sexta-feira, 6 de maio de 2016

A VALE e a 'nova estratégia' de judicializar tudo e todos, com mão de ferro e prepotência

A VALE faz de tudo para não se mostrar acuada. Nem após os seus envolvimentos diretos nos desastres de Mariana ela mostra sinais de humildade e autocrítica. Descumpre acordos e atrasa seus compromissos com a justiça. Até agora não fez um ‘mea culpa’ público, verbal e concreto para tentar amenizar os danos produzidos em corpos e almas de milhares de pessoas vítimas de sua criminosa negligência. Opa, devagar com o andor das palavras porque ela poderia estar apresentando em qualquer comarca desse interior do Maranhão uma queixa crime contra os blogueiros de turno que comentam em voz alta o que milhares sussurram lá por onde a empresa passa. Com o seu farto exército de advogados e ‘aspirantes constitucionalistas’ a empresa 100% nacional não vem dando fôlego a nenhum ator social que tenta levantar a voz contra seus inúmeros abusos. Nas comunidades por onde passa a duplicação da ferrovia a VALE faz de tudo para controlar o pensamento e a consciência dos moradores locais. Tem construído uma rede de informantes diretos e indiretos, e uma tropa de profissionais contratados só para exercer a função de ‘lavadeiras de cérebros’. Uma permanente lavagem cerebral com o intuito de desinformar e de vender a ilusão da multiplicação de empregos para jovens desempregados e para homens sem qualificação das comunidades impactadas. Claro, em troca da aceitação integral de suas instalações e atividades. Um pacto silencioso e assimétrico em que a grande empresa Vale se compromete verbalmente a beneficiar direta e indiretamente, via COMEFEC (Consórcio dos Municípios da estrada de ferro Carajás), algumas das muitas comunidades pelas quais passa o trem da riqueza exportada, em troca do seu silêncio, e da aceitação obediente de tudo o que vier a realizar na sua região. 
Assumiu, enfim, descaradamente, o que alguns chamam de ‘nova estratégia’ da Vale com braço de ferro, sem pena e sem dó. Para quem visita aquelas comunidades, - que possuem nomes e identidades próprias, histórias e sonhos de vida, - pode ouvir relatos estarrecedores de ameaças explícitas, de rispidez e rigidez nos contatos informais, na ausência de diálogo e de informação, sem falar nas atitudes arrogantes de quem já sabe que nada vai mudar porque, afinal, a faca e o queijo estão com a todo-poderosa Vale. A ponta de lança, contudo, da nova estratégia da Vale é a judicialização de tudo e de todos. Os cidadãos indignados que manifestam publicamente sua insatisfação são tachados de criminosos, e são formalmente denunciados.  Uma manifestação pública ou um protesto seguido de caminhada já pode dar uma denúncia por tentativa de boicotar as obras, por danos morais e materiais. As fotos dos manifestantes se traduzem em nomes concretos de denunciados na comarca local. Dezenas de cidadãos devem responder a inquéritos e processos em pelo menos 8 municípios do corredor. Mais que isso. Os advogados da Vale atuam até de forma preventiva, sem ter em mãos o objeto do crime. Até aquelas reuniões de articulação, de debate e de ‘livre associação’ são vistas pelos advogados da empresa como um fato criminoso de domínio público, passível de denúncia. A empresa acredita, dessa forma, poder inibir eventuais cidadãos rebeldes e inconformados com tantos descasos. Os juízes das comarcas regionais se vêem investidos por avalanches de denúncias que sabem infundadas, mas que têm a obrigação de dar sequência tirando energias e tempo precioso para elucidar e julgar crimes bem mais sérios.

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