Parece ter se diluído no tempo e no espaço o poder da palavra. A palavra como expressão máxima do ser, da identidade de uma pessoa. Parece coisa relegada aos tempos “das sociedades tribais” e da “tradição oral,” em que a palavra conservava e transmitia o tesouro da memória coletiva e da identidade de um povo. O próprio líder era escolhido a partir de sua capacidade de falar, de pronunciar palavras que tocassem os sentimentos e os sonhos das pessoas. Ele detinha o poder da palavra, mais do que o das armas. Houve época em que “a palavra dada” era como que entregar si mesmo ao outro, a própria credibilidade, honra e integridade moral. Dar a palavra era assumir responsabilidade pessoal e o compromisso intransferível de cumprir o prometido/combinado. No Gênesis lemos que o próprio Deus “cria” mediante a palavra. “Deus disse” e as coisas tomam corpo e vida. A palavra sempre foi ladeada pelo seu ato-ação correspondente. Uma não existia sem a outra.
Hoje, muito pouco de tudo isso parece ter sentido para os dominadores da escrita, do protocolo, do registro, do cartório. Poucos confiam na pessoa que só empresta a sua palavra. Exige-se muito mais que isso. A palavra não deixou de exercer um grande fascínio e sedução, mas ela, freqüentemente, é usada para se disfarçar e ocultar intenções, projetos, sonhos, ambições. Fazem uso da palavra para renegá-la logo em seguida com gestos e ações que são antagônicas a ela. Na modernidade instaurou-se o definitivo divórcio entre palavra e o seu significante concreto. Um divórcio de alto teor destrutivo por ser também o resultado de uma progressiva falta de ética e, além disso, de cunho individualista.
Hoje, muito pouco de tudo isso parece ter sentido para os dominadores da escrita, do protocolo, do registro, do cartório. Poucos confiam na pessoa que só empresta a sua palavra. Exige-se muito mais que isso. A palavra não deixou de exercer um grande fascínio e sedução, mas ela, freqüentemente, é usada para se disfarçar e ocultar intenções, projetos, sonhos, ambições. Fazem uso da palavra para renegá-la logo em seguida com gestos e ações que são antagônicas a ela. Na modernidade instaurou-se o definitivo divórcio entre palavra e o seu significante concreto. Um divórcio de alto teor destrutivo por ser também o resultado de uma progressiva falta de ética e, além disso, de cunho individualista.
No evangelho desse domingo Jesus, observador atento e irônico, procura desmascarar os arrogantes fanfarrões “da palavra dada”. Aqueles que utilizam o escudo da palavra, da promessa, da fidelidade e obediência às normas e ritos para esvaziá-la com ações contraditórias. O fascínio sedutor da palavra é utilizado pelos mestres da lei, os escribas, os fariseus lacaios das normas e fórmulas ritualísticas e os sacerdotes lambe-altares para ocultar e negar direitos, justiça e fraternidade. São pessoas que vivem de aparências e formalidades e acreditam que só isto basta para conquistar prestígio e reconhecimento social e, claramente, para conseguir manipular, distorcer, convencer os “sem palavra”. Jesus desmonta através da parábola dos dois irmãos a suposta segurança religiosa e social em que estes se haviam entrincheirado ao sustentar que são somente os que “praticam, que fazem, que cumprem” que estão em sintonia com o Reino. Não aquele que DIZ, mas aquele que FAZ é que entra na dinâmica da construção da humanidade que Deus quer.
O alvo era claro e direto: não os lacaios das normas religiosas e rituais, e sim os pecadores, as prostitutas, os publicanos, ou seja, os que diziam não às normas de pureza ritual, - mas aderiam ao projeto de Jesus - que são os que cumprem a vontade do Pai. Jesus não quer demonizar a palavra-rito em detrimento de um suposto fazer salvador, mas de restabelecer o primado da coerência, da integridade ética, da ligação indissociável entre fé e vida e pondo fim a toda hipocrisia e duplicidade.
Mais antes uma ortopraxia que defende a vida, a solidariedade e o direito, do que uma ortodoxia vazia de valores, gestos e ações que apontam para vida em plenitude. Bom domingo!
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