Uma chacina ensanguentou
o asfalto da BR 226 numa aparente pacata manhã desse sábado, 7 de dezembro,
entre as aldeias El Betel e Boa Vista, na Terra Indígena Canabrava, no eixo Grajaú-Barra
do Corda, Maranhão. Não foi atropelamento, - algo que ninguém divulga, - e nem o
trágico resultado de um dos famigerados assaltos que ocorrem na região. As vítimas
foram, mais uma vez, dois pais de família Guajajara que habitam as numerosas
aldeias que margeiam a estrada. O balanço atual (às 16.00 horas da tarde de
sábado) é de dois mortos e de pelo menos 02 feridos. Várias fontes indígenas locais
convergem em seus relatos. Segundo eles um carro branco teria passado atirando pela
BR 226, logo após uma grande reunião na aldeia Coquinho, - que contou com a
presença de muitos caciques para debater questões relacionadas aos impactos
produzidos pela Eletronorte na terra Indígena Canabrava. Na breve ladeira que
leva à aldeia El Betel um número não identificado de pessoas de dentro de um
carro branco começou a atirar nos índios que transitavam à beira da estrada. Foi
morto, no instante, um cacique que vinha na moto, e ferido outro que vinha junto
na garupa. Mais adiante, nas proximidades da aldeia Boa Vista foram desferidos
mais tiros ferindo vários indígenas. Segundo Genildo Guajajara, um dos feridos,
morador da aldeia Filipe Bone, veio a falecer um pouco mais tarde e outro em
situação grave. O fato produziu uma forte revolta nos demais indígenas que
fecharam imediatamente a BR 226 com troncos e pedras. Um ônibus que vinha
transitando na BR ao ver a tentativa dos índios de bloquear a estrada, e
ignorando o que havia acontecido, acelerou, temendo que fosse um assalto. Em
resposta os manifestantes apedrejaram o ônibus, mas sem ferir nenhum
passageiro.
Segundo o cacique Genildo Guajajara, embora seja cedo para identificar
os motivos reais de tal ataque, considera que os criminosos, ao agirem dessa
forma covarde, se sentiram inspirados e, de alguma forma, amparados pela
postura anti-indígena do atual presidente da República. “Sempre tive em alta
consideração o exército brasileiro. Alimento uma profunda admiração por tudo o
que o marechal Rondon fez pelos índios do Brasil. Agora, irônica e
tragicamente, o mesmo exército produz em suas fileiras um grande inimigo que
odeia e detesta índios. Muitos criminosos e racistas se acham no direito de
fazer aquilo que o primeiro mandatário faria nas mesmas circunstâncias!’ Caciques
indígenas informam que amanhã, domingo 8, uma comissão estadual de Direitos
Humanos estará se deslocando até a BR 226 para tentar ‘apaziguar os ânimos’.
Que não seja mais uma embromação para adiar uma inadiável e competente investigação,
e capturar os responsáveis dos homicídios desse sábado, e levá-los ao banco dos
réus. Afinal, na vizinha Barra do Corda, três índios Guajajara estão cumprindo
uma pena de 47 anos por um homicídio ocorrido 20 anos atrás na mesma BR 222,
mesmo após ter cumprido 07 (sete) anos na nona delegacia de São Luís, aguardando
um julgamento que só aconteceu em março desse ano. ‘Para os inimigos só os
rigores da lei,’ para uma ‘justiça’ que vem tirando sistematicamente a venda da
imparcialidade. A situação na BR 226 é de profunda indignação e de imprevisível
desfecho.
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