O professor Fabio Luís Barbosa dos Santos insiste que a questão vai além do binômio esquerda e direita, da volta de um ou derrota de outro, pois seja o progressismo de esquerda bem como a direita radical operam numa mesma lógica. “O progressismo é, na melhor das hipóteses, o braço esquerdo da ordem. E os Bolsonaros deste mundo são seu braço direito. O que está em jogo na disputa entre progressismo e direita são diferentes formas de lidar com a agudização das tensões no neoliberalismo”, explica. Por isso, seja no Brasil ou em outros países da América Latina, vê a retomada progressista apenas como essa “aspirina” contra a doença. Afinal, “durante a onda progressista, acreditou-se que o futuro era o Brasil petista, que exportava tecnologias de governo de populações empobrecidas para o mundo. Hoje está claro que o futuro era a para política colombiana, que exporta tecnologias de repressão para o próprio Brasil” e foi justamente isso que nos trouxe a esse estágio. Para Fabio Luís “enquanto o progressismo se propõe a gerir a crise, os bolsonarismos não se propõem a fazer gestão alguma: eles governam por meio da crise. Enquanto uns procuram o freio, outros pisam no acelerador. Mas ninguém questiona o trilho”. Ao longo da entrevista, embora trate muito da conjuntura brasileira, analisa a realidade de outros países e evidencia que essa é uma lógica presente na Argentina, no Equador e em outros lugares. Mas qual a saída? Seja de um lado ou de outro, para ele, é preciso encarar que “vivemos uma crise ecológica que coloca em risco a saúde do planeta, explicitada pela pandemia”. Além disso, de uma vez por todas, é preciso romper com o colonialismo sobre a América Latina, algo que entende não só sob o aspecto político ou econômico, mas como “um colonialismo da vida”, que se coaduna com as lógicas extrativistas do século XXI. “É preciso revolucionar a relação com a natureza. Isso exige se livrar da colonização da vida, pelo valor. Uma ecologia anticapitalista se torna, literalmente, questão de vida ou morte”, aponta. E provoca: “como sairemos deste câncer? A cura não se conhece. Será preciso imaginar e fazer o novo. Este novo terá que ser mais e não menos radical do que no passado.
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