Existem momentos na nossa vida em que somos impelidos a produzir rupturas radicais com o nosso passado. Deixar, definitivamente, certos comportamentos, estilos e opções de vida, sob pena de sermos permanentemente insatisfeitos e incompletos. Numa linguagem mais teológica poderíamos dizer que é necessário entrar num radical processo de conversão existencial e espiritual. Jesus, Pedro e Paulo, e muitos outros, passaram por isso. Jesus rompeu com o seu passado de ‘marceneiro’ dependente de uma família e de uma comunidade religiosa fechada no norte da Galiléia, e se tornou um itinerante missionário do reino em muitas comunidades e famílias. Paulo rompeu com o seu passado de observante rigoroso e defensor intransigente das normas farisaicas, - além de perseguidor impiedoso, - para se tornar o proclamador da liberdade que vem de Cristo. Pedro, também, de pescador e cidadão absorvido por um cotidiano insosso e sem esperanças, converte-se num discípulo impávido do ‘mestre’, inicialmente, e, posteriormente, num líder dos discípulos e discípulas do ‘ressuscitado’, após a morte de Jesus, e após ter negado a pertença ao Seu grupo. No próprio trecho evangélico de hoje assistimos a mais uma ruptura com um determinado passado de Jesus, e à escolha de uma nova e radical opção de vida. Jesus abandona a sua missão na Galiléia, - a que lhe havia proporcionado fama de ‘mestre e curador’ e começa a percorrer o caminho rumo a Jerusalém, rumo à cruz e à rejeição.
É nesse contexto de ‘rupturas constantes’ com um determinado passado, feito de mentalidades e práticas específicas que somos chamados, como Pedro, a responder à incessante pergunta de Jesus ‘quem eu sou para vocês’? A depender da sua resposta nós daremos um determinado sentido à nossa vida, mas, também, iremos gerar um determinado modo de ser igreja de Cristo, hoje. Contemplando as ‘rupturas’ produzidas por Pedro e por Paulo não somente no seu itinerário existencial pessoal, mas no seu itinerário teológico e histórico como membros de um grupo eclesial podemos compreender alguns elementos que não podem ser ignorados na ‘nossas respostas’ à pergunta do mestre que ele continua dirigindo à sua igreja. 1. Ser discípulos do ‘Cristo filho do Deus vivo’ significa saber segui-lo no caminho na cruz e da rejeição, e não na expectativa de obter cargos, reconhecimentos públicos e poder. 2. Ser igreja do ‘Cristo filho do Deus vivo’ significa romper com o medo e a dependência produzida pelas normas e as prescrições religiosas ligadas a um espaço sagrado e a um templo, e mergulhar na beleza de criar fraternidade e comunhão com todos os povos e culturas. Alimentar-se das inúmeras manifestações do amor do Pai que fala a todos, não quer divisões e rivalidades entre seus filhos e filhas, e sim, liberdade e respeito principalmente para os ‘seus pobres’ que continuam pagando as conseqüências das ‘respostas equivocadas’ de seus pastores à ‘pergunta’ de Jesus. Que como Pedro e Paulo saibamos incorporar e reproduzir as escolhas e opções de vida do ‘Cristo filho do Altíssimo’!
Nenhum comentário:
Postar um comentário