sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quaresma V - Vida nova para muitos Lázaros ambulantes! (Jo. 11,1-43)


Convenhamos: é bastante inverossímil que uma pessoa após 4 dias de se encontrar biologicamente morta volte a viver. Que consiga reativar a circulação sanguínea do seu organismo e de todos os seus órgãos vitais parados há vários dias. Haverá quem diga que para Deus tudo é possível. Que isto ocorreu somente com Jesus, pois era o filho de Deus onipotente. Ou que, afinal, está escrito lá no evangelho, e isto não pode ser interpretado de forma diferente. A morte, porém, nos evangelhos, nem sempre é entendida como morte biológica! Como ‘chorar’, na bíblia, nem sempre significa ‘verter lágrimas’, e sim, experimentar uma situação de desespero. E assim por diante. Além do mais, se o objetivo de João, no caso do evangelho de hoje, era somente o de exaltar o ‘poder onipotente de Deus em Jesus’, não precisava recorrer a um acontecimento tão espetacular como uma ressurreição ‘biológica’, a de Lázaro. Talvez obtivesse o resultado contrário. De fato, quem de nós iria se ‘reconhecer’ em tal acontecimento? Muitos de nós, com razão, diriam que isto aconteceu milagrosamente com Lázaro, mas não conosco. Nem tampouco com milhões e milhões de Lázaros que apodrecem em frias ‘covas’, ou em sepulcros aconchegantes. Nem seria a experiência de milhões de Martas e Marias que vivenciam todo dia a ‘perda’ de ‘irmãos e irmãs’.

João, porém, quer nos dizer que aquela experiência de ‘vida reconquistada’, mediante a fé em Jesus, pode e deve ser uma experiência ao alcance de muitos. Pensemos, por um instante, na experiência de numerosas pessoas que respiram, correm, lutam, mas que perderam a fé na vida. A fé em si mesmas. Que não têm dentro delas motivações que dêem sentido ao seu viver. Um viver que só traz sofrimento e....morte.
São vidas roubadas. Sistematicamente negadas. Desesperançadas. Vidas interrompidas por traumas, medos, violências de todo tipo, e falta de perspectivas. Verdadeiros Lázaros ambulantes! Biologicamente vivos, mas mortos por dentro. Lázaros que não contam, muitas vezes, com o afeto e a proximidade de ‘Martas e Marias’. Que não contam com a comoção, a preocupação fraternal, e o amor de um amigo, como o de Jesus para com Lázaro.

João apresenta Jesus como uma verdadeira ‘ressurreição itinerante’ para muitas pessoas que faziam a experiência da morte em sentido lato. Que viviam nos frios sepulcros do desespero, da marginalização social e religiosa, e da escuridão da vida. Considerados já ‘podres’ e acabados por todo o mundo. Aparentemente abandonados até por Deus que parecia ausente ou indiferente ao seu sofrimento. Que parece chegar atrasado justamente nos momentos cruciais de uma vida ameaçada. No evangelho hodierno Jesus representa, ele mesmo, a vontade de todas aquelas pessoas que, hoje, movidas pela compaixão tiram dos sepulcros da ‘não vida’ quantos foram nele enterrados. Que arrancam as ‘faixas’ do medo, e da escravidão da morte todos aqueles que já haviam desistido de lutar e acreditar na vida. E, por ‘crerem’ que a vida/esperança é mais forte do que a morte, permitem que muitos Lázaros ressuscitem, voltem a caminhar, a levantar a cabeça. A ousar sonhar. A voltar a viver em plenitude.

Ressurreições acontecem!

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