Pode ser fácil ‘amar’ um Deus que não se vê. Um ser anônimo que não incomoda, que não intervém fisicamente, apesar de que muitos lhe atribuem graças e, também, muitas desgraças. Difícil, contudo, é amar o ‘próximo’. Seres bem visíveis e presentes, que incomodam, questionam, criticam e ameaçam. Complicado também é dar sentido à palavra-conceito-relação... ‘amar’. Quais seriam, afinal, os gestos, as ações, e as posturas humanas que manifestam amor a alguém? Se é verdade que isso pode depender de cada cultura e contexto histórico é bem verdade que os humanos, estejam onde estiverem, demonstram afeto, carinho, bem querer, amor preservando sempre a pessoa amada. Ou seja, defendendo e protegendo a sua integridade física e moral.
O evangelho de hoje mostra mais uma vez o distanciamento moral e hermenêutico entre Jesus e um escriba, representante da religião formal sobre esse assunto. Jesus deixa claro que não existe amor a Deus desvinculado do amor ao próximo. Isso, talvez, para fazer ‘um pouco de média’ com o escriba. Na realidade o pensamento de Jesus a esse respeito é claro: ‘este é o mandamento que eu vos dou,: amai-vos uns os outros‘! Para Jesus amar as pessoas é a melhor demonstração de amor para com Deus! Mais que isso. Para Jesus amar o próximo vai muito além do dever moral de ‘amar quem está perto’, os familiares,, os membros da mesma pátria e comunidade, como a tradição pedia. É amar os ‘inimigos’, os rivais, os que não pertencem ao mesmo grupo e cultura! Amar essas pessoas, no entanto, não significa ignorar as suas eventuais ofensas e ameaças, ou os seus maus tratos. Amá-las significará lutar com todas as próprias forças, com todo o seu coração e com toda a sua mente para que as 'pessoas amadas' deixem, definitivamente, de alimentar ódio e violência, humilhação e intolerância. É amando desse modo que as pessoas se educam a reproduzir amor e não utilizando ameaça e violência, e nem vingança e indiferença!