2015 ficou para trás, mas não Mariana. Sobre o crime ambiental em Mariana-MG, duas questões para o Brasil em 2016. Uma, absurdamente, ausente do debate público. E, outra, não totalmente explorada, apesar do esforço de muitos nas redes sociais. Neste caso, temos a questão sobre de quem é a responsabilidade pelo crime ambiental. Sem dúvida, a Vale como controladora (juntamente com a BHP) da Samarco é diretamente responsável e deve responder administrativa e judicialmente. Mas cabe também indagar, quem são os controladores da Vale? O Bradesco, que possui 21% do consórcio controlador da Vale, nem de longe foi citado no caso. Outro importante controlador é o próprio Estado, por meio do BNDES (11%) e da Previ, Fundo de Pensão do Banco do Brasil, que detém 49% do consórcio. Está na hora dos donos da Vale serem também chamados à responsabilidade.Uma outra questão não tem sido sequer mencionada. Trata-se do quanto este crime ambiental expõe a insustentabilidade econômica, social e ambiental do atual modelo de “desenvolvimento”, centrado em commodities (minério, soja, carne, papel e celulose, etanol). Algo que já se mostrava notório, seja pelos extensos passivos sociais e ambientais, seja pela atual retração econômica fruto da queda dos preços das commodities no mercado externo. Se era notório, agora é inapelável, diante da destruição da 5ª bacia hidrográfica do País e parte de região costeira do Espírito Santo.
Certamente, a presença do Estado brasileiro como sócio das corporações beneficiárias do modelo explica, em boa medida, o silêncio em torno à questão. A associação do Estado com os interesses destas corporações ficou, inclusive, explícita na demora cúmplice do governo em agir sobre o caso, como nas suas declarações patéticas, se não fossem trágicas. A exemplo da entrevista da Ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, antes de seguir viagem para a COP21 em Paris, comparando o caso de Mariana com o desastre natural do Tsunami na Indonésia. Silêncio também das principais forças de oposição, igualmente comprometidas com as mesmas corporações, assim como da ex-candidata à presidência Marina Silva/Rede, cuja falta de posicionamento é ainda mais gritante por ela se apresentar como defensora do meio ambiente. Mariana é evidência cabal da necrose de uma classe política dominada pelos interesses privados, incapaz de renovar a pauta política do País e falida como canal de expressão dos anseios por justiça social e mais democracia.
*João Roberto Lopes Pinto é professor de ciência política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e coordenador do Instituto Mais Democracia.
Artigo enviado por G.Z.
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