quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O papa Francisco apoiou as uniões civis. O que isso significa? Entrevista com Lucas Paiva


Para Lucas Paiva, que integra um grupo LGBT católico, o Papa segue determinado em pôr um fim às guerras culturais que sequestraram o discurso da Igreja nas últimas décadas”, destaca. Observa que a grande contribuição de Francisco é mesmo trazer esses assuntos à tona. Ao se posicionar favoravelmente às uniões civis para casais do mesmo sexo, Francisco reconhece que as pessoas LGBTI+ devem ter seus direitos assegurados e alerta os católicos para não usarem a religião como justificativa para seus preconceitos. Além disso, é a primeira vez que o Papa faz menção à família quando fala de pessoas LGBTI+, e mesmo que não tenha falado em “formar família”, mas “fazer parte de uma família”, isso muda seguramente a perspectiva para uma abordagem mais pastoral e respeitosa”. É interessante ver também que essa declaração é um modo de fazer as pazes com o estado laico, pois o Papa demonstra compreender e valorizar os limites entre a lei civil e os dogmas religiosos.

 “Ele não tem medo dessas discussões, e está permitindo e incentivando que os bispos, os teólogos e os católicos de modo geral possam discutir livremente todo e qualquer assunto, inclusive porque a sobrevivência da Igreja depende de um ajuste de contas com a sexualidade humana”, analisa. No entanto, o jovem reconhece que não há mudanças práticas na Doutrina da Igreja. “Ainda que animadora, essa fala fora dos canais oficiais mostra como ainda estamos distantes do pleno reconhecimento pela Igreja do valor do amor, seja entre pessoas hétero ou homossexuais. Mas seguramente estamos a caminho”, observa. Para ele, muito ainda precisa ser revisto e não somente o que se refere aos homossexuais. “O matrimônio como está é um problema também para os casais heterossexuais. O Sínodo de 2014, o primeiro convocado pelo papa Francisco, começou a tocar nessas questões, mas enquanto os fiéis já se resolveram por si e aceitaram de bom grado temas como o divórcio e o controle de natalidade, os bispos pelo mundo afora permanecem encastelados numa visão idealizada e restritiva de família”, aponta. E provoca: “se os bispos olharem para o seu povo, verão que a maioria dos católicos já está muito além da Igreja e reconhece a sacralidade do amor e sua superioridade frente às leis


Nenhum comentário: