Quantas angústias e tempestades interiores experimentamos quando temos que abandonar a nossa margem e ir á outra margem! A margem do mundo do outro, conhecer sua realidade, dores e tragédias para lhe manifestar amizade, solidariedade e compaixão! O medo de perder segurança e estabilidade e o temor de sermos rejeitados e perseguidos pela 'outra margem' parecem nos paralisar. Nessa travessia desafiadora nos sentimos questionados no nosso modo de ser e de agir, e tudo parece se revoltar. Toda vez que Jesus convida os seus a ir á outra margem do lago, a habitada pelos estrangeiros e pagãos os seus discípulos resistem. Temem enfrentar conflitos e rejeições. Preferem permanecer no certo do que encarar ou incerto, temem perder o seguro pelo inseguro. É a imagem de uma igreja de sacristia, fechada e acomodada que é chamada a sair de si mesma e a não ter medo de encarar lobos e ovelhas, e de mergulhar nos normais conflitos e tempestades da história. Afinal, é a mesma igreja que de um lado proclama que Jesus venceu o mar da morte, da violência e da opressão, mas que do outro lado se sente dominada pela sua pouca fé, pelo medo de afogar e ser engolida pelas ondas das forças diabólicas da brutalidade humana. É preciso recuperar, hoje, a certeza de que se o Ressuscitado está no nosso mesmo barco, que 'Ele já venceu o mundo' e que, mesmo que um tanto adormecido, jamais iremos naufragar! Temos fé para tanto?
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