Há inúmeras formas de manifestar amor por alguém. Tudo depende da personalidade, caráter, educação, circunstâncias da vida. Uma forma, contudo, que pode encontrar consenso é guardar a palavra do amado. Ou seja, conservar como referência para a própria vida o conjunto de seus pensamentos, orientações, cuidados e afetos. Tudo isso se constitui num patrimônio moral e afetivo capaz de alimentar a pessoa que fez a experiência de amar e se sentir amada por alguém. É como se a pessoa que amamos e que não está mais conosco fisicamente continuasse a viver em nós, dentro de nós. Quem guarda a palavra, ama, e o amado que o amou faz sua morada nele. Esta é uma experiência profundamente humana, existencial, palpável, acessível para quem sabe amar guardando dentro de si ‘a palavra’ da pessoa amada. João, no evangelho de hoje, não faz jogo de palavra, mas relata o que ele e a sua comunidade vêm experimentando após muitos anos de distanciamento físico da pessoa de Jesus.
O evangelista sente que a forma que a igreja primitiva tem para manifestar amor ao Mestre que se foi é seguindo radicalmente a sua palavra/ação/testemunho. A comunidade que guarda a palavra se torna o sacrário da presença de Jesus e do Pai que é maior que Jesus. Jesus é o Humano que revela historicamente com seus gestos e palavras de amor divino do Pai invisível! E João nos diz mais que isso: se houver alguma falha em ‘guardar a palavra’ não é preciso se preocupar, pois Jesus garante que na nossa vida teremos ao nosso lado alguém que nos ajuda a ‘resgatar’ a palavra. Ele o chama de ‘defensor’, ou seja, aquele que intervém para ocupar o lugar da pessoa que não consegue conservar sozinha a palavra, principalmente na hora de vencer um desafio, ou ganhar uma causa. Certamente, muitos de nós podemos relatar casos pessoais em que chamados a enfrentar desafios ou crises de toda ordem, ou ter que assumir uma posição firme, ou tomar uma decisão delicada, ou ter que argumentar em momentos cruciais da nossa vida nos surpreendemos ao percebermos como, ao final de tudo, nos saímos melhor do que imaginávamos. A posteriori, olhando o passado, nós mesmos temos dificuldade de compreender de onde tiramos tanta força, coragem, e lucidez. Não foi somente a nossa perspicácia ou a nossa inteligência, mas a contribuição amorosa, invisível, de ‘Alguém’ que estabeleceu ‘morada’ no nosso ser por amor a nós, e nós, por nossa vez, o acolhemos de coração aberto, sem resistência e desconfiança. Guardar a palavra do amado/a que ama é garantia que nenhum dos dois morrerá jamais!
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