A nossa vida parece ser uma incessante busca de sentidos. Às vezes, afanosa. Procuramos e fazemos numerosas e variadas experiências na tentativa de satisfazer a nossa necessidade de encontrar um sentido acabado, pleno, para o nosso viver. Para o nosso sofrer, correr, chorar, esperar, amar. Muitas vezes temos a impressão, e a ilusão, de termos encontrado, enfim, o seu sentido último. Contudo, rapidamente, uma nova sensação de amargura e insatisfação nos invade. Voltamos a um novo começo: à procura de novos sentidos. A vida inteira parece ser assim. Encontros e desencontros, ilusão e realismo, tristeza e alegria, esperanças e angústias se entrelaçam de forma rocambolesca sem nos deixar plena e interiormente satisfeitos. Flagramo-nos sempre com uma renovada sede. Jamais totalmente saciados.....
....Jesus também tem sede. Uma sede que é muito mais do que uma mera necessidade fisiológica. Ele também está à procura de sentidos. À procura de clareza sobre a sua missão. Está à procura de mais luz, de mais inspiração, de mais coragem para continuar a sua viagem...a Jerusalém. Aproxima-se de um poço. Não é um poço qualquer. É o poço onde os ‘pais e antepassados’ do seu povo paravam para se abastecer. É um poço que contém a água da recordação de tantas histórias de vida, de testemunhos, alianças e compromissos. Uma água que pode matar a sua sede. É um poço, porém, situado numa terra ‘estranha, estrangeira e hostil’. Controlado simbólica e momentaneamente por uma mulher. Uma samaritana, uma herege, como toda aquela terra. Só ela, contudo, possui, agora, os meios para puxar a água e ‘matar’ a sede que Jesus experimenta. Jesus precisa, portanto, estabelecer um encontro profundo e inédito com ‘ela’ para que possa ter acesso à água que mate definitivamente a sua sede.
A ilimitada liberdade de Jesus, a ausência nele de preconceitos de todo tipo, a sua transparência em reconhecer que ele também ‘tem sede’ de vida e pede acolhida, compreensão e apoio, - como todo ser humano, - faz com que as posições entre os dois interlocutores se invertam. De sedento, Jesus passa a ser aquele que tem condições de matar a sede da samaritana. Esta que aparentemente controlava o poço, - mas que buscava na sua vida um sentido acabado, inutilmente perseguido (cinco vezes havia casado!), - vislumbra em Jesus a possibilidade de sair definitivamente da sua dependência de ‘correr sempre atrás de mais água’. Uma água que jamais a havia saciado. O encontro à beira do poço havia mudado os dois. A samaritana descobre uma ‘nova água’, um novo sentido para a sua vida. E Jesus se sacia ao proporcionar a outros uma água que ele já possuía, mas que agora não pertence só a ele.
Para aquelas pessoas que no ‘meio dia’ da sua vida iniciam sempre novas viagens para encontrar a água-sentido que sacie a sua sede de paz, de justiça, de acolhida, de fraternidade não devem existir barreiras. Não podemos erguer os muros dos preconceitos religiosos, sociais, políticos ou sexuais para separar uns dos outros. Nem pode existir tampouco alguém que se sinta dono do poço onde corre a água cristalina que dá sentido à vida dos humanos. Todos somos convidados a beber e a oferecer a água da solidariedade, da reconciliação, do respeito que brota de um ‘poço comum’. Este poço pertence a toda a humanidade. Ele não é nem meu, e nem seu. Não conhece donos nem controladores. A sua água corre muitas vezes longe dos templos e das igrejas, das sinagogas e das mesquitas. É uma água que pode saciar definitivamente todos os seres humanos desde que a procurem no 'monte' onde reside o ‘espírito e a verdade’.
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