Em meio a tudo isso, povos indígenas se veem num lugar de vulnerabilidades, é o que diz outra liderança indígena da região de Arame, um dos municípios que fazem parte da TI Araribóia, no Maranhão. Segundo a liderança, as invasões, por motivo de exploração de madeira, já ocorrem desde pelo menos o ano de 1984, e nunca parou. Afirma ainda que cerca de metade do território apresenta alguma ação madeireira e que há grande preocupação do avanço de atividades relacionadas ao arrendamento de terras para pastoreio bovino. Além da preocupação com atividades que possam agravar a situação do desmatamento, os chamados Guardiões da Floresta fiscalizam e monitoram o território preocupados ainda com os povos isolados que vivem da caça, da pesca e da coleta, por exemplo. Esse monitoramento é resultado de um trabalho coletivo e não remunerado, totalmente voluntário e também perigoso. A exposição, considerada necessária para a sobrevivência da cultura indígena, foco da luta, segundo a liderança da região de Arame, leva a encontros violentos e até a assassinatos de nomes importantes para a história e para a cultura desses povos. “A gente faz esse trabalho de fiscalização e monitoramento do nosso território e a gente atrapalha a atividade desses madeireiros que ficam roubando as nossas madeiras do nosso território. A gente não tem paz nas nossas aldeias. Isso é minha revolta, minha indignação, sou liderança, faço parte da comunidade. Fica difícil a gente viver num país democrático e que não tem esse olhar amplo pro nosso povo indígena. Então a gente fica à mercê dos invasores”, reflete a liderança. Como tentativa de interromper as ações de invasores, as lideranças também comunicam à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), mas acusam que os pedidos demoram a ser atendidos ou verificados. Nesse contexto, o que fica é a luta dos Guardiões da Floresta e lideranças indígenas na busca contínua por reconhecimento de seus espaços territoriais, de luta, de resistência e de existência. Segundo as lideranças consultadas e não identificadas, resistir é trabalhar diariamente na articulação territorial pela vida de milhares de famílias, seus respectivos saberes e cultura, como na TI Araribóia, no Maranhão. Ela representa aqui algumas das experiências de violências e de resistências, dentre as 330 Terras Indígenas identificadas somente no bioma Amazônia, no país.
*Monalisa Coelho, Maria Regina Telles e Camila Simões - Esta reportagem foi produzida com o apoio da Earth Journalism Network
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