizá-lo a torto e a direito para impor ou veicular interesses e projetos pessoais ou de grupo. ‘Para não prejudicar o próprio irmão’, nos diz outra versão, sempre do segundo mandamento.
Jesus adotou uma imagem de Deus. A que lhe foi ensinada, ou que andou construindo progressivamente ao longo da sua vida e com a qual se sentiu bem. Jesus, pelos relatos evangélicos, concebeu deus como pai. Tentou agir e se comportar como um pai, tal como eram educados a se comportarem os verdadeiros pais na cultura em que Jesus foi socializado. Os discípulos/as de Jesus no seu amor para com os pobres, doentes pecadores viram nele uma carga tão intensa de humanidade tão despida de todo poder ‘divino’ que começaram a acreditar que Jesus poderia ser a revelação do próprio Deus invisível, insondável. Jesus de Nazaré revelou a outra face de ‘Deus’. Não o deus do palácio e do templo que era manipulado e usado para impor interesses e poderes pessoais, mas o Deus dos pequenos, dos simples. Enfim, dos órfãos de afeto, de apoio moral, de esperança, da paz. Talvez isso não corresponda à verdadeira essência/identidade objetiva de Deus, - que permanecerá insondável - mas certamente pode dar sentido real e histórico a muitos humanos em sua luta por vida plena, por justiça, e por felicidade.
Um comentário:
Lindo, muito lindo.
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