Sou povo da floresta, homem, mulher – de todos os sexos, de todos os credos. Sou mistura de sangue, de genes, de cores... Sou mistura de culturas. Sou, estou, quero viver e ser vida e não me sentir como agora: tão ferida.
Sou verde, marrom, multicolorida. Sou árvores, flores, folhas, fauna, flora, água, rios, igarapés... Sou fontes, o explorado, o inexplorado. O fantasioso e o real. Sou Amazônia, cuida de mim!
Sou forte e sou frágil. Sou vento, raios, correntezas, cheias, secas, cachoeiras, vazantes.
Sou única. Sou gente: índia, branca, negra, sinônimo de miscigenação, de um viver multicultural. Sou ímpar, sem igual.
O meu sangue é da cor do açaí que corre nas veias do ser vivente em seus muitos processos de vida, e, minha esperança é da cor do sol e arde como uma pele em brasas, em tom de alerta, em tom de vitalidade.
Por mim matam, mentem, exploram e de forma decrescente deixam de ser gente, se desumanizam. Sou Amazônia, cuida de mim!
Sou gavião, rouxinol, arara, tucano, sou pássaro! Ao olhar para baixo vejo o ideal, o anormal, o acidental e ainda assim, não perco a esperança de uma criança.
Sou peixe e ao olhar para cima, o ar me escapa, me estafa, o meu habitat some. Me pergunto: meu Deus cadê o ar da vida?
Sou os quatro elementos:
Água negra, barrenta, branca, esverdeada, que sacia a sede dos seres vivos, que inunda, que é vida e um dia pode faltar e, então, o que acontecerá?
Não quero sumir, a humanidade precisa de mim.
Sou fogo que aquece culturas, que ilumina o escuro, que faz seguir um caminho. Mas que também destrói, porque fico à mercê de homens sem coração, homens que não medem suas ações.
Sou terra que tudo dá, que tudo nasce, sou a força de muita gente, mas por mim, acontecem atrocidades e isso eu não aguento. Grito, imploro e não estão ouvindo meu lamento. Sou Amazônia, cuida de mim!
Sou ar, purifico e trago o vento, o vento da bonança. Sou o vento da respiração, da inspiração. Quero muito continuar ainda a ser o vento que não leva mais poluição e nem trazer desesperança... Cuida de mim eu imploro é a forma de eu bradar por mais cuidado, cuidado que deveria vir do coração.
Fui, sou e quero crer que ainda serei.
Serei centenas de povos, milhares de vozes, uma planta que nasce e que morre sem ações ambiciosas e atrozes.
Serei pacata onde tiver que ser e progredir sem ser vítima da praga da ambição que tudo ataca.
Serei para sempre Amazônia, só preciso que cuide de mim.
(Rita Floramar)
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