Uma pequena e quase imperceptível revolução vem ocorrendo em diferentes terras indígenas do Estado do Maranhão. Não se trata de movimentos e mobilizações de grande envergadura veiculados pela grande imprensa ou pelos ‘especialistas’ de turno. Trata-se de microintervenções na agricultura familiar de povos indígenas que, no entanto, fazem a diferença. Numa aliança que já dura há mais de 9 anos, a Associação Carlo Ubbiali criada em 2003 em parceria com dezenas de aldeias das Terras Indígenas Canabrava, Bacurizinho, Arariboia e Urucu-Juruá vem doando um ‘kit-farinha’ composto por um motor elétrico, bola de caititu, correia, e forno para produção de farinha de mandioca em suas respectivos locais. A contrapartida exigida é a construção de uma casinha para abrigar o todo, e a utilização coletiva do ‘kit’.
Várias lideranças lembram que cerca de 10 anos atrás era quase impossível encontrar na região de Bacurizinho, por exemplo, manivas (mudas da planta de mandioca) para serem plantadas devido aos três anos anteriores marcados por uma forte seca. Graças à boa vontade dos parceiros, à chuva abençoada, firmeza e aliança estável, a região esquecida totalmente pelos poderes públicos, principalmente pela FUNAI, vem se transformando e garantindo farinha abundante para mais de 60 aldeias. Dessa forma, mesmo que a produção seja ainda em pequena escala, garante uma certa segurança alimentar para muitas famílias. A Associação Carlo Ubbiali que já se dedicou por vários anos à formação e capacitação de professores indígenas, vem se destacando nesses últimos 8 anos no incentivo à produção de farinha puba e, por consequência, à segurança alimentar do povo Guajajara, principalmente. Ultimamente, alguns programas do governo estadual como, por exemplo, o Maranhão Verde para indígenas, contemplam a realização de microcrédito a fundo perdido para determinadas pessoas indígenas (pessoa física), mas estando bem longe de abranger ‘comunidades indígenas carentes’ que ainda são a maioria! Espera-se, contudo, que com a mudança no governo federal se consiga elaborar não ‘programas ou ações pontuais’ mas verdadeiras e consistentes ‘políticas públicas’ respeitosas das especificidades étnicas.
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