A tendência dos humanos diante dos grandes desafios e dramas da vida é a de fugir. Sentindo-se impotentes para resolvê-los os humanos tendem a se refugiarem num mundo ideal onde, supostamente, não existiriam mais as contradições e os sofrimentos do seu presente. O sonho de um mundo novo, livre de tudo isso tem acompanhado desde sempre o ser humano. Em todas as mitologias dos cinco continentes podemos constatar isso. O próprio passado quase sempre se apresenta como irreal e plenamente idealizado. Nele, originalmente, tudo era bonito, tudo funcionava bem. Até os bichos falavam e agiam como gente. E o futuro, aquele almejado, - e antagônico a um presente frustrante, - é visto como um mundo livre de toda dor, finalmente justo, e recompensador para todos aqueles que se mantiveram firmes, e não desanimaram. Nesse ‘novo paraíso’, feito de ‘novos céus e novas terras, e de novas criaturas’, o presente seria totalmente transformado, transfigurado e redimido. Em geral, tudo isso seria obra de um ‘deus’, ou de um ‘herói’, ou até fruto de um ‘processo evolutivo’ natural.
A essa altura, contudo, cabe uma pergunta: quem nos garante que essa idealização do passado e do futuro seria expressão de uma mera fuga de um presente frustrante? Ou expressão da impotência humana diante dos grandes desafios da história? E se fosse, por acaso, expressão da esperança inata que existe no ser humano? A de desejar e de construir um ‘futuro permanentemente transformado’ que o próprio ser humano colocou em risco? Acredito ser justamente essa visão que a narração evangélica de hoje e as propostas ao longo do período do advento querem provar. O evangelho hodierno, de fato, convida de maneira contundente a ‘erguer a cabeça, e a olhar para cima’. Ou seja, a tomar consciência da própria realidade em que os humanos se encontram, e saber encará-la com realismo e firmeza. Sem permitir que ela nos esmague. Sem fugirmos e nos esconder dela para. Sem nos refugiar em mundos idealizados e narcotizados. Para não desanimarmos diante do desafio de nós mesmos transformarmos um presente que continua sendo fonte de sofrimento e dor é fundamental que alimentemos a esperança. Esta não é uma forma de acreditarmos num herói ou num ‘deus’ e delegarmos a eles a realização de uma salvação que cabe a nós construirmos e realizar, mas é a maneira de alimentar essa nova consciência. A esperança deveria ser expressão da nossa plena convicção de que nos é possível reverter integralmente o que aparentemente parece já definido. A esperança mostra a nós humanos, agora, o que poderá acontecer num futuro próximo se transformarmos o presente segundo a ótica dos direitos à vida. Jesus de Nazaré, longe de ser um fanático e pregador idealista de um Reino idealizado, mostrou que há ‘brechas nas trincheiras do nosso presente’, e que a partir delas podemos, agora, construir ‘novos céus e novas terras’.
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