Na atual crise política que o governo Dilma Rousseff se encontra, o brasilianista Peter Hakim alerta que um processo de impeachment poderia deixar as instituições mais fracas e até prejudicar as investigações da Operação Lava Jato. Eis alguns trechos da entrevista concedida à DW Brasil.
‘....É uma coisa curiosa, já que na
última eleição Aécio Neves e Dilma tinham mais similaridades do que diferenças.
Não era como a direita e a esquerda no Chile, ou os republicanos e democratas
nos EUA. Ambos falavam na última campanha em manter programas sociais e na
necessidade de um ajuste fiscal. O incrível é como a grande política no Brasil
é pouco ideológica em comparação com outros países. Ainda assim uma polarização
se instalou nos eleitores. No Brasil, os partidos – especialmente o PT e o PSDB
– parecem ter identificado um filão eleitoral em cada classe e passaram a
alimentar um discurso da diferença que no âmbito partidário é totalmente
artificial. E parte do eleitorado brasileiro engoliu isso e vem adotando um
comportamento de clã ou de seita. Só que, ao mesmo tempo, políticos trocam de
partidos sem qualquer dificuldade, demonstrando que a política brasileira na
realidade é extremamente flexível. O que realmente está em jogo agora não é
ideologia ou a forma de governar, mas a ambição de alguns políticos. São eles
que estão alimentando isso......’
’Os
partidos brasileiros não são siglas ideológicas, são veículos para que algumas
pessoas possam dar vazão para suas ambições pessoais por poder. A oposição a
Dilma não tem sido ideológica. É na verdade uma frente onde personalidades têm
desempenhado um papel desproporcional. Aécio Neves, José Serra e Geraldo
Alckmin, por exemplo, têm cada um uma agenda particular. Não estão fazendo
oposição que tenha relação com o interesse do país. Seus cálculos não têm
qualquer relação com uma saída satisfatória da crise, mas quem entre eles vai
ser o próximo presidente’ '...... No momento eu acho que a saída não está nas mãos de Dilma. Uma figura como Lula poderia agir sozinho para sair dessas, mas Dilma definitivamente não tem os meios. O que ela precisa agora é de apoio de outros políticos e partidos para negociar um acordo e estabelecer uma maneira de manter o governo em funcionamento. E se ela não conseguir formar uma nova base, então vai ficar totalmente à mercê da generosidade de grupos que vão concluir que talvez sua saída não seja vantajosa. Não depende mais só dela'. (Fonte: Carta Capital)
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