Jesus ressuscitado nunca é visto num sepulcro. Por uma razão simples: Ele nunca entrou nele! Evidentemente, com boas probabilidades, o seu ‘corpo sem vida’, os seus ‘restos mortais’ ou, se preferimos, ‘o cadáver’ de Jesus pode ter sido colocado ou enterrado num determinado lugar geográfico! Mas, também, pode ter sido comido pelos abutres, sendo que já foi comprovado, historicamente, que era hábito dos romanos deixarem os crucificados nas cruzes por vários dias. Era este um terrificante alerta a toda a população sobre o que lhe esperava em caso de revolta e insubordinação contra o poder de Roma! Todas essas conjeturas, contudo, são secundárias para compreender o sentido da Ressurreição. O que os relatos evangélicos da Ressurreição nos indicam ou, se queremos, a teologia, e a catequese dos evangelistas, é de que o ‘ser, a pessoa’ de Jesus, - que não é constituída só de matéria orgânica (corpo) fez a experiência da ‘continuação de vida’, melhor dito, da ‘plenitude de vida’! Não precisamos, portanto, de um cadáver para crer na Ressurreição, pois ela não diz respeito a ‘corpos inanimados’ que voltam a viver biologicamente, mas de ‘pessoas’ que nunca morrem!No lugar dos cadáveres e nos cemitérios da vida, ‘a cova’ de Jesus e de tantas pessoas amadas, estarão sempre vazias! Não é para menos: quem vive não procura cemitérios para morar!
A nossa cultura e a nossa fé infantil nos empurram, fatalmente, a buscar, ainda, comunhão, simbiose, e afetos, com o ‘finado’, com ‘o falecido’, com aquele que morreu biologicamente. Jesus, contudo, através da experiência de ‘fé ressuscitada’ dos evangelistas e de seus discípulos, nos convida a pensar e a encarar a morte com novas categorias, e com outros critérios e parâmetros. Em outras palavras: Deus é o Deus dos que vivem, - mesmo que estejam biologicamente mortos, - e não é o Deus dos finados, dos cadáveres que voltam a ser pó! É a nossa incapacidade de pensar de forma nova, com novas categorias que nos impele a continuar a depositar ‘pessoas com seus corpos’ em sepulcros fechados pelas nossas grandes pedras do desespero, da dor, ou da indiferença ou do ódio, como a impedir que haja comunicação entre ‘as pessoas que morreram biologicamente’, - mas que continuam vivas - e nós, os ‘biologicamente vivos’ que, paradoxalmente, podemos ‘viver como finados’, e existirmos como cadáveres ambulantes. Nesse sentido, podemos compreender que quem tem que fazer a experiência de RESSUSCITAR não são os ‘que morreram biologicamente’, mas nós que ‘vivemos biologicamente’ mas que vivemos como cadáveres: sem motivação, solitários, desesperados, tristes e indiferentes.
Aqui está, então, a grande novidade das narrações sobre a Ressurreição. O Deus de Jesus não ressuscita os mortos, os cadáveres colocados num cemitério ou cremados, mas concede aos vivos a capacidade de não morrer! Ajuda-nos a encarar a vida e a nossa existência com outros olhos, de forma que tenhamos uma qualidade de vida que nunca nos leve à morte espiritual, ao desespero, à tristeza da alma. Por isso nos sepulcros/cemitérios não existem as pessoas que amamos, mas somente seus ’restos mortais’, ‘o cadáver’...Já nas nossas ruas e praças encontramos exércitos de ‘Lázaros’ sem vida!
As narrações sobre a Ressurreição, porém, nos dão dicas importantes sobre como ‘ver/sentir vivas as pessoas’ que se foram. Os evangelistas Marcos e Mateus deixam claro duas coisas: 1. Não podemos sentir e ver a pessoa amada que se foi visitando a sua cova e chorando o finado, pois ele não é um ‘falecido’, ele vive. A sua cova estará sempre vazia! 2. Para VER/SENTIR Jesus vivo é preciso sair de Jerusalém e ir à Galileia, ao ‘distrito dos pagãos rejeitados’. E Mateus acrescenta, ainda, ‘no monte que Jesus indicou’! Como entender isso? Os nossos evangelistas, que eram exímios teólogos, nos dizem que é impossível ‘redescobrir’ a presença de Jesus, após a sua morte biológica, ao permanecer ligados à instituição do templo/religião. Jerusalém era o símbolo da instituição que persegue e mata seus profetas. É preciso romper com a instituição religiosa e voltar a percorrer o mesmo itinerário já feito por Jesus. E que deve ser, permanentemente, repercorrido: ir ao encontro das ovelhas perdidas, curando, anunciando, e incluindo. Ou seja, assumir plenamente a lógica do ‘Monte das Bem-aventuranças’. Ao nos colocar ao lado dos pobres e perseguidos e sendo para eles consolo, felicidade e esperança, faremos, inevitavelmente, a experiências de que Jesus vive nos 'mortos vivos', nos abandonados. E nós viveremos, sem conhecer o medo da morte, reproduzindo seus mesmos gestos de compaixão e perdão. Da mesma forma que um filho faz quando perde um pai ou uma mãe: ele procura dentro de si aqueles gestos de amor, de dedicação e de serviço dos seus amados e os reproduz no seu cotidiano. Nisso descobre que aquele pai nunca morreu. Que aquela mãe amada continua atuando por meio da alma e do corpo dele! E que ele, filho, ressuscita a cada dia, nos gestos de amor que eram próprios daquele pai e daquela mãe! Afinal, Ressurreição é para os VIVOS que vivem como MORTOS!
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