quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Acolitado, leitorado para mulheres....ainda muito pouco para reconhecer o papel fundamental das mulheres na igreja católica! Entrevista com Adriana Valério

 Vários membros do Sínodo dos Bispos para a Amazônia haviam pedido o diaconato feminino. Por que você acha que esta etapa ainda não foi alcançada?

Porque o diaconato é o primeiro passo dentro do sacerdócio ministerial, hoje diferente daquele dos fiéis, e não se quer que as mulheres participem dele. Se o leitorado e o acolitado pertencem às ordens menores, o diaconato pertence, ao contrário, às ordens maiores que fazem parte da ordem sagrada, onde as mulheres são excluídas. Ainda são muito fortes as resistências dentro da hierarquia ligadas ao que se chama de ‘costume’ (sempre foi assim) e, sobretudo, aos próprios privilégios que zelosamente defendem.

A estrutura da Igreja ainda é hierárquica e masculina em seus vértices. Por quê?

Todas as decisões na Igreja são tomadas por homens pertencentes ao clero ainda ligados a posições que tinham sua própria justificativa quando a visão social e antropológica considerava as mulheres impuras, inferiores e inadequadas para exercer o poder ou mesmo representar o divino.

Afinal, Francisco realizou passos significativos para as mulheres na Igreja ou você ainda os considera insuficientes?

O Papa Francisco iniciou um processo fundamental de desclericalização na Igreja Católica, exortando continuamente a presença significativa das mulheres nas estruturas da comunidade eclesial, mas as suas palavras não serão suficientes se não operar uma intervenção a nível institucional que reconheça uma efetiva igualdade homem-mulher. Reconhecer a dignidade e a autoridade da pessoa humana, de fato, significa permitir que ela participe dos processos de tomada de decisão. Não aceitar na mulher a capacidade de governar implica relegá-la à não visibilidade, à situação de minoridade de uma condição humana que requer para existir a presença da mediação masculina que controla, aprova, julga e dirige. Por acaso os homens aceitariam se ver representados por um conselho ou sínodo de mulheres tomando decisões também por eles? Eles iriam ridicularizá-lo, ririam dele ou se insurgiriam.

Adriana Valerio, teóloga e estudiosa da figura das mulheres no cristianismo 

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