No princípio de tudo não havia o nada. Havia a palavra. Não a palavra etérea e invisível, mas a palavra onipotente. Ela era o todo. Estava em tudo e era tudo. A palavra era desconhecida pelos homens, mas era bem conhecida por quem a ‘pronunciava’! Uma palavra permanentemente criadora. Os humanos são filhos da palavra. Os seres vivos e inanimados são frutos da palavra. Não existe, de fato, uma palavra que não seja criadora. Que não seja geradora de vida. O autor da palavra que era Palavra, falava criando, e criava falando. Não havia nem separação e nem confusão entre a palavra e o seu significado. Entre o seu significado e a sua realidade correspondente. Entre a palavra e o seu Emissor. Mas o não senso das trevas entrou no mundo. A confusão se instalou. A incomunicabilidade começou a reinar. A palavra deixou de criar vida e começou a semear mentira e destruição. A palavra foi cindida e separada do seu Emissor. Começou a ser manipulada. Começou a ser espalhada aleatoriamente, vagando de boca em boca, separada do coração e da mente. A palavra começou a reivindicar a sua autonomia e independência. Sentiu-se autossuficiente. Começou a ofender e a caluniar, a adular e a bajular, hipocritamente. O seu 'emissor' já não existe mais. Ele, agora, é um mercante ou um charlatão que vende palavras e exibe sons sem sentimentos e emoções. Incapaz de criar pela palavra, agora ele vive refém de palavras que ele mesmo criou. As mesmas que, paradoxalmente, o desmascaram.
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