sábado, 23 de julho de 2011

Descobrir, enfim, em que vale a pena investir! (Mt.13, 44-52)



Não é fácil descobrir a autenticidade de uma pérola, conhecer o seu valor venal, e qual a melhor forma de aproveitá-la. Do mesmo jeito, não é imediata a consciência de que uma determinada riqueza, ou um negócio bem sucedido, se constitui na solução definitiva de tantos apertos econômicos! Mesmo chegando a ter certeza de que o que encontrou é de valor inestimável, sempre permanece uma sombra de dúvida. Dúvida se isso irá trazer verdadeira felicidade. Se vale a pena sacrificar tudo para segurar o que se considera como a solução da própria vida. Se aquele bem-tesouro será por toda a vida, ou irá ser furtado ou se desmanchar com o tempo. Seja o que for, haverá sempre uma componente de risco necessário. Este, contudo, será proporcionalmente menor e insignificante na medida em que a pessoa percebe que era aquele tipo de tesouro que vinha procurando. E na medida em que, ao consegui-lo e utilizando-o, percebe que ‘é o único’ verdadeiro tesouro que apaga a sua sede de busca por felicidade, por paz interior. Ao longo da nossa vida, com efeito, fazemos inúmeras e plurais experiências. Sentimo-nos às vezes como no meio de um redemoinho, atordoados, envolvidos e impotentes. Muitas vezes nos sentimos como que jogados em diferentes circunstâncias que nós mesmos não escolhemos. Outras vezes nós aderimos a elas sem adotar qualquer tipo de filtro ou critério. Movidos só pela curiosidade de sentir algo novo, diferente. Outras vezes por nos encontrar desnorteados e insatisfeitos corremos atrás de algo ou de alguém que dê sentido à nossa insípida cotidianidade. Ou à nossa solidão e insatisfação interior. As volúveis emoções frutos das nossas ‘experiências fortes’ estão longe, contudo, de nos auferir serenidade, paz e sentimentos de profunda realização.


As parábolas hodiernas são claramente autobiográficas. Jesus fala de si mesmo ao falar aos seus ouvintes e possíveis discípulos sobre ‘os tesouros’ a serem descobertos e apropriados. Ele relata o que ele mesmo vivenciou ao se dedicar corpo e alma na construção da realeza de Deus. Depois que descobriu a sua pérola preciosa. De fato, o homem-cidadão Jesus de Nazaré teve que fazer a experiência reveladora, no batismo, para descobrir em que valia a pena investir ao longo da sua vida. As inúmeras experiências de vida de Jesus começaram a ter sentido para ele somente quando decidiu arriscar e apostar tudo num sonho-ideal de vida. Num projeto em que Deus estaria construindo uma nova realidade para inúmeras pessoas que, como ele, vinham buscando paz, justiça, igualdade para si e para os outros. Ao descobrir isso, Jesus subordinou profissão reconhecida, afetos consolidados, formas de segurança, prestígio pessoal. Graças a essa decisão existencial Jesus encontrou a coragem de assumir a sua própria cruz, as conseqüências da sua escolha, de morrer por dentro a tantas formas de solicitação e ambição que gritavam dentro dele. De romper com tantas ‘coisas velhas’, e segurando outras. De romper até com quantos queriam arrastá-lo para ser ‘o de antes’, o homem pacato e inócuo de Nazaré! De ter, enfim, a coragem de se abrir ‘às coisas novas’ que a pérola-reino havia guardado e desvelado para Ele. Que possamos descobrir o que realmente dá sentido e valor ao nosso sofrer, labutar e esperar!

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