Um padre italiano, padre Milani, educador e pastor num povoado do interior de Florença, nos anos 50, dizia aos seus alunos, filhos de camponeses, que se um dia algum deles se tornasse prefeito ou deputado, ele estaria do outro lado, do lado do povo. Padre Milani entendia que quando alguém ocupa um lugar de chefia, mesmo que tenha origens humildes, já começa a querer dominar, e deixa de servir e proteger os mais frágeis. Mesmo tendo boas intenções, necessariamente acabará assumindo a lógica do ‘governante’ e fará os joguinhos típicos dos poderosos. Desde o primeiro rei de Israel, Saul, – que sofreu impeachment depois de poucos anos, - passando por Davi, Salomão, entre outros, todos eles agiram de forma cruel e dominadora. Nós mesmos podemos constatar isso com pessoas, instituições e partidos que conhecemos: é só dar um cargo ou uma chefia a alguém, é só ele chegar ao governo, para ver como muda radicalmente o seu comportamento! Jesus sempre combateu essa lógica, e sempre se recusou a entrar nela. Quantas vezes o povão faminto de ‘líderes alternativos’, - por estarem insatisfeitos com aqueles que ele tinha, - pressionava Jesus para que assumisse a sua liderança, para que fosse rei no lugar dos que reinavam! Jesus diante dessa perspectiva fugia ou repreendia veementemente os seus admiradores do momento.
Jesus entendia que ‘os chefes das nações’ são todos iguais: tiranizam e dominam. Que os homens não precisam de chefes, e sim de servidores generosos, libertos de toda mesquinha ambição. E que se educassem a pensar como Deus. Como um Deus Pai, não como um rei tirano. Um Deus compassivo, não como um rei cruel e dominador. Um Deus protetor, não como um rei violento e agressivo. Um Deus humilde e sóbrio, não como um rei orgulhoso e esbanjador. Esse, afinal, é o modo de ‘governar’ do Deus de Jesus. Um Reino que não age como os reinos deste mundo, que vai na contra-mão da prática de quem ocupa tronos e cadeiras de chefia. Isto não significa que não temos que assumir responsabilidades e coordenações na nossa vida, e nem deixar de que outros nos dominem. Ao contrário, significa que não podemos assumir responsabilidades e coordenações para acumular poder, influências, formas de controle e de dominação sobre os outros. Que a nossa prática de ‘administrar’ não seja uma mera reprodução da prática utilizada por Pilatos, César, Herodes e pelos reis de Israel, em geral, mas a que o ‘filho do homem’ adotou. Um jeito humano de estar com todos, de acolher e conviver, na disponibilidade e na gratuidade.
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