Jesus revoluciona completamente o conceito de justiça que vigorava na época. Ele com a parábola hodierna coloca em xeque a teoria da retribuição e a justiça distributivista. O conceito de justiça ainda hoje é entendido na sua acepção distributivista, ou seja, dar a cada um o seu. Imaginemos, porém, por um instante que uma pessoa não tenha nada. Ser justo com ela seria não dar nada, pois nada tem! Ou, se trabalhou 3 horas, pagar-se-ia o correspondente de 3 horas. Mas quem define o valor de uma hora de trabalho? O patrão? E este daria a “cada um o seu”? Se essa é por demais uma definição simplista, pensemos, então, naquela circunstância hipotética em que temos um bolo e este deve ser distribuído pelo número de pessoas presentes. Quais os critérios a serem adotados para uma justa divisão-distribuição do bolo? Uma resposta óbvia é: dividir o bolo em 10 partes rigorosamente iguais. Ao proceder dessa forma estamos caindo mais uma vez na armadilha da justiça distributiva. De repente algum dos presentes tem mais fome que outro e precise de mais bolo. Ou pode haver algum diabético que renuncie ao seu pedaço em favor de outro. Essa prática de justiça não tem em consideração as necessidades dos presentes. Eles seriam todos iguais, o que não existe!
Podemos, também, afirmar que vamos dar uma parte do bolo somente àqueles que agiram corretamente, ou seja, a quem mereceu, a quem é digno. É a justiça da retribuição, a que vigorava amplamente na prática teocrático-moralista dos fariseus e saduceus. Mas quem decide quem merece, e quem é digno? E quem decide o tamanho do pedaço de bolo a ser dado?
Jesus através da narração da parábola do pai de família que sai para contratar operários, de forma paradoxal questiona as visões-práticas de justiça em vigor e propõe a aplicação da justiça da gratuidade. De um lado os que se achavam puros, e portanto, merecedores de mais reconhecimento, e do outro, os impuros, os pecadores, merecedores só de penalidades. Ao agir com magnanimidade e generosidade paradoxal Jesus adota critérios de justiça que vão além da mera justiça formal, humana, distributiva. Sem negar esta, Ele ousa superá-la declarando-a inadequada para expressar a prática do Pai.
Jesus, como os grandes pensadores/pedagogos da humanidade coloca nas nossas mentes o vírus da suspeita. Será que temos que aceitar passivamente, de forma a-crítica tudo o que nos ensinaram sobre justiça? Será que temos que repetir o senso comum daqueles que acham cômodo “dar a cada um o seu”, mas alimentando dentro de si a convicção que, na realidade, tudo é dele e que ao outro só lhe cabem as migalhas? Ser justo para Jesus é dar muito mais a quem precisa mais, sem se importar se ele é moralçmente digno ou se chegou na última hora, ou seja, se só agora descobriu o sentido da sua vida.
Um abraço em todos-as. Hoje estarei viajando para mais uma tournée entre os Guajajara de Colônia e Bananal. Bom final de semana para todos-as.
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