domingo, 29 de setembro de 2024

Candidaturas indígenas crescem, mas enfrentam o racismo e a velha politicagem

 Se antes não havia rostos, vozes e adereços indígenas na política, hoje a realidade é outra. Desde que o movimento indígena se organizou para tentar eleger mais representantes, o número de candidaturas aumenta a cada pleito. Poucos, no entanto, conseguem se eleger. As campanhas enfrentam inúmeras dificuldades, como o preconceito, a falta de verbas e um modo de fazer política que favorece outras candidaturas, como o uso da máquina pública. A Repórter Brasil conversou com seis candidatos indígenas (dois a prefeito e quatro a vereador) em municípios do Norte, Nordeste e Sudeste do país, para conhecer os principais desafios das campanhas e suas expectativas na política.

Candidata a vereadora em Manaus (AM) pela Rede Sustentabilidade, Vanda Witoto diz que o preconceito e a compra de votos estão entre os principais desafios. Ela destaca que há muita violência na política partidária como parte de um racismo institucional, prevalente em espaços públicos ocupados por homens brancos. Em 2022, quando era candidata à deputada federal pelo Amazonas, Vanda foi hostilizada por um grupo de pessoas vestidas de verde e amarelo na chegada ao colégio eleitoral, no dia da votação. Ela estava com a sobrinha, ambas pintadas e com adereços e trajes tradicionais. “Vivenciamos situações como essa inúmeras vezes. Este é um campo muito violento, principalmente para as mulheres. Nos desqualificam. Temos que provar que a gente tem condição de estar ali, de estar concorrendo e ser eleita”, conta Vanda. Líder do povo Witoto, Vanda teve uma votação expressiva em 2022, com 25.545 votos, mas insuficiente para se eleger. Manaus é a cidade com mais indígenas do país: 71,7 mil pessoas, ou 3,5% da população. Ainda assim, não elegeu nenhum indígena para as 8 vagas de deputado federal em 2022, nem para as 34 vagas de suplente. A maioria eram brancos e pardos.

Vanda diz que, em período eleitoral, muitos candidatos cooptam lideranças indígenas para que os apoiem em troca de favores. Por isso, ela vê sua campanha também como um ato de consciência política. “O que chega aos nossos territórios, comunidades indígenas e periferias da cidade de Manaus é a compra de voto, por meio das cestas básicas, da compra da receita do remédio e do botijão de gás. Esse é o mecanismo da politicagem no nosso município, é essa a estrutura colocada para o nosso povo. Então, a minha caminhada tem esse mecanismo também de educação, de consciência política, de a gente perceber o voto como um instrumento de garantia dos nossos direitos”, pontua.A política partidária foi por um tempo um dilema para o movimento indígena, explica Kleber Karipuna, coordenador da Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Aos poucos, contudo, o movimento foi entendendo que era necessária uma participação mais organizada na política, como estratégia para defesa de direitos e territórios indígenas.

Foi assim que, em 2017, a Apib lançou o primeiro manifesto de apoio a candidaturas indígenas no Brasil, no âmbito do Acampamento Terra Livre (ATL), que acontece anualmente em abril. “Por um tempo éramos muito isentos nesse debate, mas com o tempo começamos a avaliar que era necessário estar nesse meio. Porque é ali que começamos a entender várias discussões do rumo do país e, por consequência, dos povos indígenas”, reflete o coordenador. Um marco desse momento foi a eleição da primeira mulher indígena deputada federal em 2018, Joênia Wapichana, pela Rede em Roraima. Atualmente ela é presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) – antes dela, apenas o xavante Mario Juruna havia sido eleito pelo Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados, em 1982.Na eleição de 2022, o movimento conseguiu eleger duas candidaturas da “bancada do cocar” para a Câmara dos Deputados: Célia Xakriabá (PSOL/MG) e Sônia Guajajara (PSOL/SP), atual Ministra dos Povos Indígenas. O movimento acredita que o resultado disso é o aumento de candidaturas nas eleições municipais de 2024, com 2.479 registros – 14% a mais do que em 2020. O crescimento entre os indígenas foi o único registrado entre candidatos brancos, pardos, pretos, amarelos e os que não informaram.

sábado, 28 de setembro de 2024

26º domingo comum - No 'lixão' ou 'pedra no pescoço' para quem rouba, violenta e humilha os humildes do Reino!

 

Muitas vezes, parece que vivemos numa espécie de paranoia coletiva. Respiramos uma cultura social e religiosa em que vemos inimigos e perseguidores em tudo o que é canto! Desconfiados de tudo e de todos nos retiramos, ou no nosso mundinho feito de pânico e paralisia, ou em algum ambiente que parece nos proteger e defender. Jesus é mente aberta! Ele nos alerta que aquelas pessoas que, - mesmo não fazendo parte do nosso grupo ou igreja, mas vivem os valores em que nós acreditamos, - são aliados, e não inimigos! Mais do que isso: se esse nosso fechamento mental-espiritual excludente, que é escandaloso, leva os 'pequenos', ou seja, as pessoas simples do nosso grupo-igreja a pecar, temos o dever de mudar 'radicalmente', extirpando, de vez, a causa de tão grave comportamento. Jesus cita, concretamente, quais são as principais causas do escândalo-divisão dentro do grupo-igreja: o olho grande, insaciável, invejoso e que deseja ter sempre mais; a mão que rouba salário e esperança, e que agride e violenta; os pés que esmagam, humilham e dominam pessoas. Pessoas assim, se não mudarem radicalmente, não têm espaço no sistema de governo de Deus. O lugar delas é o 'lixão' sempre em chamas....ou as profundezas do mar das trevas.


sábado, 21 de setembro de 2024

25° domingo - Para seguir Jesus é preciso ser o último entre os últimos

 Como um ser humano pode entender e incorporar a força transformadora do amor e do serviço gratuito se a sociedade na sua totalidade enaltece práticas de ódio, de intolerância, e de disputa sem trégua? Como entender Jesus, então, quando afirma que será entregue aos homens para ser morto, derrotado, e reviver após três dias quando se queria pegar carona com Ele para ganhar um 'lugar ao sol', graças às perspectivas de se tornar um líder de um futuro reino? Pelo visto, pouco servem os raros exemplos de abnegação e gratuidade se persiste um sistema social que pressiona as pessoas a se darem bem na vida, ambicionando a ocuparem sempre os melhores lugares e serem socialmente reconhecidas! O discípulo de Jesus tem que encontrar dentro de si a coragem de romper com a ideologia da vitória, do sucesso e do prestígio, e fazer o contrário! Ao prepotente maníaco de poder e honrarias o seguidor de Jesus não teme servir no anonimato. E, diante daquele que arde por sobressair-se ele se coloca, de forma humilde e sistemática, no último lugar ao lado dos últimos e dos ignorados.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

No Sudão se continua a matar sob a indiferença do mundo. População está fugindo

Todos estão fugindo do Sudão. Fugindo homens, horrorizados por uma guerra entre o exército e milícias que traz apenas devastação e morte. Fugindo mulheres, desesperadas para salvar seus filhos. Fugindo muçulmanos, a maioria religiosa cansada de ver suas casas e lojas atacadas, e seus entes queridos assassinados a sangue frio. Fugindo também os católicos, que antes do conflito eram uma minúscula minoria de um milhão, mas agora mal representam a metade. Eles tentam escapar para onde conseguem: Sudão do Sul, Chade, Egito. Querem esquecer horrores como o denunciado a veículos de comunicação vaticanos por um religioso que prefere permanecer anônimo, para não colocar em risco sua segurança e a de seus irmãos na fé: "Na cidade de Sennar, há alguns dias, um mercado foi destruído por bombardeios. As vítimas foram cerca de quarenta, pessoas pobres cuja única culpa foi buscar comida para tentar sobreviver". Uma notícia que ficou presa nas profundezas da informação internacional, que ignorou também outras dezenas de tragédias diárias, como a ocorrida em meados de agosto em El Obeid, capital do estado do Kordofã do Norte. O religioso se emociona ao tentar lembrá-la, sua voz quase falha: "Dezenas de crianças morreram sob os escombros de uma escola derrubada por mísseis. Um ataque absurdo e deliberado do qual ninguém se importou". Ninguém tem interesse em uma guerra, que já dura mais de um ano apenas pela conquista do poder, que opõe o exército a milicianos. E que vive uma situação de dramático impasse: Cartum, a capital, devastada por bombardeios constantes; os vilarejos de Darfur, na província a oeste do país, completamente queimados e saqueados, uma vez pelo exército e na próxima pelos milicianos; as cidades de El Obeid, Sennar e Kaduqli se tornaram fantasmas, vítimas de ataques a tiros e bombardeios. Não se vence e não se perde, apenas continuam a morrer. (Vatican News)

BREVES SOBRE INCÊNDIOS NO BRASIL

Levantamento do IPAM estima que o desmatamento do Cerrado entre janeiro de 2023 e julho de 2024 emitiu mais de 135 milhões de toneladas de CO2. O desmatamento do Cerrado no último ano e meio foi responsável por emissões de gases de efeito estufa quase equivalentes às da indústria brasileira. Essa é a conclusão de um novo estudo divulgado pelo IPAM, que estimou que a perda de vegetação nativa no bioma lançou mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera entre janeiro de 2023 e julho de 2024, quase o mesmo que as emissões de todo o parque industrial nacional, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC). Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Cerrado. 

Professor da UFMS ressalta a necessidade da criação de políticas de manejo do fogo, a fim de minimizar cenários que favorecem os incêndios no bioma. Uma região forjada e dependente do fogo. É assim que o professor Geraldo Alves Damasceno Junior, do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), descreve o Pantanal, que apesar de ser úmido, tem o fogo como peça fundamental para a manutenção de suas características. Isso porque o Pantanal tem fatores que favorecem as queimadas, porém também é vulnerável a situações em que pequenos incidentes se transformam em grandes incêndios. A faísca do escapamento de um caminhão, por exemplo, pode dar início ao fogo com potencial de se espalhar rapidamente a ponto de fazer o caminhão explodir. Mas, este ano, o número recorde de queimadas pode ser explicado pelo que Damasceno chama de Regra dos 30: 30 dias sem chover, umidade abaixo de 30%, temperatura acima de 30°C e ventos acima de 30 km/h.

"O Brasil inteiro respira fumaça, respira fumaça porque não cuidamos da obra que Deus nos confiou", denuncia o arcebispo de Manaus, card. Leonardo Steiner, que ressalta que "a Igreja nesses anos todos tem sempre de novo procurado conscientizar e se responsabilizar nas comunidades pelo cuidado da obra da Criação". A Amazônia passa por um momento dramático, uma situação que tem como causa a emergência ambiental derivada do aumento das queimadas e da seca. Só no Estado do Amazonas, os dados da Defesa Civil falam de 330 mil pessoas atingidas pelos impactos da seca, e todos os 62 municípios do Estado estão em emergência ambiental. Cada dia aumenta o número de comunidades isoladas ou com grande dificuldade de acesso. Uma situação que piora com o aumento das queimadas, o maior número desde 2010, que tem coberto de fumaça Manaus e muitas outras cidades da Amazônia e do Brasil.

Governo e STF defendem a medida, mas Câmara e Senado continuam lavando as mãos nas ações contra a tragédia do fogo em todo o país. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acha que a legislação brasileira contra crimes ambientais é “a mais rígida, dura e forte que existe no mundo”. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pede equilíbrio para evitar “populismo legislativo”. E enquanto os líderes do Congresso tergiversam, os incêndios continuam, e o parlamento age como se nada tivesse a ver com isso.


segunda-feira, 16 de setembro de 2024

“Tudo muda, portanto, há esperança”. Artigo de Vito Mancuso

É possível, neste mundo em que sentimos a mudança contínua e desestabilizadora, cultivar a esperança? Em particular, a esperança de que algo não mude, mas permaneça estável e se torne o ponto de apoio para a existência? A essa pergunta, respondo que sim, e o faço com base em dois argumentos, o primeiro baseado na lógica e o segundo na ética.

Do ponto de vista lógico, a afirmação “tudo muda” é falsa ou verdadeira. Se for falsa, então, na realidade, algo não muda; se for verdadeira, então a frase “tudo muda” estará em si sempre dizendo a verdade e, portanto, não mudará. Em ambos os casos, dizer “tudo muda” demonstra a não mudança de algo. Isso atesta a possibilidade de nossa mente alcançar uma dimensão não sujeita à mudança, ou seja, participar de uma dimensão superior, desprovida de mudanças, capaz de descortinar eternas verdades. Isso é o que também foi experimentado por músicos (Bach, Mozart, Beethoven) e cientistas (Bohr, Heisenberg, Schrödinger). Como violinista amador que era, Einstein sintetizou em si mesmo as duas dimensões, e conta-se que certa noite, em 1929, em Berlim, ao final de um concerto do grande virtuoso Yehudi Menhuin, ele foi até seu camarim e disse: “Agora sei que existe um Deus no céu”. Não por isso Einstein se converteu ao Deus bíblico, considerando que sempre defendeu a ideia de Spinoza de identificar Deus e Natureza (Deus sive Natura), mas é claro que, graças à música, ele teve uma experiência de transcendência, ou seja, de uma dimensão do ser não sujeita à mudança.

O segundo argumento a favor da esperança baseia-se na ética. Quando, de fato, neste mundo, onde tudo se move de acordo com a necessidade e todos agem de acordo com o instinto ou o cálculo, mesmo assim o ser humano se mostra capaz do mais puro bem, então acontece um fenômeno inesperado, inconcebível, mas real, que mostra à razão a existência de outra dimensão, não baseada no cálculo e na vontade de poder, mas em um desejo de harmonia e de bem que, por sua vez, abre à transcendência. Foi seguindo esse caminho que Kant encontrou o fundamento para a refundação da esperança: “A lei moral me revela uma vida que é independente da animalidade e também de todo o mundo sensorial”. Falar de uma vida que é independente da animalidade e do mundo sensorial significa falar de outra vida, de uma vida outra, totalmente diferente da vida que conhecemos, que é vida animal e sensorial: ou seja, significa falar da transcendência. É por isso que Kant declarou na Crítica da Razão Pura: “Acreditarei infalivelmente na existência de Deus e numa vida futura e estou seguro de que nada pode tornar essa fé vacilante, porque assim seriam derrubados os meus próprios princípios morais, a que não posso renunciar sem aos meus próprios olhos me tornar digno de desprezo”. O que significa: ou o fenômeno moral é falso ou, se for verdadeiro, abre outro caminho. E, talvez, outra vida. E ser falso ou verdadeiro, depende apenas “de você”. Os dois conceitos em jogo, de mudança e de esperança, geralmente são vistos em oposição.

Como tudo muda, costuma-se dizer, então não há esperança de que algo possa permanecer e, portanto, aquela dimensão do ser não sujeita ao tempo, que é o eterno, não existe. Penso, no entanto, que, tanto do ponto de vista lógico quanto ético, existe a possibilidade de afirmar que, precisamente porque tudo muda neste mundo, nós, quando nos tornamos capazes de raciocínios e de atos não sujeitos à mudança, demonstramos pertencer com uma parte de nós (com a mente e o coração, ou seja, o nosso espírito) a outra dimensão do ser. Isso nunca será um atestado incontestável como o conhecimento absoluto ao qual Hegel aspirava. Mas, ainda assim, será uma esperança fundamentada, com a qual viver o tempo que nos é dado com mais otimismo e serenidade.

O que, aliás, não diz respeito apenas aos crentes. Ernst Bloch, filósofo marxista dissidente e cético em relação à fé religiosa, intitulou sua obra-prima O Princípio Esperança e nela escreveu: “Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? O que nós esperamos? E o que nos espera? Muitos se sentem apenas confusos. O chão vacila, e eles não sabem por que ou devido ao quê. Provam uma condição de angústia, que se torna medo se assumir contornos mais precisos”. E continuou: “O importante é aprender a esperar. O trabalho da esperança não é renunciatório porque por si deseja ter êxito e não falir. O esperar, superior ao ter medo não é nem passivo como este sentimento nem, menos do que tudo, bloqueado no nada. O afeto da esperança expande-se, amplia os homens e não os reduz”. Theodor Adorno, um dos fundadores da Escola de Frankfurt, musicólogo e filósofo, replica assim nos Minima moralia: “Por fim, a esperança, tal como ela se arranca à realidade, enquanto esta nega aquela, é a única figura em que a verdade aparece. Sem esperança, a ideia de verdade dificilmente seria pensável”. Tudo muda, portanto, há esperança.


Retomada Guarani e Kaiowá da TI Nhanderu Marangatu é alvo de ataque policial e deixa três feridos

Na tarde do dia 12 de setembro deste, indígenas Guarani e Kaiowá retomaram a Fazenda Barra sobreposta à Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, localizada no município de Antônio João, no estado do Mato Grosso do Sul. A comunidade foi atacada pela Polícia Militar. Três pessoas, uma mulher e dois homens, foram feridos, estando uma delas internada em um hospital do município. Após os eventos, a Força Nacional foi para a região. Os indígenas resistem cercados na sede da fazenda. Essa é a última propriedade que ainda não havia sido retomada pela comunidade, sendo que a última tentativa ocorreu em 2016. Na ocasião, houve um forte ataque de fazendeiros da localidade, que contaram com o apoio de políticos.O ataque resultou na morte, a tiros, de Simião Vilhalva. Na TI Nhanderu Marangatu também foram assassinados Dorvalino Rocha, em 24 de dezembro de 2005, e Marçal Tupã, em novembro de 1983.Após o ataque violento da Polícia Militar na tarde de ontem (12), a Justiça Federal de Ponta Porã, em decisão controversa e apressada, publicada na noite do mesmo dia, autorizou a atuação da polícia estadual em proteção à propriedade privada, legitimando a violência contra a comunidade indígena (IHU)

sábado, 14 de setembro de 2024

24º domingo - É preferível sermos discípulos derrotados ao lado do Filho do Homem, a sermos vencedores com os 'Messias' desumanos!

Adoramos vencer sempre na vida. Admiramos quem supera limites e se dá bem. Somos devotos de um arcaico/antigo testamento em que quem ganha é um abençoado por Deus e quem perde um amaldiçoado. Somos seguidores convictos da teologia da glória, da vitória a qualquer custo, e da onipotência. É nessa sensação de invencibilidade que Deus estaria ao nosso lado nos aprovando e confirmando. Jesus, contudo, afirma o contrário! Quem quer se dar bem na vida é um satanás, um aproveitador e um ‘traíra’ do evangelho. O seguidor de Jesus é, afinal, um discípulo de uma causa perdida. E, mesmo derrotado, persiste em sua missão. Encara a cruz não como castigo ou fracasso, mas como expressão máxima de sua doação e solidariedade com as vítimas da violência e da doença com quem convive. Crê no ‘Filho do Homem’ coerente até a morte mesmo que derrotado, mas desconfia sempre dos ‘Messias’ com superpoderes que salvam e redimem todo o mundo! O discípulo de Jesus não propaga teologias da glória e da vitória, mas se coloca, humildemente, atrás do Mestre, aprendendo com ele a espiritualidade do serviço radical e do amor incondicional. E seja o que Deus quiser!


sábado, 7 de setembro de 2024

23º domingo - É preciso reaprender a escutar e a anunciar na escola do pedagogo Jesus de Nazaré!

Vivemos numa multidão de seres humanos de mil cores e credos, de numerosas culturas e ínguas, mas não por isso sabemos falar e escutar, conviver e colaborar! A falta de empatia e de sintonia entre nós, as manipulações e as competições, as pressões e os conflitos de todo tipo nos condicionam e nos bloqueiam. Descobrimo-nos, de repente, ‘surdos e mudos’ numa massa de loquazes, incapazes de ouvir quem clama e reclama, quem chora por socorro e quem silencia perante aquele que o reprime. É preciso ter a coragem de se afastar, estrategicamente, da multidão, para reaprender a ‘ouvir e a falar’ tendo, porém, Jesus como mestre. A narração evangélica de hoje é uma parábola da vida, de quem desaprendeu a escutar e a anunciar como Jesus, e que precisa voltar a se ‘reeducar’ pelo Pedagogo de Nazaré. Quando nos reconhecemos 'surdos e mudos', mas nos deixamos tocar pelo Mestre, a nossa mente e o nosso coração se abrem, e nos tornamos ‘novas criaturas’ habilitados, agora sim, a voltar para a multidão e ouvir seus anseios e angústias, seus sonhos e desejos. E anunciar-lhe com as palavras da compaixão que uma nova criação começou.