‘Voltem para a sua terra, imundos estrangeiros: vocês querem nos tirar os poucos empregos que ainda nos restam?’ Frases desse feitio se tornam, a cada dia, mais comuns! Revelam não só uma imbecil xenofobia e um racismo incrustado, mas um ignóbil fechamento ao diálogo, à pluralidade, e ao princípio da equidade. O antigo Israel (o moderno pouco mudou...!) se autoproclamava ‘povo eleito, raça escolhida’, mas achava que fosse vontade do Deus nacionalista que o próprio povo havia criado à sua imagem e semelhança. ‘Primeiro nós, e depois, se sobrar algo, para os demais povos! Esse era o princípio constitutivo desses presunçosos! Um bom israelita não se esquecia de rezar cotidianamente para que ‘Deus’, esmagasse os estrangeiros e indignos pagãos! O judeu Mateus entende que com a chegada de Jesus de Nazaré essa teologia arcaica deve ser extinta. Ele nos diz que todos os povos ‘são povos eleitos, e todos somos dignos’. Para ele, o Deus de Jesus, - e não o dos nacionalistas, - se revela, preferencial e paradoxalmente, aos detestados pagãos. Mais escandaloso no evangelho de hoje, é que Mateus modifica mais ainda essa nova lógica: são os próprios estrangeiros impuros a revelar a presença de Jesus, agora proclamado como novo governante (rei) de Israel. Mostra desde já o que o Jesus adulto fará de forma rigorosa: anunciar e provar que a Realeza de Deus, - não mais o deus nacionalista, mas a do Pai de Jesus, - será colocada nas mãos dos pecadores, dos pagãos, dos estrangeiros e dos homens/mulheres de boa vontade. Ou seja, nas mãos de todos aqueles que O acolhem, não se importando da sua nacionalidade e da sua ficha judicial.
O ano que se passou demonstrou exaustivamente que todos, infalivelmente, estamos no mesmo barco, sujeitos a adoecer, a sofrer, e a morrer. Ninguém se salva sozinho, por quão rico e privilegiado seja! Esse jardim planetário nunca fatiado por Deus pertence a todos, e não somente a alguns arrogantes que se autodeclaram mais puros e mais dignos que outros! O ‘ouro real’ é de todos porque todos podem governar/servir (reinar) com justiça e equidade. O ‘incenso sacerdotal’ é de todos, porque ninguém é excluído do compromisso/responsabilidade de celebrar, anunciar, e profetizar. A ‘Mirra esponsal’ pertence a todos, porque todos são chamados a amar e a estar em comunhão profunda principalmente com os rejeitados, os largados, os expulsos e os violentados da vida! Adorar o ‘menino Jesus’ é assumir o seu jeito simples de acolher e proteger dos nacionalistas Erode de hoje quem é tratado como estrangeiro imundo em sua própria terra, o jardim da humanidade!
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