sábado, 17 de setembro de 2011

Jesus rompe com a lógica do senso comum. Inaugura o paradoxo da misericórdia e da gratuidade. (Mt.20,1-16)





Quantas vezes, ao não conseguirmos uma determinada coisa, desejamos que outros também não a tenham? Quantas vezes adotamos, de forma rígida e mesquinha, o conceito de ‘justiça’ para não dar um passo que vá além do senso comum de justiça. Para sermos mais generosos, e romper com a mera prática da ‘justiça distributiva’ em que, supostamente, cada um recebe de acordo com o que fez. Para deixar espaço à prática segundo a qual ‘quem precisa mais tem direito de receber mais’. Quantas vezes nos flagramos naquela ridícula atitude de condenar alguém que doa e perdoa só pelo gosto de doar e perdoar alguém. Achamos uma ‘injustiça’ quando nós também não nos sentimos beneficiados da mesma forma por ele. Movidos pela inveja, atacamos quem perdoa e doa, e também quem foi perdoado e recebeu gratuitamente. É justiça a que nos move ou é inveja e raiva? Por que não agradecer e ficar feliz se uma pessoa foi agraciada por alguém? Nada tirou de nós! Ao contrário, nos mostra como nós também podemos ser ousados. E romper com práticas que só servem para deixar as pessoas sempre na mesma situação. Aprender a dar chances inéditas às pessoas para que vejam um outro lado da vida. Uma dimensão que, talvez, nunca tenham conhecido antes.



As parábolas de Jesus têm uma lógica própria: a de não seguir a lógica comum. A lógica do senso comum. São, em geral, narrações paradoxais e polêmicas. Como paradoxal e polêmica é a vida, e os sentidos que lhe atribuímos! As parábolas de Jesus são, ao mesmo tempo, extremamente provocadoras. Querem suscitar nos ouvintes perguntas fundamentais: o que ele quer dizer com isto? Por que e para quem ele diz isto? A que ele está se referindo? O que está por trás do que ele fala? Ao se perguntar sobre tudo isso, o ouvinte é levado a se questionar e a responder. Ou a entrar num processo de resposta contínua. Na parábola de hoje tudo isso fica muito evidente. Na prática Jesus critica os arrogantes fariseus e escribas, os praticantes, que achavam que, – por terem trabalhado e se ‘comportado bem’ desde o início – deviam ter mais direitos de acolhida e atenção por parte de Jesus, e de Deus, do que os pecadores públicos da ‘última hora’. Os não praticantes, os convertidos da última hora. Os fariseus tinham percebido que Jesus estava introduzindo um novo critério de julgamento. Os ‘bem-comportados’ para Jesus não eram aqueles que jejuavam, celebravam, ofereciam sacrifícios desde cedo - sem, todavia, praticar a verdadeira justiça, - mas aqueles que se abriam ao convite de Jesus a entrar na ‘lógica da realeza de Deus’! Não se importando se de madrugada, ou ao meio dia, ou no entardecer da vida! Esta, que parecia ser uma ofensa à lógica comum, ao sentido comum de justiça, era a única capaz de construir um novo povo, um novo jeito de convivência humana. Ao agir dessa forma Jesus desmascara o poder da ideologia dominante que apresenta como divinas muitas posturas intolerantes, excludentes e competitivas. As posturas hipócritas de quem utiliza um falso conceito/prática de justiça para esconder a sua incapacidade de acolher e perdoar. Mais uma vez Jesus concretiza o que significa ‘os meus pensamentos, não são os vossos pensamentos’. Os pensamentos de Deus, - a lógica divina, - não são projeções humanas, frutos de interesses mesquinhos e interesseiros. De intolerâncias e invejas. Adotar a lógica divina significa assumir a lógica do perdão incondicional, da misericórdia, da generosidade sem limites. Ou seja, sermos verdadeiramente ‘humanos’!

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