terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

'ARMAI-VOS UNS OS OUTROS'

 ‘Armemo-nos e partam’! Muitos conhecem a proverbial frase pronunciada por Benito Mussolini, o ditador fascista italiano, às vésperas da II Guerra Mundial. Reflete a atitude mesquinha de quem se subtrai a cumprir uma ordem que ele mesmo deu! Todos devem se armar, mas somente ‘os outros’ deverão arcar com as consequências de tal ordem. No caso específico, ir para a guerra. Pouco mais de um século mais tarde, outro candidato a ditador, no Brasil, conclama a população a ‘armar-se’. Não há uma guerra mundial ameaçando o País, mas os números das vítimas por homicídio são, tecnicamente, de ‘guerra civil’. Mediante repetidos e insistentes decretos presidenciais o atual presidente vem tentando flexibilizar sempre mais o porte e a posse de um número sempre maior de armas para ‘os cidadãos de bem’ se defenderem dos ‘bandidos’. Há, nisso, uma tácita admissão do fragoroso fracasso das instituições de segurança em proteger os ‘cidadãos normais’, ou seja, os que não podem e nem querem comprar armas. A fixação um tanto mórbida do atual mandatário com armas de fogo vem de longe. Remonta ao ano de 1995 quando o então candidato a deputado federal Jair Bolsonaro foi abordado por dois assaltantes que lhe roubaram a sua inseparável pistola Glock 45. Em várias entrevistas ele teve que admitir que, mesmo armado, naquela circunstância, se sentiu impotente. E, uma vez desarmado, permitiu que mais uma arma de fogo circulasse no comércio da criminalidade do Rio de Janeiro. Não é uma preocupação com a segurança da população que move o presidente em sua cruzada armamentista. E nem a tentativa de fazer justiça a um suposto clamor popular por segurança via armamento individual do cidadão. Há em jogo inconfessáveis intenções em engordar o cofre das indústrias bélicas nacionais e internacionais. Aquelas que abastecem as milícias urbanas, os grupelhos radicais ultraconservadores e violentos. Há, na atual conjuntura nacional, uma inegável tentativa de ‘preparar’, via armamento individual, aqueles setores da população identificados com o ‘Duce’ e dispostos com ele a defender um possível autogolpe institucional. 

Só os frouxos e os trogloditas sem argumentação e sem responsabilidade social apostam no falso poder civilizatório das armas. Os números oficiais não desmentem: quanto mais armas existem em circulação, mais crimes são cometidos! Contudo, essa argumentação é considerada uma falácia inaceitável para aqueles ‘cidadãos de bem’ que colecionam armas de R$ 3.000,00, enriquecem com sua venda e crescem politicamente à custa do medo e do sentimento de desamparo que domina e paralisa os ‘cidadãos comuns’. Mais uma vez o governo dessa ‘pacífica nação’ vai na contramão de numerosos Países, - como é o caso, por exemplo, dos EUA pós Trump, - que tendem a restringir sempre mais o acesso às armas por parte dos cidadãos de bem ou não. Chegou a hora de inverter radicalmente as prioridades sociais, e trazer de volta o País à sobriedade e à sanidade moral. Em vez de aumentar as armas pessoais de quatro para seis, faz-se urgente aumentar os impostos sobre os lucros e sobre as grandes fortunas dos sonegadores recalcitrantes. Faz-se urgente multiplicar, - biblicamente falando, - alimentos, salários e investimentos em saúde, habitação, empregos, universidades... E no desarmamento dos ‘cidadãos de bem’, fardados ou não! Afinal, já o Mestre da buliçosa Galileia dizia que ‘quem de espada fere, de espada será ferido’!


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