Vivemos numa época em que os acontecimentos parecem se multiplicar com uma intensidade e tragicidade jamais vistas. Não conseguimos dar conta de acompanhar tudo o que ocorre ao nosso redor. Pior, temos dificuldade de entender o que eles significam na nossa vida e na vida da sociedade. Temos até a impressão que nós mesmos somos literalmente atropelados por uma imensidão de encontros e desencontros, de informações, de relações e de crises de toda ordem. Não conseguimos processar no nosso cérebro e no nosso coração o que tudo isso pode significar para o nosso cotidiano. Mais do que isso: compreender qual o nosso papel e missão diante de tudo isso! Jesus se demonstrou um excelente analista social, atento e perspicaz. Tinha compreendido que um ciclo histórico estava se encerrando, o de João Batista e de tantos pregadores e santões da sua época. Melhor dito, Jesus achava que o que o Batista denunciava precisava ser levado adiante com ações mais afirmativas e tomadas de posição mais concretas e mais ousadas. Para Jesus havia chegado um novo momento. Havia chegado a hora de deslanchar definitivamente a campanha e a mobilização do Reinado de Deus. Deus não podia mais esperar. Os tempos estavam maduros e as condições sociais eram propícias para iniciar algo corajoso e surpreendente.
Jesus entende que é justamente no ápice das crises sociais, econômicas e culturais que o modo de governar de Deus (Reinado) era possível. A possibilidade de dar uma guinada na história de sofrimento e de dependência de tantas pessoas, e de dar um rumo totalmente novo ao seu futuro estava ao seu alcance (estava próximo). Jesus, longe de se deixar impressionar pela magnitude dos acontecimentos, identifica logo qual é a sua missão e vocação naquele momento da sua vida. O evangelista Marcos traduz isso em poucas frases breves e concisas. Nelas está o cerne de todo o seu evangelho. ‘Tomem uma nova direção (convertei-vos) e invistam sua vida na certeza da realização da Boa Nova’ que estava iniciando com Ele! Não era mais tempo de promessas, mas da sua plena realização. Não uma aposta num futuro incerto, mas a certeza (fé) que haveria de se cumprir o prometido. Jesus, porém, deixa claro que a Boa Nova se torna algo concreto e eficaz se há pessoas que nela acreditam, e a ela dedicam corpo e alma para realizá-la. ‘Segui-me e eu farei de vocês líderes que sabem atrair mais pessoas para o mutirão em favor da vida’! O convite está definitivamente lançado: não há como permanecer neutros ou indiferentes. Nem tampouco poderemos permanecer na falsa segurança da doce intimidade dos nossos refúgios familiares e dos nossos templos sagrados. É nas ruas, nas praças, nas aldeias e nas periferias da sociedade que podemos ‘seguir construindo e anunciando a Boa Nova’ que o Mestre iniciou!
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