Japão, março de 2011. Por via satélite chegam imagens apocalípticas. Tem-se a sensação de um filme de ficção ou de um exagerado surrealismo. Dezenas de milhares de cadáveres de crianças, homens e mulheres se misturam com as águas sujas, os carros, e restos de madeira e blocos de concreto. Outros sobreviventes, mesmo mantendo uma postura altiva, não escondem em seus olhares a dor e o drama. Além da perda de pessoas queridas e do fruto de tantos anos de suor e trabalho, para eles permanece o pesadelo da contaminação radioativa, da árdua reconstrução e da esperada indiferença dentro de poucas semanas....
Para quem está experimentando desolação e morte, e a perspectiva de mais destruição, só restam poucas opções: se entregar ao desespero ou tentar ‘trans-figurar’ a sua própria realidade. Transfigurar a sua própria realidade significa ir além do momento que se está vivendo. Significa dar imagem a uma realidade nova, transformada, positiva, futura. Não como fuga, mas como esforço e compromisso em ‘re-configurar’ e re-construir o que foi deformado ou até destruído. Dentro de si e fora de si. Não se entregar às ‘imagens’ reais de um presente que parece deletar toda possibilidade de ‘re-criação’, mas acreditar que a morte de hoje pode e deve ser vida num futuro próximo. Afinal é o paradoxo de quem vive!
Esta foi, também, a postura de Jesus de Nazaré. Ao percorrer o caminho que leva a Jerusalém Jesus começa a intuir que há muita rejeição à sua pessoa e à sua mensagem. Isto poderia redundar em ações de ameaça e perseguição. Possivelmente morte. Jesus que é uma pessoa atenta a todos os indícios e sinais começa a perceber que um cenário a não ser ignorado é a sua própria morte violenta. Sentimentos de angústia e pavor o perseguem, como é normal para quem ama a vida. A tentação de dar um tempo, de recuar, de fugir é grande, mas resiste. Não se entrega a essas imagens. Ao contrário, vislumbra num momento de iluminação como poderá ser o seu futuro próximo, mesmo com a perseguição e a morte. Sente que ele não está só. Que não é uma das muitas vítimas anônimas do Império e do Sinédrio. Percebe que pode ser um sinal profético para Israel e para o mundo de que a compaixão e a solidariedade são maiores que a indiferença e a arrogância. Experimenta na ‘trans-figuração’ da sua própria realidade uma presença inédita de tantos outros ‘homens inconformados’. Profetas e líderes libertadores que fizeram a história do seu povo. Que o educaram e o moldaram para que ele também fizesse parte dessa história. São pessoas ousadas, denunciadores de iniqüidades e escravidões, mas também construtores de novas formas de convivência social (Elias e Moisés).
A partir dessas 'figuras' re-criadas e re-propostas à sua vida, Jesus ‘re-configura’ e ‘re-significa’ o seu futuro. Aprende a conviver com o medo e a angustia, mas já incorporou definitivamente a perspectiva de que a sua morte não será vã!
Um comentário:
Que bela reflexão!Diante dos fatos é necessário um outro olhar sobre o quão importante é estar disposto à vida e isso, certamente, implica em pensar no todo que nos cerca, por exemplo o cuidado com a nossa MÃE TERRA.
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