quinta-feira, 25 de junho de 2020

Militares estão desmontando a engrenagem do SUS, alerta especialista


Jornal GGN – O professor da FGV e especialista em SUS, Adriano Massuda, disse em entrevista ao El País que o Brasil pode estar assistindo a um “processo de desmonte da engrenagem que fez o sistema de saúde funcionar nos últimos 30 anos, que é muito perigoso.” “O Exército pode estar puxando pro seu colo a responsabilidade de desmontar o sistema de saúde brasileiro. Esse sistema que é essencial para garantir a segurança sanitária do nosso país”, disse. Massuda criticou especialmente a entrada de militares no Ministério da Saúde, em cargos que antes pertenciam a técnicos de carreira que acumularam muito conhecimento e trabalho sobre suas respectivas áreas. Esse esvaziamento pelo governo Bolsonaro, para dar lugar à tutela militar, pode virar um prejuízo permanente e não algo que vai marcar apenas o enfrentamento à pandemia do coronavírus.

“O volume de ocupação de cargos técnicos por militares e por indicações políticas sem qualificação necessária na estrutura do Ministério da Saúde tem ocorrido como nunca antes desde que o SUS foi criado. Nem o pior ministro da Saúde fez o que está acontecendo agora.”Segundo o especialista, há áreas técnicas do Ministério “que já passaram por diferentes governos, de diferentes bandeiras políticas, e nunca foram modificadas, devido ao saber acumulado”, disse. “O Exército está ocupando cargos técnicos quando o Brasil tem profissionais extremamente competentes na área da saúde coletiva brasileira. Poucos países têm a inteligência que nós temos neste setor. Essa inteligência não está no Exército”, alertou. Ele demonstrou preocupação com “outros programas de saúde que dependem da coordenação técnica do ministério. Como é que vai ficar a coordenação nacional do câncer? Como é que vai ficar a política nacional do HIV, do sangue e hemoderivados, e as vacinas que dependem da ação do Ministério da Saúde? É algo muito arriscado e a sociedade tem que ficar bastante atenta. O problema não é só a covid-19.”

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