‘Parecia uma operação de guerra!’ Assim os indígenas da Aldeia Canafístula se expressaram ao descrever a operação policial desencadeada quinta-feira passada, 19, às 06:00 h. da manhã e surpreendendo os ainda sonolentos moradores. Enquanto o ruído de um helicóptero do GTA (Grupo Tático Aéreo) se aproximava e sobrevoava as poucas casas da aldeia do povo Guajajara na terra Indígena Canabrava, às margens da BR 226, no município de Jenipapo dos Vieira, entre Barra do Corda e Grajaú, Maranhão, várias viaturas da Polícia Federal, Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal vindas de São Luís tomavam de conta da entrada e da saída da aldeia. Mais de 10 policiais de forma sincrônica e fortemente armados arrombaram, primeiramente, uma casa ocupada, naquele momento, por duas crianças indígenas ainda sonolentas. A criança de 10 anos tomada pelo pânico, ao ver os policiais invadindo a sua casa chorava copiosamente e dizia que nada tinha feito e que não queria ser presa. Os policiais reviraram tudo e nada encontraram na casa, mas fizeram questão de levar para a delegacia também a criança, provavelmente achando que estava sendo abandonada, ou no intuito de verificar quem fossem, posteriormente, seus pais. Em seguida, invadiram outra casa, a do senhor Francisco Alves Lima, 60 anos, que estava tomando café e se preparava para ir à roça. Os policiais entrando na cozinha pela porta dos fundos sem apresentar qualquer tipo de mandado judicial, ou ordem de prisão, detiveram-no diante da esposa e dos dois filhos. Os moradores visivelmente chocados com a macabra exibição policial observavam de longe a movimentação, com surpresa e espanto. O cunhado do Sr. Francisco Alves Lima, um indígena Guajajara, irmão da esposa que, muito preocupado, acompanhava mais de perto a ação policial, também foi detido e levado com o cunhado para a Delegacia de Barra do Corda por ter insistido em acompanhar de perto a ação. Além dos dois homens, a polícia levou dois carros, uma moto e uma espingarda por fora que pertenciam ao Sr. Francisco. Posteriormente, os veículos foram devolvidos, inclusive a moto, mas não os relativos documentos. Também o cunhado do Sr. Francisco foi posto em liberdade, no mesmo dia, pagando, inexplicavelmente, uma fiança de R$ 1.750,00. Os indígenas observaram que durante a operação um carro preto com vidros fumês acompanhava tudo de longe e sendo escoltado por um policial armado que impedia qualquer tipo de aproximação.
Mal-entendido?
Somente ao chegar à Delegacia de Barra do Corda, o delegado da Polícia Federal que conduziu o Sr. Francisco deu-lhe ordem de prisão. O motivo seria porque ele teria dado proteção, durante alguns dias, a um cidadão de nome Manoel Bruno Macedo Lima Diogo acusado de estar envolvido no assassinato de um advogado de Grajaú, o Dr. Ricardo da Luz, ocorrido em dezembro de 2022 em Itaipava de Grajaú. Ocorre que esse cidadão vinha pedindo trabalho braçal em várias aldeias e encontrou no Sr. Francisco uma pessoa disposta a lhe oferecer algumas diárias. Pelo que se sabe, o Sr. Manoel tem várias passagens pela polícia e, segundo informações dos indígenas da aldeia ele comparecia mensalmente no Fórum para assinar um termo de comparecimento exigido pela Justiça local. Os indígenas negam veementemente que o Sr. Francisco conhecia o Sr. Manoel e sua situação perante a justiça, de forma que não poderia ser acusado de cumplicidade ou de oferecer guarida a um foragido. No presente momento o Sr. Francisco Lima se encontra preso na delegacia de Barra do Corda com problemas de pressão alta e sem ter condições de arcar com os gastos da sua defesa. Os indígenas da Aldeia Canafístula continuam vivendo sobressaltados, pois correm boatos que outras pessoas da aldeia serão ouvidas, e também porque eles vêm notando que há um carro vermelho que frequentemente monitora a aldeia, indo e vindo, e parando várias vezes na entrada da aldeia, no claro intuito de intimidar os moradores. O cacique da aldeia, Rogério Guajajara, tio da esposa do Sr. Francisco, lamenta que a FUNAI nada sabia da operação policial que ocorreu em ‘Terra Federal’ e nada vem fazendo para esclarecer o caso, mas, principalmente, para condenar os abusos e as arbitrariedades policiais cometidas na sua aldeia. Apelam desesperadamente, para que a Secretaria Estadual dos Direitos Humanos compareça na área e, principalmente, na Delegacia de Barra do Corda e identifique os policiais responsáveis que vêm causando terror e medo na pacata aldeia Canafístula.
Operação policial com casa arrombada e invadida na aldeia Canafístula |
Um comentário:
O Ministro Flávio Dino ex governador, mesmo não extrapolando ss atribuições do seu cargo, o que teria a dizer!?
Postar um comentário