Não há como negar que vivemos numa época de crise aguda. Crise econômica, política, ambiental, social, espiritual e humana. Em muitas ocasiões nos sentimos sufocados e impotentes diante da brutalidade de certas realidades que nos deixam perturbados. Nessas horas invocamos a intervenção poderosa divina pensando que Deus como um hábil mágico transforma o mal em bem. Vencidos, às vezes, pelo desânimo e o desespero deixamos o barco da vida flutuar à mercê das correntezas, perdendo a capacidade de conduzi-lo para águas mais tranquilas. Não é a primeira crise global pela qual passamos, e não vai ser a última. Isso pode nos assustar, de um lado, mas, do outro, pode nos ajudar a compreender que na crise podemos encontrar sempre novas e criativas saídas. Que dela podemos sair mais fortalecidos, desde que a enfrentemos de forma aberta, com coragem e firmeza.
As comunidades de Marcos viviam essa mesma realidade: guerras, perseguições, conflitos, intrigas e desconfianças, inclusive internamente, dentro da família e da comunidade eclesial. O evangelista resgata as palavras de Jesus para aqueles que vivem essa realidade cruel: aquelas forças e pessoas que se consideram todo-poderosas, que dominam e que hoje ‘brilham como o sol e as estrelas’, irão perder o seu brilho, e cairão. Elas não são eternas, serão derrotadas. É desses astros que Jesus está falando, e não de astrofísica ou fim do mundo! É nessa hora, na hora do conflito e da perseguição, que o Filho do homem reúne ‘os eleitos’. Ou seja, os que se mantêm fiéis aos seus princípios e valores, que não vendem sua alma e consciência às forças do mal experimentarão um momento novo. Sentirão a presença do Filho do homem bem próxima deles. E nós podemos perceber isso na nossa vida da mesma forma que o agricultor percebe quando está se aproximando a primavera, observando o brotar das novas folhas, após um inverno frio e rigoroso. É na crise que aparecem os sinais da sua superação. Os sinais de esperança e de vida nova. Da mesma forma, é em situações de violência que podemos descobrimos o valor da paz; na doença a importância do bem viver com saúde; nos conflitos e intrigas a beleza da união e da colaboração. O mundo novo do jeito que nós sonhamos não acontece de uma hora para outra. Ninguém sabe quando acontecerá, só o Pai. Nós só sabemos que ele já vem sendo construído, e nós podemos ser aqueles que o tornam possível com a nossa fidelidade e a nossa perseverança.
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