Costuma-se dizer que não há maior cego do que aquele que ‘não quer enxergar’! No entanto, muito depende de quem fala isso, e para quem fala. Cego, de fato, pode ser aquele que julga os outros como tais! Andamos pelos caminhos da vida quase sempre impulsionados pelo prurido de fazer sempre mais ‘novas experiências excitantes’. Achamos que tudo sabemos, e que o que somos e fazemos é fruto exclusivo da nossa ampla e sábia experiência de vida. Distribuímos conselhos para muitos, cuspimos sentenças sobre todos. Gastamos energias e recursos em tantas picuinhas insignificantes que só nos desgastam humana e espiritualmente. Achamos, enfim, que a verdade e a luz já repousam no nosso bolso, e que não precisamos nos libertar das trevas que nos dominam e nos cegam. A nossa suposta autossuficiência, a nossa incontrolável arrogância nos coloca à beira do caminho da vida e da felicidade, como havia colocado o Bartimeu do evangelho de hoje. Como ele, nós também, vivemos rastejando e mendigando afeto e compreensão. Incapazes de enxergar as nossas próprias contradições permanecemos impermeáveis a toda e a qualquer luz que possa vir do mundo externo. Precisamos sim, de alguém que nos ajude a levantar e a ‘olhar’ a vida com outros olhos. Precisamos de uma radical sacudida. Precisamos nos mancar. Precisamos nos enxergar!
Temos muito a apreender com Bartimeu. Ele era cego e mendigo, mas sabia de sê-lo, diferentemente de muitos outros, - inclusive discípulos, - ‘que têm ouvidos, mas não ouvem; têm olhos, mas não vêem’. Bartimeu sabia que não podia continuar a conduzir aquela vida. Sabia que sozinho não teria tido nem a força e nem a coragem de se ‘levantar’ e andar de forma autônoma e livre na vida. Contra tudo e contra todos, ele grita por Jesus. E tem que gritar alto, pois os seus vizinhos o censuram e o pressionam para que se conforme com sua cegueira. Bartimeu os ignora e grita mais forte ainda pedindo ‘piedade e compaixão’ a Jesus. Nada mais do que isso. E Jesus, então, manda chamá-lo. Os mesmos que pouco antes lhe impunham o silêncio e a conformação agora eles se tornam anunciadores de que Jesus o chama. Um ‘chamado’ à vida. Uma vocação a viver definitivamente na luz, para uma pessoa vítima da escuridão e do desespero. Bartimeu ‘levanta’, dá um pulo, e joga fora o seu manto. Com esse gesto Bartimeu quer abandonar o seu passado, largar a roupa velha da cegueira e da mendicância, e vestir a roupa da vida nova. A fé de Bartimeu na compaixão e na piedade de Jesus faz com que ele comece a enxergar de forma totalmente nova o seu passado e o seu futuro. E a ter posturas novas, seguindo Jesus pelo caminho. Nós como Bartimeu, somos chamados a sair de vez da dependência e da cegueira do coração e, com Jesus, ajudar a abrir os olhos a outros cegos.
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